O materialismo na teoria do conhecimento de Thomas Hobbes
Para Hobbes, a mente humana
é desprovida de qualquer sistema de representação anterior à experiência.
No período da história
humana conhecido por idade moderna, que se inicia com o Renascimento, é muito
comum a pesquisa e o desenvolvimento do termo “representação” em vários
aspectos, tais como os epistemológicos, políticos e religiosos. Um dos
primeiros a conceber um sistema de representação foi o inglês Thomas Hobbes.
Diferente de Maquiavel,
Hobbes considera a mecânica (estudo do movimento na ciência natural ou física)
como modelo para sua psicologia e também para sua sociologia. Ele parte do
conceito de indivíduos isolados, como átomos (que são corpos inorgânicos
imutáveis e eternos) e faz a analogia com os homens no estado real de natureza.
É essa analogia que pode explicar as alterações sociais.
Assim, cada indivíduo reage
a movimentos exteriores numa necessidade incondicional. Vistas do interior, as
reações humanas apresentam-se como vivências, sentimentos e impulsos. Para
Hobbes, todos os afetos que sentimos são efeitos de fenômenos mecânicos no
nosso corpo e também no mundo exterior.
Seguindo uma tradição
empirista que remonta a Aristóteles, Hobbes entende que a mente humana é
totalmente desprovida de qualquer representação anterior à experiência. Ela
ocorre da seguinte forma:
- Em primeiro lugar, temos a
sensação, que é o pensamento isolado, uma aparência da qualidade dos objetos ou
acidentes destes que são exteriores a nós e que atuam nos órgãos dos sentidos.
A sensação é uma primeira concepção no espírito do homem e é causada pelo
movimento que os objetos proporcionam ao pressionarem (interagirem) com nossos
órgãos, sendo, então, ilusória e aparente, não estando nos objetos, mas
provindo deles;
- Em segundo lugar temos a
imaginação, que é uma sensação diminuída, ou seja, passada. É a ilusão que se
guarda na memória. A diferença entre as duas é que a imaginação é presenciada e
arquivada enquanto que a memória é apenas a lembrança da ilusão no presente;
- E por último, a
experiência, isto é, muita memória ou a memória de muitas coisas. A imaginação
é fruto da percepção da sensação e quando há muita repetição, forma-se a
expectativa futura.
Podemos também compreender
mais detalhadamente segundo o esquema abaixo:
Sensação: contrapressão do
objeto aos nossos sentidos. É a impressão;
Percepção: compreensão ou
entendimento da sensação;
Imaginação: sensação
diminuída (simples ou compostas);
Memória: sobre a diminuição
da sensação, ficção do espírito;
Experiência: conjunto das
várias memórias.
Ainda segundo o autor, os
sonhos são causados por perturbações de alguma parte do corpo (interna) que
provocam sonhos diversos para perturbações diversas. Os sonhos são o reverso
das imaginações despertas. Com isso, Hobbes critica as religiões e os costumes
que estimulam imaginações fortes, tornando as pessoas supersticiosas e
despreparadas para a obediência civil.
Devemos entender, portanto,
que, para Hobbes, fora da nossa mente há apenas matéria em movimento, como se
fossem feixes de luzes desorganizados. Quando captamos esses feixes, a mente
organiza esses dados, isto é, cria um mundo artificialmente através da
linguagem (que também é artificial).
A imaginação se dá pelas palavras, sinais
e entendimento. Da mesma forma que se cria um mundo ilusório pra si, os indivíduos
coletivamente podem criar um mundo comum para si. É a common wealth, termo
inglês usado pelos filósofos para designar uma comunidade, sociedade civil
organizada ou Estado.
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