domingo, 24 de agosto de 2014

Viva a sabedoria...


René Descartes e a dúvida hiperbólica
 
Para Descartes, não há homens com mais e homens com menos razão

Viver em um ambiente onde todos os discursos pretendem alcançar a verdade das coisas é compartilhar de um espetáculo verborrágico onde as dúvidas e as certezas têm as mesmas possibilidades de sucesso. A razão é a coisa mais bem distribuída entre os homens. E o é de tal forma que ninguém se julga dela querer mais do que a que já possui. É assim que o filósofo francês vai iniciar sua obra sobre o método.

Para Descartes, não há homens com mais e homens com menos razão. Esta é uma característica inata inerente à espécie humana. Então como pode haver o erro nos juízos? É preciso buscar um fundamento seguro e definitivo em que a verdade possa ser universalizada.

Os gregos admitiam que ao observarem a natureza, eles interpretariam, desvelariam a verdade contida na phýsis e a partir disso guiariam seus destinos, seguindo os imperativos do cosmo. Os medievais (leia-se os cristãos) entendiam que o fundamento da realidade era Deus e a verdade revelada consistia nas leis que o homem deve conhecer para agir. 

Ambas pensam na perspectiva do objeto. Ambas imaginam poder deduzir a verdade, seja da autoridade da natureza, seja de Deus, o que nos permite considerar tal filosofia como realista (res = coisas). Assim, o homem, como sujeito, não passa de um mero espectador da peça divina ou da maravilha do cosmo. É uma peça determinada que apenas cumpre uma função sem ter nenhuma importância no papel de descoberta da realidade.

Dessa forma, os discursos e as ações eram realizadas sob a autoridade sempre externa das passivas marionetes humanas. Todas as maravilhas bem como as desgraças eram causadas em nome de Deus ou em prol do Todo. Com isso, vão surgindo contradições no real que despertam a argúcia e inteligência daqueles que não veem o homem meramente como um agente passivo no processo de conhecimento.

Essas contradições levaram os homens a descrerem de Deus e dos próprios homens, suspendendo os juízos de realidade, impossibilitando o conhecimento (ceticismo). Eis que surge um homem capaz de salvar a verdade, atribuindo a responsabilidade desta ao construtor dos argumentos.

Descartes utiliza-se do mesmo método daqueles céticos que não acredita que o mundo possa ser conhecido. Assim, ele duvida de tudo o que é possível duvidar (do corpo, das pessoas, de Deus, de si mesmo, do mundo, etc.) até que chega um momento em que a dúvida cessa. 

Pode-se duvidar de qualquer coisa, mas jamais pode-se duvidar de que para duvidar é preciso pensar. Cogito ergo sum (Penso, logo existo!) é a primeira e mais fundamental evidência da verdade da qual se deve partir. Isso quer dizer que todo conhecimento possível é humano, até mesmo as interpretações sobre Deus, o que se diz dele. Então ele é uma mera criação de nossa fantasia? Talvez! Mas não segundo Descartes, para quem Deus é um ser necessário como segunda verdade devido à consciência do sujeito pensante de sua própria imperfeição.

Temos, portanto, uma divisão de duas substâncias, já que o pensamento é real enquanto o resto depende deste: a Res extensa, que é a matéria e a Res cogitans, que é o espírito, razão ou somente sujeito pensante (em termos universais). 

Esse dualismo psicofísico subordina o mundo à mente humana de modo que somente pelas representações do espírito se conhece as coisas, ou seja, elas só ganham sentido (leia-se existência) a partir de uma abordagem que constrói argumentativamente o mundo através de princípios puramente inteligíveis. E o caminho para se chegar a esses princípios é o que Descartes escreve no seu Discurso do método:

1. Evidência: segundo Descartes é a regra que nos permite ter clareza e distinção dos princípios inteligíveis. Por serem simples ideias, são a fonte de toda construção teórica do saber;

2. Análise: é o processo pelo qual decompomos nossas representações imediatas em representações mais simples a fim de organizar e ordenar os dados de forma a compreender o objeto;

3. Síntese: momento ao qual se chega depois da decomposição; significa que o todo desorganizado de uma representação é sintetizado numa ordenação de suas partes, compondo-o em um todo, agora, organizado;

4. Enumeração: como há possibilidades de falhas, trata-se de uma verificação geral do processo com a finalidade de garantir que foi feita correta e devidamente a análise do objeto.

Em outras palavras, Descartes submete os dados dos sentidos (fonte de erro) ao jugo da razão humana (fonte de verdade). Para entender melhor do que se trata, bem como para se entender o funcionamento do método, vamos ver como Descarte considera as ideias ou representações humanas:

- Ideias adventícias: são as representações oriundas dos sentidos (advém = vem de fora). Nestas estão a fonte de erros dos juízos, pois um juízo não é feito sobre coisas e sim sobre o modo como compreendemos coisas. Assim, juízos que são baseados nestas ideias, segundo Descartes, são fontes do erro, pois nos dizem como a coisa aparece e não o que ela é;

- Ideias fictícias: ficção é o nome para o que não existe. Significa dizer que nossa imaginação pode, a partir de ideias adventícias, formar seres que não têm nenhuma correspondência com a realidade (cavalo alado, por exemplo, que é a ideia de cavalo com asas). Jamais nos instruem sobre algo;

- Ideias inatas: são princípios simples por si mesmos e de índole matemática. Só é possível representar ao espírito por uma intuição (ou seja, não são coisas). Por exemplo, o círculo, o triângulo, a perfeição, etc. São a marca do criador em nosso espírito e que nos permite conhecer os objetos particulares. São deduzidas e demonstradas apenas racionalmente.

Logo, é com esses critérios que, segundo Descartes, pode haver ciência absoluta e universal entendida como uma construção de um sujeito pensante e, por isso, ativo no processo do conhecer. As consequências e responsabilidades são sempre humanas. Se Deus ajuda, é devido a uma intervenção que não pode ser evidenciada (ou seja, seus projetos não podem ser conhecidos).

Cultura...


Conceito de Indústria Cultural em Adorno e Horkheimer


A indústria cultural, segundo Adorno e Horkheimer, possui padrões que se repetem com a intenção de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo.

Para Adorno e Horkheimer a indústria cultural possui padrões que se repetem com a intenção de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumo

Apesar de a Indústria Cultural ser um fator primordial na formação de consciência coletiva nas sociedades massificadas, nem de longe seus produtos são artísticos. Isso porque esses produtos não mais representam um tipo de classe (superior ou inferior, dominantes e dominados), mas são exclusivamente dependentes do mercado.

Essa visão permite compreender de que forma age a Indústria Cultural. Oferecendo produtos que promovem uma satisfação compensatória e efêmera, que agrada aos indivíduos, ela impõe-se sobre estes, submetendo-os a seu monopólio e tornando-os acríticos (já que seus produtos são adquiridos consensualmente).

Camuflando as forças de classes, a Indústria Cultural apresenta-se como único poder de dominação e difusão de uma cultura de subserviência. Ela torna-se o guia que orienta os indivíduos em um mundo caótico e que por isso desativa, desarticula, qualquer revolta contra seu sistema. 

Isso quer dizer que a pseudo felicidade ou satisfação promovida pela Indústria Cultural acaba por desmobilizar ou impedir qualquer mobilização crítica que, de alguma forma, fora o papel principal da arte (como no Renascimento, por exemplo). Ela transforma os indivíduos em seu objeto e não permite a formação de uma autonomia consciente.

Englobando a sociedade como um todo, com um pequeno número de evasão, é quase impossível romper com tal sistema produtivo. Aqueles que se submetem a esse modelo de indústria nada mais fazem que falar de modo diferente a mesma coisa. 

Porém, uma certa crítica ainda pode ser vista naqueles que fomentam um tipo de arte que produz efeitos estéticos fora da padronização oferecida pela indústria. Mesmo assim, é uma tentativa que fica à margem do sistema porque não agrada àquelas consciências acostumadas com um modelo estandardizado.

O próprio Adorno, como um dos integrantes da Escola de Frankfurt, onde foi desenvolvida a Teoria Crítica, construiu um tipo de música calculada nos moldes das músicas clássicas e eruditas, mas com uma melodia aparentemente horripilante aos ouvidos acostumados aos acordes da música clássica tradicional (leia-se burguesa). 

Sua pretensão é justamente desacostumar a percepção daquela noção tradicional de ordem e harmonia (já que sua música só parece desarmônica, mas na verdade é totalmente ordenada e arranjada – dodecafônica) prevalecente na cultura burguesa vigente à época.

Para Adorno e Horkheimer, Indústria Cultural distingue-se de cultura de massa. Esta é oriunda do povo, das suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada, enquanto que aquela possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo. 

E embora a arte clássica, erudita, também pudesse ser distinta da popular e da comercial, sua origem não tem uma primeira intenção de ser comercializada e nem surge espontaneamente, mas é trabalhada tecnicamente e possui uma originalidade incomum – depois pode ser estandardizada, reproduzida e comercializada segundo os interesses da Indústria Cultural.

Assim, segundo a visão desses autores, é praticamente impossível fugir desse modelo, mas deveríamos buscar fontes alternativas de arte e de produção cultural, que, ainda que sejam utilizadas pela indústria, promovessem o mínimo de conscientização possível.
http://www.brasilescola.com/cultura/industria-cultural.htm

Entendendo...


Escola de Chicago - empirismo: Abordagem biográfica e criminalidade

A sociologia urbana elaborada no âmbito da Escola de Chicago foi responsável pela introdução de métodos de pesquisas originais para a obtenção de dados, todos baseados no empirismo, o que conduziu à catalogação de variadas formas de patologias sociais.

Destacam-se, nesse aspecto, os métodos descritivos, que deram base para os estudos biográficos feitos a partir de histórias ou relatos de vida - individuais ou de grupos similares.

Assim, ao invés de trabalharem com dados e informações secundários, ou seja, que já foram agrupados e sistematizados, os cientistas sociais e os estudantes foram estimulados a produzir e trabalhar com dados e informações primários.

A abordagem biográfica interpreta narrativas que são sustentadas pelos testemunhos e depoimentos dos sujeitos que são objetos de pesquisa. O emprego do método biográfico foi enriquecedor para a sociologia da época, pois valorizou a voz do sujeito que está sendo pesquisado, dando importância às representações e interpretações elaboradas por ele diante de sua condição social e de sua forma de viver.

Em segundo lugar, por meio dos estudos biográficos foi possível conhecer, em detalhes, as origens sociais dos sujeitos investigados, chegando ao cotidiano e às interações sociais que ocorrem no interior de grupos fechados, tais como gangues de rua, guetos, grupos de marginais e criminosos.

O conhecimento da trajetória de vida de um indivíduo delinquente ou criminoso forneceu, assim, bases empíricas para se estudar o comportamento desviante.

Criminalidade e imigração

O estudo da grande metrópole norte-americana, por parte dos pesquisadores da Escola de Chicago, privilegiou algumas temáticas. As variadas formas de criminalidade e o fenômeno da imigração foram os temas mais bem estudados.

Sem dúvida alguma, essa tendência se deve ao fato de que os problemas sociais que mais dramaticamente afetavam a cidade estavam relacionados com a criminalidade, a marginalidade e a chegada de grandes contingentes de imigrantes.

Sobre a criminalidade em suas variadas formas, os estudos mais importantes chegaram à conclusão de que as zonas ou regiões urbanas que se encontravam em estado de deterioração, desorganizadas e carentes de serviços públicos básicos (os chamados cinturões de pobreza) eram os habitats propícios para o surgimento e ação das gangues de rua e bandos de delinquentes juvenis. Consequentemente, eram as regiões que apresentavam as maiores taxas de criminalidade.

Desse modo, os pesquisadores demonstraram que a cidade tinha áreas sociais que geravam o crime: o espaço urbano degradado condicionava a quebra das regras e instituições sociais (escola, família) e, de certa forma, determinava os comportamentos desviantes.

Sobre a imigração, os pesquisadores procuraram compreender as interações que ocorrem quando da chegada do imigrante na grande metrópole. Basicamente, identificaram quatro tipos básicos de interação social: competição, conflito, acomodação e assimilação.

Legado

A orientação dos estudos sociológicos elaborados no âmbito da Escola de Chicago dominou a sociologia norte-americana até por volta da metade da década de 1930, mas sua influência se estendeu nas décadas seguintes.

A Escola de Chicago desempenhou papel relevante na institucionalização da sociologia como ciência acadêmica nos Estados Unidos.

Ao centrar seus estudos nos problemas sociais, porém, ela foi criticada por negligenciar a elaboração de teorias sociológicas a partir da reflexão intelectual dissociada da sociologia aplicada. Até certo ponto, essa afirmação é verdadeira, mas as contribuições que a Escola de Chicago forneceu à sociologia são inegáveis.

O confronto com o real, a partir da imersão do cientista social no meio urbano e na vida das comunidades, tendo a pesquisa de campo como método privilegiado de proceder à observação e à coleta de dados, foi um instrumento pedagógico inovador, tornando-se a marca distintiva da sociologia produzida no âmbito da Escola de Chicago. "Sujem suas mãos e suas calças" era a metáfora empregada por Park para incentivar os estudantes do programa de sociologia a irem a campo.

Outras contribuições importantes da Escola de Chicago foram, certamente, os estudos de criminologia (sociologia criminal) e os métodos biográficos, que, depois de muitas décadas em desuso, voltaram a ser valorizados e empregados de forma recorrente pelas ciências sociais em geral.

Além disso, a principal publicação da Escola Sociológica de Chicago é, até os dias de hoje, uma fonte de pesquisa inestimável: o American Journal of Sociology.

Curiosidade...


Psicofisiognomia

A psicofiognomia analisa o perfil de um rosto

A psicofiognomia é uma ciência utilizada pelos antigos egípcios para escolher seus imperadores a partir do seu perfil. Essa analisa o formato do rosto, o comprimento do nariz, o tamanho dos lábios, das orelhas, e por meio desta análise aponta as características, o psicológico, a personalidade e outros fatores que permite uma pessoa se auto-conhecer.

Para a análise ser mais eficiente, prática e lógica, o rosto foi dividido a partir de pontos que mostram características específicas. A parte que vai do couro cabeludo até as sobrancelhas representa o pensamento lógico, o intelecto; a parte que vai da sobrancelha ao nariz representa o lado emocional da pessoa e a parte que vai do nariz ao queixo representa o instinto e as suas necessidades. O lado esquerdo da face caracteriza o lado íntimo da pessoa enquanto o lado direito caracteriza o social.

A testa apresenta características que principalmente para as mulheres são marcas de expressão, mas estas revelam coisas interessantes:

Testa muito lisa: Significa que a pessoa não usa a sua capacidade intelectual;

Testa larga e ampla: Significa inteligência e perspicácia;

Testa com uma ruga horizontal no meio: Significa uma pessoa idealista e sonhadora;

Testa com uma ruga sobre a sobrancelha: Significa uma pessoa extremamente materialista;

Testa com uma ruga vertical no meio: Significa pessoas explosivas, de “pavio curto”;

Testas com muitas rugas horizontais e verticais: Significa pessoas tensas e com facilidade ao desequilíbrio emocional.

O nariz normalmente não agrada muito, mas também apresenta fortes características, a saber:

Afilado: Nariz de ponta muito fina revela temperamento curioso e penetrante. Se todo o nariz for fino, a pessoa tende a ser negativa e irônica. Quando o nariz é largo com a ponta fina caracteriza pessoas sagazes e ambiciosas.

De "batatinha”: Caracteriza pessoas simples, maleáveis que se contentam com pouco.

Reto (de perfil): Caracteriza pessoas de caráter e sensatas que abrem mão de suas vontades para beneficiar terceiros. São carentes ao extremo e vivem à procura do amor platônico.

Arrebitado: Caracteriza pessoas alegres, otimistas e de temperamento forte que vivem intensamente. Entrega-se intensamente ao amor e exige o mesmo em troca. 

Assimétrico: Caracteriza pessoas de conflitos emocionais, complexos, sensibilidade, inconformismo e que são anti-sociais.

Aquilino: Caracteriza pessoas com poder de liderança facilitada.

Largo: Caracteriza pessoas alegres e violentas.

Os lábios também demonstram algumas características curiosas:

Grossos: Caracteriza pessoas que intensamente necessitam de prazeres sexuais.

Finos: Caracteriza pessoas insensíveis.

Lábio inferior para frente: Caracteriza pessoas que possuem a arte de falar muito.

Lábio superior para frente: Pessoa preservada.

A cor dos olhos revela sentimentos existentes:

Negros: Caracteriza pessoas de seriedade harmoniosa que amam a vida. Possui caráter forte e dominador.

Azuis: Caracteriza pessoas delicadas, sensuais, intuitivas e dinâmicas.

Verdes: Caracteriza pessoas amorosas, possessivas, ciumentas e persistentes.

Cinzentos: Caracteriza pessoas inteligentes, raciocínio destacado e grandes conhecimentos.

Castanhos: Caracteriza pessoas racionais, sensíveis, sérias e justas.

Avelã: Caracteriza pessoas de temperamento equilibrado, organizadas, seguras e racionais.

As características do queixo revelam:

Largo: Pessoas ambiciosas e voluntárias.

Estreito: Pessoas delicadas, sensíveis com talentos artísticos.

Redondo: Pessoas de iniciativa, generosidade, insatisfações ocultas e desejos de prazeres materiais.

Longo e pontudo: Pessoas com espírito de liderança, autoritárias e ambiciosas.

Pontudo mas não pronunciado: Pessoas ambiciosas, mas pessimistas.

Pequeno e bem-feito: Pessoas harmoniosas, de bom senso que se adapta facilmente a modificações.

Para dentro: Pessoas indecisas, volúveis, mas simpáticas.

Com furinho: Pessoas com força de vontade, porém inseguras.

Muito pequeno: Pessoas sonhadoras, com grande imaginação.

Duplo: Pessoas com problemas de saúde, preguiçosa, apática que renuncia suas responsabilidades.

http://www.brasilescola.com/curiosidades/psicofisiognomia.htm

Piada...


P: Por que a loira fala ao telefone deitada? R: Para não cair a ligação!!


Devanear...

Leia um trecho picante do livro "Complicado Demais", de S. C. Stephens

Conheça um pouco da história de amor entre Kiera e Kellan, que chega às lojas na segunda quinzena de agosto.


Afastando minhas dúvidas, procurei me concentrar no que sabia com certeza. Naquele exato momento, Kellan me queria. Naquele exato momento, Kellan me amava, e apenas a mim. E, naquele exato momento, ainda faltavam horas para a minha irmã voltar.

Vestindo apenas as calças jeans detonadas que contornavam suas pernas à perfeição, seu peito escultural debruçado sobre o meu, Kellan pousou a boca com gentileza na minha, os dedos de sua mão livre enrolando uma mecha escura dos meus cabelos. Meus dedos também estavam ocupados. Eles passeavam por aquela cabeleira revolta, maravilhosa. 

Era tão delicioso enrolá-la entre os dedos, que não pude resistir a lhe dar um puxãozinho. Ele abriu um sorriso, os lábios ainda nos meus. Então, meus dedos foram descendo pelas suas costas, apreciando os músculos esguios e o leve pulsar das veias sob a pele. A partir daí eles decidiram subir até as espáduas, demorando-se por um momento nos músculos que se retesavam e relaxavam enquanto ele brincava com meus cabelos. O único curso natural que restava depois disso era descer até o fim das costas.

Meus dedos vagavam com prazer pela macia e enxuta extensão de pele, descendo até o cós da calça. Naturalmente, no meio do caminho eles decidiram voltar às espáduas e refazer o caminho até a cintura. Mas, dessa vez, passei as unhas de leve por sua pele em vez de usar as pontas dos dedos, que eram mais suaves e macias.

- Não me provoca - murmurou ele, chupando meu lábio inferior.

Dei um risinho ao me lembrar que uma vez já tinha cravado as unhas com ferocidade naquela pele perfeita e num quiosque de café espresso, ainda por cima. O sangue me aflorou ao rosto, fazendo-o arder. Fora um momento um tanto constrangedor para mim. Kellan interrompeu nosso beijo e se afastou para observar minhas feições, provavelmente notando o rubor no meu rosto e compreendendo minha expressão. Seu dedo traçou uma linha na minha face antes de percorrer meus lábios.

- Será que você faz uma ideia do efeito que aquele arranhão surtiu sobre mim?

Seus lábios se curvaram endiabrados ante a lembrança, e meu rubor se acentuou. Sem conseguir emitir uma palavra, eu me limitei a balançar a cabeça. Ele sorriu ainda mais e se inclinou sobre o meu ouvido:

- Acho que foi aquilo que me fez gozar.

Meus olhos se fecharam por um segundo quando o ouvi dizer isso, e ri baixinho, mesmo contra minha vontade.

- Não fazia ideia de que você fosse tão tarado sussurrei.

Ele soltou uma risada.

- Foi você que cravou as unhas em mim.

Voltei a rir, sentindo o humor levar a vergonha consigo.

- E foi você que gostou.

Ele beijou meu queixo de leve antes de se afastar com uma sobrancelha arqueada:

E você não gostou de fazer, por acaso?

Mordi o lábio, desviando os olhos da expressão vaidosa em seu rosto. É claro que eu tinha gostado. Meu corpo ficara tão satisfeito com a experiência quanto o dele. Mas não pude deixar de sentir uma pontada de culpa. Eu me sentia mal por tê-lo machucado, por tirar sangue. Isso já era passar um pouco dos limites num momento daqueles.

Surpreendendo-o, empurrei seus ombros para trás. Ele soltou um resmungo e disse "Ei!", tentando rastejar de novo para cima de mim. Aos risos, mantive-o a distância com uma das mãos, enquanto me contorcia para livrar a metade do corpo que ainda estava presa entre suas pernas. Antes que ele pudesse se queixar ou me imobilizar na posição anterior, eu montei nos seus quadris.

Como ele estava de lado, começou a se virar de costas. Senti pelo sorriso radiante iluminando seu rosto que Kellan achara que aquilo ia dar em intimidade. A ideia de eu ficar por cima à força o excitava. Mas, também, Kellan estava sempre excitado. Ri ainda mais ao empurrar seus ombros para baixo, mantendo seu peito preso no colchão. Quando estava firmemente sentada na parte de baixo da sua coluna, ele virou o pescoço para me olhar.

- O que está fazendo?

Minhas mãos passearam um pouco pela extensão de pele perfeita antes de eu responder, com voz um tanto sensual:

- Bem, eu me sinto meio culpada por ter machucado você

Ele se virou mais um pouco, seus lábios me dando um sorriso:

- Eu disse que aquilo me fez gozar, não disse?

Senti o rubor voltar ao ouvi-lo pronunciar aquela palavra de novo gozar. Não chegava nem mesmo a ser obscena, mas ouvi-la dos seus lábios me fez lembrar aqueles momentos de crispar os músculos, de ferver o sangue, de mudar o destino, momentos do mais puro êxtase. Sorrindo, procurei não reviver aquela sensação por ora.

- Quero ter certeza de que você não ficou danificado

Passei as mãos pelas suas costas, me inclinando sobre ele até meus cabelos roçarem sua pele. Adorei ver que ele se arrepiou quando minhas longas mechas afagaram suas costas. Seus olhos encontraram meu rosto, e sua voz ficou mais baixa:

- Eu só tenho uma cicatriz que possa ser atribuída a você.

Ele manteve os olhos nos meus, e eu prendi a respiração ao ver quanto amor havia neles. Não achava que algum dia me habituaria a ver o quanto ele me adorava. O que tornava irrelevantes as paqueras que eu presenciara horas atrás. Nenhuma daquelas fãs jamais receberia um olhar desses, nem jamais teria esse nível de intimidade com ele. Não mais. Evan tinha razão Kellan flertava com elas, mas o coração dele era meu.

Assenti, surpresa ao notar que meus olhos começavam a ficar úmidos. Minha memória repassou a cena a que ele se referia, e eu mordi o lábio. Já fazia muito tempo que ele levara uma facada ao tentar defender minha honra. Fora um dos momentos de coragem mais bonitos e apavorantes que alguém já vivera por mim. 

Eu achava incrível que ele tivesse me defendido, e horrível que tivesse se machucado. Meus dedos foram descendo pelas suas costelas, tocando o colchão quando os curvei em torno do seu corpo. Eu me inclinei e beijei a ponta da cicatriz onde senti uma aspereza marcando aquela pele outrora lisa. Ele ficou ofegante, seu estômago se contraindo ao sentir meus lábios passando sobre a velha ferida.

Sorri, enquanto aplicava beijos pelas suas costas, pensando em outra ferida que lhe fora infligida por minha causa. É verdade que essa não tinha deixado uma cicatriz externa (a fratura consolidara sem cirurgia), mas eu tinha consciência do dano que jazia sob a superfície. Minhas mãos percorreram seus braços, apertando o esquerdo, fraturado muitos meses antes, durante uma briga com meu ex-namorado, Denny.

Eu me inclinei para a frente e beijei aquele braço, seu olhar se abrandou ainda me observando. Vi que ele compreendera meu gesto.

- Adoro você por todas as suas cicatrizes sussurrei, me curvando e beijando de leve seus lábios.

Sua mão segurou minha cabeça, me mantendo presa na doce maciez do seu beijo. Ele o aprofundou, e o fogo da expectativa me correu pelas veias quando sua língua roçou a minha. Minha respiração acelerou e eu me curvei mais em direção ao beijo por um momento, antes de interrompê-lo.

Com jeito, eu me desvencilhei de sua mão, que me prendia à sua boca. Com uma expressão zangada, dei um tapa no seu ombro

- Para com isso. Ainda não terminei minha inspeção.

Ele suspirou, revirando os olhos.

- Tá, mas será que não dá para andar mais depressa? Para eu poder fazer amor com você e não com esse colchão horrível? Pressionou os lábios no futon sob o corpo para enfatizar o que dizia, e eu caí na risada. Achando graça também, ele murmurou: Podemos trocar de posição quando você terminar?

Ignorando o pedido, continuei sentada na base da sua coluna, concentrando toda a minha atenção naquelas costas maravilhosas. Ele parecia estar ótimo. Não havia quaisquer linhas finas de pele enrugada no local dos arranhões que eu lhe dera. Foi só quando me inclinei para beijar sua pele que as notei. Eram cicatrizes muito tênues, tão tênues que não daria para notá-las a menos que se ficasse literalmente a centímetros da sua pele como eu naquele momento, mas estavam lá. 

Listras brancas e finas riscavam suas costas, no ponto onde eu passara as unhas. Sorri comigo mesma ao ver que uma parte daquela noite tão louca e intensa ainda estava com ele, talvez para sempre. Por mais que detestasse ter lhe causado dor, também estava satisfeita por ver que ele sempre carregaria uma lembrança daquela noite aonde quer que fosse.

- Ah, encontrei o que procurava murmurei.

Ele já ia perguntando "O quê?", quando, brincalhona, deslizei a ponta da língua pela vaga listra branca. Ele interrompeu o que dizia, um arrepio percorrendo seu corpo. Mais atrevida, deixei a língua seguir numa trilha por entre suas espáduas até a nuca. Kellan se contorceu, deixando a testa cair no travesseiro; sua respiração acelerou. Com mais uma velha lembrança tomando conta de mim, mordi sua nuca muito de leve, fazendo-o gemer.

Antes que eu pudesse entender e impedi-lo, ele se virou embaixo de mim, levantando os braços para me deitar no futon. Soltei todo o ar dos pulmões com a força que ele usou para me tirar das costas. Comecei a rir quando se deitou em cima de mim. Seus lábios atacaram os meus, sua língua praticamente procurando minhas amígdalas. Eu o empurrei. Com o desejo estampado naquele olhar de sexo tórrido, ele rosnou:

- Não me provoca.

Dei um risinho de desdém, passando o dedo pela sua boca entreaberta.

- Revanche. - Arqueei uma sobrancelha para ele. - Pelo menos, eu não fiz isso numa boate lotada de gente.

O rosto dele se sobressaltou. Era quase como se tivesse esquecido aquele momento intenso em que me lambera no meio de uma pista de dança lotada. Denny e Anna estavam em outra parte da boate. Ele franziu o cenho, seu olhar parecendo um tanto arrependido.

- Aquilo não foi muito legal da minha parte, não é?

Passei os braços pelo seu pescoço, negando com a cabeça.

- Não, não foi mas eu gostei.

Seus olhos culpados recuperaram o bom humor quando ele recordou aquela noite.

- Não pude resistir. Seus dedos deslizaram pelos meus braços, levantando-os acima da minha cabeça, o que fez com que arrepios deliciosos me percorressem o corpo. - Seus braços estavam levantados assim. - Segurou meus dois braços acima da cabeça pelos pulsos com uma mão só, enquanto seu dedo descia pelo meu nariz até a boca. - Você ficou mordendo o lábio enquanto dançava. - Tornei a morder o lábio ao ver seus olhos gulosos recriarem a imagem de mim mesma que o fizera perder a cabeça. 

Seu dedo deslizou sobre meu lábio, descendo até entre os seios. Fechei os olhos e ele continuou arrastando o dedo sobre meu umbigo exposto até o short. Brincou com o cós por um momento antes de levar a mão ao osso do quadril. - E esses esses quadris - Curvou-se e ficou respirando de leve sobre meu rosto, nossos lábios se roçando. - esses quadris que me levaram à loucura.

Levou os lábios aos meus e soltou minhas mãos. Envolvi sua cabeça entre os braços, abraçando-o com força. Quando paramos para recobrar o fôlego, murmurei:

- Você ficou me observando?

Ele passou o nariz pela minha face, vez por outra estendendo a língua para sentir meu gosto.

- O tempo todo. - Seus lábios iam e vinham pelo meu maxilar. - Tenho muitas culpas para expiar, e detesto o que aconteceu entre nós depois, mas nunca vou me arrepender por ter sentido o gosto da sua pele aquela noite. Fiquei ofegante e arqueei as costas ao seu encontro, levantando a cabeça para que seus lábios pudessem tornar a visitar meu pescoço.

Ele fez o que eu queria, toques leves como plumas descendo por minha pele. Sua boca ainda no meu pescoço, seus dedos desfizeram o nó da minha blusa. Com um único gesto, ele retirou o tecido escuro pela minha cabeça. Seus olhos se demoraram sobre meu corpo por um segundo antes de ele abrir o sutiã com dedos afoitos e arrancá-lo. Meu corpo pulsava de ânsia enquanto seus olhos ardentes me acariciavam visualmente. Com um suspiro, ele deixou a cabeça cair sobre meu estômago.

- Eu preciso dessa carne - murmurou, sua língua subindo pelo meu corpo.

Senti as entranhas se incendiarem com esse contato e me contorci sob seu toque.

- Também preciso de você, Kellan.

Ele passou a língua por entre meus seios.

- Preciso ver seu rosto enquanto faço isso. - Estendeu a língua inteira até o meu pescoço, e eu fechei os olhos, gemendo em resposta. - E preciso ouvir você também. - Levou os lábios, e aquela língua mágica, até meu seio, contornando o mamilo com ela.

Arqueei as costas, enfiando as mãos entre seus cabelos.

- Meu Deus, assim

Com a respiração pesada, ele levou os lábios à minha orelha.

- Preciso estar dentro de você tão fundo quanto puder ir. - Meu corpo chegou a doer com essas palavras, meu short de repente tão desconfortável quando o latejar delicioso entre minhas coxas se transformou numa dor violenta. Gemi alto e tentei beijá-lo, mas ele se afastou. Ficou parado em cima de mim, e eu abri os olhos para contemplar aquele Adônis à minha frente. Sua expressão ardendo de desejo por mim, ele engoliu em seco.

- E preciso ouvir você pedindo também. - Com o rosto suplicando muito mais do que as palavras, acrescentou: - Você me quer?

O latejar se intensificou, o que pensei que fosse impossível, e minha boca encontrou a sua.

- Meu Deus, Kellan por favor, sim, meu Deus por favor. Eu quero você quero tanto você. - E eu também queria dizer mais do que as palavras. Ele me perguntava se era realmente com ele que eu queria estar. E eu lhe dizia, com a máxima clareza possível, que sim.

Murmurei mais súplicas para ele, nossas bocas encenando o que ambos desejávamos. Com arquejos fortes e dedos frenéticos, terminamos de despir o resto de nossas roupas, e ele fez exatamente o que disse que precisava fazer.

Mais uma etapa superada...