domingo, 27 de outubro de 2013

Trem desgovernado...

O mau exemplo dos professores: greve longa e protestos violentos para pressionar governo podem abrir precedentes

Médicos e guardas municipais são algumas das categorias que estão de olho nos benefícios concedidos aos educadores e querem o mesmo tratamento.
A greve dos professores do Rio de Janeiro encerrada na sexta-feira após 79 dias tira pelo menos um item da extensa pauta de manifestações dos protestos da cidade. Mas isso não quer dizer que os atos na porta da Câmara dos Vereadores vão se enfraquecer. Pelo contrário. A pressão dos educadores ganhou tanta repercussão e o apoio em massa da população que os benefícios alcançados – apesar de não ser exatamente o que eles queriam – começaram a despertar interesse de outras categorias. Médicos e guardas municipais já procuraram o presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), para lembrar que eles também esperam melhores condições de trabalho.

Os encontros ocorreram há cerca de um mês, coincidindo com os momentos mais tensos dos protestos de professores, como o dia da invasão ao Legislativo municipal para barrar a votação do Plano de Cargos e Salários encaminhado pelo prefeito Eduardo Paes. Felippe diz que ainda não recebeu uma pauta concreta de reivindicações, mas os vereadores admitem que a movimentação era esperada. O que eles temem, agora, é que o movimento dos educadores – que chegaram a apoiar abertamente os black blocs, responsabilizados pelos vandalismos em atos de todo o país – abra um precedente para outros profissionais. O problema é seguir a parte ruim do exemplo, como a que fez do Centro da cidade um cenário de guerra.

A categoria que mais preocupa no momento é a dos médicos, que teve o corporativismo inflado desde o lançamento do programa Mais Médicos, do governo federal, que facilitou a vinda de estrangeiros para trabalhar no Brasil. “A presidente Dilma Rousseff acabou por unir mais categoria”, confirma o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Sidnei Ferreira. As reivindicações são antigas, mas nunca ganharam a mesma adesão popular como as dos professores. Há pelo menos dez anos, eles pedem um Plano de Cargos e Salários e a abertura de concursos públicos. Agora, eles veem na recente ebulição nas ruas uma chance de engrossar seu coro.

Remuneração - Salário é uma questão chave e, assim como no caso dos professores, a que deve causar mais divergências. O Cremerj defende piso salarial de 10.800 reais para uma jornada de 20 horas semanais na rede pública. Segundo Ferreira, esse valor fica em torno de 3.000 na capital hoje. Para os profissionais de 40 horas semanais, o conselho aponta como remuneração ideal 20.000 reais - podendo chegar a 26.000, ao fim da carreira, para o esquema de dedicação exclusiva. Para Felippe, os valores não são razoáveis, uma vez que ultrapassam em muito o salário médio do brasileiro, de 4.135,06 reais para quem tem ensino superior completo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O pleito dos médicos é o da população que foi às ruas reclamar da qualidade do transporte, da educação e da saúde”, destaca o presidente do Cremerj. “Então, o governo federal mostrou que não tinha um plano nacional para saúde. A solução foi dizer que os médicos não queriam ir para o interior. A questão não é essa. Não há médico nesses hospitais, porque não é realizado concurso público”, completa, referindo-se à justificativa usada para implantar o programa Mais Médicos. “Espero que a população entenda a nossa pauta e também apoie o nosso movimento, que, nesses dez anos, não parou”, pede Ferreira.

Os professores das redes estadual e municipal entraram em greve no dia 8 de agosto. O pedido era por um plano de cargos e salários, com aumento imediato da remuneração. Foram feitas diversas passeatas pacíficas no Centro do Rio - black blocs não eram bem-vindos nos atos convocados pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe). A partir da paralisação, a prefeitura abriu as negociações com os educadores do município. Representantes do Sepe se reuniram diversas vezes com os secretários municipais da Educação, Claudia Costin, e da Casa Civil, Pedro Paulo. O prefeito Eduardo Paes participou de alguns encontros – todos registrados em atas e com a assinatura de professores e de representantes da prefeitura.

E agora Arnaldo?

Capa - Edição 805 (home) (Foto: ÉPOCA)
A vida dele vale tanto quanto a sua?
Explode no Brasil a violência que opõe os defensores de testes científicos com animais àqueles que querem proteger os bichos a todo custo.

Um dos cientistas mais brilhantes do planeta, o britânico Colin Blakemore começou sua carreira fazendo algo que a muitos pareceria uma inadmissível crueldade: ele costurava os olhos de gatinhos recém-nascidos. Fez isso por anos em seu laboratório na Universidade de Oxford, onde é hoje professor de neurociência. Ele privava totalmente os bichinhos da visão para observar como se comportaria, nessas condições, uma parte específica do cérebro deles, o córtex. 

A pesquisa foi fundamental para entender a forma mais comum de cegueira infantil, a ambliopia, e ajudar a preveni-la. Estima-se que existam no mundo 15 milhões de crianças menores de 5 anos de idade com essa doença. A partir da observação do desenvolvimento do cérebro dos gatinhos, Blakemore também ajudou a revelar a capacidade de as conexões nervosas se reorganizarem. 

Conhecido como “plasticidade cerebral”, esse conceito ajuda a entender por que pessoas que sofreram algum tipo de lesão neurológica, como um derrame, recuperam a capacidade de se movimentar e falar. A plasticidade também explica como se forma a memória e como aprendemos a ler e escrever.

Pela importância das duas descobertas, Blakemore se tornou um dos mais poderosos e respeitados cientistas do mundo. Ao mesmo tempo, virou a figura mais odiada pelos ativistas dos direitos animais do Reino Unido. Sua vida tornou-se um pesadelo. Passou a receber pacotes de falsas bombas endereçadas a seus filhos. 

Era constantemente abordado e insultado na rua por ativistas mascarados. Outros, com e sem máscara, se reuniam diariamente em frente de seu portão e hostilizavam sua família. Sua mulher teve depressão e tentou suicídio. Blakemore foi acusado por uma vizinha de roubar seu gato e guardá-lo no congelador de sua geladeira. Por causa das ameaças de invasão para resgatar o tal gato, Blakemore obteve na Justiça uma ordem que a mantém a 100 metros distante de sua casa. 

Certa vez, jogaram um produto químico em seu carro e atingiram o gato que pertencia a seus filhos, causando queimaduras severas. Por mais de uma década, os ataques foram constantes. Hoje, diminuíram. Sua casa, ainda, tem botões de pânico, fechaduras triplas e um quarto secreto, onde ele pode se esconder com a família em caso de invasão.

Grupos radicais que afirmam defender os direitos dos animais e usam táticas terroristas para passar seu recado são comuns na Europa e nos Estados Unidos há pelo menos duas décadas. O britânico Frente pela Libertação dos Animais (ALF, na sigla em inglês) é um dos mais violentos. Um de seus principais ativistas, Greg Avery, está preso desde 2009, com uma sentença de nove anos, por ter articulado uma campanha de intimidação criminosa contra um laboratório de testes farmacêuticos. 

Os ataques eram feitos contra os funcionários e seus familiares. Seu grupo chegou a mandar cartas anônimas para vizinhos de um cientista, “denunciando-o” como pedófilo. A ALF pode ser considerada a grande inspiradora do ataque recente ao Instituto Royal, em São Paulo, um dos cinco centros de referência brasileiros para pesquisas de medicamentos em animais.

Na madrugada do dia 18, sexta-feira, diante dos olhos complacentes da polícia, os ativistas entraram no prédio do Instituto Royal, no município de São Roque, e soltaram 178 cães da raça beagle, usados em testes de remédios para doenças como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia. Também levaram sete coelhos. Eles afirmam que os animais sofriam maus-tratos – o Instituto Royal nega. As pesquisas feitas ali estavam dentro das leis e dos protocolos científicos estabelecidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. 

Com os bichos, sumiram documentos e pen drives com dados dos experimentos. O laboratório foi depredado. Os invasores quebraram equipamentos caros e jogaram substâncias usadas nas pesquisas no chão. “Nunca vi nada parecido em 30 anos de ciência”, afirma João Henriques, diretor científico do Royal. “Testávamos medicamentos para o bem-estar humano, e, agora, uma década de trabalho foi perdida.” 

O médico Marcelo Marcos Morales, coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, afirmou o seguinte sobre o episódio: “Um trabalho que demorou anos para produzir foi jogado no lixo. O prejuízo é incalculável para a ciência e para o benefício humano”.

O caso do Instituto Royal não foi o primeiro ato de violência dos defensores de animais no Brasil. A ALF se gaba de ter invadido no passado laboratórios da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Santa Catarina. No primeiro, para sabotar pesquisas sobre malária. No outro, impedindo experimentos com animais para tratamento de tuberculose. No mundo todo, a ALF contou 224 ações pró-animais em 2012. Neste ano, ocorreram 192. 

O site Bite Back (Morda de volta) acompanha o avanço da guerrilha contra a ciência a partir de um site hospedado na Malásia, onde a Justiça ocidental não pode atingir seus editores.

O assalto às instalações do Instituto Royal, que parece ser mais um eco da onda de manifestações violentas que varrem o país desde junho, fez desembarcar no Brasil, com barulho, uma discussão ética e científica que pode ser resumida numa única pergunta: é correto usar animais em experimentos para salvar vidas humanas? A resposta, embora nem todos a enxerguem com clareza, é: sim – sem sombra de dúvida.

Consequência da ausência de planejamento...

A classe média vai ao inferno
As metrópoles se tornaram ambientes hostis a qualquer um que precise se deslocar.
Era uma vez o sonho de morar na grande cidade. O paraíso das oportunidades, do emprego bem remunerado, do hospital equipado e do acesso mais amplo aos serviços públicos. O centro do lazer cultural e do bem-estar. A promessa da mobilidade social e funcional.

A metrópole virou megalópole e, hoje, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram ambientes hostis ao cidadão de qualquer classe social que precise se deslocar da casa para o trabalho. As “viagens” diárias dificultam conciliar família e profissão. Os serviços públicos são muito ruins. E o transporte coletivo – negligenciado por sucessivos governos como “coisa de pobre” – é indigno.

Hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos, e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que chegariam ao paraíso. Ficaram presos no congestionamento.

Quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa, com base em dados de 2012, revela que os muito pobres e os muito ricos gastam menos tempo no deslocamento casa-trabalho do que a classe média. 

Os ricos, porque podem morar perto do trabalho – sem contar os milionários e os governadores, que andam de helicóptero. Os muito pobres, sem dinheiro para a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento. Como não se investiu em trem e metrô – muito menos em sistemas inteligentes de transporte –, estouramos os limites da civilidade. E que se lixem os impactos ambientais, a poluição e a rinite.

Nesse cenário, qualquer falha, incidente, obra, desastre ou atropelamento transforma o caos “normal” em catástrofe. Tombou a carreta? O ônibus atropelou o ciclista? O trem sofreu pane? O bueiro explodiu? O cano estourou? A linha de nosso reduzido metrô enguiçou? O asfalto cedeu? Os motoristas de ônibus pararam por melhores condições? Pronto, não se chega mais a lugar nenhum. Até os atalhos se tornam sucursais do inferno.

Hordas de passageiros brigam para entrar num vagão, derrubam idosos, não têm cuidado com as crianças e as grávidas. Alguns se transformam em Black Blocs sem máscaras e depredam. Motoristas se fecham e se xingam uns aos outros. Esse cotidiano penoso torna o cidadão ao lado um inimigo, um adversário. É preciso chegar à frente dele, roubar seu lugar.

Vivemos uma situação de guerrilha urbana diária, provocada pela falta crônica de planejamento e a ausência de investimentos públicos em serviços de qualidade. Governos sucessivos erraram nas prioridades e no modelo de desenvolvimento. Somos o país da improvisação e precipitação.

“Investir em transporte de massa, em trem e metrô, criar sistemas articulados e decretar o fim do império do automóvel particular é uma providência imediata”, afirma o urbanista Augusto Ivan, nascido em Minas e radicado no Rio. “Quando surgiu, o automóvel era chamado ‘carro de passeio’. Deveria voltar a ser apenas isso. Só assim mudaremos o cenário pavoroso de congestionamento. Precisamos taxar a circulação de carros em áreas mais conflagradas, a exemplo da Inglaterra, que estipulou uma ‘congestion charge’. É simples: ou paga para circular ou não entra.”

O urbanista e vereador Nabil Bonduki (PT-SP) calcula que, para melhorar minimamente a circulação em São Paulo, “seria preciso retirar 25% dos carros das ruas”. Não dá para fazer isso sem criar um transporte coletivo de qualidade. “Nem falo apenas de unidades de trens, metrôs e ônibus. Mas de um sistema, que inclui até calçadas e iluminação, além de conexão. Um sistema que a população considere seguro e confortável.” A aglomeração excessiva em cidades segregadas, um fenômeno típico de Terceiro Mundo, obriga a longos deslocamentos. “Da porta para dentro de casa, a classe média melhorou muito de vida. Mas o espaço público não acompanhou a melhoria.”

As grandes cidades brasileiras deixaram de ser cidades há muito tempo, diz o urbanista Luiz Carlos Toledo. “Hoje são conglomerados metropolitanos com problemas estruturais. Nossas grandes cidades estão parando. A ponta do iceberg são os engarrafamentos, mas, como nas montanhas de gelo, o buraco está literalmente mais embaixo, onde passam os canos que nos abastecem de água, retiram o esgoto das nossas casas e recebem as águas pluviais. 

Tudo isso, e não só a mobilidade, está indo para o buraco pela cegueira dos governantes, pela ganância dos especuladores e por todos nós, que acreditamos que existirá sempre um jeitinho para corrigir esses problemas, ou tempo para uma mudança de rumos.” É o que diz Toledo – e eu assino embaixo.  

Bando de cretinos...


Traduza-se black bloc para português: bandido
 
Centro de São Paulo, noite de sexta-feira (25/10): mais depredação e muito mais violência.

Em junho, quando as ruas ferveram, eles eram chamados de “minoria de vândalos”. Infiltravam-se nos protestos e, do meio para o final, transformavam pacíficas manifestações em surtos de desordem. Eles eram poucos. Mas foram ganhando a adesão de uma legião de desocupados. Gente que enxergou na algazarra uma oportunidade para realizar saques e pequenos furtos.

A violência foi ganhando ares de rotina. Eles investiam contra policiais e jornalistas, incendiavam ônibus, depredavam estações de metrô, atacavam agências bancárias, destruíam caixas eletrônicos, estilhaçavam vitrines de lojas, lançavam coquetéis molotov em prédios públicos… Aos pouquinhos, foram migrando dos rodapés de página para as manchetes.

Com o passar dos dias, verificou-se que eles macaqueavam ativistas europeus e americanos. Imitavam-nos nas vestes, no gestual e nos métodos. Ganharam apelido chique: black blocs. E a destruição passou a ser justificada como “protesto consciente de inspiração anarquista”. Supremo paradoxo: disfarçados de inimigos do capitalismo, estudantes bem-nascidos tornaram-se um estorvo para a gente simples das cidades.

Exaltados pela imprensa dita alternativa, do tipo Ninja, eles ganharam a cena. Intimidada, a polícia assistiu, por vezes passivamente, ao recrudescimento da violência. Amedrontada, a rapaziada pacífica voltou para casa. O ronco do asfalto virou lamúria. Numa visita às ruas de São Paulo, os pesquisadores do Datafolha acabam de verificar que 95% dos paulistanos não suporta mais a anarquia.

Já passou da hora de definir melhor as coisas. Está nas ruas uma estudantada corpulenta, de cara coberta e violenta. Esse grupelho adquiriu o vício orgânico de tramar contra o sossego alheio. Vândalos? É muito pouco! Black Blocs? O escambau! Traduza-se para o português: bandidos, eis o que são.

Num instante em que a sociedade se escandaliza com os PMs que torturaram e mataram Amarildo numa unidade pseudopacificadora da favela do Rio, convém abrir os olhos para as atrocidades cometidas pela bandidagem que faz Bakunin revirar no túmulo. Repare nas duas cenas que se seguem:

Cena 1: A selvageria


“Pega, peeega, peeeeeega!” Estamos no centro de São Paulo, no meio de mais uma manifestação promovida pelo Movimento Passe Livre, cujo objetivo declarado é o de zerar as tarifas de ônibus, metrô e trem. É sexta-feira (25/10), 20h20.

Selvagens com os rostos cobertos cercam o coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi. Passam a agredi-lo com pauladas e pontapés. Imprensado contra uma pilastra, o soldado cai.

“Eu me recordo que eu fui projetado ao solo a partir de uma pancada na cabeça que eu levei”, Reynaldo contaria depois. No solo, ele ainda tenta proteger a cabeça com as mãos. Inútil. Intensificam-se os golpes.

Zonzo, Reynaldo se levanta. É empurrado pelas costas. À sua direita, um dos agressores o atinge com uma chapa metálica bem na cabeça. Ele corre. Os algozes o perseguem. “Na segunda onda de agressões, eu já estava perdendo um pouco a lucidez”, diria depois da surra. Foi então que, empunhando o revólver, um soldado metido em roupas civis resgata o coronel Reynaldo, livrando-o dos seus torturadores.

Cena 2: A sensatez

Já sob a proteção de seus soldados, o coronel Reynaldo faz cara de dor. Antes de se enfiar no banco traseiro da viatura policial que o levaria para o hospital, ele pronuncia uma derradeira ordem. Em meio à insensatez, o coronel diz algo sensato: “Não deixa a tropa perder a cabeça!”

Reynaldo passou a noite no hospital. No dia seguinte, com um dos braços na tipoia, ele contabilizou os prejuízos: “Eu tenho os dois omoplatas fraturados: um, integralmente; outro, parcialmente. Tenho lesões na perna, no abdômen, e tenho duas lesões na cabeça.”

Tardiamente, as polícias do Rio e de São Paulo começam a lidar com a tribo dos sem-rosto de maneira mais profissionalizada. Para evitar o moto-contínuo das prisões que duram menos de uma noite, reúnem provas que permitirão aos juízes impor aos criminosos penas compatíveis com os seus crimes.

Até Dilma Rousseff já acordou: “Agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação. Pelo contrário”, ela escreveu no Twitter. “Presto minha solidariedade ao coronel da PM Reynaldo Simões Rossi, agredido covardemente por um grupo de black blocs em SP”, acrescentou. Alvíssaras!

Quadrilha de vândalos...

95% desaprovam 'black blocs', diz Datafolha
Nada menos do que 95% dos paulistanos desaprovam a atuação dos chamados "black blocs" -manifestantes que praticam o confronto com as forças policiais e a destruição de agências bancárias, lojas e prédios públicos como forma de protesto.

É o que mostra pesquisa Datafolha feita na sexta-feira com 690 pessoas. A margem de erro máxima da amostra é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos para o total da amostra.

Na mesma sexta-feira, durante manifestação promovida pelo Movimento Passe Livre no centro de São Paulo, "black blocs" agrediram o coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi -a arma dele também desapareceu.

A ação dos vândalos incluiu a destruição de caixas eletrônicos, ônibus e de cinco cabines de venda de bilhete único, além de pichações.

Quanto maior a faixa etária, maior a reprovação aos métodos dos "black blocs".

Assim, se 87% dos jovens de 16 a 24 anos os desaprovam, entre os mais velhos (60 anos e mais) o índice atinge virtualmente a totalidade dos entrevistados (98%).

Quando se pergunta se as manifestações foram mais violentas do que deveriam ser, violentas na medida certa ou menos violentas do que deveriam ser, três quartos (76%) dos paulistanos cravam a primeira alternativa: mais violentas do que deveriam ser.

Apenas 15% julgam que os manifestantes foram violentos na medida certa e 6%, menos violentos do que deveriam ser.

O Datafolha pediu aos entrevistados que avaliassem a atuação da PM segundo os mesmos critérios. Para 42%, a polícia se excedeu. Mas 42% consideram o grau de violência adequado e 13% dizem que a polícia foi menos violenta do que deveria.

APOIO EM QUEDA

O resultado é que o apoio dos entrevistados às manifestações de rua em São Paulo desabou.

No final de junho, 89% eram favoráveis aos protestos. Em setembro, o índice já caíra para 74%. Nesta semana, são 66% os apoiadores.

Do outro lado, a taxa dos que são contrários às manifestações quase quadruplicou. Eram 8% em julho, 21% em setembro e, agora, 31%.

Apesar de focalizarem causas "dos oprimidos", como a melhoria do transporte público, as manifestações têm conseguido taxas mais altas de apoio entre os mais ricos -80% entre os que possuem renda familiar mensal de mais de cinco a dez salários mínimos e 80% dos paulistanos com renda maior do que 10 salários mínimos.

Contra os protestos disseram-se 18% dos mais ricos.

Entre os mais pobres, com renda até dois salários mínimos, a taxa de apoio aos protestos é de 54%, 26 pontos percentuais a menos do que entre os mais ricos.

Contra os protestos disseram-se 42% dos mais pobres, 24 pontos percentuais a mais do que o índice observado na parcela rica.

Ao extremo...

Homem permanece acorrentado no prédio em Santos, SP (Foto: Carolina Ramires/ G1)
'Missão cumprida', diz comerciante que protestou durante 48 horas
Homem ficou acorrentado em Santos, SP, durante dois dias.
Objetivo era conseguir a devolução de um apartamento.
Homem permanece acorrentado no prédio em Santos.
Após passar exatas 48 horas acorrentado a um prédio em Santos, o comerciante Paulo Hollender finalmente se libertou. Após dois dias de negociação com uma moradora do imóvel, Hollender, com a ajuda do advogado, conseguiu chegar a um acordo para recuperar o apartamento, que está cheio de dívidas, antes que ele seja leiloado.
Segundo o comerciante, que chegou no local na noite de quinta-feira (24), a atual moradora, que comprou o apartamento dele em 2011, mas não pagou várias parcelas, se comprometeu a devolver o imóvel na próxima segunda-feira (28). "Comi pouco nesses dias. Contei com a ajuda de muita gente. Mas minha missão está cumprida", comemorou após ter saído do local.
Protesto inusitado
O comerciante vendeu o apartamento para a atual proprietária há mais de três anos, mas a mulher, que não foi encontrada pela reportagem do G1, não pagou as parcelas combinadas e, por isso, o contrato deixou de valer. Ela também não pagou o condomínio e, por causa desses problemas, o apartamento pode ser leiloado.
Hollender veio de Jaguariúna, no interior paulista, cobrar a dívida do apartamento que foi vendido em 2010. Segundo ele, o protesto foi a única maneira que encontrou de chamar a atenção para o problema que está passando. A corrente e o cadeado foram comprados já em Santos. Paulo afirma que não possui condições financeiras de contratar um advogado e que ainda paga o aluguel do apartamento onde vive em Jaguariúna. Por isso, o rapaz entrou em desespero, com medo de perder o dinheiro que já investiu e o imóvel de Santos.
O comerciante explica que o contrato de compra e venda do imóvel foi quebrado por falta de pagamento e que, com isso, a moradora perdeu todos os direitos, mas ainda assim, permaneceu no local. As prestações do apartamento, que é financiado, estão sendo pagas por ele, mas o condomínio, que também seria obrigação da mulher, não estão. "Eu quero pagar o condomínio, senão ele vai a leilão, mas para isso ela tem que sair. A minha vontade era fazer Justiça com as próprias mãos, mas se fizesse isso, perderia a razão. Eu tenho todos os documentos que comprovam que estou certo", conclui.

Barbárie, selvageria, covardia...

'Já estava perdendo a lucidez', afirma coronel agredido em protesto em SP.
Reynaldo Simões Rossi teve lesões na perna, no abdômen e na cabeça.
Conhecido por ser o negociador, ele diz que não temeu pelo pior.
O repórter José Roberto Burnier entrevistou o coronel Reynaldo Simões Rossi. Ele contou detalhes do momento em que foi espancado. “Eu tenho os dois omoplatas fraturados: um integralmente; outro, parcialmente. Tenho lesões na perna, no abdômen e tenho duas lesões na cabeça”, conta.
O coronel narra o momento em que foi cercado. “Nós fomos surpreendidos por um grupo de vândalos, de criminosos. Eles passaram a agredir a mim e a meu policial. Eu me recordo que eu fui projetado ao solo a partir de uma pancada na cabeça que eu levei. Na segunda onda de agressões, eu já estava perdendo um pouco a lucidez", afirma.
Perguntado se temeu pelo pior, Rossi responde: "Policial militar não teme pelo pior nesse momento. Eu, assim como todos os meus 60 policiais feridos, procurei cumprir a minha parte”.
O coronel é conhecido por ser o negociador da PM nas manifestações. “Eu presumo que existe uma minoria que não quer interlocução, não quer negociação, mas existe, sim, uma maioria que em conjunto com a Polícia Militar poderia coibir a invasão desses criminosos nessas manifestações legítimas”, destaca.

Mais uma etapa superada...