Joelma calada é uma poeta
Para quem conhece Joelma, a voz da Banda Calypso, não foi uma
surpresa a entrevista que deu ao jornalista Bruno Astuto da revista Época. Entre
um assunto e outro, a cantora afirmou que se tivesse um filho gay “lutaria até
a morte para fazer sua conversão”. Não contente em falar na tal “cura” ainda
fez uma comparação tão absurda que até Deus deve ter ruborizado. “Já vi muitos
se regenerarem. Conheço muitas mães que sofrem por terem filhos gays. É como um
drogado tentando se recuperar”.
Mas é isso, não foi uma surpresa porque Joelma é reincidente no assunto
preconceito. Em agosto do ano passado, um vídeo amador flagrou a cantora
conversando com um fã gay e soltando pérolas como “[Você] vai se converter, vai
virar homem, vai casar, ter filhos, vai dar muita alegria para o seu pai e sua
mãe”. O fã ainda dá um belo troco – “Eu já dou, do jeito que sou” -, mas Joelma
não quer nem saber.
Agora, diante da explosiva (e, felizmente, negativa) repercussão de suas
palavras no final de semana , Joelma soltou um comunicado
oficial com a velha desculpa que foi mal interpretada, que suas
palavras foram distorcidas, aquela coisa toda. Até poderia ser verdade, pois
existem jornalistas que são tão canalhas quanto ela é preconceituosa, mas esse
vídeo do ano passado e suas declarações posteriores (“Conviver com o erro da
pessoa é uma coisa, mas incentivar o erro é errado” ou “Falei em cura porque
diversos fãs já me disseram que se livraram do homossexualismo”) confirmam que
é isso mesmo que ela pensa. No domingo, em meio ao fogo cruzado, ela até
retuitou um fã que disse o seguinte: “Tô contigo na sua opinião sobre os gays.
Também acho que ser gay é fogo no cu. Homem nasce pra ser homem e mulher pra
ser mulher.” Para bom entendedor...
E a liberdade de expressão (gritam seus fãs)? Bem, ela tem todo o
direito de falar o que quer, mas também precisa arcar com as consequências de
seus atos e falas. Isso é uma democracia. Ninguém é obrigado a aceitar ou
gostar de homossexuais ou pitboys ou comediantes de stand up, mas é preciso
respeitá-los. Os evangélicos e católicos não
são obrigados a aceitar o casamento igualitário (civil), mas nosso Estado é
laico e nenhuma religião tem o direito de se meter nesse assunto. É isso que
pessoas nocivas como os deputados Marco Feliciano e Jair Bolsonaro não
conseguem colocar em suas cabecinhas.
Pode ser que agora esteja acontecendo uma nova onda conservadora (eu
acho que é a mesma de sempre, só mais organizada e com microfone na mão, graças
a uma imprensa que vive de “polêmicas”), mas também existe uma reação
progressista. O médico da família brasileira, Dr. Dráuzio Varella, disse em artigo que
“mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável
quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido
de forma exemplar, como alguns países fazem com o racismo”. Entendeu Joelma ou
quer que Camilla Uckers explique?
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