segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Refletir...
"Aquele que não sabe e não sabe que não sabe.
Ele é tolo. Evite-o.
Aquele que sabe e não sabe que sabe. Ele
está adormecido. Desperte-o.
Aquele que não sabe e sabe que não sabe. Ele
é humilde. Ensine-o.
Aquele que sabe e sabe que sabe. Ele é
sábio. Siga-o."
(Provérbio Chinês)
Língua afiada...
PEGADINHA GRAMATICAL
Numerais coletivos
A classe gramatical representada pelos numerais apresenta
características semelhantes à classe representada pelos substantivos.
Tal
semelhança refere-se a uma particularidade por excelência: o fato de um
numeral, grafado sob a forma singularizada, representar uma coletividade, ou
seja, assim como temos o cardume, que mesmo tratando-se de um termo expresso no
singular representa uma multiplicidade de seres de uma mesma espécie, como
também temos o semestre, o qual indica um período de vários meses, para sermos
mais precisos, seis.
Diante de tais constatações, ampliemos nossos conhecimentos no intento
de conhecermos melhor como se materializa essa ocorrência linguística.
Portanto, vejamos:
Interessante...
Os
6 pássaros mais estranhos ou assombrosos da mitologia
Muitas aves representaram divindades ou
maldições ao longo da história humana
Fonte da imagem: Templodeapolo.net
Os pássaros e outras aves em geral, ao longo
da história da humanidade, foram sempre criaturas que provocaram algum tipo de
fascínio no homem. Elas podiam voar, eram livres para ir onde quisessem. Por
conta disso, diversas culturas elegeram esses bichos para representar algumas
de suas ideias de mundo ou lendas, tornando esses animais divindades ou
precursores do mal. Sempre dependia da ideia que os pássaros passavam para o
povo que o observava. Os mais graciosos eram adorados enquanto os mais sombrios
eram temidos.
Alguns pássaros mitológicos são bem
conhecidos, como a Fênix, mas a maioria foi esquecida ou é muito particular de
uma única cultura. Sendo assim, separamos algumas dessas aves místicas para
você conferir como os antigos criavam reproduções estranhas, assombrosas e até
divinas desses bichos.
6. Benu
Fonte da imagem: ListVerse
O Benu para os egípcios antigos significava
basicamente a existência do mundo como o conhecemos. De acordo com a mitologia
dessa cultura, o Benu foi o precursor da criação. Ele pousou sobre o caos e
quebrou o silêncio primordial do cosmos com um grito estridente. Esse grito foi
o definidor de tudo que existe na Terra, determinado o que haveria e o que não
haveria em sua criação.
O pássaro ainda é uma espécie de Fênix dos
egípcios, sendo associado em seu tempo à ressureição. Diz a lenda que ele
renascia com os primeiros raios do Sol e se desfazia com os últimos brilhos do
astro. Por conta disso, ele era associado tanto à vida quanto à morte.
5. Anzu
Fonte da imagem: ListVerse
Este era um pássaro extremamente grande da
mitologia da Suméria, a mais antiga civilização humana da qual se tem registro.
O bicho teria o corpo de uma águia e a cabeça de um leão. Ele seria tão grande
que seu voo criaria tempestades de areia e seu grito poderia chacoalhar o mundo
inteiro. Até mesmo os deuses teriam medo do monstro.
Diz a mitologia que Anzu roubou a “Tábua do
Destino” dos deuses e, com isso, consegui poderes divinos e pôde por fim
controlar o mundo mortal.
4. Garuda ou Karura
Fonte da imagem: ListVerse
Este era um pássaro com feições humanas
pertencente ao deus Visnu, da cultura hindu. Ele seria bastante grande e, no
Japão, era conhecido como Karura. Além dos nomes semelhantes, as imagens feitas
da criatura nas duas culturas eram muito semelhantes. Estátuas de ouro foram
produzidas mostrando o animal divino em sua graça. Por ser grande e brilhante,
ele era comumente confundido com o deus do fogo, segundo a mitologia.
3. Strige ou Strix
Fonte da imagem: Lama
Striges são criaturas da mitologia grega que
mais tarde foram parte da mitologia romana, sendo chamadas então de Strix.
Inicialmente, essas criaturas foram referenciadas em uma história sobre dois
irmãos que mataram e devoraram outra pessoa. Como punição, ambos foram
transformados em criaturas horrendas, sendo um deles um Stringe. A criatura
seria algo parecido com uma coruja, porém estaria sempre de cabeça para baixo,
além de muito faminta.
Na mitologia das duas culturas, essas
criaturas são normalmente associadas a vampiros e bruxas.
2. Liderc
Fonte da imagem: ListVerse
Essas criaturas penosas são originárias da
mitologia húngara, na qual são sempre associadas a bruxas. As Liderc são aves
parecidas com uma galinha ou coruja, servindo de companheiras para as bruxas.
Elas nasciam de ovos que as bruxas chocam
embaixo de seus braços ou simplesmente apareciam nas janelas dessas
feiticeiras. As Liderc deveriam sempre se manter ocupadas com alguma tarefa
dada pela bruxa, caso contrário, acabavam por matar a feiticeira. Por conta
disso, elas realizavam praticamente qualquer atividade desejada pelas bruxas,
como transporte de coisas, observação de inimigo e afins. A lenda ainda diz que
a única forma de uma bruxa impedir sua Liderc de matá-la seria dando um atarefa
impossível para a mesma, como a de carregar água em um balde sem fundo, por
exemplo. Com isso, a ave maléfica ficaria infinitamente tentando completar o
seu serviço.
1. Hoopoe
Fonte da imagem: ListVerse
Um dos mais sinistros pássaros da mitologia
que ganha a primeira posição por aparecer na mitologia de muitas culturas
diferentes. Para os árabes, o hoopoe era uma espécie de pássaro sobrenatural
que tinha poderes de cura e de prever acontecimentos na água. É atribuído a
esse pássaro também o resgate do Rei Salomão do deserto.
Para os europeus cristãos, o bicho é bem
menos simpático. Há histórias sobre uma espécie de ave-besta com esse nome que
era bastante cuidadosa com seus familiares, tomando conta dos novos e dos
idosos de forma mais carinhosa que os humanos. Contudo, essa besta era
associada à morte de uma forma bastante misteriosa, já que era sempre vista em
cemitérios.
Fora isso, diz a lenda que, quando o deus
cristão criou o hoopoe, o pássaro foi apresentado a todas as comidas que as
aves tendem a gostar. Estranhamente, a criatura recusou todas e Deus a
amaldiçoou a viver comendo o excremento de outros animais.
História...
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Vários problemas atingiam as principais
nações europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado
feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com
a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e
Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial.
Enquanto
isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em
matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e
da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande
Guerra.
Vale lembrar também que no início do século
XX havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus,
principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou
vários conflitos de interesses entre as nações.
Ao mesmo tempo, os países
estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já como uma maneira de se
protegerem, ou atacarem, no futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima
de apreensão e medo entre os países, onde um tentava se armar mais do que o outro.
Existia também, entre duas nações poderosas
da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do
século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco
Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses esperando uma
oportunidade para retomar a rica região perdida.
O pangermanismo e o pan-eslavismo também
influenciou e aumentou o estado de alerta na Europa. Havia uma forte vontade
nacionalista dos germânicos em unir, em apenas uma nação, todos os países de
origem germânica. O mesmo acontecia com os países eslavos.
O
início da Grande Guerra
O estopim deste conflito foi o assassinato
de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita
a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um
jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência
da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou
as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de
1914, declarou guerra à Servia.
Política
de Alianças
Os países europeus começaram a fazer
alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito
mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança
formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha ( a Itália passou
para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em
1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.
O Brasil também participou, enviando para os
campos de batalha enfermeiros e medicamentos para ajudar os países da Tríplice
Entente.
Desenvolvimento
As batalhas desenvolveram-se principalmente
em trincheiras. Os soldados ficavam, muitas vezes, centenas de dias
entrincheirados, lutando pela conquista de pequenos pedaços de território. A
fome e as doenças também eram os inimigos destes guerreiros. Nos combates
também houve a utilização de novas tecnologias bélicas como, por exemplo,
tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as
mulheres trabalhavam nas indústrias bélicas como empregadas.
Fim
do conflito
Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema
importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado
da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente
com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os
países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que
assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e
punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica
controlada, perdeu a região do corredor
polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que
pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve
repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.
A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de
mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias,
além de gerar grandes prejuízos econômicos.
De cima para baixo e da esquerda para a
direita: Trincheiras na Frente Ocidental; o avião bi-planador Albatros D.III;
um tanque britânico Mark I cruzando uma trincheira; uma metralhadora automática
comandada por um soldado com uma máscara de gás; o afundamento do navio de
guerra Real HMS Irresistible após bater em uma mina.
Principais
causas que desencadearam a Primeira Guerra Mundial:
- A partilha das terras da África e Ásia, na
segunda metade do século XIX, gerou muitos desentendimentos entre as nações
européias. Enquanto Inglaterra e França ficaram com grandes territórios com
muitos recursos para explorar, Alemanha e Itália tiveram que se contentar com
poucos territórios de baixo valor. Este descontentamento ítalo-germânico
permaneceu até o começo do século XX e foi um dos motivos da guerra, pois estas
duas nações queriam mais territórios para explorar e aumentar seus recursos.
- No final do século XIX e começo do XX, as
nações européias passaram a investir fortemente na fabricação de armamentos. O
aumento das tensões gerava insegurança, fazendo assim que os investimentos
militares aumentassem diante de uma possibilidade de conflito armado na região;
- A concorrência econômica entre os países
europeus acirrou a disputa por mercados consumidores e matérias-primas. Muitas
vezes, ações economicamente desleais eram tomadas por determinados países ou
empresas (com apoio do governo);
- A questão dos nacionalismos também esteve
presente na Europa pré-guerra. Além das rivalidades (exemplo: Alemanha e
Inglaterra), havia o pangermanismo e o pan-eslavismo. No primeiro caso era o
ideal alemão de formar um grande império, unindo os países de origem germânica.
Já o pan-eslavismo era um sentimento forte existente na Rússia e que envolvia
também outros países de origem eslava.
Viva a sabedoria...
Os
símbolos e o comportamento humano na antropologia de Leslie White
De acordo com Leslie White, o símbolo tem seu
significado atribuído pelo usuário e constitui a unidade básica do
comportamento humano.
Mesmo sendo semelhante ao macaco, a criança
desenvolve a fala, reflexão e a superação de exercícios que o animal não
consegue sequer problematizar.
Antropologia, como o próprio nome sugere
(antropo = homem; logia = estudo) é a ciência que se desvinculou da filosofia e
ganhou objeto específico de estudo, que é a análise da origem, desenvolvimento,
evolução do homem, a partir das suas condições físicas, biológicas, anatômicas
e histórico-culturais.
Para o estudioso Leslie White, o símbolo é a
unidade básica do comportamento humano. A civilização só existe em razão do
comportamento simbólico, característico do homem. A partir da teoria da
evolução de Darwin, muito se questionou sobre o que é o homem e qual a sua
diferença em relação aos demais animais (mamíferos superiores). Diante de dados
anatômicos, percebeu-se que a caixa craniana do homem era maior e que, por essa
razão, seu cérebro também o era. Dessa forma, o pensamento, o raciocínio, a
compreensão etc. estavam vinculados a um maior poder de associação de ideias
derivado das faculdades mentais humanas.
No entanto, Leslie constatou que a diferença
entre os homens e os outros animais era uma diferença qualitativa e não
quantitativa. Isto quer dizer que o homem usa símbolos para existir, mas que
estes símbolos são criados, inventados, pelos próprios humanos, diferente do
animal, que pode ser condicionado por símbolos, mas jamais poderá criá-los.
Esse poder de criar símbolos é especificamente humano (não há outros seres que
o façam, nem graus intermediários).
Símbolo é uma coisa cujo valor ou
significado é atribuído pelos seus usuários. Este valor nunca é determinado
pelas características físicas do objeto em questão, isto é, de suas
propriedades intrínsecas, mas sempre por algo arbitrário que se torna convencional.
Por exemplo, a palavra VER. Nenhuma destas letras, juntamente ou separadas,
indica uma ação de visualizar algo (em francês se diz VOIR, em inglês, TO SEE
etc.). O sentido faz parte da valoração coletiva sobre algo, é imaterial, mas é
preciso que alguma coisa física represente o sentido, perpassando nossa
experiência.
Leslie também faz a distinção entre símbolo
e signo. O primeiro é a criação do valor de algo. O signo é a indicação de um
valor já criado. É uma forma física cuja função é indicar alguma outra coisa,
qualidade ou fato. O sentido de um signo pode ser inseparável de sua forma
física (como, por exemplo, o termômetro com a coluna de mercúrio que indica a
quantidade de calor) ou apenas separado, desde que analogamente evidencie a
coisa (previsão do tempo, por exemplo).
Vejamos um exemplo: tanto um cachorro quanto
um homem podem ser condicionados a perceber um som através das letras S-E-N-T-A
e desenvolver um comportamento. No entanto, o sentido dessa palavra só o homem
pode dar, criar ou inventar, já que o animal é incapaz. Outro exemplo: para nós
da civilização judaico-cristã ocidental, o preto é a cor do luto, representando
tristeza, saudade de quem se foi, enquanto que para alguns países orientais, é
o amarelo, pois a morte é um momento de alegria em razão da libertação do corpo
e da alma. A cruz, que representa o sofrimento de Cristo, é totalmente estranha
para um canibal africano.
Também são notáveis as experiências que
Leslie acompanhou. A criação de uma criança, juntamente com um macaco (símio)
evidenciou que por mais semelhantes que sejam, tendo a mesma educação, logo a
criança se desenvolve, juntamente a fala e a reflexão, a construção e a
superação de exercícios que o animal não consegue sequer problematizar.
Fica evidenciado, então, que a natureza do
homem e a dos animais são diferentes e que estudar o homem vai além das suas
condições físicas, mas também das condições históricas, porque a nossa história
é a história que construímos livremente a partir de símbolos que chamamos
valores culturais.
Cultura...
Darcy Ribeiro e o povo brasileiro
Darcy Ribeiro, "homem de fé e de
partido", como confessou, talvez um dos mais eminentes
intelectuais-políticos do Brasil do após-guerra, ativista da cultura, fundador
de universidades, antropólogo de fama, teve reconhecimento internacional: Doutor
Honoris Causa pela Sorbone.
Um tanto antes de falecer, em fevereiro de 1997,
deixou uma esmerada síntese sobre a diversidade geo-étnica da população
brasileira no seu ensaio histórico-antropológico intitulado O Povo Brasileiro,
editado em 1995. Viu o país-continente fortemente empenhado "na construção
de uma civilização original: tropical, mestiça e humanista". Uma
"Nova Roma" como gostava de dizer.
Antropologia geral
A obra de Darcy Ribeiro pertence a uma
geração de antropólogos pós-coloniais. Os que, pós-Segunda Guerra Mundial,
desejavam romper com a antropologia eurocêntrica que via os habitantes de
outros continentes mais atrasados como naturalmente inferiores, vocacionados
para servir mais do que para mandar, sendo desqualificados para conduzir o
autogoverno.
Ao mesmo tempo, ele lançou-se à obra de
fazer inclinar o interesse pelas coisas do Brasil em favor do povo comum que
compõe esta imensa população miscigenada e muito pobre que se abriga no
país-continente.
No fluxo da época, aquela geração posicionava-se
de uma maneira crítica no tocante à politica das metrópoles colonialistas,
apontando sistematicamente seus defeitos e violações. Bem ao contrário dos
historiadores e ensaístas brasileiros-lusitanistas das épocas anteriores.
Em oposição a Gilberto Freyre (a quem ele
não deixou de devotar admiração apesar de lusófilo assumido, que viu a nação
brasileira de cima do olhar do patriciado nordestino, particularmente do
Pernambucano - Casa Grande e Senzala, 1933), Darcy esmerou-se em destacar o
crioulo, o indígena, o caboclo, o vaqueiro, o matuto, o caipira, e tanta gente
mais.
Esforçou-se a realçar, desde os tempos coloniais (1500-1822), a modesta
dignidade destes e sua contribuição na construção do país-nação. O livro dele,
como Darcy Ribeiro abertamente confessou, não é um tratado acadêmico, mas
procura a polêmica e a denúncia. É lavra de um intelectual engajado nas lutas
políticas e sociais do seu país.
A sociedade brasileira na colônia e império
A dualidade da sociedade brasileira,
resultado da expansão ultramarina lusitana do século 16, dava-se em dois
sentidos: na relação do reinol contra os nativos (as centenas e centenas de
tribos que habitavam o Brasil dos 1500), a quem a gente portuguesa tratou de
submeter e reduzir à escravidão e, quase que simultaneamente, na fundação de
uma unidade produtiva açucareira marcada pela relação do senhor de engenho
frente aos escravos africanos.
Nesta gigantesca obra de conquista e
dominação que se estendeu por mais de três séculos e meio, os reinóis contaram
não somente com o suporte da Corte portuguesa como também com a chegada de
diversas ordens religiosas (com destaque para a Companhia de Jesus) que vieram
missionadas para a catequese dos nativos e dos escravos.
Como integrante da intelectualidade
esquerdista que foi fortemente influenciada pelo marxismo (Evolução Política do
Brasil, de Caio Prado Junior, de 1933) e pelo nacional-populismo (Getulismo,
1930-1954), Darcy Ribeiro voltou-se para a denúncia da exploração do Brasil
Colônia e a sua continuidade no Império e República.
No topo, no mando de tudo, estava o
patriciado formado por descendentes de lusitanos (donos de terra, traficantes
de escravos, comerciantes, altos burocratas). Na base, uma multidão de
miseráveis ou semimiseráveis formada por negros, mestiços ou brancos
paupérrimos que "viviam por favor" nas bordas das propriedades.
A grande mácula do país, entre tantas mais,
havia sido a política de não integração da massa amestiçada no processo de
cidadania. O brasileiro pobre e racialmente miscigenado passou a ter uma vida à
margem do restante da sociedade urbana, habitando malocas nas periferias,
favelas no alto dos morros cariocas, choupanas de palha em vilarejos miseráveis
por todo interior do país. Situação que está longe, muito longe de vir a ser
atenuada algum dia.
A chave para a explicação da abismal desigualdade de
classes no Brasil residia numa palavra: exploração. A histórica: da metrópole
sobre a colônia; e a social: a do senhor sobre o escravo e, após a abolição, da
elite sobre o povo em geral.
Cedendo às teses eco-marxistas e
ambientalistas que então começaram a espocar, o autor vê o processo de
colonização praticamente como um ato de depredação da natureza e rapinagem das
riquezas e dos nativos. "Desmontam morrarias incomensuráveis (devastação
da floresta atlântica e dos picos de Minas Gerais). Erodem e arrasam terras sem
conta. Gastam gente em milhões". Nesta enorme operação destrutiva, em meio
a intensas transformações, apenas a classe dominante "permaneceu igual a
si mesma exercendo sua interminável hegemonia" (pág. 69).
O destino do Brasil Colônia já havia sido
traçado de modo irrevogável três séculos antes pelo Padre Antonil (Cultura e
opulência do Brasil, 1711), determinando que sua "vocação", por assim
dizer, era exportar seus produtos primários, principalmente aqueles forjados
nos engenhos, os quais ele detalhadamente estudou.
A Independência, obtida em 1822, não
significou a emancipação da mão de obra escravizada espalhada pelos eitos,
aldeias e cidades. Ao contrário, o fluxo do tráfico negreiro se estendeu ainda
até 1850 (lei Eusébio de Queirós) e a manumissão só foi alcançada em 13 de maio
de 1888. Enquanto a Grã-Bretanha tratava de ampliar a introdução do maquinário
movido por fornalhas a carvão, no Brasil queimava-se "carvão humano"
em "moinhos de gastar gente".
O Brasil foi o maior império escravista do
Mundo Ocidental em todos os tempos
Escravidão e imigração
A exploração nefanda durou mais de 350 anos
no Brasil, provavelmente mais tempo do que durante o império romano,
superando-o em número de escravos e em área dedicada ao trabalho servil. Neste
sentido, o país foi o maior império escravista do Mundo Ocidental em todos os
tempos.
A chegada dos imigrantes europeus que vieram
substituir os escravos acentuou ainda mais a marginalização do
"brasileiro", isto é, a "gente parda". Daí Darcy Ribeiro,
sem desconsiderar sua importância, não se mostra um entusiasta do translado dos
"brancarrões" vindos da Europa, pois eles aprofundavam o desinteresse
pela massa mestiça, mais pobre e mais abandonada.
As atenções governamentais do império e da
república se voltaram para atender as precisões dos recém-desembarcados
(subvenção de passagens, entrega de terras, ferramentais e sementes etc.). As
costas das autoridades voltaram-se ostensivamente contra os seus(*).
(*)
As motivações iniciais para a atração da
imigração europeia a fim de povoar áreas remotas e vazias do território
brasileiro (alemães e italianos no sul do país) foi feita com diversas
intenções: a primeira delas era a substituição da mão de obra escrava pela mão
de obra colonial ou mesmo assalariada para que o setor produtivo,
particularmente o café, não viesse a ser prejudicado. A isto se somou a
doutrina racista do branqueamento da população, constituída em sua maioria de
mestiços.
A formação de uma classe média dotada de
tecnologia de pequena escala, na forma de artesãos, profissionais mestres
(ferreiros, carpinteiros, marceneiros, moveleiros, moleiros, construtores
etc.).
Nos começos, era o próprio imigrante quem
assumia os gastos do translado para o Brasil, mas, desde 1882, em vista da
crescente concorrência com a Argentina é que foi adotada a imigração
subvencionada pelo governo.
O que é o brasileiro
O brasileiro de hoje é produto de três
etnias que foram gradativamente perdendo a identidade, afastando-se das suas
raízes. O nativo se desindianizou, o negro se desafricanizou e o branco se
deseuropeurizou, gestando o que ele denominou de PROTOCÉLULA ÉTNICA
NEOBRASILEIRA.
Para Darcy Ribeiro, isto é um sinal evidente
que neste subcontinente, racial e culturalmente desbastado, apesar de tudo, se
gestou um novo tipo de civilização: a Civilização Tropical Brasileira (que,
segundo Gilberto Freyre, era o grande legado da colonização lusitana), distante
da cultura nativa aqui existente antes da conquista e mais afastada ainda da
civilização europeia, apesar de importar sistematicamente tudo que surgia por
lá. Como afirmou Simon Bolívar em certa ocasião: "não somos índios nem
europeus".
Trata-se de algo singular, entre outras
razões, porque é uma civilização calcada na intensa miscigenação das etnias. O
país-nação em formação é um caldeirão de raças que convivem em relativa
harmonia, mas está longe de ser uma "democracia racial" como exaltou
Gilberto Freyre. Ainda que exista preconceito por parte dos brancos, jamais
alcançou a violência do ódio racial facilmente constatado na história dos
Estados Unidos. Todavia, esta "paz racial" bem pouco contribuiu para
minimizar o abismo social que aparta os ricos dos pobres, como qualquer
levantamento estatístico confere e a própria vista das cidades brasileiras
demonstra.
No momento de explicar quais motivos levaram
o Brasil a empacar depois de ter sido na época do açúcar e do ouro (1620-1820)
uma das maiores do mundo, enquanto a modesta América do Norte tornava-se uma
potência econômica e depois mundial, Darcy Ribeiro reduz tudo ao fato de haver
liberdade geral nos Estados Unidos, ao menos depois da Guerra de Secessão
(1861-1865), enquanto por aqui se vivia sob o escravagismo. O que fez com que o
país somasse apenas 10% do PIB norte- americano no transcorrer do século 19.
Enquanto lá, usando a linguagem de hoje,
difundia-se o empreendedorismo, o que proporcionava que cada homem ou mulher -
pelo menos entre os brancos vindos em massa da Europa - tivesse a mais ampla
autonomia para tocar a sua vida e decidir seus negócios (rurais ou urbanos) por
si mesmos. No Brasil, tal situação era prerrogativa de poucos - "os homens
livres da ordem escravocrata" -, e geralmente subordinada a serviço dos
poderosos (*). Assim, Darcy Ribeiro contorna as explicações raciais e de ordem
cultural e afirma o primado marxista da exploração do homem pelo homem
abertamente praticada no Brasil.
(*) HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA
Tese de 1964, foi um ensaio inovador da
historiadora Maria Sylvia Carvalho Franco. Tendo por base a exploração cafeeira
do Vale do Paraíba, procurou deslocar a atenção à historiografia nacional do
enfoque do sistema "latifúndio-monocultura-escravidão" para aquela
miuçalha de gente mestiça ou branca pobre, mas laboriosa que vivia nas bordas
das propriedades e vilarejos. O que gerou "uma formação sui generis de
homens livres e expropriados, que não foram integrados à produção mercantil -
destituído de propriedade dos meios de produção, mas não de sua posse"
(pag. 14). Era composta por "sitiantes, vendeiros, tropeiros e diversas
outras categorias de homens livres, que não tinham a propriedade da terra, mas
o direito de uso, e que ocupassem o espaço para suprir as necessidades da
vizinhança com alimentos, animais para transporte, etc.".
Esta preocupação teve seguimento com os
trabalhos de Jorge Caldeira em seu intento em enfocar a atenção nos
"empreendedores" que desde os tempos colônias começam a formar o
mercado interno e a expandir a economia brasileira para outras direções (ver A
Nação Mercantilista e História do Brasil com empreendedores).
Caldeira inclina-se pela ênfase naqueles
homens livres com iniciativa que são colocados no "centro da história do
Brasil colonial, focando naquele que abandona a tradição e sociedade nativa e
busca o enriquecimento. Essa figura, ligada à produção independente e à pequena
propriedade, produziu uma economia dinâmica, que crescia em taxas mais elevadas
que a da Metrópole - mesmo tendo de lutar contra a ação do governo. Resultado:
a economia brasileira, em 1800, era maior que a de Portugal".
Arcaico e Moderno
Antes de se lançar na classificação dos
diversos brasis, Darcy Ribeiro atenta para outro tipo de luta que não se liga
diretamente ao conflito entre senhores e seus dependentes e que esteve presente
sistematicamente na maioria dos debates ideológicos e políticos do Brasil.
Aquele que envolve a presença do ARCAISMO sempre em guerra defensiva contra o
MODERNISMO ou o PROGRESSISMO, que em geral está circunscrito à elite política e
intelectual.
Como de fato o país nunca conseguiu
livrar-se da presença do patriciado, particularmente do de origem rural - que
sempre ocupou e continua ocupando posições estratégicas no Estado e na
burocracia -, a modernidade, para vingar, tem sempre de lutar vigorosamente
para poder se impor. Nem as leis eleitorais, nem as econômicas, nem as leis
previdenciárias e sociais foram obtidas sem fazer enormes concessões ao mundo
arcaico.
Trata-se de um peso morto, de um lastro
muito pesado que impede o país de decolar, daí Darcy Ribeiro e parte dos
intelectuais seus contemporâneos terem crescente simpatia por uma revolução
social como a única capaz de superar o contraste entre o arcaico e o moderno.
Certamente, jamais esperaram que a
modernidade pudesse vir a ser imposta pela aliança entre o público (governo
militar) a o privado (o empresariado brasileiro e as multinacionais),
hegemônica a partir do Golpe de 1964, ao tempo em que mantinha e reforçava o
arcaico (Estados de tradição oligárquica viram-se super-representados, enquanto
que os mais avançados foram despojados de representação proporcional) (*).
(*) Um dos melhores ensaios sobre o
relacionamento entre os militares conspiradores e os representantes das
federações patronais (unidos no IPES) continua sendo o de René Dreyfuss: 1964,
a conquista do Estado, de 1981.
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