O medo como
método
O sociólogo Manuel Castells, um dos maiores
especialistas em redes sociais, diz que o medo é a emoção primária fundamental,
a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.
Os recursos da moderna propaganda estão sendo usados à exaustão nesta campanha
para explorar as descobertas mais recentes da neurociência, que já definiu que
o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão.
Mais uma vez o PT apela para um esquerdismo
canhestro para tentar barrar a caminhada da hoje adversária Marina Silva, assim
como fez com os candidatos do PSDB em pleitos anteriores. A privatização já foi
o argumento da vez, mas como o próprio governo petista teve que privatizar
portos, rodovias e aeroportos para destravar os investimentos, achou-se outro
bode expiatório contra Marina, como o Banco Central autônomo ou o petróleo do
pré-sal.
Sempre aparentando uma estratégia de esquerda, uma
suposta defesa dos desvalidos, o que o PT faz é explorar o medo das camadas
menos informadas da população criando fantasmas contra seus adversários. O
fenômeno mais interessante desta eleição é a troca de posições entre os
candidatos do PSDB e do PSB, com Marina Silva concretizando todos os projetos
estratégicos previstos por Aécio Neves quando da campanha ainda participava o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Contando com o esquema partidário do PSDB, bem mais
capilarizado que o do PSB, Aécio pretendia neutralizar a força do PT no
nordeste com boas votações em Estados daquela região onde a oposição se
fortalecera depois da eleição de 2010, como Bahia e Ceará, além de contar com a
vitória natural de Campos em Pernambuco.
Se em 2010 a presidente Dilma elegera-se com uma
votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirara mais de 11 milhões de
votos de diferença para o candidato tucano no segundo turno, este ano
alterações importantes indicavam que a votação naquelas regiões poderia ser
diluída entre os três principais adversários, mesmo que Dilma continuasse com
vantagens.
A entrada de Marina Silva na disputa, devido à
morte trágica de Eduardo Campos, fez com que se concretizasse a mudança de
quadro nas votações, mas a favor dela. Dilma, que teve uma média de 70% dos
votos do nordeste em 2010, neste momento está com 47%, enquanto Marina tem 31%.
Aécio está com a mesma votação que Serra teve em 2010: 8% dos votos
nordestinos.
Em Pernambuco, Marina manteve a maioria dos votos
de Campos e lidera com 45%, enquanto Dilma tem apenas 38%. Na Bahia, Dilma está
à frente com 50%, mas na eleição de 2010 teve 67%. Em nenhum dos dois Estados,
que reúnem 43% do eleitorado do nordeste, Aécio Neves está à frente, embora a
coligação do DEM com o PSDB esteja vencendo a eleição para o governo na Bahia.
Na região sudeste, a presidente está com 28%, em
contraponto aos 46% de votos que teve na última eleição, pois venceu em Minas.
Marina hoje tem 36% dos votos do sudeste, mais que Serra em 2010, mesmo este
tendo vencido em São Paulo. Marina no momento vence em São Paulo e disputa o
segundo lugar em Minas com Aécio.
Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin pode
vencer no primeiro turno. O PSDB tem vencido regularmente a eleição para
presidente em São Paulo, mas desta vez quem está à frente é Marina. No Rio,
onde a presidente teve uma vitória com 3,7 milhões (43,8%) no primeiro turno, e
4,9 milhões (60,5%) no segundo, a candidata Marina Silva lidera as pesquisas,
impossibilitando que a presidente Dilma repita sua performance.
O esquema partidário paralelo que o candidato Aécio
Neves montou com dissidentes da base aliada do governo do Estado, que
rejeitaram o apoio do PT a Lindbergh Farias, não está funcionando a seu favor.
No Sul, a presidente Dilma caiu de 43% para 35%, e tem a mesma votação que Serra
teve em 2010. Marina tem 28%, enquanto Aécio mantém 20%.
Mais um exemplo de que as alianças feitas não estão
alavancando Aécio: no Rio Grande do Sul, a senadora do PP Ana Amélia vence para
o governo do Estado, mas Aécio está em terceiro lugar. Marina atualizou seu
programa de governo, em especial na parte econômica, e encontrou semelhanças
com o eleitorado do PSDB, o que facilitará uma transferência de votos no
segundo turno.
O PT, por seu lado, conseguiu dar à campanha o tom
de confrontação radicalizada que lhe propício. Marina terá que contar com a
organização partidária dos aliados da oposição para fazer frente à máquina
partidária petista no segundo turno.
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