sábado, 7 de março de 2015

Assalto ao estado brasileiro...


O Brasil não pode parar

O petrolão, de dimensões e importância maiores que o mensalão, tem, como este, poder de afetar a vida do país. É preciso evitar isso a todo custo

A chegada ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, da lista de implicados no escândalo do petrolão, feita pelo procurador-geral Rodrigo Janot, serve de marco zero na tramitação de um processo com semelhanças e diferenças em relação ao do mensalão. Entre os pontos em comum está a capacidade de o caso mexer com a vida política e administrativa do país.

Ninguém poderia imaginar que, dois anos depois de encerrada a fase de definição de penas para os condenados do mensalão, até aquele momento “o mais sério escândalo” da República, surgiria um novo caso, o petrolão, de dimensões mais estonteantes, e tendo no centro os de sempre — lulopetistas e aliados.

O assalto ao caixa da maior empresa brasileira, a Petrobras, excedeu em zeros à direita as cifras bombeadas por mensaleiros para o sistema de lavagem de dinheiro de Marcos Valério, operador daquela “organização criminosa” cujo “chefe” denunciado foi o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. 

Grande contribuinte das finanças do mensalão, o petista do sindicato dos bancários Henrique Pizzolato, autor de desfalque no Banco do Brasil para ajudar os companheiros, espera detido na Itália, para onde fugiu, decisão sobre a repatriação. Enquanto isso, companheiros do PT se beneficiam do regime de progressão de penas e do perdão judicial para voltar a circular. A carga pesada do castigo ficou para o núcleo de não políticos do mensalão, presos em regime fechado.

O mensalão, desde o surgimento do escândalo, levou sete anos para chegar ao veredicto final e cálculo de penas — sem considerar os recursos. Na realidade brasileira, foi um julgamento exemplar, pois o comando do esquema era de petistas, partido inquilino do Palácio do Planalto, e de onde havia partido a indicação da maioria dos ministros daquele Supremo de 2012.

O petrolão também deverá consumir um tempo razoável, por vários motivos. Um deles é que começa no Supremo num estágio anterior ao do mensalão. Neste, a Procuradoria-Geral da República já remeteu ao relator do processo, o então ministro Joaquim Barbosa, denúncias. Enquanto que, agora, o MP federal encaminha a Teori Zavaski, da 2ª Turma do STF — não haverá julgamento no Pleno, dividido em turmas para apressar processos — apenas pedidos de abertura de inquéritos. 

E se no mensalão acusados sem foro privilegiado também foram julgados no plenário — devido às características de unidade da “organização criminosa” —, agora há um grande front do julgamento na primeira instância, na Justiça Federal do Paraná, sob a responsabilidade do juiz Sérgio Moro, sede da Operação Lava-Jato.

Em Brasília, serão decididos os destinos de deputados, senadores e governadores (STJ). Em Curitiba, o futuro de um contingente também de peso: operadores financeiros como Alberto Youssef, ex-diretores da estatal (Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró etc), donos de empreiteiras e executivos, outro segmento de grande importância no esquema. 

Mesmo que os processos tramitem com rapidez em Curitiba, condenados poderão recorrer até a ação chegar em Brasília, na última instância. Esse aspecto do petrolão justifica previsões pessimistas para o tempo da tramitação integral dos processos de todos os acusados.

É importante que, apesar do impacto do petrolão no Congresso e governo, as diversas instâncias judiciais, o Ministério Público e a Polícia Federal tenham tranquilidade para trabalhar com independência e de maneira transparente. O mensalão já vacinou as instituições contra efeitos das atribulações decorrentes de um escândalo dessa magnitude.

O que não pode é o país parar. Há um quadro grave na economia cujo enfrentamento depende muito do Congresso. Assim como o governo federal tem de se manter ativo, o Legislativo precisa ter a consciência das responsabilidades no debate e aprovação de medidas corretivas de política econômica, sem qualquer interferência do desenrolar dos inúmeros processos do petrolão.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/o-brasil-nao-pode-parar-15528002#ixzz3TjTqB7cn

© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais uma etapa superada...