sábado, 7 de março de 2015

Devanear...














A Realidade - Parte 1

Olá como vão todos vocês?

Eu vim aqui para contar a todos um pouquinho da minha vida!

Não sou um cara completamente feliz, mas também não posso reclamar da minha vida.

Sou moreno, tenho vinte e cinco anos, corpo normal, nem gordo e nem magro.

Olhos e cabelos castanhos bem clarinho.

Sou gay, até meus dezoito anos eu não me aceitava, eu queria entender, queria saber, queria de alguma forma que a vida, Deus ou sei lá quem, me mostrasse, explicasse o porque de eu ser gay?

Ainda não entendo isso.

Ser gay:

Você tem quer forte, ainda mais forte que qualquer outro homem, já que na maioria das vezes você não é aceito, é excluído, ofendido e apontado.

Mesmo não devendo nada a  ninguém, mesmo não prejudicando ou ofendendo ninguém, ainda assim algumas pessoas ficam ou se sentem incomodadas com a presença de nós.

Você é mais franco que qualquer mulher, pois nem todas as pessoas ouvem, entendem ou podem te compreender, aconselhar sobre seus sentimentos.

Sentimentos esses que em muitas ocasiões nos o guardamos conosco, sem poder coloca lo para fora verdadeiramente.

Temos que pensar duas, três, várias vezes antes de qualquer decisão, uma constante vida pisando em ovos com todo mundo.

Abrir os olhos todas as manhãs e perceber que aquilo não foi um sonho ou pesadelo, que tudo isso é real, sua vida, suas coisas, seus trejeitos é tudo real.

Era engraçado porque meu objetivo era crescer, me formar homem de bem e ser feliz.

Lembro também que eu dizia que no dia da minha morte eu sentaria ao lado de Deus e exigiria uma explicação da parte dele sobre o porque de eu ter nascido diferente, qual o valor disso, qual o peso e qual a finalidade, ele queria provar o que com tudo isso?

Desde de então eu exclui esse ser da minha vida, eu deixei de acreditar, de orar e passei a aceitar que eu era diferente e ponto.

Na minha infância eu apanhei muito do meu pai, dos garotos do colégio e dos meninos da minha rua.

Se eu tinha dois amigos de verdade isso era muito.

Já fui violentado por um homem quando eu tinha treze anos, e quando eu falei sobre isso com meus pais eles me ignoraram.

O fato é que eu poderia ser a pessoa mais rancorosa, infeliz e magoada do mundo, mas não, ser assim não valeria a pena, não me faria nenhum bem.

Decidi lutar, correr atrás e escrever algumas linhas do meu destino, eu decidi mudar algumas coisas para meu próprio bem.

Estudei até onde pude, me informei sobre todas as coisas, eu não ficaria mais atrás de ninguém e ninguém zombaria mais da minha até então fragilidade.

O gay é visto como oferecido, dado, é visto como ser sem vergonha alguma, que dá em cima na cara dura, e não é bem assim que as coisas funcionam.

Porque um homem casado me violentou?

Porque nas brincadeiras de pique esconde da rua os moleques maiores me assediavam enquanto nos escondíamos?

Eu sou reservado, ninguém sabe nada da minha vida a não ser as coisas que eu próprio falo.

Já teve vários homens que me ofereceram dinheiro para um "boquetinho rápido" ou uma "furadinha".

Era assim que eles diziam ou dizem até hoje.

Nunca consegui namorar, isso não quer dizer que eu não tenha saído com alguém!

Não gente eu não sou um virgem ingênuo e inseguro, mas posso contar nos dedos as poucas mas boas transas que eu tive.

Muitos querem ser ricos, famosos, bonitos, populares e de alguma forma chamar a atenção para si.

Eu só queria ser tratado como os demais, eu só queria ser normal, queria poder sentar numa mesa rodeada de amigos e que todos ali falassem a mesma língua.

Sei que o preconceito comigo mesmo sobre a minha orientação era maior que o da própria sociedade.

Mas qual a graça de viver em sociedade quando as pessoas te olham, cochicham coisas a seu respeito que nem você próprio sabe rs.

Minha vida não é e nunca foi fácil.

Claro a vida de ninguém é fácil, todos tendem a correr atrás de seus objetivos.

A alguns anos atrás eu conheci um cara lindo, hoje mais lindo ainda.

Era brincalhão, engraçado e muito dependente dos outros.
Nos conhecemos no trabalho, eu o ajudei o ensinei e com isso desenvolvi um sentimento por ele.

Sabe aquele negócio de você deixar a sua vida de lado e viver a do outro?

Já aconteceu isso com algum de vocês?

Ele morava apenas com a mãe e os dois apesar de serem somente os dois.

Passavam por muitas dificuldades, moravam nunca casa ruim, não tinham grana para se manterem e por diversas vezes nem o que comer.

Me lembro que ele reclamava muito de dores de cabeça, e eram sempre após o almoço.

Um dia eu perguntei o que ele almoçara.

Ele respondeu muito sem graça, eu não comi nada pois estava sem fome.

Naquele dia eu entendi o porque das dores de cabeça.

Eu passei a levar algo de manhã para ele comer no horário do café e no almoço eu sempre o convidava para ir almoçar na minha casa.

Certo dia eu fui na casa dele e o chamei para ir em algum lugar.

Aquele dia ele não saiu pra fora por vergonha da casa onde morava e aquele dia eu conheci sua mãe.

Uma senhora boa, humilde e muito alegre, ela me convidou a entrar e eu o fiz.

Sentei na única cadeira do local enquanto ela vinha com um copo de água.

Perguntei do filho e naquele dia ela abriu o coração para mim.

Tínhamos acabado de nos conhecer e ela me falou de todos os seus medos, anseios, dificuldades entre outras coisas.

Descobri também que por uma grave doença na coluna ela era impossibilitada de trabalhar, de fazer esforços físicos muito exaustivos e que o pouco que recebia do auxílio doença era metade para pagar os remédios que ela era obrigada a comprar pois na farmácia popular não tinha.

Eu me lembro que conversa vai e conversa vem, me deu uma enorme vontade de ir ao banheiro.

Quando entrei eu vi que o vaso estava solto pois era quebrado e não tinha uma pia para a higiene das mãos.

Meu coração ficou tão apertado que na mesma hora eu voltei e perguntei a ela se ela se sentiria ofendida se eu contratasse um pedreiro e colocasse piso, azulejos, pia, vaso sanitário e um box em seu banheiro.

Ela se levantou muito contente e disse que não, que eu não precisava fazer nada disso, que eu era uma pessoa boa e o fato de eu estar ajudando o filho dela já era mais que suficiente.

Eu insisti até que ela deixou e na mesma hora a levei para escolher as coisas para o banheiro novo.

Não sou rico, mas eu tenho uma vida mais ou menos e se eu posso eu ajudo sem pensar.

Naquele dia eu a levei de volta e não vi a cara do filho, ele é até hoje muito orgulhoso e não dá o braço a torcer.

Ele me evitava, falava muito pouco comigo, tudo por orgulho e vergonha.

Ele não queria que eu fosse na casa dele, mas eu fui no dia que o pedreiro me ligou para receber pelo serviço e antes de fazer o pagamento eu fui ver como estava depois de pronto.

Achei muito engraçado pois ela (mãe), estava sentada no vaso toda sorridente, admirando o novo espaço.

Me recebeu com beijos, abraços fortes e muitos agradecimentos.

Ele também veio me agradecer.

Como eu disse.

Eu poderia ser a pessoa mais infeliz do mundo por todas as coisas ruins que me aconteceram na infância e adolescência, mas minha vida tomou outro rumo quando eu o conheci.

Posso pedir que comente?

Obrigado e até mais!!!


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