PT agora hesita em convocar
Gurgel para a CPI
O generalato do PT ensaia um recuo de sua infantaria na
CPI do Cachoeira. Antes decidido a apoiar a convocação do produrador-geral da
República Roberto Gurgel, o partido agora hesita. Não desistiu de converter
Gurgel em alvo. Mas passou a considerar a hipótese de representar contra ele no
Conselho Nacional do Ministério Público, longe da azáfama da CPI. Deve-se o
esboço de meia volta ao receio do PT de oferecer argumentos para que a oposição
fabrique uma nova CPI do Fim do Mundo, como ocorreu em 2005 com a Comissão
Parlamentar de Inquéritos dos Bingos. Inaugurada com um requerimento de
Fernando Collor (PTB-AL), a fornalha em que o petismo tenta queimar Gurgel foi
reaquecida com o depoimento do delegado Raul Alexandre Marques Souza.
Responsável pela Operação Vegas, o delegado da Polícia
Federal contou na CPI que, enviada à Procuradoria-Geral da República em 15 de
setembro de 2009, a investigação parou. Na noite da inquirição, o petismo
parecia decidido a adotar em relação a Gurgel um discurso do tipo mata-e-esfola.
Nesta quarta (10), depois de uma consulta aos travesseiros, os comandantes da
tropa anti-Gurgel já se reposicionavam no front. Em privado, os petistas
passaram a alegar que, servindo-se do depoimento do delegado Raul para arrastar
o procurador-geral até o banco da CPI, abririam um precedente que interessa à
oposição.
Ficaria entendido que qualquer novidade mencionada em
depoimentos serviria de pretexto para pleitear na CPI a abertura de novas
frentes de investigação, desviando o foco de Carlinhos Cachoeira e de
Demóstenes Torres. Daí para as obras do PAC, tocadas pela Delta Construções,
seria um pulo. É para evitar o risco da mimetização do Apocalipse de 2005 que o
PT flerta com a ideia de afastar a batalha contra Gurgel da cena da CPI. Daí a
intenção de buscar elementos que possam fundamentar uma representação junto ao
Conselho Nacional do Ministério Público. Abespinhado, o procurador-geral cuidou
de vacinar-se.
Ao sentir o cheiro de queimado à sua volta, Gurgel buscou imunização
no mensalão. Em entrevista, disse: “Há uma tentativa de imobilizar o
procurador-geral da República para que não possa atuar, seja no caso do senador
Demóstenes, seja preparando-se para o processo do mensalão, caso que
classifiquei como talvez o mais grave atentado à democracia brasileira.” Gurgel
acrescentou: “É compreensível que pessoas ligadas a mensaleiros estejam
interessados em acusações falsas para atacar o procurador-geral da República.”
Perguntou-se ao chefe do Ministério Público se enxerga as digitais de José
Dirceu nas críticas. E ele: “Há, se não réus, protetores de réus interessados,
pessoas com notórias ligações com os réus do mensalão.”
Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos representantes da
bancada do PT na CPI, recomendou “humildade” a Gurgel. “Não pega bem e mostra
um certo desequilíbrio. Pegaria bem se ele explicasse. Se fosse um pouquinho
mais humilde, menos arrogante e explicasse. Não são os membros do PT. São
membros de todos os partidos que se manifestaram criticando o fato de o procurador
não ter denunciado há três anos uma situação que ele tinha conhecimento pleno.”
Para não dizerem que deixarão de falar em espinhos, os petistas cogitam
substituir a convocação de Gurgel por um requerimento que leve à CPI a mulher
dele, a subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Foi ela, segundo o
delegado Raul Souza, quem comunicou à PF que a Procuradoria não encontrara no
inquérito da Operação Vegas indícios suficientes para denunciar ao STF os
congressistas envolvidos com Cachoeira. Entre eles Demóstenes Torres.
Resta saber se o PT encontrará na CPI aliados em número
suficiente para aprovar um eventual pedido de convocação da mulher de Gurgel.
Um pedaço da banda governista e a maioria da ala oposicionista, à frente o
PSDB, não exibem disposição para aderir à idéia.
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2012/05/10/pt-agora-hesita-em-convocar-gurgel-para-a-cpi/