Qual o sentido da colonização?
A colonização do
Brasil foi parte de um processo mais amplo de expansão comercial europeia, o
que certamente influenciou na formação social do país.
Uma das temáticas
em história mais apresentadas e discutidas nos primeiros anos da formação
escolar é a colonização do Brasil. Decoramos datas e nomes, aprendemos que os
portugueses foram nossos colonizadores, que por aqui já havia indígenas, que os
escravos africanos foram trazidos na sequência, e que o brasileiro é resultado
desta mistura.
Porém, por se tratar de uma visão demasiadamente simples, nem
sempre nos deixa claro qual o sentido da colonização em termos de seu
significado para aquele contexto e, muito menos, não se discute, do ponto vista
sociológico, seus desdobramentos para a constituição do Brasil enquanto país.
Sendo assim, para
se conhecer um pouco mais sobre o início da formação da sociedade brasileira é
de fundamental importância, num primeiro momento, apreendermos o que Caio Prado
Jr. chamou de “o sentido da colonização” em sua obra Formação do Brasil
Contemporâneo, obra esta publicada em 1942. Dessa forma, ao nos dedicarmos a
este exercício de compreensão do processo de colonização das terras brasileiras
pelo reino de Portugal, em meados do século XVI, é necessário entender este
fato histórico de forma mais ampla, isto é, como parte de um processo maior,
global.
Segundo o referido autor, a ocupação do Brasil é apenas um episódio que
compõe um processo mais amplo e já conhecido: a expansão marítima. Isso
significa que os impulsos iniciais do processo de colonização se explicariam
pelo desejo da expansão da empresa europeia dentro da lógica mercantilista que
se consolidava naquele momento da Idade Moderna. Não se tratou apenas de um
projeto específico de desbravamento do mar, do espírito aventureiro português,
mas, além disso, tratava-se de buscar alternativas para ampliar o comércio que
tinha como entraves questões de ordem política e econômica também internas ao
continente, a exemplo dos árabes que dominavam o comércio de especiarias.
Sendo assim, é
possível dizer que a formação da sociedade brasileira não era um fim, um
objetivo propriamente dito, como diferentemente ocorreu nas chamadas colônias
de povoamento tão presentes na América Espanhola. Mais como consequência de que
como alvo, a formação do Brasil enquanto nação se deu por um processo histórico
bastante peculiar, com desdobramentos significativos para a constituição do
país enquanto nação.
Caio Prado Jr. afirma que todo o povo tem na sua evolução certo
sentido, o qual não se dá pelos pormenores da história, mas fundamentalmente ao
analisarmos o conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais da história num
largo período de tempo. Ainda segundo tal autor, há uma linha mestra e
ininterrupta de acontecimentos, que se sucedem em ordem rigorosa, dirigida para
determinada orientação. Tais acontecimentos históricos são partes de um todo,
fato que nos permitiria compreender a especificidade de um povo, de uma nação,
de uma sociedade.
Para Caio Prado, no
caso brasileiro, “precisamos reconstituir o conjunto da nossa formação,
colocando-a no amplo quadro, com seus antecedentes, desses três séculos de
atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus a partir
do século XV; atividade que integrou um novo continente na sua órbita,
paralelamente, aliás, ao que se realizava, embora em outros moldes diversos, em
outros continentes: a África e a Ásia.” (PRADO, p. 16, 2011).
Dessa forma, o
Brasil começa a se desenhar enquanto sociedade sob um contexto no qual
predomina a produção voltada para o mercado exportador e, na condição de
colônia, estava enfadado a olhar para fora, sendo que o improviso, o
descompromisso e o provisório eram pensamentos que inviabilizavam o surgimento
de uma organização social de fato sólida, de fato com uma ‘alma nacional’.
Para este
empreendimento em termos de trabalho, lançou-se mão do escravismo, escolha esta
que se justifica pelo forte e rentável tráfico negreiro já praticado por
Portugal desde outros tempos. A presença da escravidão deixará suas marcas ao
longo da montagem da estrutura da sociedade brasileira, e sua presença se
explica por conta deste sentido da colonização, uma vez que é parte integrante
deste.
Assim, a colonização do Brasil toma o aspecto de uma vasta empresa
comercial, voltada à exploração dos recursos naturais de um território virgem
em proveito do comércio europeu. Segundo Prado, este seria o “verdadeiro
sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; ele
explicará os elementos fundamentais, tanto no econômico como no social, da
formação e evolução histórica dos trópicos americanos” (Ibidem, p.28).
Logo, a ocupação do
território brasileiro não se fez em nome da construção de uma nova sociedade
com interesses próprios, nacionais, mas sim para o alcance de interesses de
fora, da metrópole, daqueles que aqui não viviam, mas que se beneficiavam do
comércio.
Assim, “é com tal objetivo, exterior, voltado para fora do país e sem
atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se
organizarão a sociedade e a economia brasileiras” (Ibidem, p. 29).