Apropriação cultural é
racismo?
Em 2015, o estopim foi o penteado
com dreadlocks, tradicionalmente associado à cultura negra, usado pelas
celebridades americanas Miley Cyrus e Kylie Jenner, ambas brancas. Em 2016, foi
um baile de Carnaval, em São Paulo, em homenagem à África.
Em 2017, foi uma
estudante paranaense e branca que disfarçou a queda de cabelos, consequência
de um tratamento contra leucemia, com um turbante. A discussão sobre
apropriação cultural tornou-se tão recorrente quanto inflamada.
Quando uma
manifestação cultural pode ser considerada própria de um grupo? Quando usar
elementos tradicionais de outro grupo é um desrespeito? Quando é uma
manifestação de apoio? Quando é um gesto desinteressado, sem conotações
políticas? Faz diferença se esse grupo luta por inclusão?
Tahuane Cordeiro, a
estudante paranaense que se disse hostilizada no metrô de São Paulo, afirma que o gesto de enrolar um pano na cabeça não tinha nenhuma intenção política.
“Estava na estação com o turbante, toda linda, me sentindo diva. Comecei a
reparar que mulheres negras, lindas aliás, estavam me olhando torto.
Veio uma
falar comigo e dizer que eu não deveria usar turbante porque eu era branca.
Tirei o turbante e falei ‘tá vendo essa careca, isso se chama câncer, então eu
uso o que eu quero! Adeus’”, disse, pelo Facebook, em uma mensagem curtida 140
mil vezes.
Superexposta, Tahuane tornou-se alvo da raiva e da falta de
argumentos das redes sociais. “Tô ficando assustada com a quantidade de hater”,
disse.
A discussão sobre se
apropriação cultural representa racismo tornou-se tão recorrente quanto
inflamada.
O pano de fundo do debate
sobre apropriação cultural é uma discussão sobre racismo. Para a cantora Leci
Brandão, a apropriação é desrespeitosa por se apropriar de símbolos da cultura
negra, sem levar junto as mensagens.
“O problema não está na difusão do produto
cultural tradicional, mas na eliminação da população negra desse processo.”
Para o antropólogo Antonio Risério, o debate no Brasil é mera cópia daquele que
ocorre nos Estados Unidos – descabido por supor que, aqui, a divisão entre
brancos e negros é profunda como a de lá.
“Nada do que chegou ao Brasil
permaneceu ‘puro’”, afirma. “Esta baboseira de ‘apropriação cultural’ é coisa
de quem quer implantar apartheids em nossos trópicos, em vez de se lançar às
marés das misturas.”
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