Consequências
da invenção do dinheiro
Segundo Georg Simmel, a sociedade é produto das
interações entre os indivíduos (concebidos como atores sociais). Dentro dessa
perspectiva, o conceito de sociedade também muda, pois, na concepção corrente,
uma sociedade é uma unidade que está limitada a um determinado território ou
localidade.
Mas, para Simmel, uma sociedade toma forma a partir
do momento em que os atores sociais criam relações de interdependência ou
estabelecem contatos e interações sociais de reciprocidade. Desse modo, as
fronteiras e limites de uma sociedade são difusos e extremamente transitórios.
Neste ponto, é possível identificar alguma aproximação ou concordância de
Simmel com as abordagens sociológicas de Norbert Elias (1897-1990).
Concebendo a sociedade como produto das interações
individuais, Simmel formula o conceito de "sociação" para designar
mais apropriadamente as formas ou modos pelos quais os atores sociais se
relacionam. É importante destacar que as interações sociais e as relações de
interdependência não representam, necessariamente, a convergência de interesses
entre os atores sociais envolvidos.
Nos estudos microsociológicos, Simmel demonstra que
as interações sociais podem prefigurar relações conflitivas, relações de
interesse mútuo e relações de subordinação (ou dominação). O conflito, porém, é
concebido por Simmel como algo benéfico porque é um momento que sinaliza o
desenvolvimento da tomada de consciência individual, que teria uma função
positiva para sociedade como um todo, principalmente à medida que o conflito
fosse superado, mediante acordos.
Consequências
do dinheiro
O ensaio intitulado "A filosofia do
dinheiro" ("Philosophie des Geldes") foi publicado no ano de
1900 e é considerado um estudo representativo da perspectiva sociológica
adotada por Simmel. Neste estudo, Simmel procurou compreender quais as
consequências da invenção, introdução e difusão social desse meio de troca
(simbólica).
O dinheiro alterou enormemente as relações sociais,
provocando efeitos que convergiram para a individualização (ou individualismo)
numa fase da história em que as relações tradicionais ou pré-modernas (que se
referem ao período do declínio do modo de produção feudal na Europa) estavam em
vias de serem superadas pela emergência do modo de produção capitalista.
A
difusão do dinheiro provocou uma série de conflitos na ordem social baseada nos
costumes e nas relações pessoais, mas,
como demonstra Simmel, o dinheiro era reflexo da transformação das interações
sociais tradicionais que estavam se dissipando.
O
dinheiro carrega o simbolismo do "impessoal", do "racional"
e do "individualismo" e se ajusta à modernidade que estava surgindo no
mundo ocidental capitalista. O dinheiro desfez determinados tipos de
dependência que se caracterizavam pela pessoalidade, mas criou outros, que se
caracterizam pela impessoalidade.
Conforme demonstrou Simmel, a relação de tipo
monetária que se tornou predominante na época moderna representa o patamar
máximo da individualização humana.
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