"Brasil
é o país dos conchavos, do tapinha nas costas", diz Joaquim Barbosa
14.nov.2013 - O presidente do STF e relator
do processo do mensalão, Joaquim Barbosa
O presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), ministro Joaquim Barbosa, disse que o "Brasil é o país dos
conchavos, do tapinha nas costas" na madrugada deste domingo (22) em
entrevista ao canal GloboNews.
Barbosa disse que não pretende se candidatar
a cargo político em 2014 - ele já negou que iria tentar a Presidência - mas não
descartou investir na vida política durante as próximas eleições. "Recebo
inúmeras manifestações de carinho, pedido de cidadãos comuns para que me lance
nessa briga [candidatura], mas não me emocionei com a ideia ainda",
relatou.
O ministro defendeu que o Brasil tem
responsabilidade por estar entre as 10 maiores democracias do mundo: "Isso
aqui não é lugar para brincadeira". Também criticou a tomada de decisões
dos três poderes: "Se faz muita brincadeira no Brasil no âmbito do Estado,
dos três poderes. Muitas decisões são tomadas (...) superficialmente. Não se
pensa nas consequências".
Se faz muita brincadeira no Brasil no âmbito
do Estado, dos três poderes.
Questionado sobre se as penas aos condenados
no processo do mensalão foram muito pesadas, discordou: "ao
contrário". Ele deu a entender que a Corte tem histórico de penalizar mais
quem chamou de "pessoas comuns". "O Supremo chancela em habeas
corpus coisas muito, mas muito mais pesadas", completou.
Ao conversar sobre racismo no Brasil,
Barbosa disse esperar que os presidentes nomeiem homens e mulheres negras
"de maneira natural" e que "não façam estardalhaço disso".
O ministro criticou convites que Lula teria feito a ele quando era presidente
para ir à África. Entre outros motivos para a recusa, Barbosa entendeu que
"era uma estratégia de marketing para os países africanos".
Ele lembrou que fez uma acusação contra o
jornalista Ricardo Noblat por crime racial.
Ministro foi relator do mensalão
Barbosa foi o relator do processo do
mensalão, que acabou com a condenação de nomes importantes do PT, como José
Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha.
O ministro foi nomeado à Corte em 2003 pelo
então presidente Lula e atinge a idade de aposentadoria compulsória no
tribunal, 70 anos, em 2024.
Em novembro, quando completa a gestão de
dois anos como presidente do STF, ele será substituído na liderança da Corte
pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Na entrevista ao canal, Barbosa sinalizou que
não deve esperar a aposentadoria para deixar a Corte: "Pretendo ficar mais
um 'tempinho', mas vou decidir o que fazer".
Pela lei, Barbosa pode deixar o
cargo e se filiar a algum partido até 6 de abril (seis meses antes das eleições) caso queira disputar algum cargo.
Pesquisa do Datafolha realizada em fevereiro
apontou que só uma eventual candidatura de Joaquim Barbosa e Marina Silva à
Presidência poderiam forçar o 2º turno com Dilma. Barbosa já disse que não será
candidato à Presidência.
Debates no STFAlerto o Brasil que é só o 1º passo, diz
Barbosa após absolvição
Debates e provocações com colegas
Barbosa já entrou em debates acalorados com
colegas do STF. Ele acusou Lewandowski de fazer "chicana" durante
sessão do julgamento do mensalão em agosto de 2013 - em termos jurídicos,
chicana é o ato de retardar um processo judicial com base em um detalhe ou em
um ponto irrelevante. A palavra também pode ser entendida como
"trapaça" ou "tramoia".
Em fevereiro de 2014, sugeriu que o colega
Luís Roberto Barroso, mais novo integrante do colegiado, tinha "voto
pronto" sobre o mensalão antes mesmo de se tornar ministro. Também criticou
os argumentos de Teori Zavacki e Barroso quando estes votaram pela absolvição
de oito réus do mensalão do crime de formação de quadrilha.
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