Entenda
porque o Estado Islâmico usa técnicas tão brutais
Para militantes, a violência extrema é uma decisão
consciente de aterrorizar os inimigos, além de impressionar seus jovens
recrutas
Decapitações, crucificações, apedrejamentos e
genocídios são práticas recorrentes de grupo radical
A terceira decapitação divulgada em vídeo nas
últimas semanas pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), no sábado, trouxe
mais uma vez à tona a pergunta: por que os militantes são tão cruéis?
Nos últimos meses, foram divulgados relatos e até
vídeos de decapitações, crucificações, apedrejamentos, genocídios e
sepultamento de vítimas vivas nas regiões que dominam no Iraque e na Síria.
Enquanto forças de quase 40 países se preparam para
lançar uma ofensiva militar contra o EI, liderada pelos Estados Unidos, muitos
tentam entender o que está por trás da selvageria dos jihadistas.
Para os militantes, a violência extrema é uma
decisão consciente de aterrorizar os inimigos, além de impressionar e cooptar
seus jovens recrutas.
O Estado Islâmico é adepto da doutrina de guerra
total sem limites e restrições – não há, por exemplo, arbitragem ou
transigência quando se trata de solucionar disputas mesmo com rivais sunitas.
E, ao contrário da organização que lhe deu origem,
a al-Qaeda, o EI não recorre à teologia para justificar os crimes.
A violência tem suas raízes no que pode ser
identificado como "duas vertentes", segundo a escala e a intensidade
da brutalidade.
A primeira, liderada por discípulos de Sayyid Qutb
– um islamita egípcio radical considerado o teórico supremo do jihadismo
moderno -, tinha como alvo regimes árabes seculares pró-Ocidente ou o que
chamavam de "inimigo próximo", e, no geral, demonstrava moderação no
uso da violência política.
Após o assassinato do presidente egípcio Anwar
Sadat, em 1980, essa insurgência islamita se dissolveu até o final dos anos 90
ao custo de 2 mil vidas. Muitos dos militantes haviam seguido para o Afeganistão
nos anos 80 para combater um novo inimigo global – a União Soviética.
'Máquina mortífera'
A jihad ("guerra santa") afegã contra os
soviéticos deu origem à segunda vertente que, mais tarde, ganhou um alvo
específico – o "inimigo distante": os Estados Unidos, e em menor
grau, a Europa.
Essa segunda onda foi encabeçada por um
multimilionário saudita que virou revolucionário, Osama Bin Laden.
Bin Laden fez um grande esforço para racionalizar o
ataque da al-Qaeda aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, chamando-o de
"jihad defensiva", ou retaliação contra a dominação americana das
sociedades muçulmanas.
Consciente da importância de arrebanhar corações e
mentes, Bin Laden enviou sua mensagem aos muçulmanos e até a americanos como
uma espécie de auto-defesa, e não agressão.
Esse tipo de justificativa, no entanto, não tem
relevância para o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, que não parece se importar
com o que o mundo pensa da sanguinolência dos ataques do grupo.
Em contraste às duas primeiras vertentes, o EI professa
ação violenta sem qualquer preceito teórico ou teológico e em nenhum momento
demonstrou ter um repertório de ideias que sustente e nutra a sua base social.
Trata-se de uma máquina de matar alimentada por sangue e armas.
Indo além da doutrina de Bin Laden de que
"quando as pessoas veem um cavalo forte e um cavalo fraco, por natureza
vão escolher o mais forte", a vitória por meio do terrorismo de
al-Baghdadi indica a amigos e inimigos que este é um "cavalo
vencedor".
"Saia do caminho ou você será esmagado;
junte-se a nós e faça história" parece ser o lema do EI.
Evidências cada vez mais fortes mostram que, nos
últimos meses, centenas senão milhares de antigos e obstinados inimigos do EI,
como a Frente al-Nusra e a Frente Islâmica, responderam ao chamado de
al-Baghdadi.
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