Postos reajustam
preço da gasolina acima do previsto pelo governo
Em posto de Botafogo, alta chegou a 6,94%; na Tijuca, 5,27%
Para governo, repasse seria de 4% na bomba. Desde 2005, alta não chegava ao consumidor final
RIO - Menos de uma semana depois de a presidente
Dilma Rousseff anunciar uma queda de 18% nas tarifas residenciais de energia,
a Petrobras vai reajustar em 6,6% o preço da gasolina, e em 5,4% o do óleo
diesel, nas refinarias, a partir de hoje. Para o consumidor, segundo analistas,
a gasolina deve ter alta nas bombas da ordem de 4%; e o diesel, de 3%. Dos 24
postos visitados pelo GLOBO no Rio, oito já reajustaram os preços. Em dois
deles, ambos da bandeira Ipiranga, o aumento foi acima do previsto: no posto da
Rua Real Grandeza, em Botafogo, a alta foi de 6,94% (de R$ 2,898 para R$ 3,99)
e no posto da Rua Edson Passos, na Tijuca, 5,27% (de R$ 2,849 para R$ 2,999).
Desde 2005, um aumento no preço da gasolina não chegava ao consumidor final. A
falta de reajustes vinha prejudicando o caixa da Petrobras.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de
Combustíveis do Município do Rio (Sindcomb), Manuel Fonseca da Costa, cerca de
30% dos 900 postos já terão os preços reajustados hoje. Segundo ele, o repasse
ocorre devido ao baixo nível de estoques.
— Historicamente, a distribuidora repassa o aumento para os
postos — diz Costa.
Especialistas em inflação estimam que, com o reajuste da
gasolina e do diesel, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado nas
metas do governo, poderá ter um acréscimo de até 0,27 ponto percentual. Mas
este impacto será compensado pela queda na tarifa de energia, que deve reduzir
o IPCA em 0,75 ponto percentual. Na semana passada, o Banco Central estimou que
os preços da gasolina subiriam apenas 5% este ano.
Em entrevista ao GLOBO, no fim de dezembro, a presidente da
Petrobras, Maria das Graças Foster, informara que a defasagem entre o preço
praticado pela empresa para a gasolina e as cotações do produto no exterior era
da ordem de 6%. No diesel, segundo Graça, essa defasagem seria de 4%.
Esta é a primeira vez desde setembro de 2005 que o reajuste da
gasolina será repassado aos consumidores. Em 2008, 2011 e 2012, o governo usou
a Cide, taxa que incide sobre o combustível, para anular o impacto nas bombas.
Com isso, hoje, a Cide está zerada. Em julho de 2012, houve alta de 6% no
diesel, repassada para os consumidores.
Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBI),
calculou que o reajuste reforçará o caixa da estatal em torno de R$ 650 milhões
mensais. Mas destacou que não será suficiente para eliminar a atual defasagem,
que é da ordem de 15% na gasolina e 24% para o diesel:
— Não elimina a defasagem, mas ajuda muito. Finalmente o governo
federal se sensibilizou para os problemas de caixa da empresa.
A falta de reajuste nos combustíveis vinha prejudicando os
resultados da Petrobras, que chegou a registrar prejuízo no segundo trimestre
do ano passado, de R$ 1,34 bilhão. As ações da estatal vinham sofrendo fortes
perdas e, nos últimos 12 meses, o valor de mercado da companhia encolheu de R$
337 bilhões, para R$ 250,9 bilhões, levando a Petrobras a perder o posto de
maior empresa da América Latina.
Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da corretora Planner, o
aumento nos preços dos combustíveis vai ter um impacto de 0,23 ponto percentual
no IPCA, considerando que a alta da gasolina nas bombas será de 5,5%. O
impacto, diz, foi compensado pela queda nas tarifas de energia, cujo efeito
será uma redução de 0,75 ponto percentual no IPCA.
Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do
Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, acrescenta que a alta nos combustíveis será
compensada pela a redução das tarifas de energia e a desvalorização do dólar,
que, ontem, fechou abaixo de R$ 2:
— Pouco deve mudar nas expectativas de inflação do mercado, que
trabalhava com um possível reajuste de 7% no preço da gasolina.
Postos dizem que repasse será imediato
O também ex-diretor do BC José Márcio Camargo diz que a gasolina
tem um impacto relevante sobre os preços. Mas acredita que haverá pouca mudança
para a política de juros.
— É um impacto razoável, que faz diferença na inflação, mas o
que vai determinar um aumento dos juros neste ano é o comportamento dos preços
de serviços. Essa é a principal fonte de pressão — explica Camargo.
Paulo Miranda, presidente da Federação Nacional do Comércio de
Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), ressalta que, neste primeiro
momento, o aumento anunciado pela Petrobras será um pouco menor para o
consumidor final. Mas lembra que até o fim de fevereiro o repasse será integral
na bomba.
— Isso vai ocorrer no fim do próximo mês, pois os governos
estaduais vão estimar o preço médio ponderado para definir o valor do ICMS por
litro. E, como esse valor vai subir, também haverá incidência maior do imposto.
Por isso, esse reajuste será integral para o consumidor no fim das contas —
afirma Miranda.
Ele pondera que as margens brutas dos postos hoje são muito
pequenas, em torno de 9% e 10%. Por isso, completa, os revendedores não terão
como segurar o aumento:
— O repasse será imediato. Um posto ou outro pode reajustar o
preço da gasolina acima dos 6,6%, mas, como os preços são livres, a
concorrência acaba balizando os valores.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de
Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, também diz que as distribuidoras deverão
repassar integralmente o aumento para os postos, mas ainda não tem o
percentual.
— Esse reajuste era já era esperado. O aumento de preços nas
bombas será menor do que esse percentual nas refinarias, pois tem outros
componentes no preço final, incluindo 20% de álcool — destacou Alísio Vaz. (Colaboraram
Daniel Haidar e Danielle Nogueira)
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