Os
símbolos e o comportamento humano na antropologia de Leslie White
De acordo com Leslie White, o símbolo tem seu
significado atribuído pelo usuário e constitui a unidade básica do
comportamento humano.
Mesmo sendo semelhante ao macaco, a criança
desenvolve a fala, reflexão e a superação de exercícios que o animal não
consegue sequer problematizar.
Antropologia, como o próprio nome sugere
(antropo = homem; logia = estudo) é a ciência que se desvinculou da filosofia e
ganhou objeto específico de estudo, que é a análise da origem, desenvolvimento,
evolução do homem, a partir das suas condições físicas, biológicas, anatômicas
e histórico-culturais.
Para o estudioso Leslie White, o símbolo é a
unidade básica do comportamento humano. A civilização só existe em razão do
comportamento simbólico, característico do homem. A partir da teoria da
evolução de Darwin, muito se questionou sobre o que é o homem e qual a sua
diferença em relação aos demais animais (mamíferos superiores). Diante de dados
anatômicos, percebeu-se que a caixa craniana do homem era maior e que, por essa
razão, seu cérebro também o era. Dessa forma, o pensamento, o raciocínio, a
compreensão etc. estavam vinculados a um maior poder de associação de ideias
derivado das faculdades mentais humanas.
No entanto, Leslie constatou que a diferença
entre os homens e os outros animais era uma diferença qualitativa e não
quantitativa. Isto quer dizer que o homem usa símbolos para existir, mas que
estes símbolos são criados, inventados, pelos próprios humanos, diferente do
animal, que pode ser condicionado por símbolos, mas jamais poderá criá-los.
Esse poder de criar símbolos é especificamente humano (não há outros seres que
o façam, nem graus intermediários).
Símbolo é uma coisa cujo valor ou
significado é atribuído pelos seus usuários. Este valor nunca é determinado
pelas características físicas do objeto em questão, isto é, de suas
propriedades intrínsecas, mas sempre por algo arbitrário que se torna convencional.
Por exemplo, a palavra VER. Nenhuma destas letras, juntamente ou separadas,
indica uma ação de visualizar algo (em francês se diz VOIR, em inglês, TO SEE
etc.). O sentido faz parte da valoração coletiva sobre algo, é imaterial, mas é
preciso que alguma coisa física represente o sentido, perpassando nossa
experiência.
Leslie também faz a distinção entre símbolo
e signo. O primeiro é a criação do valor de algo. O signo é a indicação de um
valor já criado. É uma forma física cuja função é indicar alguma outra coisa,
qualidade ou fato. O sentido de um signo pode ser inseparável de sua forma
física (como, por exemplo, o termômetro com a coluna de mercúrio que indica a
quantidade de calor) ou apenas separado, desde que analogamente evidencie a
coisa (previsão do tempo, por exemplo).
Vejamos um exemplo: tanto um cachorro quanto
um homem podem ser condicionados a perceber um som através das letras S-E-N-T-A
e desenvolver um comportamento. No entanto, o sentido dessa palavra só o homem
pode dar, criar ou inventar, já que o animal é incapaz. Outro exemplo: para nós
da civilização judaico-cristã ocidental, o preto é a cor do luto, representando
tristeza, saudade de quem se foi, enquanto que para alguns países orientais, é
o amarelo, pois a morte é um momento de alegria em razão da libertação do corpo
e da alma. A cruz, que representa o sofrimento de Cristo, é totalmente estranha
para um canibal africano.
Também são notáveis as experiências que
Leslie acompanhou. A criação de uma criança, juntamente com um macaco (símio)
evidenciou que por mais semelhantes que sejam, tendo a mesma educação, logo a
criança se desenvolve, juntamente a fala e a reflexão, a construção e a
superação de exercícios que o animal não consegue sequer problematizar.
Fica evidenciado, então, que a natureza do
homem e a dos animais são diferentes e que estudar o homem vai além das suas
condições físicas, mas também das condições históricas, porque a nossa história
é a história que construímos livremente a partir de símbolos que chamamos
valores culturais.
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