domingo, 12 de março de 2017

Pessoas idiotizadas...

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Apropriação cultural  é racismo?

Em 2015, o estopim foi o penteado com dreadlocks, tradicionalmente associado à cultura negra, usado pelas celebridades americanas Miley Cyrus e Kylie Jenner, ambas brancas. Em 2016, foi um baile de Carnaval, em São Paulo, em homenagem à África. 

Em 2017, foi uma estudante paranaense e branca que disfarçou a queda de cabelos, consequência de um tratamento contra leucemia, com um turbante. A discussão sobre apropriação cultural tornou-se tão recorrente quanto inflamada. 

Quando uma manifestação cultural pode ser considerada própria de um grupo? Quando usar elementos tradicionais de outro grupo é um desrespeito? Quando é uma manifestação de apoio? Quando é um gesto desinteressado, sem conotações políticas? Faz diferença se esse grupo luta por inclusão?

Tahuane Cordeiro, a estudante paranaense que se disse hostilizada no metrô de São Paulo, afirma que o gesto de enrolar um pano na cabeça não tinha nenhuma intenção política. “Estava na estação com o turbante, toda linda, me sentindo diva. Comecei a reparar que mulheres negras, lindas aliás, estavam me olhando torto. 

Veio uma falar comigo e dizer que eu não deveria usar turbante porque eu era branca. Tirei o turbante e falei ‘tá vendo essa careca, isso se chama câncer, então eu uso o que eu quero! Adeus’”, disse, pelo Facebook, em uma mensagem curtida 140 mil vezes. 

Superexposta, Tahuane tornou-se alvo da raiva e da falta de argumentos das redes sociais. “Tô ficando assustada com a quantidade de hater”, disse.

A discussão sobre se apropriação cultural representa racismo tornou-se tão recorrente quanto inflamada.

O pano de fundo do debate sobre apropriação cultural é uma discussão sobre racismo. Para a cantora Leci Brandão, a apropriação é desrespeitosa por se apropriar de símbolos da cultura negra, sem levar junto as mensagens.

“O problema não está na difusão do produto cultural tradicional, mas na eliminação da população negra desse processo.” Para o antropólogo Antonio Risério, o debate no Brasil é mera cópia daquele que ocorre nos Estados Unidos – descabido por supor que, aqui, a divisão entre brancos e negros é profunda como a de lá. 

“Nada do que chegou ao Brasil permaneceu ‘puro’”, afirma. “Esta baboseira de ‘apropriação cultural’ é coisa de quem quer implantar apartheids em nossos trópicos, em vez de se lançar às marés das misturas.”


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