Descobrimento do Brasil
Em 22 de abril de 1500, no
atual estado da Bahia, aportavam os primeiros portugueses nas terras que se
transformariam no Brasil que hoje conhecemos. Porém, é necessário entender o
Descobrimento do Brasil como um episódio mais amplo, denominado Grandes
Navegações.
Em busca das Índias
As Grandes Navegações são
resultantes de um processo de transformação maior ocorrido na Europa no final
da Idade Média a procura de uma nova rota para as Índias, objetivando o
comércio de especiarias.
Portugal foi o primeiro
O primeiro país a lançar-se
à procura de novas rotas para o Oriente foi Portugal. Isso, graças às condições
extremamente favoráveis em que esse país se encontrava.
Burguesia rica: o grupo mercantil português tem sua origem
ligada ao desenvolvimento comercial europeu e ao aparecimento de novas rotas de
comércio. Havia uma delas, a Atlântico-Mediterrâneo, que iniciava nas cidades
italianas e passava pelo estreito de Gibraltar para alcançar o mar do Norte. Os
navios dessa rota faziam escala em Portugal para se reabastecer e aproveitavam
também para realizar o comércio. O aproveitamento dessa rota deu à burguesia
portuguesa uma posição econômica tão favorável que lhe permitia financiar a
procura de novas roas marítimas;
Monarquia forte: em 1385
sobe ao poder de Portugal o rei D.João I, da dinastia de Avis. Como para isso
foi apoiado pela burguesia, teve que atender, no seu governo, aos interesses
dessa camada, orientando a política portuguesa no sentido da procura de novas
rotas comerciais;
Situação de paz: Portugal
atravessava um período de paz tanto interna quanto externamente, enquanto
outros países europeus estavam envolvidos em guerras (a Inglaterra e a França
travavam a Guerra dos Cem Anos e a Espanha tentava expulsar os árabes do seu
território);
Posição geográfica favorável: Ao observar o mapa, podemos perceber que
Portugal está inteiramente voltado para o oceano Atlântico o que significava
ótima posição para a navegação marítima.
O objetivo de Portugal era
chegar às Índias contornando o continente africano, por essa razão chamamos as
navegações portuguesas de ciclo oriental.
Durante muito tempo,
Portugal foi o único país europeu a fazer navegações:
Conquistou Ceuta, no norte
da África, em 1415. Nessa região fundou sua primeira base dentro do continente
africano;
conquistou várias ilhas no
Atlântico;
em 1488, Bartolomeu Dias
contornou o cabo da Boa Esperança, comprovando a ligação do oceano Atlântico
com o Índico.
O primeiro concorrente
Logo depois, em 1492, a
Espanha também começou a navegar. Os espanhóis expulsaram os árabes que
dominavam seu território e contrataram o grande navegador italiano Cristóvão
Colombo, que pretendia chegar às Índias por outro caminho.
Acreditando na esfericidade
da Terra, Colombo pretendia fazer a viagem de circunavegação: iria em direção
ao Ocidente para atingir o Oriente. Este foi o ciclo ocidental.
Essa viagem era possível,
mas o que Colombo não sabia é que, ao invés de chegar às Índias, iria descobrir
um novo continente.
Em 12 de outubro de 1492,
após dois meses de viagem, ele chegou a terra firme: eram as ilhas da América
Central. Ele, entretanto, pensou ter chegado às Índias.
Somente mais tare é que
Américo Vespúcio, outro navegante italiano, verificou não se tratar das Índias
e sim de um novo continente, por isso a nova terra levou o nome de América.
Quando Colombo voltou para a
Europa e comunicou o resultado de sua viagem, Portugal passou a cobiçar essas
terras e exigiu da Espanha um tratado que dividisse com ele as terras
descobertas ou por descobrir.
A fim de solucionar a
contenda entre os dois países, oi chamado o Papa Alexandre VI, que fez a Bula
Inter Coetera: seria traçado um meridiano imaginário a 100 léguas das ilhas de
Cabo Verde.
As terras que ficassem a
oeste pertenceriam à Espanha e as ficassem a leste, a Portugal.
Portugal foi extremamente
prejudicado pelo tratado: não ficou de posse de nenhum trecho de terra do novo
continente. Assim sendo, recusou-se e exigiu outro. O novo tratado, elaborado
diretamente entre os governos da Espanha e de Portugal, recebeu o nome de
Tratado de Toresilhas (1494). Estabelecia um meridiano imaginário a 370 léguas
a oeste de Cabo Verde; as terras que ficassem a oeste pertenceriam à Espanha e
a leste a Portugal.
Assim, Portugal ficou com
uma parte do Brasil antes mesmo de seu descobrimento oficial. O setor do
território brasileiro que ficou para Portugal ia da atual cidade de Belém do
pará até Laguna, em Santa Catarina. Corresponde aproximadamente a um terço do
Brasil atual.
O Brasil e as Índias
Apesar de Portugal insistir
em garantir a posse das terras ocidentais, ele continuava interessado no
comércio de produtos asiáticos, e para tanto era necessário continuar a busca
do caminho marítimo para as Índias.
Em 1498 foi organizada uma
nova esquadra, comandada por Vasco da Gama. Seguindo o caminho já determinado
por Bartolomeu Dias, Vasco da Gama atingiu o oceano Índico e assim conseguiu
chegar às tão procuradas Índias. Aportou na região de Calicute, centro
comercial das especiarias. Estava, assim, descoberto o caminho marítimo para as
Índias.
Era necessário, agora,
estabelecer um comércio com essa região. Por isso, em 1500, o rei D. Manuel, o
Venturoso, organizou a esquadra de Pedro
Alvares Cabral, que tinha como objetivos:
fundar nas Índias um centro comercial português;
oficializar o descobrimento
do Brasil.
Cabral partiu de Portugal
com sua grande esquadra no dia 9 de março de 1500.
Atravessou o Oceano
Atlântico, que naquela época era conhecido como o Mar Oceano, e no dia 21 de
abriu avistou os primeiros sinais de terra: ervas marinhas e pássaros. No dia
seguinte, 22 de abril, avistou a própria terra. A armada aportou então num
abrigo seguro que foi chamado de Porto Seguro (hoje baía Cabrália, no atual
estado da Bahia) e ali permaneceu durante dez dias.
Como disse Caminha em sua carta: “... Primeiro um monte
muito alto e redondo, com muitas serras mais baixas ao sul...”
Ao monte foi dado o nome de
monte Pascoal , pela proximidade da festa da Páscoa e à terra, Ilha de Vera
Cruz, em nome do rei de Portugal.
No dia 26 de abril foi
celebrada a primeira missa por Frei Henrique Soares, no Ilhéu da Coroa
Vermelha.
A 1º de maio foi rezada a
segunda missa, agora já em terra firme, e com esse ritual se deu também a posse
oficial da terra para Portugal.
A 2 de maio Cabral continuou
a viagem em direção às Índias, deixando aqui dois degredados.
O Brasil teve três nomes:
inicialmente, Ilha de Vera Cruz, pois supunha-se que se tratava apenas de uma
ilha e não de um enorme território; comprovado o erro, passou a ser Terra de
Santa Cruz. O nome atual, Brasil, deve-se à madeira cor de brasa, aqui
existente, denominada pau-brasil.
Os índios do Brasil
Na época do Descobrimento
quando os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início ao processo
de ocupação, perceberam que a região era
ocupada pelos povos nativos. A estes nativos os portugueses deram o nome
de índios, pois acreditavam ter chegado às Índias.
Mesmo após a descoberta de
que não estavam nas Índias, e sim em um território desconhecido, os europeus
continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças
linguístico-culturais. Desta maneira era
mais fácil tornar todos os nativos iguais e tratá-los também de forma igual, já
que a finalidade era o domínio político, econômico e religioso.
Ainda que não se tenha um
conhecimento exato quanto ao número de sociedades indígenas existentes no
Brasil à época da chegada dos europeus, existe estimativas sobre o número de
habitantes nativos naquele tempo, algo em torno de 5 milhões de indivíduos.
O processo de colonização levou à extinção de
muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja por meio
das guerras, seja em consequência do contágio por doenças trazidas dos países
distantes como a gripe, o sarampo e a varíola, que vitimaram, muitas vezes,
sociedades indígenas inteiras, em razão dos índios não terem imunidade natural
a estes males, ou, ainda, pela imposição aos índios à nova maneira de viver.
Sem poder enfrentar os
portugueses na guerra e não querendo conviver pacificamente com eles, muitos
indígenas resolveram fugir para o interior do território, na tentativa de
manter seu modo de vida, longe dos invasores. Apesar disso, muitos desses
índios acabaram aprisionados e transformados em escravos.
A classificação indígena
Os portugueses conheceram
primeiro os povos que viviam no litoral. Por terem traços culturais semelhantes
entre si, eles receberam dos colonizadores uma denominação geral: Tupi ou
Tubinambá. Os outros grupos que tiveram
menor contato, como os povos que habitavam o interior do território e que não
falavam a língua que os jesuítas deram o nome de "língua geral" ou
"língua mais usada na costa do Brasil", os portugueses deram o nome
de Tapuia.
Esta classificação foi
extremamente importante para o registro das informações sobre os índios
produzidas pelos portugueses, franceses e outros europeus. Sem os documentos
produzidos pelos colonizadores, as crônicas dos viajantes, a correspondência
dos jesuítas e as gramáticas da "língua geral" e de outras línguas,
não teríamos como saber sobre os nativos, sua cultura e sua história.
Sociedades indígenas
À medida que os
colonizadores foram explorando o território, perceberam que essas populações
dividiam-se em centenas de povos que falavam línguas distintas, tinham costumes e hábitos diferentes.
Estima-se que na época eram
faladas cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes.
Para estudarmos os povos
indígenas, estes foram agrupados de acordo com as semelhanças existentes entre
suas línguas. Desta forma são reunidos povos com características culturais
comuns.
A classificação linguística
reconhece a existência de dois troncos principais (tupi e macro-jê) e de outras
seis famílias linguísticas de significativa importância (aruak, arawá, karib,
maku, tukano e yanomami), além de muitas línguas sem filiação definida, não
classificadas ou isoladas.
Atualmente essa população
está distribuída em aproximadamente 215 etnias, que falam cerca de 170 línguas
diferentes, excluindo-se os índios isolados. Muitos índios falam unicamente sua
língua, desconhecendo o português e outros falam o português como sua segunda
língua.
Aproximadamente 60% da
população indígena brasileira vive na região designada como Amazônia Legal,
área esta que engloba nove estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica
e, que possuem em seu território trechos da Floresta Amazônica, entretanto
registra-se a presença de grupos indígenas em praticamente todos os estados
brasileiros. Apenas no Rio Grande do Norte, Piauí e no Distrito Federal não se
encontra grupos indígenas.
Os principais grupos
indígenas brasileiros em expressão demográfica são: Tikuna, Tukano, Macuxi,
Yanomami, Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayapó, Kaingang, Guarani, Xavante,
Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura, Sateré-Maué, entre outros.
Grupos indígenas de
destaque:
Tupis: habitavam
principalmente o litoral brasileiro,
desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas. Ocuparam também trechos do
interior do país. Entre as tribos que formavam esta nação, destacam-se: os
tupinambás, os tupiniquins, os mundurucus e os parintintins.
Jês ou tapuias: comparado
aos outros grupos, era o que se encontrava no mais atrasado estágio de
desenvolvimento. Dominavam todo o planalto central; na região que corresponde
atualmente ao oeste de Minas Gerais, o Estado de Goiás e do Mato Grosso. Eram
encontradas algumas tribos também no Maranhão e no Piauí. Entre suas principais
tribos destacam-se: timbiras, aimorés, goitacás, cariris, carijós e caiapós.
Aruak: O grupo Aruak ocupava
uma extensa zona geográfica compreendida em parte do Amazonas e a ilha de Marajó. Fora do
território brasileiro localizavam-se desde a Bolívia até a costa setentrional da Venezuela, para o
Norte chegaram até a Flórida e para a o
Sul atingiram a região do Paraguai. Eram considerados excelentes navegadores e
em estágio bem adiantado de desenvolvimento possuindo agricultura organizada.
As principais tribos Aruak em nosso país eram: aruãs, parecis, paumaris,
cunibos, guanás e terenos.
Karib: O grupo Karib
destacou-se como o grupo mais violento. Ocupavam a região do baixo Amazonas e
parte do território do Amapá e Roraima. Em razão da prática da antropofagia,
eram chamados canibais. Destacam-se: palmelas, pimenteiras, nauquás, bocairis,
cotos, mariquitares e crixamas.
Organização social dos
índios
Os costumes dos tupis ou
tupinambás são os mais conhecidos em razão dos registros feitos pelos os
jesuítas e os viajantes estrangeiros durante o Período Colonial. O mesmo,
entretanto, não ocorreu com os tapuias, avaliados pelos colonizadores como o
exemplo máximo da barbárie e selvageria.
Os índios vivem em tribos.
Organização de um grupo de pessoas ligadas entre si por laços de sangue, com costumes e interesses
comuns. Constroem sua aldeia em uma mesma área, falam a mesma língua, têm os
mesmos costumes e união entre si.
Os Tupis moravam em malocas.
Cada grupo local ou "tribo" tupinambá era composta de cerca de 6 a 8
malocas. A população dessas tribos girava em torno de 200 indivíduos, podendo
atingir até 600.
As formas de organização das
aldeias indígenas são distintas de um povo para outro. Algumas tribos preferem construir suas aldeias em forma de
ferradura; já outras optam pela forma circular; outros, ainda, constroem uma
única habitação coletiva.
As tribos são compostas de unidades menores que
recebem o nome de tabas ou aldeias e
cada uma delas formada por um conjunto de ocas. As ocas localizam-se em torno
de uma praça central, a ocara, onde são realizadas as festas, as danças e as
cerimônias religiosas. A taba normalmente é protegida por uma cerca de troncos
chamada caiçara.
O comando da tribo é de
responsabilidade do cacique. Na época do descobrimento era o cacique que
conduzia os homens à guerra, à pesca e à caça. Era ele que reunia os índios para
as decisões dos negócios mais importantes da tribo: declaração de guerra,
mudança de aldeia etc.
O chefe religioso é o pajé.
A ele compete realizar as cerimônias religiosas e manter as tradições da tribo. Também exerce as funções de
sacerdote, médico e professor.
A economia baseava-se na
coleta de raízes e frutos e também praticavam a caça e a pesca. Algumas tribos
conheciam a agricultura, que era bastante primitiva. Destacava-se
principalmente o plantio do milho, mandioca, amendoim e tabaco.
Em razão da economia da
coleta os índios eram nômades desta forma era bastante comum os índios
invadirem as terras de outras tribos, o que acabava resultando em guerras.
No período da entressafra,
os índios faziam objetos de cerâmica e utensílios para o trabalho. Cada índio
costumava ter seus próprios instrumentos de trabalho, como seu arco e suas
flechas.
As tarefas eram dividas
entre os membros das tribos e,
geralmente, obedeciam à seguinte distribuição:
Trabalho das mulheres
O trabalho agrícola, desde o plantio até a colheita.
A coleta de frutos.
A fabricação de farinha.
O preparo da comida.
Cuidar das crianças da tribo
Tecer redes e trançar cestos
Trabalho dos homens
A derrubada do mato e a preparação da terra
para o plantio.
Caçar e pescar.
Fabricar arcos, flechas e
canoas.
A construção das moradias.
Expedições guerreiras.
Proteger a tribo.
Para deslocarem-se com maior
rapidez, os índios utilizavam a navegação nos rios em canoas ou jangadas. As
canoas maiores eram chamadas de igaras e as mais velozes de ubás.
Os índios eram politeístas,
isto é, acreditavam em vários deuses, como, por exemplo, Guaraci, o Sol; Jaci,
a Lua e Tupã, o raio e o trovão.
Os nativos não possuíam
sistema de escrita, no entanto desenhavam figuras de animais, corpos humanos,
astros e utensílios.
Entre os tupis, o matrimônio
avuncular (tio materno com sobrinha), ou entre primos cruzados, era o mais
desejado, entretanto, para casar, o jovem Tupi devia passar por certos testes,
o principal deles consistindo em fazer um cativo de guerra para o sacrifício.
Algumas tribos permitem
apenas a monogamia, e em outras, a poligamia.
A vida dos grupos locais ou
mesmo de "nações" Tupi girava em torno da guerra, da qual faziam
parte os rituais antropofágicos. Guerreavam contra grupos locais da mesma
nação, entre "nações" e contra os "tapuias".
A guerra e os banquetes
antropofágicos reforçavam a união da tribo. Por meio da guerra era praticada a
vingança dos familiares mortos, enquanto o ritual antropofágico representava
para todos, homens, mulheres e crianças, a lembrança de seus bravos. O dia da
execução era uma grande festa.
Nos banquetes
antropofágicos, o aprisionado era imobilizado por meio de cordas. Mesmo assim,
para mostrar seu espírito guerreiro, precisava enfrentar com bravura os inimigos, debatendo-se e anunciando que os companheiros logo vingariam a morte dele.
Inimigo amarrado na
preparação do sacrifício, segundo descrição de Hans Staden, 1554.
O conhecimento do índio
Os índios por viverem sempre
em contato com a natureza a conhecem com propriedade. Muitos destes
conhecimentos estão ligados à alimentação. Eles descobriram, por exemplo, que
era possível retirar o veneno da mandioca venenosa, tornando-a comestível. Criaram
também o instrumento para retirar esse veneno: o tipiti, um longo tubo tecido
de fibra vegetal, que é cheio com a mandioca ralada e depois esticado, fazendo
com que todo esse líquido venenoso saia
por entre as fibras.
Descobriram também vegetais
venenosos que são usados na pesca; dentre eles, o mais conhecido no Brasil é o
timbó ou tingui. Quando jogado na água, os peixes começam a boiar e podem ser
facilmente apanhados à mão; ele não faz mal a quem come os peixes.
Já o curare, é utilizado na
caça. O veneno pode ser sólido, líquido ou pastoso, e cada povo que o utiliza
tem sua maneira de fabricá-lo. O curare é utilizado na ponta da flecha e o
animal atingido fica paralisado, não consegue respirar e acaba morrendo. O
animal envenenado pode ser consumido sem perigo, pois o veneno não é absorvido
pelo sistema digestório.
Com o líquido extraído do
tronco da seringueira, o látex, alguns índios, especialmente da região
Amazônica, fazem bolas e outros objetos. A técnica utilizada pelos
nhambiquaras, por exemplo, é a de produzir primeiro uma bola de barro; nessa
bola espetam um canudo; depois cobrem a bola com camadas de látex e finalmente,
jogam água pelo canudo, assim dissolvem e retirar o barro, em seguida, tiram o canudo e fecham o buraco com látex.
Todo esse conhecimento é
fruto da coexistência com a natureza e adquirido, na prática, desde a infância.
Alianças com os colonizadores
Os índios reagiram de formas
distintas à presença dos colonizadores e à chegada de invasores, como os
holandeses e franceses. O apoio indígena foi crucial para a vitória da
colonização portuguesa.
Com este apoio, contudo, as
lideranças indígenas tinham seus próprios objetivos: lutar contra seus inimigos
tradicionais, que, por sua vez, também se aliavam aos inimigos dos portugueses
(franceses e holandeses) por idênticas razões. Alguns exemplos das alianças com
os portugueses:
- guerreiros temiminós
liderados por Araribóia se aliaram aos portugueses para derrotar os franceses
na baía de Guanabara, nos anos 1560, que recebiam apoio dos Tamoios.
- chefe tupiniquim Tibiriçá,
valioso para o avanço português na região de São Vicente e no planalto de
Piratininga. Combatia rivais da própria "nação" Tupiniquim e os
"tapuias" Guaianá, além de escravizar os Carijós para os portugueses.
- o chefe potiguar Zorobabé,
na Paraíba e Rio Grande do Norte. Aliou-se aos franceses, em fins do século
XVI, e aos portugueses, tendo sido recrutado para combater os Aymoré na Bahia e
até para reprimir os nascentes quilombos de escravos africanos.
- o potiguar Felipe Camarão,
a mais notável líder indígena no contexto das guerras pernambucanas contra os
holandeses no século XVII. Camarão combateu os flamengos, os tapuias e os
próprios potiguares que, ao contrário dele, passaram para o lado holandês,
recebendo por isso o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, o privilégio de
ser chamado de "Dom" e pensões régias, entre outros privilégios.
Diversas lideranças pró-lusitanas receberiam antes e depois de Camarão
privilégios similares, criando-se no Brasil autênticas linhagens de chefes
indígenas condecorados pela Coroa por sua lealdade a Portugal.
Resistência aos
colonizadores
Alguns grupos moveram
inúmeros ataques aos núcleos de povoamento portugueses. Entre estes, os Aymoré,
depois chamados de Botocudos, foram um constante flagelo para os colonizadores
durante o século XVI, na Bahia.
Entre os episódios célebres
de resistência ou represália, ficaram registrados:
- o do donatário da Bahia,
Francisco Pereira Coutinho, devorado pelos Tupiniquins, em 1547;
- o do jesuíta Pero Correa,
devorado pelos Carijós, na região de São Vicente, em 1554;
- o do primeiro bispo do
Brasil, D.Pedro Fernandes Sardinha, em 1556, devorado pelos Caetés, após
naufragar no litoral nordestino.
Alianças com invasores
contra os colonizadores também
ocorreram. Nações inteiras escolheram por se aliarem aos inimigos dos
portugueses.
- os Tamoio, no Rio de
Janeiro, fortes aliados dos franceses nas guerras dos anos 1550-60;
- os Potiguar, boa parte
deles combateu com os franceses durante algum tempo na Paraíba e atual Rio
Grande do Norte, e por ocasião das invasões holandesas em Pernambuco, onde
forneceram assistência aos flamengos, tornando célebre lideranças como a de
Pedro Poti e de Antônio Paraupaba.
Índios isolados
Alguns povos indígenas,
desde a época do Descobrimento, mantiveram-se afastados de todas as
transformações ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus
antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e agricultura incipiente,
isolados do convívio com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas.
Os índios isolados defendem
bravamente seu território e, quando não podem mais sustentar o enfrentamento
com os invasores de seus domínios, recuam para regiões mais distantes, na
esperança de conseguirem sobreviver escondendo-se para sempre.
Pouca ou nenhuma informação
se tem sobre eles e, por isso, sua língua é desconhecida. No entanto, sabe-se
que alguns fatores são fundamentais para possibilitar a existência futura
desses grupos. Entre eles, a demarcação das terras onde vivem e a proteção ao
meio ambiente, de forma a garantir sua sobrevivência física e cultural.
No processo de ocupação dos
espaços amazônicos, o conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas
por índios isolados são fundamentais para que se possa evitar o confronto e a
destruição desses grupos.
Política indigenista
As barreiras à escravização
dos índios datam do início da colonização, 1530, mas o cativeiro indígena foi
mais tenazmente combatido somente com a chegada dos jesuítas, em 1549, e a
implantação do sistema de aldeamento. Neste combate os jesuítas contaram com o
apoio da Coroa.
No quadro abaixo podemos
acompanhar, a partir do século XVI, as principais medidas de proteção aos
índios.
1570
Primeira lei contra o
cativeiro indígena
Esta lei só permitia a
escravização dos indígenas com a alegação de "guerra justa"
1609
Lei que reafirmou a
liberdade dos índios do Brasil
Importante lei que tentou
garantir novamente a liberdade dos índios, ameaçada pelos interesses dos
colonos
1686
Decretação do
"Regimento das Missões"
Estabeleceu a base de
regulamentação do trabalho missionário e do fornecimento de mão-de-obra
indígena no Estado do Maranhão e Grão-Pará
1755
Aprovado o Directorio, que
visava, através de medidas específicas, a integração do índio na vida da
colônia.
Proibia definitivamente a
escravidão indígena
1758
Fim da escravidão indígena:
Directorio foi estendido a toda a América Portuguesa.
Secularização da
administração dos aldeamentos indígenas: abolida escravidão, a tutela das
ordens religiosas das aldeias e proclamados os nativos, vassalos da Coroa.
1798
Abolido o Directorio
O espírito
"integrador" desse Directorio conservaria a sua força na legislação
do Império Brasileiro
1845
Aprovado o Regulamento das
Missões
Renova o objetivo do
Directorio, e visava, portanto, a "completa assimilação dos índios"
1910
Criação do Serviço de
Proteção aos Índios - SPI
O Estado republicano tutelou
os indígenas
1952
Rondon criou o projeto do
Parque Nacional do Xingu
Objetivo era criar uma área
de proteção aos indígenas
1967
Criação da Fundação Nacional
do Índio - FUNAI
Substituiu o extinto SPI na
administração das questões indígenas
1979
Criação da União das Nações
Indígenas
Primeira tentativa de defesa
da cultura indígena, importante para a consagração dos direitos dos índios na
Constituição de 1988.