domingo, 14 de setembro de 2014

Em nome de um amigo imaginário...

Entenda porque o Estado Islâmico usa técnicas tão brutais

Para militantes, a violência extrema é uma decisão consciente de aterrorizar os inimigos, além de impressionar seus jovens recrutas

 
Decapitações, crucificações, apedrejamentos e genocídios são práticas recorrentes de grupo radical

A terceira decapitação divulgada em vídeo nas últimas semanas pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), no sábado, trouxe mais uma vez à tona a pergunta: por que os militantes são tão cruéis?

Nos últimos meses, foram divulgados relatos e até vídeos de decapitações, crucificações, apedrejamentos, genocídios e sepultamento de vítimas vivas nas regiões que dominam no Iraque e na Síria.

Enquanto forças de quase 40 países se preparam para lançar uma ofensiva militar contra o EI, liderada pelos Estados Unidos, muitos tentam entender o que está por trás da selvageria dos jihadistas.

Para os militantes, a violência extrema é uma decisão consciente de aterrorizar os inimigos, além de impressionar e cooptar seus jovens recrutas.

O Estado Islâmico é adepto da doutrina de guerra total sem limites e restrições – não há, por exemplo, arbitragem ou transigência quando se trata de solucionar disputas mesmo com rivais sunitas.

E, ao contrário da organização que lhe deu origem, a al-Qaeda, o EI não recorre à teologia para justificar os crimes.

A violência tem suas raízes no que pode ser identificado como "duas vertentes", segundo a escala e a intensidade da brutalidade.

A primeira, liderada por discípulos de Sayyid Qutb – um islamita egípcio radical considerado o teórico supremo do jihadismo moderno -, tinha como alvo regimes árabes seculares pró-Ocidente ou o que chamavam de "inimigo próximo", e, no geral, demonstrava moderação no uso da violência política.



Após o assassinato do presidente egípcio Anwar Sadat, em 1980, essa insurgência islamita se dissolveu até o final dos anos 90 ao custo de 2 mil vidas. Muitos dos militantes haviam seguido para o Afeganistão nos anos 80 para combater um novo inimigo global – a União Soviética.

 
'Máquina mortífera'
A jihad ("guerra santa") afegã contra os soviéticos deu origem à segunda vertente que, mais tarde, ganhou um alvo específico – o "inimigo distante": os Estados Unidos, e em menor grau, a Europa.

Essa segunda onda foi encabeçada por um multimilionário saudita que virou revolucionário, Osama Bin Laden.

Bin Laden fez um grande esforço para racionalizar o ataque da al-Qaeda aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, chamando-o de "jihad defensiva", ou retaliação contra a dominação americana das sociedades muçulmanas.

Consciente da importância de arrebanhar corações e mentes, Bin Laden enviou sua mensagem aos muçulmanos e até a americanos como uma espécie de auto-defesa, e não agressão.

Esse tipo de justificativa, no entanto, não tem relevância para o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, que não parece se importar com o que o mundo pensa da sanguinolência dos ataques do grupo.

Em contraste às duas primeiras vertentes, o EI professa ação violenta sem qualquer preceito teórico ou teológico e em nenhum momento demonstrou ter um repertório de ideias que sustente e nutra a sua base social. Trata-se de uma máquina de matar alimentada por sangue e armas.

Indo além da doutrina de Bin Laden de que "quando as pessoas veem um cavalo forte e um cavalo fraco, por natureza vão escolher o mais forte", a vitória por meio do terrorismo de al-Baghdadi indica a amigos e inimigos que este é um "cavalo vencedor".

"Saia do caminho ou você será esmagado; junte-se a nós e faça história" parece ser o lema do EI.

Evidências cada vez mais fortes mostram que, nos últimos meses, centenas senão milhares de antigos e obstinados inimigos do EI, como a Frente al-Nusra e a Frente Islâmica, responderam ao chamado de al-Baghdadi.



Tolerância zero aos homofóbicos...


Dói', diz mulher que desistiu de casar com namorada após polêmica no RS

Rita Bolson ficou do lado de fora do Fórum e lamentou não ter casado.
Caso ganhou repercussão após CTG pegar fogo em Livramento.

 Rita, Santana do Livramento, casamento gay, RS (Foto: Estêvão Pires/G1)
Rita observou movimentação do lado de fora do Fórum

O casamento coletivo realizado na tarde de sábado (13) no Fórum de  Santana do Livramento tinha inicialmente a inscrição de dois casais homoafetivos formados por mulheres. Entretanto, com a polêmica criada em torno do assunto, um dos pares acabou desistindo no fim de agosto de participar da cerimônia que ocorreria em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Sentinelas do Planalto, atingido na quinta-feira (11) por um incêndio criminoso.

Do lado de fora do Fórum onde 28 casais oficializaram a união, Rita Bolson acompanhou a movimentação para o evento e chorou emocionada por não ter realizado o sonho de casar com a companheira neste final de semana. Ela conta que precisar desistir causou sofrimento.

"Dói, dói mesmo estar nessa situação. A gente tem assumir o que é, mas é preciso respeito em primeiro lugar. As pessoas em Livramento têm que dar mais apoio", disse ao G1, pedindo para que seu rosto não fosse mostrado.

As noivas decidiram não participar devido à repercussão do caso, considerada negativa por elas, já que a celebração ocorreria em um CTG. No dia 28 de agosto, declararam a um jornal local que não queriam ser expostas na mídia e preferiam trocar alianças em um evento menos polêmico, já que só queriam "casar em paz".

Para Rita, portanto, o sonho do casamento se mantém. "Desta vez não deu, mas no ano que vem nós vamos enfrentar tudo o que vier. Meu sonho era ter vindo em uma carruagem com minha companheira", contou emocionada.

Convidados acompanham casamento coletivo no RS (Foto: Estêvão Pires/G1)
Convidados acompanham casamento coletivo no RS 

Com a repercussão nacional, o evento contou com as presenças de autoridades como ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, José Aquino Flôres de Camargo, e a secretária de Justiça e Direitos Humanos do governo estadual, Juçara Dutra Vieira. Na ocasião, o único casal gay a participar teve a maior parte das atenções.

Solange Ramires, 26 anos, e Sabriny Benites, 24, disseram o aguardado "sim" e trocaram alianças e beijos. O casal entrou por último no salão do júri e foi aplaudido de pé pelos presentes. 

Casal de mulheres casa em Fórum na tarde deste sábado (13) (Foto: Estêvão Pires/G1)
Mulheres casam em Fórum na tarde deste sábado (13) 

Embora longe do CTG, a celebração teve características gauchescas. Alguns noivos vestiam bombachas, lenços vermelhos e camisas brancas. Outras mulheres usavam vestidos de prenda, entre elas a magistrada, responsável pela realização do casamento.

"É para reforçar o combate à homofobia no tradicionalismo. Foi um sacrifício. Será um grande evento diante de casais que não se acovardaram. Não vamos nos calar. Os direitos das minorias estão garantidos", disse ao G1, pouco antes da celebração.

O ambiente foi decorado com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul e do movimento LGBT. O salão do júri foi a segunda opção da magistrada, que propôs inicialmente que o matrimônio coletivo fosse realizado no CTG Sentinelas do Planalto na cidade. O galpão, porém, foi alvo de um incêndio criminoso na madrugada de quinta (11). Apesar do mutirão proposto para reconstruir o espaço, não houve condições e nem tempo suficiente para concluir os trabalhos.

"Por que essa cerimônia causa tanto incômodo ao tradicionalismo?", questionou a juíza Carine Labres em seu discurso, logo no início da celebração. "Qual a razão de tanta intolerância?", indagou.

Para polícia, incêndio em galpão foi criminoso

O incêndio ocorreu na madrugada de quinta-feira. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta de 0h30, e as chamas foram controladas cerca de três horas depois. Ninguém ficou ferido, mas o fogo atingiu a parte interna da estrutura, justamente o palco, onde acontecerá o evento.

Casal gay trocou alianças em casamento coletivo em Santana do Livramento (Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS)
Casal gay trocou alianças em casamento coletivo

A Polícia Civil diz que o incêndio foi criminoso. Um garrafa com resquícios de gasolina foi encontrada no galpão do CTG, que, segundo a polícia, pode ser um coquetel molotov, artefato incendiário de fabricação caseira. Testemunhas relataram que viram quatro pessoas próximas ao CTG antes do início das chamas, mas a polícia diz que, por enquanto, não há suspeitos de autoria do incêndio.

Logo após o incêndio, um mutirão se formou para reconstruir a estrutura danificada do galpão a tempo do casamento coletivo. Segundo o patrão do CTG, Gilbert Gisler, o Xepa, a instituição recebeu mais de 40 doações de material de construção, de pessoas físicas e jurídicas. A comunidade de Santana do Livramento também doou a mão de obra para a reconstrução do local.

Com bandeira gay e decoração tradicionalista, fórum é preparado para casamento no RS (Foto: Estêvão Pires/G1)
Bandeira gay e cores da bandeira tradicionalista decoraram o salão do júri


Posicionamentos sinceros...


Questões morais

Não é o comportamento privado dos gays, das mulheres, dos que usam drogas que revolta a sociedade. É a corrupção

Em visita a um templo evangélico, Aécio Neves, depois de fervorosas orações, declarou que era “contra o aborto e contra as drogas”. Como se alguém, afora os que lucram com o aborto ilegal ou os traficantes, fosse a favor do aborto ou das drogas. Temos consumido anos de argumentação em debates a respeito da descriminalização da interrupção da gravidez indesejada ou do fracasso da guerra às drogas. Trata-se de problemas de saúde pública e de dramas humanos pungentes. Declarações simplistas, talhadas para o auditório, não diminuem o número de abortos nem abrem caminho para políticas mais humanas e eficientes de combate às drogas.

O tema da homofobia também saiu do armário nessas eleições. A homofobia é manifestação de violência corriqueira que, quando não mata ou fere, envenena com humilhação a vida dos gays. É odiosa e criminosa, assim como o racismo. O projeto de criminalização da homofobia está travado no Senado há oito anos. Quem for presidir o país vai poder ignorar os milhões de manifestantes que desfilam nas grandes e médias cidades em paradas do orgulho gay? Uma parcela da população não aceita mais que eles sejam assassinados e ofendidos. Não se trata de uma questão menor.

Margaret Thatcher não acreditava que existisse essa coisa chamada sociedade. Esquecia que Gandhi, fragílimo e desarmado, expulsou os ingleses da Índia apoiado nessa coisa que ela achava que não existia. Gandhi dizia que “uma árvore que cai, faz muito barulho, uma floresta que germina não se escuta”. Frase oportuna para pensar o Brasil.

Só ouvíamos o barulho espetacular da queda em desgraça dos velhos partidos políticos enquanto uma nova sociedade germinava. Esse barulho de árvores mortas que tombam torna inaudível a germinação silenciosa de uma liberdade de pensamento que foi penetrando na sociedade, aquela que supostamente não existe, mas viceja em sua imensa diversidade e luta pelas causas que lhe são caras.

Germinou uma democracia do cotidiano, vivida em profundidade por cada um, onde o que comanda é a liberdade de escolha, o direito de decidir sobre a sua própria vida. Os gays sabem que o amor é um pássaro louco que ninguém sabe onde pousará. As mulheres aprenderam nos embates duríssimos da vida real que seus corpos lhes pertencem. Agem e defendem-se em consequência.

As opiniões sobre questões morais se formam, cada vez mais, em círculos de confiança, exprimindo uma subjetividade trabalhada e sofrida, insubmissa às palavras de ordem de partidos ou dogmas religiosos. Esse exercício de liberdade em que a sociedade se autotransforma extravasa da lógica partidária que tudo submete à luta pelo poder a qualquer preço ou das igrejas que submetem a espessura da vida real ao fogo dos infernos. É nos fios cruzados dos círculos de confiança, da capilaridade das redes sociais e da mídia onipresente que circulam argumentos e deliberações.

As meias palavras não aproveitarão aos candidatos. As liberdades morais entraram na agenda política e são incontornáveis. Talvez se esteja subestimando a sociedade, julgando-a mais conservadora do que ela de fato é. E não se tenha percebido que a expectativa do eleitor, essa sim esmagadoramente majoritária, é a credibilidade do candidato. Que cada um esteja realmente por trás do que diz. Honestidade também é uma questão moral.

O Brasil é um Estado laico, garantia sólida contra o fundamentalismo religioso. Maior garantia ainda é a capacidade do cidadão de formar a opinião e assumir a autoria da vida. Nisso reside uma nova postura que não se aplica apenas aos costumes, mas também às escolhas políticas. Foi essa nova postura que Marina Silva, na sabatina do GLOBO, destacou: “O mundo está mudando, existe um novo sujeito político que quer papel de autor.” Filha da floresta, talvez tenha ouvido essa germinação, o que explicaria a esperança que suscita.

A questão moral que deveria ocupar o proscênio nessa eleição, porque há anos revolta a sociedade, não é o comportamento privado, dos gays, das mulheres, dos que usam drogas. É a deslavada corrupção que se instalou no Brasil como instrumento de governo. Essa sim, obscena e imoral, porque predadora do dinheiro público, tem que ser criminalizada nos atos e não apenas em declarações de princípio.

É esse mundo sombrio que o debate sobre moral deve iluminar. Possam os gays amar em paz. Socorram-se, nas melhores condições, as mulheres em desespero. Que sejam acolhidos os que se perderam nas drogas. Guarde-se a prisão para os verdadeiros bandidos.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/questoes-morais-13925094#ixzz3DJGq7hu8

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Incômodo real...


O medo como método

O sociólogo Manuel Castells, um dos maiores especialistas em redes sociais, diz que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe. Os recursos da moderna propaganda estão sendo usados à exaustão nesta campanha para explorar as descobertas mais recentes da neurociência, que já definiu que o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão.

Mais uma vez o PT apela para um esquerdismo canhestro para tentar barrar a caminhada da hoje adversária Marina Silva, assim como fez com os candidatos do PSDB em pleitos anteriores. A privatização já foi o argumento da vez, mas como o próprio governo petista teve que privatizar portos, rodovias e aeroportos para destravar os investimentos, achou-se outro bode expiatório contra Marina, como o Banco Central autônomo ou o petróleo do pré-sal.

Sempre aparentando uma estratégia de esquerda, uma suposta defesa dos desvalidos, o que o PT faz é explorar o medo das camadas menos informadas da população criando fantasmas contra seus adversários. O fenômeno mais interessante desta eleição é a troca de posições entre os candidatos do PSDB e do PSB, com Marina Silva concretizando todos os projetos estratégicos previstos por Aécio Neves quando da campanha ainda participava o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Contando com o esquema partidário do PSDB, bem mais capilarizado que o do PSB, Aécio pretendia neutralizar a força do PT no nordeste com boas votações em Estados daquela região onde a oposição se fortalecera depois da eleição de 2010, como Bahia e Ceará, além de contar com a vitória natural de Campos em Pernambuco.

Se em 2010 a presidente Dilma elegera-se com uma votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirara mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no segundo turno, este ano alterações importantes indicavam que a votação naquelas regiões poderia ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que Dilma continuasse com vantagens.

A entrada de Marina Silva na disputa, devido à morte trágica de Eduardo Campos, fez com que se concretizasse a mudança de quadro nas votações, mas a favor dela. Dilma, que teve uma média de 70% dos votos do nordeste em 2010, neste momento está com 47%, enquanto Marina tem 31%. Aécio está com a mesma votação que Serra teve em 2010: 8% dos votos nordestinos.

Em Pernambuco, Marina manteve a maioria dos votos de Campos e lidera com 45%, enquanto Dilma tem apenas 38%. Na Bahia, Dilma está à frente com 50%, mas na eleição de 2010 teve 67%. Em nenhum dos dois Estados, que reúnem 43% do eleitorado do nordeste, Aécio Neves está à frente, embora a coligação do DEM com o PSDB esteja vencendo a eleição para o governo na Bahia.

Na região sudeste, a presidente está com 28%, em contraponto aos 46% de votos que teve na última eleição, pois venceu em Minas. Marina hoje tem 36% dos votos do sudeste, mais que Serra em 2010, mesmo este tendo vencido em São Paulo. Marina no momento vence em São Paulo e disputa o segundo lugar em Minas com Aécio.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin pode vencer no primeiro turno. O PSDB tem vencido regularmente a eleição para presidente em São Paulo, mas desta vez quem está à frente é Marina. No Rio, onde a presidente teve uma vitória com 3,7 milhões (43,8%) no primeiro turno, e 4,9 milhões (60,5%) no segundo, a candidata Marina Silva lidera as pesquisas, impossibilitando que a presidente Dilma repita sua performance.

O esquema partidário paralelo que o candidato Aécio Neves montou com dissidentes da base aliada do governo do Estado, que rejeitaram o apoio do PT a Lindbergh Farias, não está funcionando a seu favor. No Sul, a presidente Dilma caiu de 43% para 35%, e tem a mesma votação que Serra teve em 2010. Marina tem 28%, enquanto Aécio mantém 20%.

Mais um exemplo de que as alianças feitas não estão alavancando Aécio: no Rio Grande do Sul, a senadora do PP Ana Amélia vence para o governo do Estado, mas Aécio está em terceiro lugar. Marina atualizou seu programa de governo, em especial na parte econômica, e encontrou semelhanças com o eleitorado do PSDB, o que facilitará uma transferência de votos no segundo turno.

O PT, por seu lado, conseguiu dar à campanha o tom de confrontação radicalizada que lhe propício. Marina terá que contar com a organização partidária dos aliados da oposição para fazer frente à máquina partidária petista no segundo turno.

SOBERBA INGÊNUA E INÓCUA...


"Você é trouxa". Por Juliana Doretto

Na 'Visita' de hoje, Juliana, que mora em Lisboa, se encontra com jovens de boa família e péssima educação

O bumbo da discórdia

Domingo, 6h50. Da manhã. Eu dormia meu justo sono do fim de semana quando batidas de bumbo e outros mais me acordaram em sobressalto. Estava em São Paulo.

Olho pela janela: na praça, em frente ao meu prédio, um grupo de jovens, com gravatas afrouxadas, camisas desabotoadas e vestidos justos, é responsável pela balbúrdia.

Saíram de alguma festa de formatura e acharam por bem acordar os moradores da rua perto de sua grande universidade privada. Barulho ali é comum de madrugada, mas antes das 7 da manhã de um domingo pareceu-me um pouco demais.

Enfurecida, visto um roupão sobre o pijama e saio de casa, com chinelo de quarto e cara amassada. O porteiro me olha assustado. Atravesso a rua, e chamo a atenção, muito educadamente, dos jovens rebeldes sem causa. “Minha gente, não são nem sete da manhã. Eu trabalhei ontem, estou cansada...”

Eles estavam revoltados porque algum vizinho enfurecido como eu resolveu jogar ovos nos moços barulhentos. Acharam que tinha sido eu. Não, meus queridos: eu seria muito idiota se tivesse lançado ovos primeiro e conversado depois...

Tudo ia razoavelmente bem até que um dos fulanos pede, dentro de sua embriaguez matinal, para falar comigo: “Você quer mudar o sistema? Chama a polícia”. Ao que respondo: “Eu já cansei de chamar a polícia para conter a bagunça dessa universidade”.

(Parêntesis: há casos absurdos, em que os estudantes ocupam a rua -- uma via que dá acesso a um importante hospital --, e não deixam mais nenhum carro passar. Um PM já me disse que eles "não mexem com os estudantes, porque ali tem muito filho de juiz e advogado”)

Pois bem: estávamos na parte em que disse que já tinha tentado a polícia inúmeras vezes. E ele então me diz: “Você é trouxa”.

Sabe, caro leitor, paciência tem limite. Mas, em vez de falar “trouxa é você”, ainda me dispus a falar: “Trouxa é quem acha que o sistema não pode ser mudado”.

E a coisa esquentou. O menino quis dizer que ele podia fazer barulho, porque estudava “naquela faculdade grande ali, ó” e que fazia “pós- graduação”.

Quando respondi que tinha cursado uma universidade maior que a dele, e pública (o que pouca diferença fazia, porque ninguém é melhor que ninguém por ter estudado aqui ou ali, mas na hora foi o que saiu...), choveram vaias e gritos de “Vai casar, seu problema é falta de homem”.

Nenhum respeito pelo espaço público e pelo direito do outro. Zero bom senso. Arrogância. Machismo. E, convenhamos, certo anacronismo, porque “vai casar” foi um pouco demais.

Pela camiseta que alguns traziam por cima das camisas sociais, via-se que eles serão engenheiros civis. Que projetos farão esses profissionais? Pensarão nos danos que causarão quando arquitetarem um shopping center? Tratarão com respeito mulheres que forem suas colegas de trabalho? Tratarão com respeito os operários, que, ao contrário deles, não estudaram naquela universidade e não têm pós-graduação?

Pode-se pensar que eles ainda são crianças, imaturos, que com o tempo entenderão. Posso ser trouxa, mas acho que milagres não acontecem – pelo menos não assim. Acho que eles continuarão a achar que os outros – os que querem retidão, os que pedem consideração, os que acolhem o bom senso -- são os trouxas. E não eles mesmos. Mas, enfim, o que uma trouxa como eu pode saber, não é?

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2014/09/voce-be-trouxab-por-juliana-doretto.html

Convivência a longo prazo...



Muitas visões, uma família

Um episódio terá tantas interpretações quanto o número de integrantes da casa

Filho: Eu acordei muito rápido, mas minha mãe não parava de dizer que eu estava atrasado. Eu precisava arrumar minha mochila e tinha que levar as figurinhas repetidas para trocar. Eram muitas figurinhas. Tinha mais de mil. Peguei emprestado um saco de brinquedos da minha irmã. Coube tudo. Eu liguei a televisão porque, logo de manhã, passa um dos meus desenhos favoritos e eu nunca tinha visto aquele episódio! Nunca! Mas minha mãe deu um ataque do nada. Não deixou eu assistir até o final nem tomar o café da manhã na sala. 

Ela é muito chata. Disse que eu não ia começar logo segunda-feira assistindo TV o dia todo, porque eu tinha visto TV demais no domingo. Quando ela falou "domingo", eu lembrei que devia ter feito o dever com meu pai, mas a gente ficou assistindo futebol. Aí eu abri meu livro rapidinho e comecei a fazer a lição de Matemática, sem ela ver. Mamãe ficou nervosa comigo, porque a TV estava ligada e a lição não estava feita. Ela ficou chateada com o papai também. Daí veio minha irmã pequena e fez um desenho no meu livro de Matemática enquanto eu escovava os dentes. 

Eu não acredito que ela fez isso. Minha irmã é muito chata. E minha mãe brigou com ela também, mas não sei por quê. No  caminho para a escola, minha mãe botou a mão na minha testa e disse assim: eu não acredito que esse menino está com febre! A mão da minha mãe parece um termômetro. Só não apita. Daí ela disse "você não vai à escola", e eu respondi "legal, posso ver televisão então?" Daí minha irmã começou a chorar, dizendo que queria ver televisão também. Ela é muito engraçada, porque ainda não consegue falar televisão. Eu sempre ensino,  mas não adianta nada. A gente deixou minha irmã chorando na escola e, enquanto minha mãe não parava de mexer no celular, eu vomitei. Eca. É muito nojento vomitar, mas eu queria muito ver o fim do meu desenho favorito.

Filha:  A minha mãe me acorda rindo. Ela faz cosquinha e massagem. A minha mãe faz o meu mamá. Eu gosto quando ela bota chocolate. Eu queria todo dia, mas ela diz que tem dia de sabor de fruta. O meu pai foi trabalhar cedo, aí a minha mãe leva a gente na escola. Eu gosto de brincar de manhã com minha mãe. Ela deixa eu ajudar a fazer meu mamá. Quando ela manda a gente se arrumar, eu vou pro banheiro. Sei fazer muita coisa sozinha. Eu sou uma cientista e gosto de brincar de laboratório. Foi o meu irmão que me ensinou. Eu boto num potinho xampu, condicionador, pasta de dente, hidratante, perfume Alfazema e também algum creminho da minha mãe. Eu pego lá no banheiro dela sem ela ver. E misturo tudo. Esse creminho deixa meu cabelo penteadinho. Todo lisinho. É muito especial. Eu fico muito cheirosa para ir à escola. Hoje meu irmão não foi, só eu. Queria ver televisão com meu irmão, mas minha mãe não deixou.


Mãe: Eu gosto de acordar meus filhos fazendo massagem, cosquinha e carinho. Eles acordam bem dispostos, felizes e de alto astral. Mas tem dia que não adianta. Por mais massagem que eu faça, e por mais que eu me esforce, ninguém colabora. Hoje, por exemplo, a  gente estava sem diarista. Eu levantei mais cedo para fazer o café, preparar tudo, mas meu marido já tinha saído. Eu gosto que todo mundo se sente junto à mesa mas tem dia que não rola. Daí, enquanto eu preparava o café da manha, ia no quarto das crianças chamá-las. Massageava a perna de um, a perna da outra, o braço de um, o braço da outra. 

Coçava as costas de um, as costas da outra. O menino nem se mexia. A menor abria o olho, sorria, mas mudava de ideia em seguida, dizendo que precisava dormir.  E chorava. Como era inútil continuar chamando, fui tomar meu café sozinha até ela aparecer, querendo fazer a vitamina comigo. A pia fica toda suja, mas, mesmo com pressa não tenho coragem de dizer não. Ela adora. Enquanto Bia terminava de beber, avisei o mais velho para correr. Fui no quarto deles buscar o uniforme e encontrei um monte de brinquedos da Bia espalhados no chão. "Biaaaa!", gritei, "por que você espalhou seus brinquedos!??"


Quando dei por mim, estávamos atrasados. Catei aquela bagunça porque detesto voltar para casa e ter a impressão de que um furacão passou ali na nossa ausência. Eu queria que, ao bater a porta, todas as coisas voltassem para seus lugares, automaticamente. Gabriel estava vendo desenho na TV! Desliguei e mandei agilizar, entregando o uniforme a ele, enquanto eu penteava e escovava os dentes da pequena. Avisei Gabriel que era só o tempo de eu ficar pronta pra gente sair. Ele tem que colaborar mais, não é possível. Meu cabelo estava um horror mas não dava mais tempo de lavar e secar. Dei um jeito. Quando terminei, flagrei Gabriel fazendo o dever de casa! Na hora de sair! Meu marido tinha ficado de ver isso ontem à noite. Com raiva, mandei o primeiro torpedo do dia:

“Ótimo você não ter feito o dever com o Gabriel. Consegue imaginar a confusão agora?”
Resposta:    : /

Eu disse "Gabriel, agora não dá, vai sem fazer, estamos atrasados e eu tenho uma reunião importante". Da porta, com mochilas na mão, chamei Bia. Ela apareceu com o cabelo colado no couro cabeludo, cheirando a alfazema com menta, ou algo assim, e eu perguntei “Bia, o que aconteceu com seu cabelo?” Aí ela me diz “eu me arrumei também, mamãe. Meu cabelinho fica mais bonito com os creminhos que eu passei não fica?”. Por um instante, pensei em entrar no banho com ela, daí eu lavaria o meu cabelo também. Mas tive que me contentar com a pia para tentar tirar aquele grude, enquanto ela chorava e Gabriel me perguntava quanto era sete vezes sete.

 "Gabriel, você já devia ter decorado isso, meu filho! Não é possível". Depois ele me perguntou quanto era oito vezes sete e, enquanto Bia chorava como se eu a estivesse torturando, gritei 54, 52, aí tive que ouvir dele “Você já devia ter decorado isso, mamãe, é 56”. No caminho, enquanto Bia andava saltando obstáculos imaginários, achei Gabriel muito parado. Botei a mão na testa e, bingo, estava com febre. Genial, pensei, genial essa segunda-feira. Enquanto tentava bolar um plano, avisei que ele não poderia ir à escola, daí ele gritou “eba, vou ver televisão!” e Bia disse “eu também não quero ir” e chorou. Mandei um torpedo rápido para meu marido com o mau humor de quem não sabe o que faz e não tem ajuda de ninguém:

“Gabriel com febre. Não sei o que fazer. “
Resposta dele: “Caramba.”
“Caramba não resolve”, escrevi de volta.  “Tenho reunião”.
Bia chorando, Gabriel me perguntando se podia ver televisão, e eu pensando “esse menino está doente mesmo?
“O que você vai fazer”, me pergunta o marido, por torpedo.
“Não sei”, respondi. “E você, o que você vai fazer?”, retruquei, exalando irritação.
“Sou eu que vou dizer no trabalho de novo que tive um problema com a família ou será que você já contou para o seu chefe que você tem filhos?”. Mandei.
Deixei Bia chorando na sala de aula. Voltei.
“Você está irritada”, diz o último torpedo dele.

Foi quando Gabriel vomitou. Vi o brilho daquele olhar infantil sempre cheio de energia evaporar. “Estou enjoado, mamãe”. "Vai passar", eu disse, "vamos para casa". “Tá ruim...quero ir ao banheiro”. Então eu parei de brigar com meu marido e liguei para o pediatra. "Ele nos receberá mais tarde", aviso ao Gabriel. "Também podemos ver desenho juntos", sugeri, mas o esboço de um sorriso não me convenceu. Mandei uma mensagem. “Amor, Gabriel não tá bem”. Ele respondeu: “Vou sair mais cedo. A culpa não é minha”. Esqueci da reunião.

Pai: Eu saio bem cedo de casa, antes de todo mundo levantar, para não pegar engarrafamento. Meu trajeto é infernal. Tenho também a esperança de chegar mais cedo em casa, mas minha mulher tem razão: a gente só tem hora de entrar. Eu e minha mulher nos revezamos. Tem dias que é tudo comigo, tem dias que é tudo com ela, e tem dias que temos ajuda da empregada. Mas tem dias que a empregada falta, eu tenho reunião, ela também e um filho aparece com febre. Hoje ela acordou da pá virada. 

Ficou irritada porque esqueci o dever. Eu faço sempre. Foi só hoje. A gente assistiu ao jogo juntos, ontem, depois todos jantamos reunidos e quando acabou já era hora das crianças dormirem. De manhã ela me ligou da rua desesperada, porque não podia se atrasar e quase me xingou por que eu perguntei o que ela ia fazer. 

O que eu podia fazer de longe, no exato momento em que o torpedo dela chegou? Nada. A gente não tinha com quem deixá-lo e nem sabia o que havia por trás da febre. Era um rotavírus. Gabriel teve que tomar soro e ficou dois dias internado. Perdeu três quilos. Nosso filho nunca tinha passado por isso. Dormi com ele no hospital e não fui trabalhar. Tem dias que tudo dá errado.

ALERTA AOS PRETENDENTES...

Urologista condenada por cortar pênis de ex-noivo volta a clinicar em MG

A médica Myriam Priscilla de Rezende Castro, 34, foi condenada por mandar corta o pênis do ex-noivo

A médica Myriam Priscilla de Rezende Castro, 34, foi condenada por mandar corta o pênis do ex-noivo

A médica Myriam Priscilla de Rezende Castro, 34, condenada a seis anos de prisão no regime semiaberto por ter mandado cortar o pênis do ex-noivo, que desistiu do casamento três dias antes da cerimônia, está clinicando em hospital da região metropolitana de Belo Horizonte há dois meses.

A especialidade da médica é a urologia, que trata do aparelho urinário de homens e mulheres e do aparelho genital masculino. Ela foi condenada por lesão corporal gravíssima.

De acordo com a Seds (Secretária de Defesa Social de Minas Gerais), Myriam cumpre sua sentença na penitenciária feminina Estevão Pinto, no Horto, em Belo Horizonte, desde abril deste ano, e teve permissão da Justiça para sair para trabalhar no início de junho. O nome do hospital não foi divulgado pela secretaria.

O UOL não localizou os advogados da médica para confirmar o seu trabalho na clínica. À época de sua condenação pelo crime, ocorrido há 12 anos, ela não sofreu sanções profissionais.

O crime ocorreu em Juiz de Fora (a 278 km de Belo Horizonte), em 2002. A médica foi condenada em abril de 2009, mas não foi presa imediatamente em razão dos diversos recursos impetrados pelos seus advogados.

Ela só veio a ser presa em abril deste ano, em Pirassununga (a 211 km de São Paulo), após expedição de mandado da prisão pela Justiça.

De acordo com o processo, à época do rompimento do casamento, a médica se revoltou com o ex-noivo e passou a ameaçá-lo. Ele teve sua casa e um automóvel incendiados.

Em seguida, ainda de acordo com o processo, Myriam, com a ajuda do pai, que também foi condenado, teria contratou dois homens para mutilar o ex-noivo. Devido a um AVC (Acidente Vascular Cerebral) durante o julgamento, o pai cumpre pena em regime domiciliar.

Segundo o Ministério Público, no dia do crime, a vítima foi dominada por dois homens dentro do apartamento onde morava. Conforme a denúncia, os autores da agressão se passaram por técnicos de uma empresa de telefonia. O irmão da vítima também foi agredido.

O MP disse que os dois foram dominados, amarrados e ainda teriam sido obrigados a cheirar éter. Parte do pênis da vítima foi cortada e levada como prova da execução do serviço. Um dos executores está preso.

"Os executores usaram uma faca para cortar o pênis do rapaz e fizeram questão de dizer que estavam agindo a manda da ex-noiva e do pai dela na ocasião", informou a PC (Polícia Civil) de Minas Gerais à época da prisão da médica.

O ex-noivo sobreviveu e vive de maneira anônima. No processo que condenou a médica, não houve a participação de advogados que atuassem em seu nome.


http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2014/08/30/urologista-condenada-por-cortar-penis-de-ex-noivo-volta-a-clinicar-em-mg.htm

Mais uma etapa superada...