quinta-feira, 6 de junho de 2013

Língua afiada...

PEGADINHA GRAMATICAL
Anexo ou em anexo?
A palavra “anexo” indica que algo está ligado, ajuntado. E, neste caso, terá função de adjetivo, ou seja, concordará com o substantivo que o acompanha. Veja:

a) O documento está anexo.
b) As cópias estão anexas.
c) Envio carta anexa.

Há, em contrapartida, o uso de estruturas, tais como:

a) Segue em anexo.
b) Seguem em anexo, as planilhas de produção mensal.

Neste caso, observamos que existe uma vontade por parte do interlocutor de expressar o modo pelo qual algo está sendo enviado. Não podemos dizer que a expressão está errada, pois o verbo “segue” está sendo complementado por uma locução adverbial de modo.

Agora, se pretendo dizer que algo está indo dentro de um anexo, é melhor que diga “no anexo” ao invés de “em anexo”.

Exemplos: A carta segue no anexo.
Segue no anexo, o convite individual.

Nas orações acima temos o entendimento de que a carta e o convite estão dentro do anexo, ou seja, estão inseridos no anexo.

Já na oração: Segue o anexo solicitado, “o anexo” é um sintagma nominal que tem função de sujeito da frase e, portanto, faz concordância com o verbo “segue”.

O importante é verificar a função que o termo “anexo” exerce em determinada alocução: complemento adverbial, sujeito da oração (sintagma nominal) ou adjetivo, pois cada caso exigirá uma forma de escrever o termo “anexo” ou a expressão que integra esse vocábulo.

Observação: Lembre-se que sintagma nominal tem como núcleo um substantivo ou termo equivalente. Na oração: Seguem os anexos solicitados, o núcleo é “anexos”, ou seja, é suporte de entendimento da frase.

História...

Os Bandeirantes e a Mineração no Brasil
Bandeirantes: figuras historicamente ligadas ao desenvolvimento da atividade.
Entre os fins do século XVI e ao longo do século XVII, as instabilidades do regime colonial instalado no Brasil trouxeram interessantes transformações. A partir da chamada União Ibérica, ocorrida entre 1580 e 1640, o território colonial passou a ser controlado por autoridades espanholas e, nesse mesmo contexto, os holandeses entraram e controlaram a produção de açúcar na região nordeste.

Todas essas mudanças causaram situações muito peculiares. Entre tantas, destacamos a crise econômica que afetou os colonizadores e a população situada na região sudeste. Sem o apoio holandês, focado na região nordeste, e sem auxílio espanhol, os colonos paulistas sofreram com a retração da economia açucareira e falta de outras alternativas de sustento mais seguras.

Foi nesse exato contexto que começaram a se formar comitivas, oriundas principalmente de São Paulo, que partiam do litoral em direção ao interior do Brasil. Conhecidas como “bandeiras”, essas expedições reuniram vários colonos que buscavam riquezas que pudessem livrá-los dos já ressaltados problemas econômicos daqueles tempos.

Com o passar do tempo, essa atividade dos “bandeirantes”, nome dado aos integrantes das bandeiras, se transformou em uma atividade econômica de grande movimentação. Adentrando nossas terras, os bandeirantes buscaram diferentes tipos de riquezas que pudessem amenizar a complicada luta pela sobrevivência naqueles tempos.

Umas das riquezas buscadas pelas bandeiras foram as chamadas “drogas do sertão”. Essas tais drogas, que nada têm a ver com qualquer tipo de entorpecente ilegal, dava nome a um grande número de ervas, raízes, frutos e plantas com propriedades de caráter medicinal e culinário. Buscando tais produtos, os bandeirantes fabricavam remédios, melhoravam sua dieta alimentar e realizavam o comércio de tais mercadorias.

Adentrando as matas, os bandeirantes também se envolveram na captura e venda de índios como escravos. Sendo mais baratos que os escravos importados da África, os bandeirantes se arriscavam e lucravam com essa atividade marcada pelo conflito e pela violência. Em certas situações, eram também contratados para recapturar os escravos negros fugidos das fazendas ou participar de taques contra os quilombos situados no interior.

Além dessas duas atividades, os bandeirantes aproveitavam das investidas pela mata para procurar metais preciosos em nosso território. A probabilidade de encontrar prata, ouro ou outras pedras preciosas também era outra possibilidade ligada ao bandeirantismo. Contudo, a resposta para essa busca só aconteceu no final do século XVII.

Nessa época, temos a notícia das primeiras regiões mineradoras a serem sistematicamente exploradas durante todo o século XVIII. Por meio da ação dos bandeirantes, grandes regiões auríferas e diamantíferas foram encontradas em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Em pouco tempo, a Coroa Portuguesa interveio no controle dessas mesmas regiões ricas em metais e pedras preciosas.

A partir dali, a sociedade e a economia colonial sofreriam mudanças significativas. Várias cidades se formaram pelo interior do território, a fiscalização colonial se intensificou e a economia interna ganhou maior ritmo. Com o passar do tempo, a ação dos bandeirantes acabou se enfraquecendo e ficando fortemente associada ao desenvolvimento da mineração colonial.

Viva a sabedoria...

As experiências filosóficas e o humanismo cristão de Justino
Justino - Apologeta da boa-nova

O forte pendor religioso, característico da idade madura de Justino, tem raízes ainda em sua juventude. Ele, que foi pagão, criado em um ambiente cultural grego, naturalmente buscou na filosofia a satisfação de seus anseios espirituais. Esteve entre várias escolas filosóficas, dentre as quais se encontram a estoica, a pitagórica, a peripatética e a platônica. Esta última satisfez, temporária e parcialmente, seus anseios, por lhe fornecer a compreensão da existência das coisas imateriais, incorpóreas, sendo a filosofia a ciência da verdade, ou seja, aquilo que nos conduz a Deus, invariável e causa dos outros seres.

Até aqui, Justino parecia estar satisfeito; porém, quando se deparou com a questão sobre o que é Deus, uma vez mais percebeu a insuficiência do conhecimento filosófico em conhecer o intangível. Restou-lhe, então, converter-se ao cristianismo, em que a fé conduz a uma verdade absoluta, já que ela está, em parte, em cada indivíduo.

Dessa forma, Justino reformulou o conceito de filosofia, não mais vista como exercício especulativo do espírito, e sim como exercício da verdade parcial existente em cada alma que nos aproximaria de Deus e que necessita da verdade Revelada, isto é, do auxílio da fé. Esta, delimitando a razão, nos encaminharia à salvação e à graça. Para Justino, portanto, a verdadeira filosofia é o cristianismo.

Cristo representa a verdade, é a verdade total. Aqueles que, antes dele, fizeram um bom uso do lógos, participaram parcialmente da verdade; os que o fizeram depois, participam totalmente. Assim, há uma comunidade cristã, mesmo nos tempos antigos, pois aqueles filósofos compartilhavam do destino de Cristo, morrendo pela verdade. Como apologeta, e tendo essas considerações sobre os filósofos antigos, Justino implantou a filosofia no seio do cristianismo, o que permitia compreender a temporalidade e finitude do homem, caracterizando a noção de História.

Entretanto, a síntese entre a conversão de Justino pelo cristianismo e sua ligação com a filosofia grega (especialmente a platônica) acarretou inovações no debate filosófico-teológico da época. Por exemplo, a filosofia platônico-pitagórica acreditava na reencarnação sucessiva das almas que expiavam seus pecados num ciclo evolutivo. Essa ideia, no entanto, era inadmissível para o cristianismo da época, já que a ressurreição de Cristo e sua promessa de vida eterna davam a entender que cada indivíduo só tem uma alma que será julgada no juízo final, enquanto a reencarnação cíclica não permitiria a ideia de julgamento. Porém, tinham em comum que é através da alma que se busca e se chega a Deus.

Portanto, apesar das divergências de pensamento, Justino manteve-se um convicto cristão, pronto a defender a ideia do Deus morto que voltará para julgar os homens. Atesta-nos isso a sua morte como apologeta da boa-nova.

Arte...

Música de Protesto
Green Day: Grupo que protesta a invasão norte-americana no Iraque.
A música para a maioria das pessoas é uma forma de expressar sentimentos, desejos, frustrações, conceito que não está muito longe da realidade, pois durante muito tempo a música foi utilizada como forma de “abrir os olhos da humanidade” para as questões que afligiam o mundo, como a guerra, a discriminação, a opressão etc.

Para muitos músicos, a canção não deve falar de coisas banais, mas sim, explorar letras na tentativa de mudar a realidade cruel em que grande parte do mundo vive, é buscar através da música a liberdade para a humanidade. A música com referência ideológica existe há muito tempo, mas foi a partir da década de 1960 que a música, como forma de protesto, ganhou popularidade, em especial com as bandas britânicas Beatles e Rolling Stones, com a expressividade do rock. Levantando diversas questões como, por exemplo, discussões em favor da liberdade de expressão, pelo fim das guerras e do desarmamento nuclear, idealizando um mundo de “paz e amor”, com músicas como; “Revolution” (Beatles) e “We Love You” (Rolling Stones). Durante a Guerra do Vietnã, outras bandas entraram na onda de protestos. Em 1964, no Brasil, a repressão e a censura instauradas pelo regime militar deram origem a movimentos musicais que viam na música uma forma de criticar o governo e de chamar a população para lutar contra a ditadura. Os grandes nomes desse período foram Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Geraldo Vandré, entre outros. Usando na letra de suas músicas metáforas e ambiguidades, títulos como: “É Proibido Proibir”, “Que as Crianças Cantem Livres” e “Para Não Dizer que Não Falei das Flores” fizeram sucesso na época e até hoje ainda fazem.
Foram diversas as canções que falavam da maneira insana que o regime controlava e tratava a população. Já nos anos 70, surgiu o famoso movimento punk rock, representados por bandas como o The Ramones, Sex Pistols e The Clash, esses faziam criticas à Guerra Fria, ao nacionalismo e à monarquia britânica.

Nesse mesmo período surgiu o reggae, na Jamaica, que trazia em suas letras mensagens de protesto e conscientização quanto aos problemas da época. Nos anos 80 e 90, surgiram as principais referências musicais da atualidade. Uma das principais bandas foi a irlandesesa U2, fazendo sucesso com a música “Sunday Bloody Sunday”, letra que trazia o desabafo e a indignação dos cantores contra a intolerância religiosa entre protestantes e católicos que resultou na morte de dezenas de pessoas, fato ocorrido em 1972, em Derry, na Irlanda do Norte. Além do U2, muitas outras bandas se engajaram em causas humanitárias e ambientalistas como, por exemplo, a banda australiana Midnight Oil. Já no Brasil os anos 80 marcaram o surgimento dos principais nomes do rock nacional, em especial as bandas nascidas em Brasília e São Paulo como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Titãs. Cada uma trazendo seu próprio estilo e suas indignações contra os problemas e a enganação da sociedade. Na música “Geração Coca-Cola” do grupo Legião Urbana, é possível ver a indignação contra a soberania norte-americana sobre o Brasil e os demais países:

(Composição: Renato Russo/ Fê Lemos)

“Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados
Dos U.S.A., de nove as seis.

Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola

Depois de 20 anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser

Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola”

E foi com esse tipo de letra que essas bandas fizeram e ainda fazem sucesso entre os jovens. Onde todos têm o sonho de fazer a revolução, de mudar a realidade do mundo. Hoje, existem muitos grupos de referência mundial, que fazem sucesso com suas letras de protesto, como a estadunidense Green Day com a música “American Idiot” (Idiota Americano) que manifesta sua oposição à presença militar dos EUA no Iraque:

“Não quero ser um idiota americano.
Uma nação governada pela mídia.
Informações da idade da histeria.
Está chamando um idiota americano.
Bem-vindo a um novo tipo de tensão.
Por toda a “alien-nação”,
Onde tudo não é feito para ser certo.
A televisão sonha com amanhã.
Nós não somos o que pretendemos seguir.
E isso é o suficiente para discutir.”

Essas bandas atuais e de caráter revolucionário demonstram o quanto a música ainda é um forte instrumento de manifestação contra o avanço do desenvolvimento desordenado no planeta, autoritarismo e intolerância. A música de protesto há muito tempo deixou de ser exclusiva de alguns grupos, ultrapassando a esfera do rock e atingindo outros estilos, hoje o Rap é um dos ritmos mais conceituados da atualidade, apresentando letras de protesto contra as desigualdades sociais, raciais e religiosas.
http://www.brasilescola.com/artes/musica-protesto.htm

Entendendo...

Mucamas, Criadas ou Domésticas

Mucamas, Criadas ou Domésticas: sinônimos de uma só história de exclusão.

“Xenofonte escreve: As pessoas que se dedicam aos trabalhos manuais nunca são elevadas a altos cargos e é razoável. Condenadas na sua grande parte a estar sentadas todo o dia, algumas mesmo a suportar um fogo contínuo, não podem deixar de ter o corpo alterado e é muito difícil que o espírito não se ressinta disso. "( PAUL LAFARGUE, Direito a Preguiça, LCC, publicação eletrônica)

Neste breve artigo escolhemos tratar da genealogia, por assim dizer, do trabalho doméstico, poderíamos ter escolhido qualquer outra função e/ou atribuição considerada residual no seio da sociedade capitalista, onde os salários e o status são igualmente residuais; é o caso dos garis, pedreiros, serventes, boias frias, e toda gama de profissões cuja especialização e o grau de proficiência são minimamente exigíveis, ou seja, são consideradas atividades de caráter rudimentar, onde a capacidade cognitiva não teria tanta relevância, comparando-se a outras áreas, posições conspícuas cujo credenciamento estaria atrelado à inteligência do indivíduo e por sua capacidade de realizar tarefas complexas, ininteligíveis para insipientes.

Essas simplórias premissas buscam legitimar as gradações e a divisão social do trabalho, a quem diga que o fordismo morrera, que a diferença entre escritório e o chão da fábrica fora dissolvido por metodologias e paradigmas de inclusão e co-participação, mas, a realidade que escapa as teorias dos grandes administradores, mostra que a especialização e a segregação funcional na sociedade capitalista contemporânea, tem inexoravelmente ofendido de maneira contumaz, pessoas cujas oportunidades lhes ofereceram um campo existencial limitado, a História mostra que a realidade é múltipla, ou seja, ricos e pobres; católicos e protestantes; jovens e velhos mesmo estando num mesmo tempo histórico decodificam sua realidade e a circunscrevem de numa maneira peculiar, construindo assim uma identidade, sua interface com o mundo, logo, muito do que as pessoas são, ou vão se tornar, dependerá dos aparatos culturais e/ou existenciais colocados a sua disposição. Ou seja, o que seria dos gênios do nosso tempo se não fossem municiados dos conhecimentos que lhe deram a base para seus descobrimentos, seria como esperar que um índio do Xingu construísse uma bomba atômica, em primeiro lugar, seu arcabouço cultural não conceberia tal aparato, não haveria lógica, nem matéria prima, nem conhecimentos prévios, enfim, é como alguns antropólogos dizem: “temos um aparato biológico preparado para viver mil vidas”, dependendo é claro de qual delas formos agraciados.

A partir do exposto, podemos definir que as ambigüidades das atividades profissionais e seu corolário de satisfação ou de marginalização advêm de desigualdades artificiais, convenções historicamente delimitadas, cujas raízes podemos encontrar através de uma ressonância cuidadosa da história das civilizações e nosso caso mais precisamente, do passado escravista brasileiro, que engendrou classificações no mínimo equivocadas, anamorfoses que deliberaram o que teria valor e o que não teria, construindo muros virtuais que protegiam os afortunados dos desvalidos.

O liberto defrontou-se com a competição do imigrante europeu, que não temia a degradação pelo confronto com o negro e absorveu, assim as melhores oportunidades de trabalho livre e independente (mesmo as mais modestas, como a de engraxar sapatos, vender jornais e verduras, transportar peixe ou outras utilidades, explorar o comercio de quinquilharias etc). [...] Eliminado para setores residuais daquele sistema, o negro ficou à margem do processo, retirando dele proveitos personalizados, secundários e ocasionais [...]. Em suma, a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade de reeducar-se e de transformar-se para corresponder aos novos padrões e ideais de homem, criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e do capitalismo. 

Obviamente em se tratando das empregadas domésticas, que ao longo do tempo sua designação passou por mudanças sinonímias, porém semanticamente os termos predecessores, a saber: mucama; criada e serva, cristalizaram e/ou internalizaram a mediocridade funcional e, por conseguinte, remuneratória; tanto que apenas recentemente, após quinhentos anos as empregadas domésticas passaram a possuir alguns dos direitos que já são gozados há décadas pelos demais trabalhadores de outras atividades, obviamente que seus salários permanecem infinitesimais, mesmo sendo um trabalho árduo, vital para a consubstanciação tanto do modelo tanto do sanitário vigente, onde a limpeza e organização são apanágios imprescindíveis a uma casa de “gente bem”; bem como da estrutura familiar de hoje cujos pais também trabalham fora e deixam suas casas nas mãos de pessoas que não tiveram outra escolha senão executar os trabalhos “indesejáveis”, como se o que as domésticas fizessem fosse algo sujo, degradante. Mas infelizmente é isso que fica patente ao observarmos o bônus destinado a elas, sabemos que os discursos humanos se contradizem ao observarmos suas ações.

A história das domésticas brasileiras se confunde com a história de nosso escravismo, não só ela mas quase todas as funções desprestigiadas, pois, ao ex-escravo restavam as ocupações residuais como diria Florestan Fernandes, para esta afirmação corroboram os jornais da época e mais precisamente os classificados de empregos, que denunciam concomitantemente as opções destinadas às pessoas de cor, que mesmo após a abolição e proclamação da República, estavam patentes não apenas as desigualdades econômicas, mas, e sobretudo, as desigualdades existenciais, àquelas que possibilitam o vislumbrar, a esperança em conquistar um torrão do grão-pátrio.

Citaremos as ocupações mais oferecidas dentre as várias delimitadas e deliberadamente reservadas aos negros, mesmo após a abolição, já em plena República, são elas: “carregador de caixas”, “cozinheiro”, “copeiro”, “caixeiro”, “costureiras”, “vendedores de bala”, “carregador de pão”, “lavadeira”, “mucama”, “saieiras”, “carregador de cestos”, “tiradores de goiabas”, “ajudante de alfaiate”, “charuteiro”, “official barbeiro”, “padeiro”, “forneiro”, “carpinteiro”, “ama seca”, “ama de leite”, “ajudante de cozinha”, lavador de pratos” e aparecendo de maneira esmagadora a função de “criada”, em todos os classificados verificados a referência à cor é aquilo que chancela, credencia a ocupação desses postos e, nesses casos em que citamos acima onde as funções são as menos remuneradas e portanto as que exigem menos qualificação, ou seja, são funções residuais, “inferiores” dentro da hierarquia ocupacional capitalista, como o são até hoje, é o caso da criada, nossa empregada doméstica, classe com os menores níveis salariais e que menos dispõe das garantias legais do trabalhador. Transcreveremos alguns textos desses jornais a fim de contextualizar nossas inferências.

“Precisa-se de uma criada de cor preta: Rua Visconde de Sapucahy n. 169ª”; “Precisa-se de uma criada de cor preta, que cozinhe e lave; na rua Guarda velho n. 30.”; “precisa-se de uma negrinha para arranjos de casa e lidar com crianças, paga-se 15$; no Centro Ouvidor n. 20, 1ª andar.”. “precisa-se de uma preta de meia idade que saiba cozinhar, na rua da Ajuda n. 27, 1º andar”; “Precisa-se de uma preta velha para cozinhar e lavar, que durma na casa; na rua general Polydoro n. 24.”; precisa-se de uma rapariga preta para ama seca; na rua Senador Eusébio n. 9, sobrado.”; “Precisa-se de uma preto quitandeiro, que seja fiel e sem vícios, na rua Haddock Lobo n. 18F.”; “Precisa-se de uma crioulinha de 12 a 13 anos para andar com crianças de anno e meio; rua da Passagem n. 67, Botafogo.” “Precisa-se de uma senhora de idade ou de uma preta velha para serviços leves; na rua da rua da Ajuda nº 187, 2º andar.”

As modestas modalidades oferecidas ao negro não permita a ele reverter seu quadro de exclusão, de anomia social, pois suas alocações eram análogas ao período escravista, o que insistia em internalizar na idiossincrasia social o gênero subjacente do negro.

Os negros e os mulatos ficaram à margem ou se viram excluídos da prosperidade geral, bem como dos seus proventos políticos, porque não tinham condições para entrar nesse jogo e sustentar as suas regras. Em conseqüência, viveram dentro da cidade, mas não progrediram com ela e através dela. Constituíram uma congérie social dispersa pelos bairros, e só partilhavam em comum uma existência árdua, obscura e muitas vezes deletéria. Nessa situação, agravou-se, em lugar de corrigir-se, o estado de anomia social transplantado do cativeiro [...] quase meio século após da abolição o negro e o mulato ainda não tinham conquistado um nicho próprio e seguro dentro do mundo urbano, que fizesse daquele estágio um episódio de transição, inevitável, mas transponível. Pagaram com a própria vida, ininterruptamente, os anseios da liberdade, de independência e de consideração que os animavam a “tenta a sorte”, usufruindo magramente das compensações materiais e morais da civilização urbana [...] As posições mais cobiçadas mantinham-se “fechadas” e inacessíveis; as posições “abertas” eram seletivas segundo critérios que só episodicamente podiam favorecer pequeno número de “elementos de cor”. 

Estratégia velada, inconsciente ou deliberada, não importa, a questão é que os papéis ínfimos dentro do mercado de trabalho oferecidos aos egressos do escravismo, ajudou e tem ajudado a perpetuar a debilidade econômica e, por conseguinte, social, calando sua voz diante de um sistema econômico arraigado a práticas racistas de seleção, alimentando anacronicamente um sentimento colonial, cuja perenidade forjou uma espécie de inconsciente coletivo. Logo, despreparado, descrente, abandonado a sua própria sorte, o negro carecia de quase tudo, não houve nenhum planejamento ao despejá-los em um mundo cuja lógica seria ininteligível para um ex-cativo. Assim, sem tempo para se adaptar, se reeducar e, internalizar o ethos de um trabalhador livre, sem meios para competir com os brancos, e aspirar à ocupação de posições mais valorizadas os negros portavam-se de maneira dispersa, quase neurastênica.

Trazemos este tema à baila num momento de verdadeira revolta e como forma de protesto, sim, sem nos preocuparmos com críticas sobre nosso cientificismo, pois, como assistimos também o descaramento e a total ausência de constrangimento com que a mídia destaca as atividades como: faxineiras, garis, peões, enfim, são estereotipadas como sendo a consubstanciação do malogro, pois, é muito comum as telenovelas se reportarem a essas profissões de forma desrespeitosa, mesmo que camuflada em pó de arroz de uma ingenuidade grotesca Todos devem ser lembrar da personagem vivida por Guilhermina Ginle que ao final da novela “Paraíso Tropical”, recebera como “castigo”, por assim dizer, um final “infeliz”, pelo menos era o que provavelmente o autor devia ter em mente quando a “ridicularizou” colocando-a na pele de um gari do Rio de Janeiro, como se essa profissão fosse uma penitência, o mesmo aconteceu recentemente a um casal de senhores na novela Sete Pecados que simplesmente tinham aversão ao trabalho de faxineiros de um hotel luxuoso e conquistam um final majestoso ao ganharem na loteria e livrando-se desse “martírio” que seria o serviço de limpeza.

O pior é que as autoridades também reverberam esse ideário preconceituoso, tanto que tem adotado como penitência a jovens infratores, o “castigo” de realizar por alguns dias serviços de gari, situação esta que fora recebido com indignação pela classe que se diz insultada, porque sua profissão não deve ser vista como um mero castigo e tratada com repugnância, eles se dizem orgulhosos de fazer o que fazem. Outro aspecto patente nas telenovelas concerne no padrão estabelecido das empregadas domésticas, ou seja, a sua maioria composta de negras, até aí concordamos, uma vez que essa é infelizmente a nossa realidade, pois, como já explanamos tem raízes em nosso escravismo.

A questão é até quando trataremos com tamanho desdenho gente que trabalha duro, fazendo aquilo que os diplomados e engravatados consideram humilhante realizar, por isso legaram aos “subalternos”, mas como se já não bastasse à carga de trabalho e paradoxalmente os salários aviltados, ainda encontram outras maneiras de vilipendiar as pessoas simples que sem vergonha alguma lutam por sobreviver a partir dos meios que elas dispõe, desafiando com o peito aberto um mundo cujo glamour depende do trabalho deles que pegam no pesado e na sujeira, mas cujas mãos não estão tão sujas quanto aquelas que são responsáveis pelo imobilismo na estrutura social brasileira.

Curioso...

História do Pão
É estimado que o pão tenha surgido há 12 mil anos na Mesopotâmia.

O pão presente em todos os lares é motivo de polêmica. Mas, de fato não se sabe quando o pão começou a ser feito. Como era o pão de antigamente?

É estimado que o pão tenha surgido há 12 mil anos na Mesopotâmia juntamente com o cultivo do trigo. Eram feitos de farinha misturada com o fruto do carvalho. Os primeiros pães eram achatados, duros, secos e muitos amargos. Para ser ingerido, o pão era lavado várias vezes em água fervente e depois era assado sobre pedras ou embaixo de cinzas.

O primeiro pão assado em forno de barro foi a 7000 a.C. no Egito, que mais tarde descobriram o fermento. O pão chegou à Europa em 250 a.C. sendo preparado em padarias, mas com a queda do império romano, as padarias fecharam e o pão teve que ser feito em casa. Somente a partir do século XII a França começou a melhorar e então no século XVII o país se destacou como centro mundial de fabricação de pães.

No Brasil, o pão começou a ser popular no século XIX, apesar de ser conhecido desde os colonizadores. Os pães feitos no Brasil eram escuros enquanto na França o pão era de miolo branco e casca dourada. O pão francês que tanto é usado no Brasil não tem muito a ver com os verdadeiros pães francês, pois a receita do pão francês no Brasil só surgiu no início do século XX e difere do pão europeu por conter um pouco de açúcar e gordura na massa.

Piada...

PIADA DE CASAIS SORTEADA

Uma dessas manhãs, o marido acorda e vira-se para a mulher, dá um beliscão na bunda dela e diz: -Se você fizesse exercício para firmar essa bundinha, poderíamos nos livrar dessas calcinhas. A mulher se controlou e achou que o silêncio seria a melhor resposta. No outro dia o marido acorda, da um beliscão nos seios da mulher e diz: -Se você conseguisse firmar essas tetinhas poderíamos nos livrar desse sutiã. Aquilo foi o limite, e o silêncio definitivamente não seria uma resposta. Então ela se virou, agarrou no pênis do marido e disse: -Se você conseguisse firmar esse pauzinho, poderíamos nos livrar do carteiro, do jardineiro, do personal trainner, do meu chefe e até do seu irmão.

Mais uma etapa superada...