O mau exemplo dos professores: greve longa
e protestos violentos para pressionar governo podem abrir precedentes
Médicos e
guardas municipais são algumas das categorias que estão de olho nos benefícios
concedidos aos educadores e querem o mesmo tratamento.
A greve dos
professores do Rio de Janeiro encerrada na sexta-feira após 79 dias tira pelo
menos um item da extensa pauta de manifestações dos protestos da cidade. Mas
isso não quer dizer que os atos na porta da Câmara dos Vereadores vão se
enfraquecer. Pelo contrário. A pressão dos educadores ganhou tanta repercussão
e o apoio em massa da população que os benefícios alcançados – apesar de não
ser exatamente o que eles queriam – começaram a despertar interesse de outras
categorias. Médicos e guardas municipais já procuraram o presidente da Casa,
Jorge Felippe (PMDB), para lembrar que eles também esperam melhores condições
de trabalho.
Os encontros
ocorreram há cerca de um mês, coincidindo com os momentos mais tensos dos
protestos de professores, como o dia da invasão ao Legislativo municipal para
barrar a votação do Plano de Cargos e Salários encaminhado pelo prefeito
Eduardo Paes. Felippe diz que ainda não recebeu uma pauta concreta de
reivindicações, mas os vereadores admitem que a movimentação era esperada. O
que eles temem, agora, é que o movimento dos educadores – que chegaram a apoiar
abertamente os black blocs, responsabilizados pelos vandalismos em atos de todo
o país – abra um precedente para outros profissionais. O problema é seguir a
parte ruim do exemplo, como a que fez do Centro da cidade um cenário de guerra.
A categoria
que mais preocupa no momento é a dos médicos, que teve o corporativismo inflado
desde o lançamento do programa Mais Médicos, do governo federal, que facilitou
a vinda de estrangeiros para trabalhar no Brasil. “A presidente Dilma Rousseff
acabou por unir mais categoria”, confirma o presidente do Conselho Regional de
Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Sidnei Ferreira. As reivindicações são
antigas, mas nunca ganharam a mesma adesão popular como as dos professores. Há
pelo menos dez anos, eles pedem um Plano de Cargos e Salários e a abertura de
concursos públicos. Agora, eles veem na recente ebulição nas ruas uma chance de
engrossar seu coro.
Remuneração -
Salário é uma questão chave e, assim como no caso dos professores, a que deve
causar mais divergências. O Cremerj defende piso salarial de 10.800 reais para
uma jornada de 20 horas semanais na rede pública. Segundo Ferreira, esse valor
fica em torno de 3.000 na capital hoje. Para os profissionais de 40 horas
semanais, o conselho aponta como remuneração ideal 20.000 reais - podendo
chegar a 26.000, ao fim da carreira, para o esquema de dedicação exclusiva.
Para Felippe, os valores não são razoáveis, uma vez que ultrapassam em muito o
salário médio do brasileiro, de 4.135,06 reais para quem tem ensino superior
completo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O pleito dos
médicos é o da população que foi às ruas reclamar da qualidade do transporte,
da educação e da saúde”, destaca o presidente do Cremerj. “Então, o governo
federal mostrou que não tinha um plano nacional para saúde. A solução foi dizer
que os médicos não queriam ir para o interior. A questão não é essa. Não há
médico nesses hospitais, porque não é realizado concurso público”, completa,
referindo-se à justificativa usada para implantar o programa Mais Médicos.
“Espero que a população entenda a nossa pauta e também apoie o nosso movimento,
que, nesses dez anos, não parou”, pede Ferreira.
Os
professores das redes estadual e municipal entraram em greve no dia 8 de
agosto. O pedido era por um plano de cargos e salários, com aumento imediato da
remuneração. Foram feitas diversas passeatas pacíficas no Centro do Rio - black
blocs não eram bem-vindos nos atos convocados pelo Sindicato Estadual dos
Profissionais da Educação (Sepe). A partir da paralisação, a prefeitura abriu
as negociações com os educadores do município. Representantes do Sepe se
reuniram diversas vezes com os secretários municipais da Educação, Claudia
Costin, e da Casa Civil, Pedro Paulo. O prefeito Eduardo Paes participou de
alguns encontros – todos registrados em atas e com a assinatura de professores
e de representantes da prefeitura.
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