sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
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Sobrevivente revela que escapou da tragédia ao ficar em posição fetal
Um dos tripulantes do voo que levava
a Chapecoense à Colômbia, boliviano Erwin Tumiri revela que seguiu protocolo de
segurança colocando uma mala entre as pernas
Um dos sobreviventes da tragédia com
o voo da Chapecoense, o boliviano Erwin Tumiri revelou que escapou da morte ao
seguir um protocolo de segurança recomendado para acidentes aéreos. Segundo
Erwin, que era um dos tripulantes da aeronave, ele permaneceu em posição fetal
com uma mala entre as pernas, o que amenizou o impacto da queda.
Erwin Tumiri é um dos cinco
sobreviventes do acidente no voo da Chapecoense.
- Sobrevivi porque segui todos os
protocolos de segurança - disse o comissário de bordo. - Com a situação de
pânico, muitos se levantaram dos assentos e começaram a gritar. Coloquei umas
malas entre as pernas e fiquei na posição fetal, recomendada para acidentes -
completou Erwin, em entrevista ao jornal boliviano La Razón.
O comissário era um dos nove
bolivianos presentes no voo. Dois sobreviveram. A outra sobrevivente foi a assistente
de bordo Ximena Suárez. O restante do voo, os pilotos Miguel Quiroga, Ovar
Goitia e Sisy Arias, além dos tripulantes Rommel Vacaflores, Alex Quispe,
Gustavo Encinas e Angel Lugo morreram no acidente.
Até o momento 71 pessoas morreram no
voo que transportava a Chapecoense e dezenas de jornalistas para a Colômbia. O
time catarinense faria o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana nesta
quarta-feira, contra o Atlético Nacional.
http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2016/11/sobrevivente-revela-que-escapou-da-tragedia-ao-ficar-na-posicao-fetal.html
Interesse acima de tudo...
Quais destes seis tipos de puxa sacos habitam o trabalho?
De queridinho a Papai Noel, confira
quais são os comportamentos bajuladores mais frequentes nas empresas
São Paulo – Os puxa-sacos incríveis e
onde habitam? Não, eles nada têm de incríveis. São bem reais e habitam empresas
mundo afora. Seu tipo é adorado pelo cinema e marca presença em séries como a
inglesa The Office e sua versão estadunidense, na pele de Gareth Keenan e
Dwight Schrute, respectivamente.
Inadequação é a palavra-chave para
definir o seu comportamento. Considerados chatos e não confiáveis pelos colegas
seu destino é um só caso não sejam a maioria na empresa. “Acabam sendo isolados
e maltratados pelo restante da equipe”, diz Lucas Oggiam, gerente da Page
Personnel.
O isolamento é um sinal a ser levado
em consideração por aqueles que desconfiam ter famigerada pecha. “No Brasil,
dificilmente um colega vai falar que a pessoa está sendo considerada
puxa-saco”, diz Oggiam.
Por isso, a importância da leitura do
ambiente de trabalho, ação fundamental também para não ser mal interpretado. É
que a regra geral para não ser um puxa-saco não é lá muito objetiva: bom senso.
Isso porque não é possível
estabelecer um limite com tantas diferenças entre as dinâmicas de comunicação e
relacionamento dentro das empresas, diz o especialista. Mas sua recomendação
vale para todo mundo: agir com respeito e ter postura corporativa. “Antes de
tentar chamar a atenção, observe como as pessoas se comportam naquele
ambiente”, indica.
A seguir, confira os seus tipos mais
comuns de funcionário puxa-saco classificados de acordo com seus comportamentos
mais irritantes:
1. O queridinho
O lema é agradar e chamar a atenção
por isso. É o tipo mais perigoso e nocivo de puxa-saco, na opinião do gerente
da Page Personnel. “Esse cara é um problema, coloca uns contra os outros”, diz.
Apontar o dedo para a falha dos outros é sua marca e costuma fazer isso na
frente do chefe. No fundo seu objetivo é provar que tem senso de dono do
negócio, que é responsável e que tem habilidade de liderança. Quando ardiloso e
bem articulado não é pego e pode até alavancar a carreira, ainda que de forma
irregular.
2. O papagaio
Já se pegou repetindo as mesmas
frases do chefe? O puxa saco papagaio faz isso. De chavões a comentários
genéricos, propaga tudo que o gestor diz. É um imitador por excelência, emula
comportamentos e frequenta os mesmos lugares. Também adora compartilhar as
citações de palestrantes famosos.
3. O hiperatarefado
À primeira vista é o que mais
trabalha da equipe. Está sempre falando sobre seus mil projetos, relatórios e
apresentações. Em resumo: hipervaloriza seu expediente. Olhando de perto, está
ocupado só na hora de ajudar os outros. Para o chefe se mostra disposto e
motivado para começar novos trabalhos.
4. O sabe-tudo
De assuntos menores à tomada de
decisão, eles sempre têm a verdade em sua boca. No entanto, seu conhecimento
não é profundo e sua atitude é arrogante. São comuns entre profissionais da geração
Y, segundo Lucas Oggiam.
5. O cérebro blindado
Esse sim é um expert. O problema é
que não compartilha conhecimento com a equipe com medo de que outros tenham
mais oportunidades do que ele. Por isso reserva sua sabedoria e experiência
para impressionar os chefes.
6. O Papai Noel
Dá as caras no fim do ano. Travestido
de generoso e preocupado, compra lembrancinhas e lanchinhos para ganhar o
coração do seu gestor.
Submundo dos invisíveis...
"As pessoas dizem 'tem que morrer mesmo' porque não é o filho delas", afirma pai de jovem morto na
Cidade de Deus
Pai diz que pessoas aprovam morte de filho porque não moram na favela.
Diante do caixão com o corpo do
filho, o pastor Leonardo Martins da Silva tira o smartphone do bolso e mexe na
tela como quem checaria uma mensagem.
No aparelho, começa a tocar uma canção
evangélica - o som abafado marca os últimos momentos do velório.
Em seguida, ele puxa o véu branco
sobre o rosto do filho, a única parte ainda exposta do corpo, coberto por um
manto de flores brancas. Sai de lado por um instante e volta com a tampa do
caixão.
Leonardo Martins da Silva Júnior,
conhecido como Pula Pula, foi um dos sete jovens assassinados na Cidade de
Deus, favela na zona oeste do Rio de Janeiro, na noite de sábado para domingo.
Segundo o pai, ele tinha duas passagens pela polícia e completaria 21 anos
nesta quarta-feira.
Agressões em casa, discriminação e
risco de morte: os dramas das 'refugiadas' trans brasileiras.
'Quando cheguei, descobri o que era
ser negra': como africanos veem o preconceito no Brasil.
"As pessoas que falam que 'tem
que morrer mesmo', que foi uma operação bem-sucedida, elas falam isso porque
não é o filho delas", diz ele. "Para essas pessoas eu diria: vem
conviver aqui na comunidade. Qualquer comunidade. Na Maré, na Rocinha. Vem
viver aqui dentro."
No domingo pela manhã, quando
notícias das mortes se espalhavam pela comunidade, o pastor ajudou a mobilizar
um grupo de cerca de cem pessoas que entrou na mata para buscar os corpos.
Moradores próximos aos corpos dos
jovens mortos
Polícia investiga se mortes ocorreram
em confronto com milicianos ou policiais.
A polícia investiga o assassinato dos
sete jovens, ocorrido em uma localidade da comunidade conhecida como Karatê no
mesmo dia em que quatro policiais morreram na queda de um helicóptero que
participava de uma operação na favela.
De acordo com a polícia, a perícia
feita em cinco dos sete corpos indica que não há sinais de execução - moradores
acusam agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de terem executado o
grupo.
Titular da Delegacia de Homicídios do
Rio, o delegado da Polícia Civil Fábio Cardoso afirma que as diligências para
identificar os autores e esclarecer as circunstâncias das mortes dos sete
jovens continuam e seguem duas linhas investigativas - apurando se ocorreram em
confrontos com milicianos ou com policiais.
Pastor da Assembleia de Deus, o
Leonardo Pai tem 45 anos e diz ter dedicado 14 deles à evangelização de
traficantes durante a madrugada na Cidade de Deus.
O depoimento abaixo foi dado à BBC
Brasil algumas horas antes de ele enterrar o filho no jazigo da família no
cemitério Ricardo de Albuquerque, com vista para o Parque Olímpico de Deodoro e
a logomarca da Rio 2016.
Leonardo Martins da Silva, de 45
anos, atuou com evangelização de traficantes.
"Quando eu vi aquilo lá (os
corpos na mata), a minha mente... Eu fiquei sem ação na hora. Não tinha como
tirar foto, as garotas com a gente gritavam.... E eu falei: vamos levar todo
mundo de volta.
Foi covardia. Muita covardia. O meu
filho era dócil, carinhoso, meigo, brincalhão. Quando ele foi começar a
trabalhar, acho que tinha 15 anos, foi vender doce ali na Barra da Tijuca, o
delegado prendeu ele e falou que ele estava de vadiagem. Eu não entendi aquilo.
Falou que ele estava de vadiagem. E aí deu no que deu.
Depois ele colidiu com uma viatura da
polícia, estava sem capacete. Forjaram a cena e disseram que ele estava com
cocaína. Fomos para a Justiça e conseguimos inocentá-lo.
Meu filho era muito meigo. Era uma
pessoa dócil. Mas essa revolta dele, não era para ele ser dessa forma. E
aqueles jovens que morreram, eles eram tudo... tudo garotão. Eles viviam
juntos. E morreram juntos. Barbaramente.
Eles são vítimas. Se fossem
traficantes, a polícia tinha que apresentar as armas. Cadê as armas? Eles foram
cruelmente executados, encontrados sem nada.
Eu cresci aqui na comunidade. Vi o Zé
Pequeno (traficante que chefiou a venda de drogas na comunidade, retratado no
filme "Cidade de Deus"), vi tudo isso. Eu acho que as autoridades têm
que ser mais presentes. Parar de ficar maquiando as coisas. A educação e a
saúde ainda estão péssimas. A segurança, então, nem se fala.
Leonardo Martins da Silva ao pegar a
tampa para fechar caixão do filho.
Pastor organizou busca pelos jovens.
Sei que a educação parte de pai para
filhos, mas se hoje entrar uma educação ética, vai mudar muita coisa.
Eu trabalhei de pesquisador para uma
doutora da Colômbia. Na pesquisa que fiz para ela, eu vi os arquivos de 1888,
quando houve a abolição da escravatura. Os arquivos diziam que quando teve a
libertação dos escravos, em vez de eles apoiarem os trabalhadores que estavam
aqui no Brasil, apoiaram a vinda de estrangeiros.
Ali que começou a guerra. Investiram
nos estrangeiros e foram jogando o pessoal daqui para os morros. A primeira
favela que surgiu é aquela perto do Comando Militar Leste (o Morro da Providência).
Foram jogando as pessoas para os morros. E daí começou a diferença. Eu vi, eu
peguei o livro na mão, está lá no Arquivo Nacional. Foi assim que começou a
guerra.
Sou pastor itinerante da Assembleia
de Deus. Nós tínhamos um grupo que evangelizava traficantes na madrugada. Não é
uma obra fácil. Muita gente se converteu. Fiquei uns 14 anos na madrugada e saí
por causa da minha saúde.
Moradores acompanham operação
policial ocorrida no fim de semana.
Morte de jovens e queda de
helicóptero criaram clima de terror na Cidade de Deus.
Nessa época trabalhávamos com o
pastor Joabe Domingos. Ele era um pastor de fibra. Muitos traficantes se
converteram. Muitos aceitaram a palavra de Deus.
Eles falam que na Cidade de Deus todo
mundo é traficante, todo mundo aqui é bicho, mas não é não. O pastor Joabe foi
um guerreiro, não tenho palavras para explicar (começa a chorar). Ele ensinou a
gente a amar essas vidas! Foi um pai para nós. Mais de 70% das pessoas foram
convertidas na Cidade de Deus através dele.
Meu filho foi criado lá com ele. Foi
batizado no Espírito Santo. E você acha que eu ia deixar aquelas vidas lá
dentro do mato, que eu ia me omitir, com medo de opressão? Falaram que iam
matar a gente se a gente entrasse. Não. Eu não tinha como deixar essas vidas
lá.
Então quando a gente viu aqueles
corpos lá, eu fiquei em estado de... (chora). Não só pelo meu filho, mas por
todos eles, porque nós sempre evangelizamos na madrugada.
Operação policial na Cidade de Deus.
Polícia tem feito operações contra o
tráfico na Cidade de Deus, como esta, nesta quarta.
Eu quero dizer para qualquer
comunidade: pense, antes de ir para o lugar errado. Porque o final é triste. É
ilusório. Porque a crueldade vem. Mas uma coisa eu vou enfatizar: ninguém é
maior que a justiça de Deus.
As pessoas que falam que 'tem que
morrer mesmo', que foi uma operação bem-sucedida, elas falam isso porque não é
o filho delas. Para essas pessoas eu diria: vem conviver aqui na comunidade.
Qualquer comunidade. Na Maré, na Rocinha. Vem viver aqui dentro.
Eu diria que elas também têm filhos,
têm esposas, maridos. A gente tem que fazer a diferença. Não é criticar e dizer
'tem que morrer mesmo'.
Eu creio que quando eles fizeram
aquilo ali com aqueles jovens, foi ali que o helicóptero caiu. Creio eu! Porque
foi a maior injustiça. A Bíblia diz que o que se planta é o que se colhe. Eu
creio que quando eles fizeram aquilo, o helicóptero caiu.
E eu quero dizer para essas pessoas:
eles têm famílias. Para pensarem nos seus filhos."
Revolução no ensino de química...
A tabela periódica que mostra para que serve cada
elemento
A tabela
interativa criada por Keith Enevoldsen mostra para que serve cada elemento
químico.
Quem nunca
teve que estudar, nos tempos de escola, a notória tabela periódica com dezenas
de elementos químicos ordenados por números atômicos?
Mas afinal,
qual é a relação entre aquelas colunas de símbolos e números e o mundo que nos
cerca? E indo além dos elementos mais conhecidos, como carbono e cálcio, para
que servem outros, como o rutênio ou o rubídio?
As respostas
para todas essas perguntas estão numa versão interativa da tabela periódica,
que mostra pelo menos uma utilidade para cada elemento. A ideia é do desenhista
americano Keith Enevoldsen, de Seattle.
Na tabela
interativa, pode-se aprender que o elemento túlio é essencial nas cirurgias a
laser, que o estrôncio é usado nos fogos de artifício e o amerício, nos
detectores de fumaça.
"Fiz a
tabela que eu gostaria de ter quando era criança", disse Enevoldsen à BBC.
Do
hidrogênio até...
A tabela
periódica tradicional ordena os elementos químicos por número atômico (número
de prótons), configuração dos elétrons e propriedades químicas.
A tabela
periódica tradicional não tem uma aparência atraente para crianças.
Elementos
que têm um comportamento químico semelhante ficam na mesma coluna.
A primeira
versão da tabela periódica foi criada pelo químico e físico russo Dmitri
Mendeleiev em 1869, e foi revolucionária ao prever as propriedades de elementos
que ainda não tinham sido descobertos.
O primeiro
elemento é o hidrogênio e o último é o de número 118, o ununóctio, que
recentemente passou a ser chamado de oganessono, em homenagem ao físico nuclear
russo Yuri Oganessian.
A União
Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês) validou os
elementos sintetizados mais recentemente em dezembro do ano passado.
'Para mim e
meus filhos'
Mas como o
americano Enevoldsen teve a ideia de fazer uma tabela com ilustrações modernas?
Além das
ilustrações, a tabela interativa abre janelas detalhando cada elemento.
"Nasci
em 1956. Quando era criança, gostava das tabelas periódicas com figuras, mas
elas nunca tinham boas imagens de todos os elementos", conta o desenhista.
Ele também
foi inspirado por um escritor e bioquímico americano nascido na Rússia: Isaac
Asimov, considerado um dos mestres da ficção científica.
"Também
li um livro de Isaac Asimov, chamado Building Blocks of the Universe (algo como
"Blocos de construção do Universo", em tradução livre), que tinha
relatos maravilhosos sobre a história e os usos dos elementos. Gostava de
saber, por exemplo, que os químicos que mexiam com telúrio acabavam com mau
hálito e boca seca."
Você sabia
que o escândio é usado no alumínio das bicicletas?
Jovens com
celulares
Já o
tântalo é usado nos celulares e é extraído principalmente do mineral tantalita;
o Brasil é um dos grandes produtores.
Foi assim
que Enevoldsen resolveu criar o que sempre sonhara desde os tempos da escola:
uma tabela periódica com imagens divertidas e importantes dos elementos
químicos listados até o número 98.
"Queria
que toda a tabela fosse colorida, com um desenho limpo, que não fosse cheia dos
números dos pesos atômicos que, para as crianças, não servem para muita
coisa."
Trem de
alta velocidade
O nióbio é
usado em trens ultramodernos, como este no Japão.
Os fogos de
artifício contêm o elemento químico estrôncio.
A tabela é
interativa, como pede um mundo conectado por computadores. Assim, ao colocar o
cursor sobre cada elemento, o quadradinho correspondente aparece ampliado em um
quadrado maior na parte superior da tabela.
"Fiz a
tabela para mim e meus filhos, e a coloquei na internet para que outras pessoas
desfrutassem dela. Muitos estudantes, professores e pais dizem que ficaram
encantados."
O trabalho
do desenhista pode ser acessado neste site. Ainda não há uma versão em
português.
Elementos
'amigos'
"Quero
que as crianças saibam que aprender os elementos químicos pode ser
divertido", diz Enevoldsen.
As
ilustrações coloridas servem para chamar a atenção das crianças, que podem
procurar mais informações em cada quadradinho que vai surgindo na tela.
"Espero
que, graças a essa tabela, as crianças queiram conhecer os elementos como se
estivessem conhecendo um novo amigo", afirma o desenhista americano.
"E
quero que as ilustrações e palavras facilitem lembrar das informações."
"Na
próxima vez que virem a palavra estrôncio, por exemplo, vão poder dizer: Ahhh,
estrôncio é o que usam nos fogos de artifício..."
Mudança radical...
Agressões em casa, discriminação e risco de
morte: os dramas das 'refugiadas' trans brasileiras
Sofia (nome
fictício) aguarda uma decisão do Departamento de Imigração dos Estados Unidos
em relação ao seu pedido de asilo feito em março deste ano. O processo traz
detalhes sobre sua vida como mulher trans e sobre a perseguição a transexuais
no Brasil.
Entre 2008 e
2016, segundo dados compilados pela Transgender Europe, uma organização com
sede na Europa, foram registrados 900 assassinatos de pessoas trans no Brasil,
quase metade de um total global de 2.016 reportados no mundo inteiro.
Com apenas
2,8% da população mundial, o Brasil responde por 46,7% dos homicídios
registrados de pessoas trans em todo o mundo.
Se o pedido
for acatado, Sofia pode ser mais uma entre o crescente número de pessoas que
conseguem asilo nos Estados Unidos por perseguições em seus países de origem
por conta da discriminação de gênero.
Não há dados
oficiais sobre o fenômeno, mas a Immigration Equality, organização nos EUA que
dá apoio ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) em pedidos
de asilo, trabalha hoje com 570 casos, o dobro do registrado em 2013.
"Pedimos
várias vezes ao governo para acompanhar o número de solicitações de asilo
feitas pela comunidade LGBT, mas ele não o faz, então, realmente só sabemos
quantas pessoas nos pedem ajuda", diz Jackie Yodashkin, diretora de
Comunicação da Immigration Equality.
Mudança
Segundo os advogados
especialistas em direitos LGBT, a migração de brasileiras transexuais para o
exterior passou por uma mudança nas últimas décadas.
"Até os
anos 1990, muitas travestis e transexuais iam para a Europa para se prostituir
e isso acaba gerando uma associação preconceituosa porque sempre ligamos
transexualidade à prostituição", disse à BBC Brasil Henrique Rabello de
Carvalho, advogado e membro da Comissão de Direitos LGBTI (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Transexuais e Intersexuais) da OAB.
"Há um
fundamento histórico e social nisso por conta do preconceito que enfrentam no
mercado de trabalho e também da violência e bullying que sofrem na escola, o
que as levam para a prostituição, o mercado que absorve essa população",
explica. No entanto, nos últimos anos, a situação começou a mudar.
"Eu
acredito que esse movimento de pessoas trans indo para fora sempre existiu, mas
até meados dos anos 2000 era mais ligado à prostituição e nos últimos anos tem
sido mais pela busca de sair do país para ter uma vida mais segura", disse
à BBC Brasil Thales Coimbra, advogado especializado em direitos LGBT.
Parada LGBT
de 2016 em São Paulo teve como tema a Lei de Identidade de Gênero.
Coimbra já
prestou consultoria a mais de 50 pessoas trans, tanto em seu escritório em São
Paulo quanto na assessoria gratuita da USP para mudança de nome e sexo em
documentos, e, segundo ele, os relatos de agressão são muito parecidos.
"Desde a
infância é uma narrativa de sofrimento muito comum, quase um script:
hostilidades dentro de casa, de agressões verbais a espancamento para elas se
tornarem alguém que não são, bullying na escola, piadas e xingamentos,
proibição de usar o banheiro do gênero que se identificam, omissão da escola. O
resultado é o esperado: abandono escolar", diz.
"A
maioria das trans que hoje tem 20, 30 anos enfrentou essa narrativa de sair da
escola, abandonar a casa dos pais ou serem expulsas e ir para a rua. Sobram
quais oportunidades? Prostituição ou salão de cabeleireiro, estereótipos
marcados", acrescenta Coimbra.
Maus tratos
em casa e prostituição
A história de
Sofia segue esse script. Ela nasceu em uma família com poucos recursos em uma
cidade no interior de São Paulo. Quando pequena, via seu pai agredir
fisicamente seu irmão mais velho, que também é trans, denominado menina na hora
do nascimento.
Sofia conta
que desde os seis anos de idade demonstrava se identificar como menina, e não
menino: brincava de boneca, queria andar com meninas e não gostava de jogar
futebol. Seu pai, que bebia muito, a chamava de "viadinho" e brigava
com a mãe por ela defender Sofia e o irmão. Sofia relatou que, em uma dessas
brigas, a mãe teve uma parada cardíaca e morreu. Ela tinha apenas 10 anos de
idade.
O irmão mais
velho saiu de casa para valer e a vida de Sofia ficou mais difícil, com
agressões físicas e maus tratos constantes.
Quando tinha
16 anos, o pai morreu em decorrência de uma falência no fígado e Sofia tentou
buscar emprego em sua pequena cidade natal. Ela conta que foi rejeitada em
todas as tentativas - acabou indo morar em uma casa onde pagava o aluguel
através da prostituição. "Foi o único meio que achei de viver minha vida
pelo preconceito de ninguém dar trabalho", disse à BBC Brasil.
O que há de
real por trás do mito dos Illuminati?
Não apenas a
violência como também a impunidade, impulsionaram a decisão de Sofia de pedir
asilo nos EUA. Ela diz ter decidido ir embora depois de passar por uma série de
humilhações por parte de policiais. "No Brasil, a gente morre e ninguém
faz nada, somos uma a menos. Já tive casos de ter que reportar alguma coisa e o
policial dar uma risadinha cínica e dizer que só vamos perder tempo",
conta.
Ela pediu
ajuda a um homem com quem estava se relacionando havia algum tempo e ele pagou
por um curso de inglês de seis meses, visto, passagem e acomodação nos Estados
Unidos.
Está desde
2014 em Nova York e espera ter seu asilo concedido em até dois anos. "Eu
me sentia aterrorizada, saía para me divertir ou trabalhar e não sabia se ia
voltar. Via minhas amigas sendo espancadas, tinha que correr de pessoas que
queriam me bater por motivo nenhum. Já nem conseguia sair de casa de tanto
medo. Aqui eu não vejo ninguém rindo de mim ou tentando me agredir por ser quem
eu sou", diz.
O pedido de
asilo de Sofia foi realizado através da Immigration Equality, que já ajudou
outras trans brasileiras antes, segundo o diretor da ONG, Aaron Morris. Ele
disse que até hoje todos os casos assessorados pela organização tiveram êxito.
"Temos uma boa taxa de sucesso porque a lei funciona a nosso favor. Nosso
maior problema é o acúmulo, não temos juízes e advogados o suficiente. O tempo
de espera aqui se tornou insuportável para muitos, que precisam esperar dois ou
três anos para ter uma resposta", disse Morris à BBC Brasil.
As medidas do governo
Alex, mulher
trans hoje
trabalha com turismo na região do Algarve, no sul de Portugal.
A Secretaria
Especial de Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Justiça e Cidadania,
disse trabalhar com medidas preventivas e repressivas para combater a violência
contra a população LGBT.
"A
secretaria dá visibilidade à violência e, à luz desse diagnóstico, busca
respostas com políticas públicas adequadas", disse à BBC Brasil Flávia
Piovesan, secretária especial de Direitos Humanos.
Entre as
medidas citadas pela secretária estão o Disque 100 - ouvidoria nacional que
atende denúncias de violações de direitos humanos pelo telefone -, o projeto de
premiação de boas práticas de direitos humanos no sistema judiciário e o apoio
à PEC 117/15, que desvincula perícia criminal das estruturas das polícias com o
objetivo de coibir o abuso policial.
De acordo com
o último relatório do Disque 100, relativo a 2015, houve um aumento de 94% de
denúncias de violações contra a comunidade LGBT entre 2014 e 2015, um salto de
1.024 para 1.983 ligações. Piovesan reitera, porém, que há diferentes
interpretações para o número: não se sabe se as denúncias ou os casos de
violência aumentaram. Mais da metade das denúncias, ou 53%, são casos de
discriminação, 25% de violência psicológica, 11% de agressões físicas e 2%
outros.
Sem amparo
legal
Apesar de
alguns avanços na área legal, como o caso de Neon Cunha, a primeira mulher
trans a conseguir mudar nome e gênero em seus documentos sem precisar de
atestado médico, atualmente, a nível nacional não há uma lei garantindo a
transexuais o direito de mudar seus registros oficiais.
Segundo Coimbra, há
apenas leis a nível estadual ou municipal que permitem a mudança de documentos
ou que criminalizem a transfobia (discriminação contra transexuais), mas menos
da metade dos Estados brasileiros contam com uma legislação do tipo.
Geralmente,
exige-se um diagnóstico de transtorno de identidade de gênero (como a Medicina
entende a transexualidade, que é a não identificação com o gênero atribuído a
alguém na hora do nascimento), algo que pode mudar com o precedente
estabelecido por Cunha em outubro passado.
"Temos
três formas de trabalhar com diversidade sexual no Direito: reconhecimento,
proteção e criminalização. O Brasil hoje nem reconhece nem protege, mas não
criminaliza, como alguns países da Ásia", diz Carvalho.
"A
transexualidade ainda é vista pela Organização Mundial de Saúde como uma
patologia e, sendo assim, a pessoa é vista como alguém que precisa de cuidados,
não de direitos", acrescentou.
Transexual,
um sinônimo de transgênero ou trans, é uma pessoa que não se identifica com o
gênero determinado a ela no nascimento. Por exemplo, foi chamado de
"menino" e na verdade se identifica como mulher.
Fuga e casamento
Não há muitas
organizações como a Immigration Equality no mundo e muitas pessoas trans saem
do Brasil através de outros métodos. Alex, por exemplo, apaixonou-se e casou
com um homem português, conquistando o direito de morar em Portugal oito anos
atrás.
"Meu pai
me batia, a única pessoa que me acolhia era a minha mãe. O resto era
perseguição, violência, piadas de todos os tipos vindo de desconhecidos,
parentes, amigos. Eu saí do Brasil para sobreviver e para ter alguma paz",
disse à BBC Brasil.
Alex, 36
anos, nasceu em uma família humilde na periferia de Curitiba. Seu pai, que
trabalhava como mecânico, não a aceitava, mas ela contou com a proteção da mãe,
que nunca a deixou se prostituir e trabalhou para sustentar a filha.
A proteção da
mãe não chegava às ruas, porém, onde ela foi perseguida e agredida por ser
trans. "Já corri e me escondi em farmácia, pedi para entrar em loja
batendo na porta dizendo 'pelo amor de Deus me deixa entrar que estão querendo
me matar'", lembra.
Em uma
ocasião, porém, ela não conseguiu fugir. Estava bebendo vinho com uma amiga no
centro de Curitiba quando dois homens se aproximaram para conversar. No meio do
papo, um deles inesperadamente deu um soco no rosto de Alex, que desmaiou na
hora. Acordou no hospital horas depois, com o nariz quadrado e as roupas
cobertas de sangue. Passou seis meses sem sair de casa com depressão e síndrome
do pânico.
"Conheço
gente que levou facada pelas costas por estar fazendo programa, tenho amigas
que estão se prostituindo e passam carros jogando pedra, urina, latas de
cerveja...Ou batem mesmo, são massacradas em todos os sentidos, estupradas. É um
horror e é cotidianamente. Você fica marcada, eu entrei em depressão porque eu
tinha medo de apanhar na rua", conta.
A situação de
Alex mudou quando conheceu através do Orkut um homem português que a achou
bonita e a convidou para viajar pela América Latina. Depois de três anos de
namoro, Alex se mudou para Portugal com ele, mas teve que abdicar da
nacionalidade brasileira porque, na época, o processo de retificação de nome e
gênero demoraria muito tempo e ela precisava da cidadania portuguesa para se manter
no país. Vive até hoje com seu marido alugando casas para turistas na região do
Algarve.
Alex, mulher
trans
"Tenho
amigas que estão se prostituindo e passam carros jogando pedra", conta
Alex
Direitos e transexualidade
A falta de
acesso a direitos básicos como ter um documento de acordo com seu gênero,
proteção da lei e direito de ir e vir livremente sem sofrer agressões verbais
foi o que fez a artista Negroma a deixar o país, segundo ela. "Eu não
tenho como viver meu gênero de forma livre e me assumir como trans se eu
continuar lidando com isso de uma forma opressora no sexo, no convívio social,
profissional, artístico", disse à BBC Brasil.
Negroma foi
abandonada pela mãe ainda pequena. Seu pai a assumiu quando ela tinha 3 anos,
mas, quando completou 15, ele a espancou e expulsou de casa ao descobrir que o
"filho" era gay.
"Em
menos de 10 minutos, eu passei de um jovem que vivia numa família de início de
classe média a ser um morador de rua", lembra. Depois de morar algumas
semanas na rua, Negroma encontrou abrigo em um salão de beleza onde passou a
trabalhar.
"Se
existe um refugiado, é porque existe essa violência", diz Negroma.
Quando
completou 18 anos, foi cursar Artes Cênicas na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), em Florianópolis, uma oportunidade que lhe abriu portas para
explorar sua identidade de gênero mais a fundo através do teatro. Apresentou
suas performances de música e dança pelo Brasil e, em 2014, foi contemplada com
um prêmio do Ministério da Cultura, que financiou a realização de um projeto
artístico em Berlim.
'Não penso em voltar'
Lá ela
conheceu Sanni, outra mulher trans brasileira que foi à Alemanha em busca de
uma liberdade maior de gênero. Natural de Olinda, filha de uma mãe lésbica e
introduzida à cena gay de Pernambuco desde pequena, ainda assim, Sanni não
conseguia achar o seu lugar no Brasil.
"A minha
ignorância era tanta que antes de sair do Brasil eu não conseguia nem me
conceber como mulher", diz Sanni.
"A minha
ignorância era tanta que antes de sair do Brasil eu não conseguia nem me
conceber como mulher. Eu achava que ou eu nascia mulher ou seria uma travesti
que ia sempre morrer na praia e ser motivo de piada para todo mundo",
conta.
Há dez anos,
Sanni se casou com um alemão e conseguiu sua cidadania. Depois de três anos na
Alemanha, iniciou o processo de transição de gênero com terapia hormonal e
cirurgia para redesignação sexual.
Aos 28 anos,
ela trabalha hoje como música, DJ e modelo em Berlim, muitas vezes tocando
projetos sobre sua identidade como mulher trans brasileira e imigrante. Mas não
pensa em voltar.
"Eu vejo
a possibilidade de morar como cidadã no Brasil como uma redução da minha pessoa,
sei que eu seria sempre estigmatizada, que algumas pessoas não conseguiriam ver
além disso", diz.
Privilégio
É o mesmo
motivo que fez Negroma retornar à capital alemã para ficar. Um ano depois de
terminar seu projeto, voltou ao Brasil e em dez horas diz ter sofrido cinco
agressões, desde olhares de reprovação até xingamentos.
"Existe
uma migração dentro do Brasil, de mudar de comunidade", diz Negroma.
"Desde
que saí do aeroporto, várias coisas aconteceram na minha cara, como
xingamentos, a forma como a pessoa te trata, como identifica sua presença no
espaço, coisas que aqui não acontecem por gênero, mas por causa da minha raça.
No Brasil, eu sei que é porque eu sou uma criatura 'anormal' àquele
espaço", diz.
No entanto,
Negroma reconhece que seu "refúgio" - ela não pediu refúgio à
Alemanha oficialmente, mas considera sua mudança uma espécie de fuga - é também
um privilégio.
"Existe
uma migração dentro do Brasil, de mudar de comunidade. O que mais me preocupa é
quando o refugiado não consegue sair da sua comunidade ou do país, quando ele
não consegue ser um refugiado. Se existe um refugiado, é porque existe essa
violência", afirma.
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