Leia um trecho erótico do livro "80
dias - A cor da Paixão"
Você nunca mais irá se achar feia após a
academia depois disso...
Simón era bem mais voltado para a família do
que eu. Brigava com os irmãos como cães e gatos, e com os pais também de vez em
quando, mas falava com todos pelo menos uma vez por semana. Minha família e eu
tínhamos um relacionamento bem feliz, mas eu conseguia passar facilmente seis
meses sem ter notícias deles.
Ergui o olhar e o beijei. Ele tinha lábios
carnudos e, na maior parte dos dias, barba por fazer. Simón reagiu ao toque dos
meus lábios, me beijou com firmeza e me puxou delicadamente para o quarto,
passando as mãos por baixo da minha camiseta e puxando o fecho do meu sutiã
esportivo.
Ele havia aprendido uma das minhas
peculiaridades: não tinha nada que eu quisesse mais quando estava aborrecida
desde que não fosse com ele do que sexo. Eu sabia que era uma forma estranha
e específica de consolo, só minha e talvez de uma pequena minoria da população
feminina. O sexo colocava meus pés no chão como mais nada conseguia fazer, e
era a única coisa na Terra, atrás talvez apenas de tocar meu violino, que me
fazia sentir em paz.
Simón puxou minha calça de corrida para
baixo e deslizou o dedo para dentro de mim. Uma onda familiar de prazer subiu
pela minha coluna em reação ao toque dele.
Eu devia tomar banho protestei. Estou
toda suada.
Não, não devia disse com firmeza, me
empurrando para a cama.
Você sabe que gosto de você assim.
Era verdade, e ele tentava enfatizar isso
com frequência. Simón gostava de mim como eu era, estivesse como estivesse,
algo que sempre deixava claro ao me acordar com a cabeça entre as minhas pernas
ou partindo para cima de mim quando eu terminava de me exercitar. Ele era um
homem apaixonado que amava fazer amor e fazia tudo que podia para me agradar.
Porém, tínhamos gostos diferentes na cama.
Ambos preferíamos não estar no comando.
Simón não era um homem dominador, e eu
sentia falta desse traço de força, da firmeza do toque de Dominik e de outros
homens como ele. Eu queria ser amarrada à cama e deixar que outra pessoa
fizesse o que quisesse comigo. Simón tentou, mas nunca conseguiu aceitar a
ideia de que podia genuinamente me machucar. Ele dizia que, mesmo de
brincadeira, não podia amarrar uma mulher nem bater nela, e isso descartava
spanking, uma das coisas de que eu mais gostava.
Ele era um bom homem. Eu sabia que me
colocar por cima era bem mais o estilo dele do que o contrário, mas estava
fazendo assim porque sabia que eu preferia. O fato de eu ter passado nosso
relacionamento inteiro com uma sensação irritante de insatisfação era fonte
constante de culpa, como um ferimento que não fechava, uma coceira que eu não
conseguia coçar.
Eu queria, mais do que qualquer coisa, ser o
tipo de mulher que ficaria feliz com todas as coisas comuns. Eu tinha até mais
do que as coisas comuns. Não apenas um bom homem, mas um homem maravilhoso. Nós
dois tínhamos bons amigos, ótima saúde e carreiras de sucesso. Mas, ainda assim,
uma voz sussurrava no meu ouvido que a vida que eu estava vivendo não era a
vida que eu queria nem uma vida certa para mim.
Simón queria se casar e ter filhos, e eu
não. Era a única coisa sobre a qual realmente discordávamos e nunca
conseguíamos resolver, e eu tinha uma sensação dilacerante de horror cada vez
que eu o via olhando para uma vitrine de joalheria e para os anéis de noivado,
ou sorrindo para um bebê na rua.
Todas as coisas que o teriam deixado feliz e
satisfeito para sempre eram coisas que me apavoravam e, na calada da noite,
quando eu não estava distraída pelo trabalho nem por compromissos sociais nem
correndo no frio, sentia como se alguém tivesse prendido um peso no meu
pescoço, ou pendurado uma auréola acima de mim que era tão pesada que eu não
conseguia segurá-la no ar. Às vezes, sentia como se fosse ser esmagada sob o
peso da minha própria vida.
Duas semanas se passaram, e meus sonhos
estavam cheios de água agitada e do som da voz de Dominik.
Eu acordava de manhã, assustada, como se
tivesse sido arrancada do sono por um leão.
Apesar dos meus medos e das minhas
preocupações, o tempo passou, como sempre passava. Eu corria todos os dias,
ensaiava, ia a eventos noturnos com outros casais, a maioria do cenário
musical. Mas me sentia sem propósito, como um navio sem leme, como se minha
vida estivesse gradualmente se dissolvendo no nada, um momento de cada vez.