sábado, 31 de dezembro de 2016

Entendendo...

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GENOCÍDIO

Sociologia

O crime de genocídio caracteriza-se pelo extermínio sistemático de um grupo étnico e da tentativa de destruição de sua cultura.

A palavra genocídio (do grego genos – tribo, raça; e do latim cide – matar) é usada para fazer referência ao ato de exterminação sistemática de um grupo étnico ou a todo ato deliberado que tenha como objetivo o extermínio de um aspecto cultural fundamental de um povo. 

O termo foi utilizado pela primeira vez em 1944 por Raphael Lemkin, jurista polonês que contribuiu durante e depois do período da Segunda Guerra Mundial para a construção das leis internacionais acerca desse crime. Lemkim foi uma das principais figuras participantes da Convenção da ONU para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, realizada em 1948.

Embora não seja um fenômeno novo, uma vez que há registros de genocídios por toda a história humana, foi apenas após os acontecimentos estarrecedores que se passaram durante a Segunda Guerra Mundial, perpetrados pelo nazismo, que a Comunidade Internacional reuniu-se para tentar coibir esse tipo de crime. 

Em 1946, a Assembleia da ONU definiu Genocídio como sendo “a recusa do direito à existência de inteiros grupos humanos (...) um delito do direito dos povos, em contraste com o espírito e os objetivos das Nações Unidas, delito que o mundo civil condena", e determinou um projeto de Convenção para tratar do assunto. 

O projeto foi aprovado pela Assembleia Geral, em 09 de dezembro de 1948, e definiu o crime de Genocídio em seu artigo 2º da seguinte forma:

Artigo II - Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:

(a) assassinato de membros do grupo;

(b) dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo;

(c) sujeição intencional do grupo a condições de vida pensadas para provocar sua destruição física total ou parcial;

(d) medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;

(e) transferência à força de crianças do grupo para outro grupo.

As motivações para os atos de genocídios podem ser inúmeras: xenofobia, sentimento de ódio, temor ou aversão profunda por pessoas pertencentes a uma nacionalidade diferente, disputas étnicas e, até mesmo, religiosas. A Convenção, no entanto, estabeleceu o princípio da responsabilização individual por todos os atos relativos ao crime de genocídio e determinou também punição para quem os comete.

Genocídios em tempos recentes

O mais conhecido genocídio da história ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que mais de seis milhões de judeus, homossexuais, ciganos, negros, “comunistas” e eslavos tenham sido sistematicamente assassinados em campos de concentração. Todavia, ele não foi o primeiro. 

O genocídio armênio é considerado pela grande maioria da Comunidade Internacional como o primeiro ato de extermínio sistemático de um grupo étnico da história recente. 

Os acontecimentos que levaram a essa tragédia passaram-se durante a Primeira Guerra Mundial, quando o então Império Otomano ingressou em uma empreitada de assassinatos em massa contra a população da Armênia, vitimando 1,8 milhões de pessoas.

Outro caso bastante conhecido e que ainda é fonte de grande polêmica é o chamado Holodomor ou o genocídio ucraniano, que ocorreu entre os anos de 1932 e 1933. 

As ações que levaram à morte de 3 a 3,5 milhões de pessoas por inanição (fome), segundo estimativas recentes do historiador Stanislav Kulchytsky, são atribuídas ao governo soviético de Josef Stalin.

As mudanças implementadas pelo governo soviético na tentativa de industrializar a economia e a produção soviética, um profundo período de seca que a região enfrentava e fortes medidas implementadas pelo governo stalinista, como a “requisição compulsória”, que determinava que os produtores agrícolas vendessem a produção excedente para o Estado a preços baixíssimos, fazem parte dos motivos apontados como responsáveis pela tragédia. 

No entanto, embora a razão da grande quantidade de mortes em um período tão curto ainda esteja aberta a debates nos meios acadêmicos atualmente, é amplamente aceito pela Comunidade Internacional que a responsabilidade da então URSS sobre as mortes é um fato.


http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/genocidio.htm

Cultura...

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Significado de Relativismo

O que é Relativismo:

Relativismo é uma corrente de pensamento que questiona as verdades universais do homem, tornando o conhecimento subjetivo.

O ato de relativizar é levar em consideração questões cognitivas, morais e culturais sobre o que se considera verdade. Ou seja, o meio que se vive é determinante para construir essas concepções.

A relativização é a desconstrução das verdades pré-determinadas, buscando o ponto de vista do outro. Aquele que relativiza suas opiniões é aquele que acredita que existam outros tipos de verdade, de perspectivas para as mesmas coisas, e que não há necessariamente um certo ou errado.

O primeiro passo na aplicação do relativismo é não julgar. O estranhamento de uma outra verdade ou comportamento ajuda na desconstrução do paradigma, e é importante para repensar os fatores que influenciaram naquela construção.

O relativismo é associado principalmente ao conhecimento das Ciências Humanas, como a Antropologia e a Filosofia.

Relativismo Sofista

O chamado Relativismo Sofista é uma linha de pensamento da filosofia grega que defende a subjetividade da verdade. O que o homem acredita e defende, seja enquanto moral ou conhecimento, é conforme ele vê e experimenta, conforme seu contexto.

Veja o significado da frase do sofista grego Protágoras "O homem é a medida de todas as coisas".

Relativismo Moral

A partir do relativismo sofista, constrói-se uma corrente chamada de Relativismo Moral, a partir da interpretação dos sofistas de que também a moralidade é importante para o processo de construção do conhecimento. O que vai influenciar na ideia de bem e mal. O bem é aquilo que é socialmente aceito, enquanto tudo o que sai da curva de moralidade aprovada é tido como mal.

Relativismo Religioso

O relativismo religioso ultrapassa o relativismo moral, e além de questionar a formação dos conceitos de bem e mal, diretamente ligados à religião, coloca em questão a palavra de Deus como a única verdade. Também no que diz respeito às interpretações feitas pelos homens dos livros sagrados.

Relativismo Cultural

O relativismo cultural é um conceito antropológico que define que o conjunto de hábitos, crenças e valores de um grupo, ou seja a sua cultura, influencia no que este considera uma verdade. E para relativizar a cultura, a pessoa deve primeiramente não julgar, para depois tentar entender os traços da cultura do outro que o levaram a ter aquilo enquanto verdade.

O relativismo cultural seria o contrário do etnocentrismo. O pensamento etnocêntrico é aquele que apenas leva em consideração a moral e os valores do seu próprio grupo para interpretar outros comportamentos, e com isto acaba julgando pela sua perspectiva pessoal o que é feito por outros grupos.

Já o relativismo cultural defende o oposto, que a cultura do sujeito deva ser relativizada, ou seja, repensada, para que se entenda o ponto de vista do outro.

https://www.significados.com.br/relativismo/                                                    

Curiosidade...

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DOR DE COTOVELO

Ao revisitarmos a história do samba, vemos que grandes nomes que fizeram parte da trajetória do gênero compuseram letras em que o amor era tematizado. 

Em geral, as relações amorosas eram pintadas por uma frustração ou infortúnio que impedia a consumação de uma relação bem sucedida. De acordo com alguns biógrafos do samba, a tal desilusão amorosa cantada, muitas vezes, se apresentava como uma extensão das decepções experimentadas na própria vida do compositor.

Lupicínio Rodrigues, famoso compositor gaúcho, foi um dos mais reconhecidos autores desse tipo de letra melancólica. Em muitas delas, dizia que o bar era o lugar ideal para curar os descaminhos da vida afetiva. Na canção “Taberna”, por exemplo, ele constrói um curioso eu-lírico que passou o dia inteiro no bar observando o movimento da freguesia e esquecendo a ingratidão dirigida à amada entre os tragos ingeridos.

Apesar de não ser possível apontá-lo como o autor da expressão, foi Lupicínio que cumpriu a função estética de popularizar a lendária “dor de cotovelo”. A alegoria que dá sentido ao termo faz justa alusão a quem encosta-se ao balcão de um bar para esquecer o amor perdido e se embriagar. Seguindo a explicação, de tanto ficar recostado no balcão, em completa inapetência, aquele que já sofre por amor acaba “contraindo” uma terrível dor de cotovelo.

Sendo amante de várias mulheres e, por isso, vivendo muitas desilusões no campo sentimental, Lupicínio chegou a desenvolver uma teoria sobre a dor de cotovelo. A dor de cotovelo federal era aquela que só poderia ser curada com embriaguez total. Já a dor de cotovelo estadual era suportável e com o passar do tempo tudo se ajeitava. 

Por fim, havia a modalidade municipal da dor de cotovelo, que não poderia nem mesmo servir de inspiração para um samba.


http://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/origem-expressao-dor-de-cotovelo.htm

Piada...

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Acampamento das tartaguras

Duas tartarugas decidiram acampar em um lugar, as duas tartarugas já estavam decididas. O único problema era que para chegar naquele lugar, demoraria 70 anos para ir e 70 anos para voltar. Elas levaram tudo que era preciso para acampar. Chegando no local uma fala para a outra:

- Eu não acredito! Esquecemos a toalha!

- Eu que não irei voltar.

- Muito menos eu!

As duas decidiram quem iria, e chegaram a um acordo.

- Está bem, está bem! Eu irei, apenas se você me esperar voltar para comer!

Elas concordaram e a tartaruga foi. Passaram 120 anos e nada. A tartaruga estava com muita fome, 130 anos e a tartaruga estava ficando com mais pressa. E disse que não aguentava mais. Completaram 140 anos e ela disse:

- Não vou esperar mais! Vou comer agora...

Pegou a comida, quando ela iria comer, a outra tartaruga aparece por trás dela e diz:

- Está vendo se eu fosse?


http://www.osvigaristas.com.br/piadas/

Devanear...

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Tchau querida...

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BBC Brasil relembra os principais fatos de 2016

Depois de "dois mil e treta" (2013) veio "dois mil e catarse" (2014), que abriu espaço para "dois mil e crise" (2015). Agora, "dois mil e desespero" (2016) está chegando ao fim.

Antes que mais uma "bomba" apareça, a BBC Brasil decidiu recapitular alguns dos fatos mais importantes deste ano difícil, cheio de reviravoltas - mas também de coisas boas.

Relembre neste vídeo os principais fatos do ano, do Nobel de Bob Dylan à maior crise política da história recente do Brasil, passando pelos altos e baixos da Olimpíada, pela febre do "Pokemon Go" e pelas perdas de vários ícones importantes.

O ano começou em meio ao pânico pelo surto do zika vírus associado à microcefalia. Em Brasília, o aborto em caso de contaminação pelo vírus entrou na discussão. A tese defendida por muitas mulheres era a de que o Estado seria "o responsável pela epidemia de zika", por não ter erradicado o mosquito, portanto as mulheres grávidas não poderiam ser penalizadas.

Mas nenhuma decisão a respeito foi tomada - o julgamento aconteceria no início deste mês, mas acabou sendo cancelado.

No mesmo mês de janeiro foi registrada a primeira grande perda deste ano: David Bowie, o lendário cantor e compositor britânico.
Mulher deposita flores em mural em homenagem a David Bowie em Londres.

Morto em janeiro, Bowie foi celebrado o ano todo.

Depois de Bowie, foi-se muita gente: o escritor Umberto Eco, em fevereiro, o cantor Prince, em abril, Cauby Peixoto, em maio, o ex-lutador Mohammad Ali, em junho, Elke Maravilha, em agosto, o líder da revolução cubana Fidel Castro, em novembro e o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns em dezembro.

Após a gravação deste vídeo, também partiram o cantor George Michael e a atriz Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia de Star Wars.

Protestos

Como acontece desde pelo menos 2013, este foi um ano repleto de protestos nas ruas de todo o país. O maior deles aconteceu em 13 de março, em mais de 300 cidades. Segundo números da Polícia Militar, 3,5 milhões de pessoas teriam ido as ruas do país - para os organizadores, foram quase 7 milhões.

Organizados por movimentos com forte atuação na internet, eles se concentravam principalmente no impeachment da então presidente Dilma Rousseff e foram citados por parlamentares durante o ano inteiro como propulsores do processo de afastamento.

Por outro lado, desde que Michel Temer assumiu a Presidência, mais protestos ocuparam cidades Brasil afora.

Os manifestantes criticavam medidas de austeridade, como mudanças trabalhistas e em programas sociais.

Mesmo com o impeachment, Dilma não foi a única grande personagem política deste ano.

Luiz Inácio Lula da Silva

Escalada de denúncias contra Lula também marcou 2016.

Um deles foi Eduardo Cunha. De todo poderoso presidente da Câmara e responsável pela aceitação do processo de impeachment no Congresso, ele primeiro foi afastado do mandado, depois teve os direitos políticos cassados e, por fim, foi preso, em outubro deste ano, acusado de desvios, dinheiro ilegal no exterior e obstrução de investigações. Cunha nega as acusações.

E também o ex-presidente Lula. Em março, ele foi alvo de uma condução coercitiva para depor a Policia Federal. No mesmo mês, chegou a ser nomeado ministro da casa civil da então presidente Dilma. A decisão foi revogada no mesmo dia.

Em setembro, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que Lula seria o "comandante máximo do esquema de corrupção identificado pela Lava Jato" e teria recebido R$ 3 milhões em benefícios da empreiteira OAS.

Hoje, ele é réu em cinco processos diferentes - três deles na Lava Jato. O petista nega todas as acusações.

Olimpíada

2016 também foi ano de Olimpíada e Paralimpíada.

Cercados de muita polêmica - desde o numero recorde de remoções até as obras, muitas tocadas por empresas investigadas na operação lava jato - os jogos acabaram caindo no gosto do povo e agradando à maioria dos visitantes.

Com 19 medalhas sete ouros, seis pratas e seis bronzes, o Brasil encerrou a Rio 2016 no 13º lugar, e não cumpriu a meta de ficar no top 10.

Usain Bolt em uma das provas que venceu na Rio 2016.

Astros como Bolt saíram da Rio 2016 com uma coleção de medalhas.

Na Paralimpíada o resultado foi melhor: 8º lugar no quadro geral e 72 medalhas, sendo 14 de ouro, 29 de prata e 29 de bronze.

Os jogos disputaram atenção com uma invençãozinha tecnológica que se espalhou mundo afora: a febre do Pókemon Go, aquele joguinho de realidade aumentada para celulares.

Internacional

No exterior, a pauta predominante na imprensa foi o terror. Uma série de atentados marcou o ano de 2016 e deixou centenas - ou milhares de mortos - em países como Bélgica, Nigéria, Franca, Turquia, Afeganistão, Alemanha e Síria.

Um dos principais conflitos ocorre na Síria, onde mais de 400 mil pessoas já morreram e milhares se transformaram em refugiadas.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos também foi uma das principais notícias. Apesar de ter perdido para a rival Hillary Clinton na contagem total de votos, ele ganhou na votação proporcional e toma posse ainda em janeiro.

Eleição de Trump surpreendeu a muitos - a outros, nem tanto.

Depois de uma campanha repleta de ofensas pessoais, muita baixaria e nem tantas propostas, o milionário republicano continua causando polêmica com a nomeação de seus braços direitos para os próximos quatro anos.

E agora?

Por aqui, Temer completa quase sete meses de mandato, sob forte rejeição popular.

Entre suas principais bandeiras está a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) dos gastos, que congela os gastos do governo federal com saúde, educação, infraestrutura e programas sociais pelos próximos 20 anos. Sob protestos, ela foi aprovada em definitivo no Senado há algumas semanas.

A outra é a Reforma da Previdência - se aprovada como quer o governo, os brasileiros precisarão trabalhar por 49 anos ininterruptos para garantir a aposentadoria completa. A idade mínima passa a ser 65 anos, tanto para homens, quando para mulheres. A exclusão de políticos e militares desta regra tem gerado desconforto entre muitas pessoas.

A reforma vai passar ou não? E a crise política, quais desdobramentos vai ganhar? Depois de mais de 60 presos, quais serão os rumos da Lava Jato?

Essas são algumas das várias perguntas em aberto para 2017, que já está batendo na porta.


Barbárie cotidiana...

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Ato de ambulante que morreu no metrô foi 'trangressão' a nosso modo covarde de existir, diz psicanalista

Ambulante Luiz Carlos Ruas foi espancado depois de tentar defender duas travestis.

Um crime que chocou o país: o vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas morreu na noite de Natal, depois de ser espancado por dois homens no chão de uma estação de metrô em São Paulo - diante de dezenas de testemunhas.

Para o psicanalista, professor e escritor Christian Dunker, Ruas morreu porque não se calou. Ao contrário das pessoas que viram seu espancamento, Índio, como era conhecido, falou com seus agressores, tentando impedir que os jovens batessem em duas travestis do lado de fora da estação. Ao intervir, Índio tornou-se o alvo da violência.

Dias após o assassinato, Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Martins do Nascimento estão presos e devem ser denunciados por homicídio triplamente qualificado - eles dizem que reagiram após um deles ser agredido por Ruas com uma garrafada, versão que, segundo o delegado Osvaldo Nico, "não convence".

Em entrevista à BBC, Dunker, que ganhou o Prêmio Jabuti pela obra sobre psicologia, psicanálise e comportamento, classifica o ato do ambulante como uma "transgressão ao nosso modo muito covarde de existir". Apegadas apenas à letra da lei, diz o psicanalista, as pessoas não fazem nada além do que se espera delas, ficando em silêncio em situações de injustiça.

"Diante do violento, a gente não fala. Isso é uma característica de todos os sistemas de aceleração da violência: nas corporações, na polícia, dentro das comunidades. Em todos esses lugares, há uma cultura do silêncio. E quando alguém rompe a lei do silêncio tem que pagar, como no caso do Índio."

Para psicanalista Christian Dunker, ato de ambulante para defender duas travestis foi 'heróico'.

Leia a seguir os principais trechos da conversa.

BBC Brasil - Por que a morte do Índio chocou tanto os brasileiros?

Christian Dunker - O gesto do Índio foi trágico, no sentido mais próprio do termo. Ele fez aquilo que todos nós sabemos que devemos fazer numa situação de violência e não fazemos.

Ele se meteu na briga alheia. Viu duas travestis sendo atacadas e rompeu essa barreira tácita do silêncio, que nos envolve, nos acovarda e faz com que a gente sinta permanentemente uma sensação de impotência diante daquilo que sabemos que está errado. Então, o gesto do Índio falou por todos nós.

Isso é mobilizador e o torna, de fato, um grande herói, porque ele faz o que todos nós devíamos fazer, inclusive aqueles que são profissionalmente responsáveis.

Quando a gente nota que o sistema de segurança do metrô não agiu a tempo, percebemos essa cegueira, e a atitude do pequeno corrupto, que é aquele está permanentemente dizendo 'tem alguém que deve estar encarregado desse problema' e tenta transferir sua responsabilidade pessoal para o sistema. Muito provavelmente, a equipe do metrô pensou dessa forma: 'alguém chamou a polícia'.

BBC Brasil - E o aspecto de gênero nesse caso? Afinal, Índio defendeu duas travestis de um ataque.

Christian Dunker - Foi uma violência homofóbica. A gente não conhece (os jovens) e não pode exercer juízos clínicos, mas vamos considerar uma situação de exibição de virilidade.

Isso costuma ser induzido por grupos, grupos grandes que se organizam para linchar alguém, e também pelos pequenos grupos, formados por dois, três. Neles, um incita ao outro a uma demonstração de virilidade que é, no fundo, exibicionista. 'Preciso ser mais violento, porque mostro que sou muito macho'.

Assim como, no início do processo, no ataque homofóbico, há aquele que olha para outra experiência de gênero e se sente agredido, aquilo toca seu senso de masculinidade. Isso regra o processo de virilidade, que se torna muito instável. A gente pensa que o travesti tem dificuldade com sua própria sexualidade, mas no fundo os que atacam essas pessoas é que têm necessidades muito mais salientes, incontidas.

Homenagem ao ambulante na estação Dom Pedro II, onde ocorreu a agressão; para entrevistado, crime teve aspecto homofóbico.

BBC Brasil - Você disse que o ambulante teve uma ação heróica, mas ele pagou por isso. O caso não passa uma mensagem que, na nossa sociedade, quem age para impedir situações de injustiça é punido?

Christian Dunker - Exatamente. Ele, ao que parece, era uma pessoa pacata, querida, que conhecia as pessoas da região, inclusive os que foram primeiro agredidos pelos dois jovens.

O ato dele está regido por uma circunstância que chamamos de contingente. Ele não tinha que intervir, não tinha nenhuma lei, nada que o obrigasse a fazer aquilo. E, ao mesmo tempo, não tinha nenhuma circunstância que o impedisse de agir, como se fosse proibido ou indesejado. É esse espaço no qual a gente pode agir para além da lei, para além do que as pessoas esperam dos nossos papéis sociais funcionais.

Hoje, cada qual se restringe a fazer aquilo que se espera dele ou dela. O que Índio representa?  Outro tipo de ação, que tem a ver com uma ligação com as pessoas que passam por aquele lugar.

Índio não chama o responsável, não fala 'alguém tem que cuidar disso, vou ligar para a polícia'. Ele podia ter feito isso, mas vai pessoalmente. No fundo, é como se tivesse fazendo uma transgressão ao nosso modo básico, muito covarde, de existir. Ele ultrapassou isso, e é o ato dos heróis. É aquilo que chamamos do verdadeiro ato ético, que está para além da lei instituída.

O Brasil está num impasse ético e político, porque a gente só consegue pensar em transformações baseadas na coação da lei. A gente acha que precisa de mais leis, mais polícia, mais punição, o que agora se voltou contra os dois rapazes. Isso por um lado é necessário, mas por outro vai obscurecendo a força do ato ético, como foi o do Índio.

BBC Brasil - O que a forma como algumas pessoas reagiram ao caso, ameaçando os agressores, fala sobre as motivações do assassinato? Não é o mesmo tipo de violência?

Christian Dunker - Esse empuxo ao linchamento segue a mesma lógica dos dois garotos, a mesma lógica do grupo. Em grupo, me torno mais corajoso, começo a gritar, a enfrentar. Por quê? Porque a gente se vê numa posição de vantagem em relação aos dois (agressores).

A gente começa a nutrir pensamentos do tipo 'tomara que sejam estuprados na prisão', 'tomara que alguém faça com eles o que fizeram com o Índio'. É um tipo de uso violento da lei, é a lei de Talião: você foi violento, então espero sejam violentos com você também.

Isso, no fundo, é trair a memória do Índio, que respondeu numa outra lógica. Esses que estão falando 'vamos linchar' também estão jogando com a lógica do 'alguém tem que fazer isso'. Estão incitando a violência e no fundo acabam colaborando com esse ciclo.

BBC Brasil - Nesse contexto de banalização da violência, como se destaca o modo de agir do Índio, que, segundos as testemunhas, tentou conversar com os jovens e não agredi-los?

Christian Dunker - O verdadeiro ato de combate à violência foi o do Índio que, sozinho, em desvantagem, quis usar a palavra. É o que está faltando é o que a gente, mesmo num episódio como esse, não consegue valorizar. Qual é a "arma" que o Índio tinha? A palavra. Ele foi falar com as pessoas. Ele podia ter algum instrumento de ameaça, mas não o usou.

A gente desaprendeu a potência simbólica, mediadora, da palavra, porque é só lei contra lei, força contra força, e aí a violência vai se banalizando na mesma medida em que vai se silenciando.

Diante do violento, a gente não fala, não negocia mais com a palavra. Isso é uma característica de todos os sistemas de aceleração da violência: nas corporações, na polícia, dentro das comunidades. Em todos esses lugares, o que vai acontecer é uma cultura do silêncio: não se fala. E quando alguém rompe a lei do silêncio tem que pagar, como no caso do Índio.

Policiais tentam conter multidão durante reconhecimento de agressores.

Agressores do ambulante foram hostilizados durante reconhecimento de testemunhas; para Dunker, agir assim é 'trair memória' de Índio.

BBC Brasil - Muita gente ficou surpresa com a falta de ação das pessoas que testemunharam o espancamento, já que o metrô é um espaço movimentado. Essa inércia tem a ver com a pressa das grandes cidades, com uma apatia crescente na sociedade, ou possui motivações instintivas, de proteção?

Christian Dunker - Isso é uma coisa que estudei no meu livro Mal-Estar, Sofrimento e Sintoma: a demissão do Estado em relação ao espaço público. É um processo histórico que acontece a partir dos anos 1970, na ditadura militar, quando o Estado brasileiro percebe que não tem recursos para civilizar o país inteiro, e se vê impotente.

Então ele se demite de administrar uma série de áreas públicas: favelas, condomínios - que ficam em mãos de grupos privados -, prisões.

Eles se tornaram espaços anônimos, nos quais a gente não sente que aquilo é nosso, mas que pertence a um grupo. É um grupo que não sabemos quem é, que zela por aquele espaço sem que a gente os veja.

Isso faz com que um lugar como o metrô, que devia ser um espaço pelo qual todo mundo se sente um pouco responsável, se torne apenas uma zona de passagem. Nesse espaço, a regra é: tenho que ganhar velocidade. Vou usar um iPhone, recolher-me numa espécie de bolha defensiva, para que nada me perturbe.

Sendo um espaço intervalar, nada do que acontece ali me diz respeito, tanto que quem reagiu não era alguém que estava de passagem, era alguém que habitava aquele espaço, que o tinha como parte de sua comunidade.

O passante perdeu a capacidade de se sensibilizar com o outro, de mudar a rota para fazer algo que esteja além do que se espera dele.
Grupo de jovens em escola ocupada de São Paulo.

Psicanalista diz que uma nova geração, que hoje tem menos de 20 anos, deve negar a banalização da violência.

BBC Brasil - Há uma nova geração que está reivindicando a ocupação do espaço público, e uma relação mais próxima com a cidade - e com os outros. Podemos acreditar que essa apatia tende a arrefecer no futuro?

Christian Dunker - Hoje há movimentos de uma nova geração, que tem menos de vinte anos, e é completamente avessa a tudo isso. Ela gosta de bicicleta, não quer comprar uma casa num condomínio, mas viajar, quer ocupar escolas, tem uma aversão completa do ódio como aspecto político e está inventando outras maneiras de lidar com a diferença.

O contraste que você tem entre a homofobia de um menino de 16 anos e de um jovem de 25 anos é muito grande. Porque quem tem hoje 16 anos teve contato com alguma coisa do tipo um coletivo feminista na escola. Isso é extremamente recente e importante.

Você chegou num ponto de maus-tratos da diferença que opções orgânicas estão surgindo. É uma geração que vai por no chinelo a geração pré-condomínio (as pessoas nascidas antes da explosão dos condomínios no Brasil).


Mais uma etapa superada...