domingo, 10 de novembro de 2013

História...

Descobrimento do Brasil
Em 22 de abril de 1500, no atual estado da Bahia, aportavam os primeiros portugueses nas terras que se transformariam no Brasil que hoje conhecemos. Porém, é necessário entender o Descobrimento do Brasil como um episódio mais amplo, denominado Grandes Navegações.
Em busca das Índias

As Grandes Navegações são resultantes de um processo de transformação maior ocorrido na Europa no final da Idade Média a procura de uma nova rota para as Índias, objetivando o comércio de especiarias.

Portugal foi o primeiro

O primeiro país a lançar-se à procura de novas rotas para o Oriente foi Portugal. Isso, graças às condições extremamente favoráveis em que esse país se encontrava.

Burguesia rica:  o grupo mercantil português tem sua origem ligada ao desenvolvimento comercial europeu e ao aparecimento de novas rotas de comércio. Havia uma delas, a Atlântico-Mediterrâneo, que iniciava nas cidades italianas e passava pelo estreito de Gibraltar para alcançar o mar do Norte. Os navios dessa rota faziam escala em Portugal para se reabastecer e aproveitavam também para realizar o comércio. O aproveitamento dessa rota deu à burguesia portuguesa uma posição econômica tão favorável que lhe permitia financiar a procura de novas roas marítimas;
Monarquia forte: em 1385 sobe ao poder de Portugal o rei D.João I, da dinastia de Avis. Como para isso foi apoiado pela burguesia, teve que atender, no seu governo, aos interesses dessa camada, orientando a política portuguesa no sentido da procura de novas rotas comerciais;
Situação de paz: Portugal atravessava um período de paz tanto interna quanto externamente, enquanto outros países europeus estavam envolvidos em guerras (a Inglaterra e a França travavam a Guerra dos Cem Anos e a Espanha tentava expulsar os árabes do seu território);
Posição geográfica favorável:  Ao observar o mapa, podemos perceber que Portugal está inteiramente voltado para o oceano Atlântico o que significava ótima posição para a navegação marítima.

 
O objetivo de Portugal era chegar às Índias contornando o continente africano, por essa razão chamamos as navegações portuguesas de ciclo oriental.

Durante muito tempo, Portugal foi o único país europeu a fazer navegações:

Conquistou Ceuta, no norte da África, em 1415. Nessa região fundou sua primeira base dentro do continente africano;
conquistou várias ilhas no Atlântico;
em 1488, Bartolomeu Dias contornou o cabo da Boa Esperança, comprovando a ligação do oceano Atlântico com o Índico.
O primeiro concorrente

Logo depois, em 1492, a Espanha também começou a navegar. Os espanhóis expulsaram os árabes que dominavam seu território e contrataram o grande navegador italiano Cristóvão Colombo, que pretendia chegar às Índias por outro caminho.


Acreditando na esfericidade da Terra, Colombo pretendia fazer a viagem de circunavegação: iria em direção ao Ocidente para atingir o Oriente. Este foi o ciclo ocidental.


Essa viagem era possível, mas o que Colombo não sabia é que, ao invés de chegar às Índias, iria descobrir um novo continente.


Em 12 de outubro de 1492, após dois meses de viagem, ele chegou a terra firme: eram as ilhas da América Central. Ele, entretanto, pensou ter chegado às Índias.


Somente mais tare é que Américo Vespúcio, outro navegante italiano, verificou não se tratar das Índias e sim de um novo continente, por isso a nova terra levou o nome de América.


Quando Colombo voltou para a Europa e comunicou o resultado de sua viagem, Portugal passou a cobiçar essas terras e exigiu da Espanha um tratado que dividisse com ele as terras descobertas ou por descobrir.


A fim de solucionar a contenda entre os dois países, oi chamado o Papa Alexandre VI, que fez a Bula Inter Coetera: seria traçado um meridiano imaginário a 100 léguas das ilhas de Cabo Verde.


As terras que ficassem a oeste pertenceriam à Espanha e as ficassem a leste, a Portugal.
 

Portugal foi extremamente prejudicado pelo tratado: não ficou de posse de nenhum trecho de terra do novo continente. Assim sendo, recusou-se e exigiu outro. O novo tratado, elaborado diretamente entre os governos da Espanha e de Portugal, recebeu o nome de Tratado de Toresilhas (1494). Estabelecia um meridiano imaginário a 370 léguas a oeste de Cabo Verde; as terras que ficassem a oeste pertenceriam à Espanha e a leste a Portugal.


Assim, Portugal ficou com uma parte do Brasil antes mesmo de seu descobrimento oficial. O setor do território brasileiro que ficou para Portugal ia da atual cidade de Belém do pará até Laguna, em Santa Catarina. Corresponde aproximadamente a um terço do Brasil atual.



O Brasil e as Índias

Apesar de Portugal insistir em garantir a posse das terras ocidentais, ele continuava interessado no comércio de produtos asiáticos, e para tanto era necessário continuar a busca do caminho marítimo para as Índias.


Em 1498 foi organizada uma nova esquadra, comandada por Vasco da Gama. Seguindo o caminho já determinado por Bartolomeu Dias, Vasco da Gama atingiu o oceano Índico e assim conseguiu chegar às tão procuradas Índias. Aportou na região de Calicute, centro comercial das especiarias. Estava, assim, descoberto o caminho marítimo para as Índias.


Era necessário, agora, estabelecer um comércio com essa região. Por isso, em 1500, o rei D. Manuel, o Venturoso, organizou a esquadra de Pedro  Alvares Cabral, que tinha como objetivos:

fundar nas  Índias um centro comercial português;

oficializar o descobrimento do Brasil.

Cabral partiu de Portugal com sua grande esquadra no dia 9 de março de 1500.


Atravessou o Oceano Atlântico, que naquela época era conhecido como o Mar Oceano, e no dia 21 de abriu avistou os primeiros sinais de terra: ervas marinhas e pássaros. No dia seguinte, 22 de abril, avistou a própria terra. A armada aportou então num abrigo seguro que foi chamado de Porto Seguro (hoje baía Cabrália, no atual estado da Bahia) e ali permaneceu durante dez dias.


Como disse  Caminha em sua carta: “... Primeiro um monte muito alto e redondo, com muitas serras mais baixas ao sul...”


Ao monte foi dado o nome de monte Pascoal , pela proximidade da festa da Páscoa e à terra, Ilha de Vera Cruz, em nome do rei de Portugal.


No dia 26 de abril foi celebrada a primeira missa por Frei Henrique Soares, no Ilhéu da Coroa Vermelha.


A 1º de maio foi rezada a segunda missa, agora já em terra firme, e com esse ritual se deu também a posse oficial da terra para Portugal.


A 2 de maio Cabral continuou a viagem em direção às Índias, deixando aqui dois degredados.


O Brasil teve três nomes: inicialmente, Ilha de Vera Cruz, pois supunha-se que se tratava apenas de uma ilha e não de um enorme território; comprovado o erro, passou a ser Terra de Santa Cruz. O nome atual, Brasil, deve-se à madeira cor de brasa, aqui existente, denominada pau-brasil.

Os índios do Brasil

 

Na época do Descobrimento quando os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início ao processo de ocupação, perceberam que a região era  ocupada pelos povos nativos. A estes nativos os portugueses deram o nome de índios, pois acreditavam ter chegado às Índias.
 


Mesmo após a descoberta de que não estavam nas Índias, e sim em um território desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças linguístico-culturais. Desta maneira  era mais fácil tornar todos os nativos iguais e tratá-los também de forma igual, já que a finalidade era o domínio político, econômico e religioso.

Ainda que não se tenha um conhecimento exato quanto ao número de sociedades indígenas existentes no Brasil à época da chegada dos europeus, existe estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo, algo em torno de 5 milhões de indivíduos.

O processo de colonização levou à extinção de muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja por meio das guerras, seja em consequência do contágio por doenças trazidas dos países distantes como a gripe, o sarampo e a varíola, que vitimaram, muitas vezes, sociedades indígenas inteiras, em razão dos índios não terem imunidade natural a estes males, ou, ainda, pela imposição aos índios à nova maneira de viver.

Sem poder enfrentar os portugueses na guerra e não querendo conviver pacificamente com eles, muitos indígenas resolveram fugir para o interior do território, na tentativa de manter seu modo de vida, longe dos invasores. Apesar disso, muitos desses índios acabaram aprisionados e transformados em escravos.
  
A classificação indígena

Os portugueses conheceram primeiro os povos que viviam no litoral. Por terem traços culturais semelhantes entre si, eles receberam dos colonizadores uma denominação geral: Tupi ou Tubinambá.  Os outros grupos que tiveram menor contato, como os povos que habitavam o interior do território e que não falavam a língua que os jesuítas deram o nome de "língua geral" ou "língua mais usada na costa do Brasil", os portugueses deram o nome de  Tapuia.

Esta classificação foi extremamente importante para o registro das informações sobre os índios produzidas pelos portugueses, franceses e outros europeus. Sem os documentos produzidos pelos colonizadores, as crônicas dos viajantes, a correspondência dos jesuítas e as gramáticas da "língua geral" e de outras línguas, não teríamos como saber sobre os nativos, sua cultura e sua história.

 Sociedades indígenas
À medida que os colonizadores foram explorando o território, perceberam que essas populações dividiam-se em centenas de povos que falavam línguas distintas, tinham  costumes e hábitos  diferentes.

Estima-se que na época eram faladas cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes.
Para estudarmos os povos indígenas, estes foram agrupados de acordo com as semelhanças existentes entre suas línguas. Desta forma são reunidos povos com características culturais comuns.

A classificação linguística reconhece a existência de dois troncos principais (tupi e macro-jê) e de outras seis famílias linguísticas de significativa importância (aruak, arawá, karib, maku, tukano e yanomami), além de muitas línguas sem filiação definida, não classificadas ou isoladas.

Atualmente essa população está distribuída em aproximadamente 215 etnias, que falam cerca de 170 línguas diferentes, excluindo-se os índios isolados. Muitos índios falam unicamente sua língua, desconhecendo o português e outros falam o português como sua segunda língua.

Aproximadamente 60% da população indígena brasileira vive na região designada como Amazônia Legal, área esta que engloba nove estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica e, que possuem em seu território trechos da Floresta Amazônica, entretanto registra-se a presença de grupos indígenas em praticamente todos os estados brasileiros. Apenas no Rio Grande do Norte, Piauí e no Distrito Federal não se encontra grupos indígenas.

Os principais grupos indígenas brasileiros em expressão demográfica são: Tikuna, Tukano, Macuxi, Yanomami, Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayapó, Kaingang, Guarani, Xavante, Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura, Sateré-Maué, entre outros.

Grupos indígenas de destaque:

Tupis: habitavam principalmente o litoral brasileiro,  desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas. Ocuparam também trechos do interior do país. Entre as tribos que formavam esta nação, destacam-se: os tupinambás, os tupiniquins, os mundurucus e os parintintins.

Jês ou tapuias: comparado aos outros grupos, era o que se encontrava no mais atrasado estágio de desenvolvimento. Dominavam todo o planalto central; na região que corresponde atualmente ao oeste de Minas Gerais, o Estado de Goiás e do Mato Grosso. Eram encontradas algumas tribos também no Maranhão e no Piauí. Entre suas principais tribos destacam-se: timbiras, aimorés, goitacás, cariris, carijós e caiapós.

Aruak: O grupo Aruak ocupava uma extensa zona geográfica compreendida em  parte do Amazonas e a ilha de Marajó. Fora do território brasileiro localizavam-se desde a Bolívia até  a costa setentrional da Venezuela, para o Norte chegaram  até a Flórida e para a o Sul atingiram a região do Paraguai. Eram considerados excelentes navegadores e em estágio bem adiantado de desenvolvimento possuindo agricultura organizada. As principais tribos Aruak em nosso país eram: aruãs, parecis, paumaris, cunibos, guanás e terenos.

Karib: O grupo Karib destacou-se como o grupo mais violento. Ocupavam a região do baixo Amazonas e parte do território do Amapá e Roraima. Em razão da prática da antropofagia, eram chamados canibais. Destacam-se: palmelas, pimenteiras, nauquás, bocairis, cotos, mariquitares e crixamas.

Organização social dos índios

Os costumes dos tupis ou tupinambás são os mais conhecidos em razão dos registros feitos pelos os jesuítas e os viajantes estrangeiros durante o Período Colonial. O mesmo, entretanto, não ocorreu com os tapuias, avaliados pelos colonizadores como o exemplo máximo da barbárie e selvageria.
Os índios vivem em tribos. Organização de um grupo de pessoas ligadas entre si por  laços de sangue, com costumes e interesses comuns. Constroem sua aldeia em uma mesma área, falam a mesma língua, têm os mesmos costumes e união entre si.

Os Tupis moravam em malocas. Cada grupo local ou "tribo" tupinambá era composta de cerca de 6 a 8 malocas. A população dessas tribos girava em torno de 200 indivíduos, podendo atingir até 600.
 


As formas de organização das aldeias indígenas são distintas de um povo para outro. Algumas tribos  preferem construir suas aldeias em forma de ferradura; já outras optam pela forma circular; outros, ainda, constroem uma única habitação coletiva.



As  tribos são compostas de unidades menores que recebem o nome de tabas ou aldeias  e cada uma delas formada por um conjunto de ocas. As ocas localizam-se em torno de uma praça central, a ocara, onde são realizadas as festas, as danças e as cerimônias religiosas. A taba normalmente é protegida por uma cerca de troncos chamada caiçara.

O comando da tribo é de responsabilidade do cacique. Na época do descobrimento era o cacique que conduzia os homens à guerra, à pesca e à caça. Era ele que reunia os índios para as decisões dos negócios mais importantes da tribo: declaração de guerra, mudança de aldeia etc.

O chefe religioso é o pajé. A ele compete realizar as cerimônias religiosas e manter as tradições  da tribo. Também exerce as funções de sacerdote, médico e professor.

A economia baseava-se na coleta de raízes e frutos e também praticavam a caça e a pesca. Algumas tribos conheciam a agricultura, que era bastante primitiva. Destacava-se principalmente o plantio do milho, mandioca, amendoim e tabaco.

Em razão da economia da coleta os índios eram nômades desta forma era bastante comum os índios invadirem as terras de outras tribos, o que acabava resultando em guerras.

No período da entressafra, os índios faziam objetos de cerâmica e utensílios para o trabalho. Cada índio costumava ter seus próprios instrumentos de trabalho, como seu arco e suas flechas.

As tarefas eram dividas entre os membros  das tribos e, geralmente, obedeciam à seguinte distribuição:


Trabalho das mulheres 
O trabalho agrícola, desde o plantio até a colheita.
A coleta de frutos.
A fabricação de farinha.
O preparo da comida.
Cuidar das crianças da tribo
Tecer redes e trançar cestos  
Trabalho dos homens
A derrubada do mato e a preparação da terra para o plantio.
Caçar e pescar.
Fabricar arcos, flechas e canoas.
A construção das moradias.
Expedições guerreiras.
Proteger a tribo.

Para deslocarem-se com maior rapidez, os índios utilizavam a navegação nos rios em canoas ou jangadas. As canoas maiores eram chamadas de igaras e as mais velozes de ubás.
Os índios eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses, como, por exemplo, Guaraci, o Sol; Jaci, a Lua e Tupã, o raio e o trovão.

Os nativos não possuíam sistema de escrita, no entanto desenhavam figuras de animais, corpos humanos, astros e utensílios.

Entre os tupis, o matrimônio avuncular (tio materno com sobrinha), ou entre primos cruzados, era o mais desejado, entretanto, para casar, o jovem Tupi devia passar por certos testes, o principal deles consistindo em fazer um cativo de guerra para o sacrifício.

Algumas tribos permitem apenas a monogamia, e em outras, a poligamia.

A vida dos grupos locais ou mesmo de "nações" Tupi girava em torno da guerra, da qual faziam parte os rituais antropofágicos. Guerreavam contra grupos locais da mesma nação, entre "nações" e contra os "tapuias".

A guerra e os banquetes antropofágicos reforçavam a união da tribo. Por meio da guerra era praticada a vingança dos familiares mortos, enquanto o ritual antropofágico representava para todos, homens, mulheres e crianças, a lembrança de seus bravos. O dia da execução era uma grande festa.

Nos banquetes antropofágicos, o aprisionado era imobilizado por meio de cordas. Mesmo assim, para mostrar seu espírito guerreiro, precisava enfrentar com bravura os inimigos, debatendo-se e anunciando que os  companheiros logo vingariam a morte dele.

 
Inimigo amarrado na preparação do sacrifício, segundo descrição de Hans Staden, 1554.

O conhecimento do índio

Os índios por viverem sempre em contato com a natureza a conhecem com propriedade. Muitos destes conhecimentos estão ligados à alimentação. Eles descobriram, por exemplo, que era possível retirar o veneno da mandioca venenosa, tornando-a comestível. Criaram também o instrumento para retirar esse veneno: o tipiti, um longo tubo tecido de fibra vegetal, que é cheio com a mandioca ralada e depois esticado, fazendo com que todo esse líquido venenoso saia  por entre as fibras.

Descobriram também vegetais venenosos que são usados na pesca; dentre eles, o mais conhecido no Brasil é o timbó ou tingui. Quando jogado na água, os peixes começam a boiar e podem ser facilmente apanhados à mão; ele não faz mal a quem come os peixes.

Já o curare, é utilizado na caça. O veneno pode ser sólido, líquido ou pastoso, e cada povo que o utiliza tem sua maneira de fabricá-lo. O curare é utilizado na ponta da flecha e o animal atingido fica paralisado, não consegue respirar e acaba morrendo. O animal envenenado pode ser consumido sem perigo, pois o veneno não é absorvido pelo sistema digestório.

Com o líquido extraído do tronco da seringueira, o látex, alguns índios, especialmente da região Amazônica, fazem bolas e outros objetos. A técnica utilizada pelos nhambiquaras, por exemplo, é a de produzir primeiro uma bola de barro; nessa bola espetam um canudo; depois cobrem a bola com camadas de látex e finalmente, jogam água pelo canudo, assim dissolvem e retirar o barro, em seguida,  tiram o canudo e fecham o buraco com látex.

Todo esse conhecimento é fruto da coexistência com a natureza e adquirido, na prática,  desde a infância.

Alianças com os colonizadores

Os índios reagiram de formas distintas à presença dos colonizadores e à chegada de invasores, como os holandeses e franceses. O apoio indígena foi crucial para a vitória da colonização portuguesa.

Com este apoio, contudo, as lideranças indígenas tinham seus próprios objetivos: lutar contra seus inimigos tradicionais, que, por sua vez, também se aliavam aos inimigos dos portugueses (franceses e holandeses) por idênticas razões. Alguns exemplos das alianças com os portugueses:

- guerreiros temiminós liderados por Araribóia se aliaram aos portugueses para derrotar os franceses na baía de Guanabara, nos anos 1560, que recebiam apoio dos Tamoios.
- chefe tupiniquim Tibiriçá, valioso para o avanço português na região de São Vicente e no planalto de Piratininga. Combatia rivais da própria "nação" Tupiniquim e os "tapuias" Guaianá, além de escravizar os Carijós para os portugueses.
- o chefe potiguar Zorobabé, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Aliou-se aos franceses, em fins do século XVI, e aos portugueses, tendo sido recrutado para combater os Aymoré na Bahia e até para reprimir os nascentes quilombos de escravos africanos.
- o potiguar Felipe Camarão, a mais notável líder indígena no contexto das guerras pernambucanas contra os holandeses no século XVII. Camarão combateu os flamengos, os tapuias e os próprios potiguares que, ao contrário dele, passaram para o lado holandês, recebendo por isso o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, o privilégio de ser chamado de "Dom" e pensões régias, entre outros privilégios. Diversas lideranças pró-lusitanas receberiam antes e depois de Camarão privilégios similares, criando-se no Brasil autênticas linhagens de chefes indígenas condecorados pela Coroa por sua lealdade a Portugal.

Resistência aos colonizadores

Alguns grupos moveram inúmeros ataques aos núcleos de povoamento portugueses. Entre estes, os Aymoré, depois chamados de Botocudos, foram um constante flagelo para os colonizadores durante o século XVI, na Bahia.
Entre os episódios célebres de resistência ou represália, ficaram registrados:
- o do donatário da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, devorado pelos Tupiniquins, em 1547;
- o do jesuíta Pero Correa, devorado pelos Carijós, na região de São Vicente, em 1554;
- o do primeiro bispo do Brasil, D.Pedro Fernandes Sardinha, em 1556, devorado pelos Caetés, após naufragar no litoral nordestino.
Alianças com invasores contra os colonizadores  também ocorreram. Nações inteiras escolheram por se aliarem aos inimigos dos portugueses.
- os Tamoio, no Rio de Janeiro, fortes aliados dos franceses nas guerras dos anos 1550-60;
- os Potiguar, boa parte deles combateu com os franceses durante algum tempo na Paraíba e atual Rio Grande do Norte, e por ocasião das invasões holandesas em Pernambuco, onde forneceram assistência aos flamengos, tornando célebre lideranças como a de Pedro Poti e de Antônio Paraupaba.

Índios isolados

Alguns povos indígenas, desde a época do Descobrimento, mantiveram-se afastados de todas as transformações ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e agricultura incipiente, isolados do convívio com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas.

Os índios isolados defendem bravamente seu território e, quando não podem mais sustentar o enfrentamento com os invasores de seus domínios, recuam para regiões mais distantes, na esperança de conseguirem sobreviver escondendo-se para sempre.

Pouca ou nenhuma informação se tem sobre eles e, por isso, sua língua é desconhecida. No entanto, sabe-se que alguns fatores são fundamentais para possibilitar a existência futura desses grupos. Entre eles, a demarcação das terras onde vivem e a proteção ao meio ambiente, de forma a garantir sua sobrevivência física e cultural.

No processo de ocupação dos espaços amazônicos, o conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas por índios isolados são fundamentais para que se possa evitar o confronto e a destruição desses grupos.

Política indigenista

As barreiras à escravização dos índios datam do início da colonização, 1530, mas o cativeiro indígena foi mais tenazmente combatido somente com a chegada dos jesuítas, em 1549, e a implantação do sistema de aldeamento. Neste combate os jesuítas contaram com o apoio da Coroa.

No quadro abaixo podemos acompanhar, a partir do século XVI, as principais medidas de proteção aos índios.

1570
Primeira lei contra o cativeiro indígena

Esta lei só permitia a escravização dos indígenas com a alegação de "guerra justa"

1609

Lei que reafirmou a liberdade dos índios do Brasil

Importante lei que tentou garantir novamente a liberdade dos índios, ameaçada pelos interesses dos colonos

1686

Decretação do "Regimento das Missões"

Estabeleceu a base de regulamentação do trabalho missionário e do fornecimento de mão-de-obra indígena no Estado do Maranhão e Grão-Pará

1755

Aprovado o Directorio, que visava, através de medidas específicas, a integração do índio na vida da colônia.

Proibia definitivamente a escravidão indígena

1758

Fim da escravidão indígena: Directorio foi estendido a toda a América Portuguesa.

Secularização da administração dos aldeamentos indígenas: abolida escravidão, a tutela das ordens religiosas das aldeias e proclamados os nativos, vassalos da Coroa.

1798

Abolido o Directorio

O espírito "integrador" desse Directorio conservaria a sua força na legislação do Império Brasileiro

1845

Aprovado o Regulamento das Missões

Renova o objetivo do Directorio, e visava, portanto, a "completa assimilação dos índios"

1910

Criação do Serviço de Proteção aos Índios - SPI

O Estado republicano tutelou os indígenas

1952

Rondon criou o projeto do Parque Nacional do Xingu

Objetivo era criar uma área de proteção aos indígenas

1967

Criação da Fundação Nacional do Índio - FUNAI

Substituiu o extinto SPI na administração das questões indígenas

1979

Criação da União das Nações Indígenas

Primeira tentativa de defesa da cultura indígena, importante para a consagração dos direitos dos índios na Constituição de 1988.

Viva a sabedoria...

O materialismo na teoria do conhecimento de Thomas Hobbes
Para Hobbes, a mente humana é desprovida de qualquer sistema de representação anterior à experiência.

No período da história humana conhecido por idade moderna, que se inicia com o Renascimento, é muito comum a pesquisa e o desenvolvimento do termo “representação” em vários aspectos, tais como os epistemológicos, políticos e religiosos. Um dos primeiros a conceber um sistema de representação foi o inglês Thomas Hobbes.

Diferente de Maquiavel, Hobbes considera a mecânica (estudo do movimento na ciência natural ou física) como modelo para sua psicologia e também para sua sociologia. Ele parte do conceito de indivíduos isolados, como átomos (que são corpos inorgânicos imutáveis e eternos) e faz a analogia com os homens no estado real de natureza. É essa analogia que pode explicar as alterações sociais.

Assim, cada indivíduo reage a movimentos exteriores numa necessidade incondicional. Vistas do interior, as reações humanas apresentam-se como vivências, sentimentos e impulsos. Para Hobbes, todos os afetos que sentimos são efeitos de fenômenos mecânicos no nosso corpo e também no mundo exterior.

Seguindo uma tradição empirista que remonta a Aristóteles, Hobbes entende que a mente humana é totalmente desprovida de qualquer representação anterior à experiência. Ela ocorre da seguinte forma:

- Em primeiro lugar, temos a sensação, que é o pensamento isolado, uma aparência da qualidade dos objetos ou acidentes destes que são exteriores a nós e que atuam nos órgãos dos sentidos. A sensação é uma primeira concepção no espírito do homem e é causada pelo movimento que os objetos proporcionam ao pressionarem (interagirem) com nossos órgãos, sendo, então, ilusória e aparente, não estando nos objetos, mas provindo deles;

- Em segundo lugar temos a imaginação, que é uma sensação diminuída, ou seja, passada. É a ilusão que se guarda na memória. A diferença entre as duas é que a imaginação é presenciada e arquivada enquanto que a memória é apenas a lembrança da ilusão no presente;

- E por último, a experiência, isto é, muita memória ou a memória de muitas coisas. A imaginação é fruto da percepção da sensação e quando há muita repetição, forma-se a expectativa futura.

Podemos também compreender mais detalhadamente segundo o esquema abaixo:

Sensação: contrapressão do objeto aos nossos sentidos. É a impressão;
Percepção: compreensão ou entendimento da sensação;
Imaginação: sensação diminuída (simples ou compostas);
Memória: sobre a diminuição da sensação, ficção do espírito;
Experiência: conjunto das várias memórias.
Ainda segundo o autor, os sonhos são causados por perturbações de alguma parte do corpo (interna) que provocam sonhos diversos para perturbações diversas. Os sonhos são o reverso das imaginações despertas. Com isso, Hobbes critica as religiões e os costumes que estimulam imaginações fortes, tornando as pessoas supersticiosas e despreparadas para a obediência civil.

Devemos entender, portanto, que, para Hobbes, fora da nossa mente há apenas matéria em movimento, como se fossem feixes de luzes desorganizados. Quando captamos esses feixes, a mente organiza esses dados, isto é, cria um mundo artificialmente através da linguagem (que também é artificial). 

A imaginação se dá pelas palavras, sinais e entendimento. Da mesma forma que se cria um mundo ilusório pra si, os indivíduos coletivamente podem criar um mundo comum para si. É a common wealth, termo inglês usado pelos filósofos para designar uma comunidade, sociedade civil organizada ou Estado.

Arte...

Educação Popular e Mística
Luiz Carlos Souza, Coordenação Política Pedagógica (CPP)
Falar de educação popular e mística na conjuntura atual significa recuperar o ânimo da militância e lideranças popular que se encontra refugiado desanimado diante de uma conjuntura de crise. Crise política, ética, econômica, ambiental e valores. Todas essas crises provocadas por um sistema de sociedade baseada em modelo de produção capitalista de exploração da riqueza da natureza dos homens e mulheres. Crise que acelera a produção em massa para consumo em massa crise de valores de identidade de sentimento de pertença, de perda da perspectiva de mudanças de rumo.
Crise de um modelo educação colonialista livresca pautada na obediência, na alienação que transforma o os seres humanos em robôs, programados a consumir, em busca de uma felicidade invisível vendida pelo mercado de consumo, que nega a dignidade e protagonismo das pessoas.
Neste sentindo, quando retomamos a educação popular estamos afirmando outro paradigma, pautado pelos princípios e valores humanista da qual nasce à educação Popular. Quer dizer é mais que pensar em uma classe, em uma metodologia ou uma teoria.  A Educação popular nasce da gente, do que a gente já sabe da pratica pensada e repensada, da luta, da resistência da manifestação cultural, da religiosidade e da diversidade. É o compromisso profundo de aprender ensinando, ensinar aprendendo, partindo da necessidade das pessoas na sistematização de palavras que não são receitas. Ao contrário da educação tradicional a educação popular busca trabalhar com a necessidade das pessoas, com a criatividade criando e recriando o conteúdo está vinculado com a realidade comprometido a transformar a realidade para o bem estar das pessoas. Educa-se pelo diálogo. Dialogo que é interpretado por diferentes maneira na atualidade, muita gente confunde diálogo com democratismo sem rigidez sem responsabilidade. Por outra vez como uma ferramenta de conversatório de simplesmente escutar as pessoas. O diálogo proposto e profundido por Paulo freire é um diálogo verdadeiro, da troca de conhecimento entre as pessoas da construção de consciência coletiva e política, da busca de resolução dos problemas nos espaços que vivem e a ousadia de querer que o mundo deve ser transformado. Como diz freire aprender a ler o mundo. Está comprometida com a libertação das pessoas lerem o mundo e as palavras que interpreta o mundo e que fazem o mundo que somos buscando na busca da construção do mundo que queremos. É muito mas que desenvolver a técnica da leitura e da escrita, procura desenvolver a capacidade de construir conhecimento e descontruir o conhecimento que os dominadores nos inculcaram historicamente.
A educação popular proposta por um burguês è hipocrisia por que ela não permite a dominação de uma pessoa sobre a outra. Ela busca construção e o protagonismo coletivo das pessoas, na permanente ação reflexão ação, busca descontruir o opressor existe dentro de cada ser humano, é a humanização da capacidade de sonhar e de lutar e transformar.
As experiências de educação popular é a místicas que alimenta os movimentos sociais, as pessoas aprende com as história de lutas dos que derramaram sangue e suor na luta pelos direitos, as pessoas se educa pela música, pelas relações sociais, pelos trabalhos de grupos, pela divisão de tarefas, pelos intercâmbios, pelas marchas pelas ocupações pela repressão das corporações e do estado. Quer dizer sem luta a educação popular seria uma falsidade seria apenas uma domesticação das pessoas para adaptar ao modelo atual.

No entanto compreendemos que a educação popular é muito mais que uma sala de aula, ela não tem vida presa entre quatro paredes, ou plasmado em um penso escolar que não está disposta a mudanças, não tem vida diante de sistema educacional burocrático que trava a criatividade e a ousadia das pessoas. Não tem sentindo na língua de um discurso que reproduz as práticas dos opressores
Nesse sentido a mística popular tem sido um grande aporte de educação popular nos movimentos sociais. Mística que não é teatro onde um grupo de artista apresenta é outro grupo recepciona. Ao contrário a místicas e manifestação da convicção popular a capacidade de refletir a experiência do passado de refletir o presente e apontar o futuro que queremos. Cada pessoa tem sua própria maneira de interpretar místicas, na relação mutua entre seres humanos a natureza e os recursos naturais. Por isso as pessoas choram, sorri, se abraça, se emociona, e canta nos momentos de místicas. Porque cada ação perpassa pela motivação que existe dentro de cada ser.
Podemos ver a mística presente nas pessoas que em seu cotiando quando reproduz o valor da solidariedade, da ternura, dor respeito da dignidade. De gente que não desanima e não se coopta que continua a caminhada em passos firmes acreditando no que não ver alimentando por uma convicção de que é necessário caminhar para conquistar.
Para transformar o ser humano é necessário ser primeiramente humano falando e praticando, Ademar Bogo diz que não devemos esperar que a místicas venha até nos, somos nós que devemos ir até a místicas. Estamos convocados a continuar lutando e nos educando contra o sistema que nos massacra e nos oprime. É preciso indignar contra a fome, a miséria, a corrupção, a incoerência, a concentração da produção e a centralização do poder.
A luta não é uma profissão é uma necessidade de sobrevivência de resistir para continuar existindo, de existir para continuar multiplicando novos homens e mulheres. De reconstruir o planeta a biodiversidade a cultura e novos valores que concretiza em pratica educativa permanente na construção do poder compartilhado, da vida celebrada, da mística alimentada pela ternura onde cada pessoa possa expressar sua incerteza e sua felicidade.
Afinal não tem receita para educação popular e mística as duas estão vinculadas estritamente, educando, despertando, organizando. A gente aprende a fazer educação popular fazendo e a viver a mística transformado a nós e mundo. Por fim a mística é a verdadeira convicção que nos motiva a luta para construir um mundo socialista.
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Entendendo...

Soberania nacional e Ordem Mundial
Um País de grande importância na Ordem Mundial
A soberania de um país, em linhas gerais, diz respeito à sua autonomia, ao poder político e de decisão dentro de seu respectivo território nacional, principalmente no tocante à defesa dos interesses nacionais. Nesse sentido, cabe ao Estado nacional (ao governo, propriamente dito) o direito de sua autodeterminação em nome de uma nação, de um povo. Por outro lado, o conceito de ordem mundial remete à ideia de uma organização ou hierarquia dada pelas relações de poder entre atores internacionais, isto é, os próprios países ou Estados.

Dessa forma, qual a relação entre os conceitos de soberania e ordem mundial? Trata-se de conceitos complementares em política e relações internacionais. Qualquer leitura menos atenta de tais categorias pode levar à impressão de uma aparente contradição entre ambas, uma vez que a ideia da “anarquia” de soberanias poderia pressupor a ausência da ordem (uma Ordem Mundial propriamente dita). Segundo Giovanni Arrighi, o caos sistêmico (entre soberanias) demanda uma ordem, e tal situação favorece o surgimento de uma hegemonia. O poder hegemônico é dado, de certo modo, pelo consentimento e coesão entre os países e, dessa forma, quem (dentre os países) atender à demanda criada pelo referido caos sistêmico será tido como hegemônico.

O processo da formação de hegemonias foi se transformando ao longo dos séculos. Com o desenvolvimento das práticas capitalistas, temos uma organização da geopolítica do mundo que sai da legitimação religiosa, dinástica e política (predominantes outrora) para outra, dada pela capacidade técnica, bélica e financeira. Com a complexalização dos meios de produção e recrudescimento do capitalismo, há uma nova estruturação do espaço, a qual norteou o comportamento das soberanias pelo globo, entre fortes e fracos, ou centro e periferia, consequência direta da divisão internacional do trabalho e da produção.

Assim, o que legitima o diálogo entre as soberanias (dentro de uma ordem) é a busca de mecanismos que diminuam os “custos” da convivência mútua, com o discurso (ideológico até certo ponto) da promoção da paz e do desenvolvimento, seja para ricos, seja para pobres, fato que justifica a existência de discussões em fóruns internacionais sobre economia, promoção social e sobre a própria ordem mundial.

As potências que se destacam possuem um discurso legitimador para sua empreitada: são fiadoras, dão credibilidade e cobram respeito. Grosso modo, a Ordem Mundial pode ser considerada pertinente ao comportamento “habitual” dos países. Este hábito é delineado por suas ações diretas e indiretas enquanto soberania e, obviamente, está ligado de forma intrínseca às suas principais características econômicas, políticas, físicas (geográficas), ideológicas e religiosas. Em outras palavras, os países ocupam posições no sistema internacional conforme suas características mais gerais que lhe conferem maior ou menor destaque. Obviamente, nem todos os países consideram como legítimo o poder de algumas hegemonias, manifestando-se contrários a este poder. Exemplo disso estaria na relação de hostilidade aos Estados Unidos por parte de alguns países como Irã e Venezuela.

Ao longo do século XX, o que se assiste é o fortalecimento da hegemonia norte-americana, principalmente ao final da Guerra Fria. Já no início do século XXI, em termos de sistema internacional, algumas transformações são muito significativas, pois, se por um lado os Estados Unidos ainda possuem o status de maior potência mundial, apesar de problemas internos em sua economia, por outro já divide espaço no cenário da economia internacional com a União Europeia e com os chamados BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia e China). Ou seja, há indicações de que o sistema internacional torna-se cada vez mais complexo, fato que sugere um rearranjo das relações internacionais.

Claramente, as hegemonias e potências mundiais possuem estratégias diplomáticas não necessariamente para regular o “bom funcionamento” do sistema internacional, mas sim para atender a seus interesses em primeira instância, principalmente do ponto de vista econômico. As medidas protecionistas adotadas no momento da crise econômica (bem como os subsídios por parte dos governos para alguns setores) são representativas disso, uma vez que garantem maiores vantagens de competitividade para a produção nacional de seus países no mercado internacional.

Como se viu, embora a enorme crise econômica que se instaurou na economia mundial em meados de 2008 tenha se originado nos grandes centros financeiros das principais potências do mundo, os países considerados em desenvolvimento também foram chamados à discussão de alternativas para se alcançar uma saída. Em outras palavras, no plano das relações internacionais, o caos econômico causado por poucos teve de ser enfrentado por todos, dadas as consequências diretas ou indiretas sobre as economias em todo o mundo.

Além disso, muitas vezes a retórica dos discursos destas potências não coincide com as práticas políticas. Há um consenso em relação ao desenvolvimento sustentável, mas as posturas na prática são diferentes. As questões pertinentes ao aquecimento global, tão em voga na ordem do dia, parecem atender a uma agenda pressuposta como internacional, mas que na prática está alinhada aos interesses dos mais fortes (política e economicamente) e divide as responsabilidades (em grande parte “suas”, considerando a relação poluição/desenvolvimento industrial) com todos.

Assim, ao se refletir sobre as relações internacionais e sobre os conceitos de soberania e hegemonia, algumas questões são possíveis: até que ponto realmente as soberanias são respeitadas na atual conjuntura, uma vez que em nome da “democracia”, da luta contra o terrorismo e dos valores ocidentais de “liberdade”, países como Estados Unidos e outras potências da União Europeia se unem para comandar ataques, invasões e guerras contra outras nações? O modelo econômico liberal difundido no mundo não aumentaria o fosso das desigualdades econômicas entre os países? Como a soberania nacional de um país dependente economicamente estaria assegurada num contexto de globalização da economia quando o interesse dos mais fortes prevalece?

Mais uma etapa superada...