Filosofia e ciência eram um só saber.
(Nas suas origens, a filosofia não se distinguia das outras dimensões do
saber humano). O filósofo dedicava-se a multiplicar tarefas, pelo que,
poderia afirmar que todo o saber lhe era familiar. A filosofia
era segundo a tradição, uma disciplina englobante, no sentido de que o
filósofo não se distinguia do médico, do matemático, do físico ou do
político. Mas, com o devir histórico, o conhecimento, que tal como o homem
é um projeto, aperfeiçoa-se e amplia-se e a exigência inevitável da
especialização faz surgir a divisão do trabalho.
E as consequências são estas: daquele tronco
comum do humana sapiente foram-se, pouco a pouco, destacando as
diferentes ciências, à medida que se iam constituindo em ramos autônomos do Saber, com seus objetos e métodos próprios.
Só a título de curiosidade, vejamos a
ordem cronológica porque as ciências abandonaram a Ciência Mãe –
Filosofia.
Medicina
Foi a primeira ciência a tornar-se autônoma com Hipócrates (460-377
a. C.), natural da ilha de Cós, médico da Antiguidade e criador da
observação clínica. É considerado o Pai da Medicina.
Matemática
Com Euclides (primeira metade do século III a. C.), matemático
grego.
Mecânica
Com Arquimedes (287-212 a. C.), sábio grego, talvez o maior
criador da Antiguidade nos campos da Matemática e da Mecânica.
Física
Com Galileu (1564-1642), físico e astrônomo italiano; e Newton (1642-1727)
físico, astrônomo e matemático inglês.
Astronomia
A astronomia é das ciências mais antigas da Humanidade. Todavia, só a
partir do século XVI, com os valiosos contributos de Copérnico (1473-1543),
eclesiástico e astrônomo polaco, Galileu, Keper (1571-1630),
astrónomo alemão e Newton, ela começou a ganhar a sua autonomia
relativamente à filosofia.
Economia política
Expressão criada nos princípios do século XVII pelo escritor e filósofo A.
De Montchrestien (Traité d’économie politique, 1615), para designar o
estudo de produção, da repartição e do consumo das riquezas.
Química
Com Lavoisier (1743-1794), químico francês.
Filosofia experimental
Com Claude Bernard (1813-1878), fisiologista francês. Embora esta
disciplina já, em 1628, tenha dado um passo importante com Harvey (1578-1657),
médico inglês, com a sua descoberta da teoria da circulação do sangue.
Biologia
Com Lamarck (1744-1829), naturalista francês. O termo foi criado
simultaneamente em 1802, por este cientista e por Traviranus na
Alemanha.
Sociologia
Com Saint-Simon (1760-1825), filósofo e economista francês; A.
Comte (1798-1857), filósofo francês, e K. Marx (1818-1883),
político, economista e filósofo alemão.
Psicologia
Com Wundt (1832-1920), filósofo e psicólogo alemão e J.
Watson (1878-1958), psicofisiologista norte-americano, nos finais do
século passado.
A evolução do saber é
imparável. Cada vez mais as exigências da vida impõem ao homem que melhor
os seus conhecimentos, porque estes são considerados insuficientes ou
postos em causa. O homem disse Aristóteles, tende por
natureza para o saber. É essa tendência que o obriga a
aperfeiçoar as experiências anteriores e a buscar novos
horizontes. E porque já não é possível a um mesmo indivíduo abarcar todo o
saber, constatamos que o real se vai parcelando cada vez mais.
Uma das primeiras parcelas da
realidade que abandonou o Tronco Comum – a Filosofia – foi a Física que, em
nosso tempo, Sofre também parcelamentos. Digamos que a Física está a
“pagar” o seu tributo pelo que antes fizera. Assim, vemo-la subdividir-se,
além de si, em astrofísica, biofísica, geofísica, microfísica, etc.
Vejamos, a título informativo, outros
conhecimentos que, na nossa época, se constituíram como ciências,
ramificações de outras, novas conquistas do engenho humano: astronáutica,
bioquímica, cibernética, ecologia, farmacologia, genética, geologia,
geoquímica, hidrologia, jurisprudência, linguística, meteorologia,
paleontologia, psicopedagogia, taxonomia, viricultura, zoologia, etc.
Mecionamos aqui esta lista de especialidades,
que poderíamos alongar, que tem apenas o objectivo de evidenciar a evolução
dos nossos conhecimentos sempre inacabados e cada vez mais
especializados. (António Pinela, Reflexões).
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