Condições para o surgimento da Filosofia
Filosofia
A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um
conjunto de cidades-Estados (Pólis) que se desenvolveram na Península Balcânica
no sul da Europa. Por ser seu relevo montanhoso, permitiu que grupos de pessoas
(Demos) fossem formados isoladamente no interior do qual cada Pólis desenvolveu
sua autonomia.
Constituída de uma porção de
terras continental e outra de várias ilhas, bem como também em virtude da pouca
fertilidade dos seus solos, a Grécia teve de desenvolver o comércio como
principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-se do seu litoral bastante
recortado e com portos naturais, desenvolveu também a navegação para expandir
os negócios, bem como mais tarde sua influência política nas chamadas colônias.
A sociedade grega era
organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, baseado nos mitos
(narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do universo), em que a filiação à
terra natal (proprietários) determinava o poder (rei).
Esse modo de estruturar a
sociedade e pensar o mundo é comumente classificado como período Homérico
(devido a Homero, poeta que narra o surgimento da Grécia a partir da guerra de
Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram sendo percebidas e exigiram
novas explicações. Surge, então, a Filosofia. Eis os principais fatores que
contribuíram para o seu aparecimento:
- As viagens marítimas, pois
o impulso expansionista obrigou os comerciantes a enfrentarem as lendas e daí
constatarem a fantasia do discurso mítico, proporcionando a desmitificação do
mundo (como exemplo, os monstros que os poetas contavam existir em determinados
lugares onde, visitados pelos navegadores, nada ali encontravam);
- A construção do calendário
que permitiu a medição do tempo segundo as estações do ano e da alternância
entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos gregos de abstrair o tempo
naturalmente e não como potência divina;
- O uso da moeda para as
trocas comerciais que antes eram realizadas entre produtos. Isso também
favoreceu o pensamento abstrato, já que o valor agregado aos produtos dependia
de certa análise sobre a valoração;
- A invenção do alfabeto e o
uso da palavra é também um acontecimento peculiar. Numa sociedade acostumada à
oralidade dos poetas, aos poucos cai em desuso o recurso às imagens para
representar o real e surge, como substituto, a escrita alfabético-fonética,
propiciando, como os itens acima, um maior poder de abstração.
A palavra não mais é usada
como nos rituais esotéricos (fechados para os iniciados nos mistérios sagrados
e que desvendavam os oráculos dos deuses), nem pelos poetas inspirados pelos
deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto cotidiano entre os cidadãos;
- O crescimento urbano é
também registrado em virtude de todo esse movimento, assim como o fomento das
técnicas artesanais e o comércio interno, as artes e outros serviços,
características típicas das cidades;
- A criação da Política que
faz uso da palavra para as deliberações do povo (Demo) em cada Pólis (por isso,
Democracia ou o governo do povo), bem como exige que sejam publicadas as leis
para o conhecimento de todos, para que reflitam, critiquem e a modifiquem
segundo os seus interesses.
As discussões em assembleias
(que era onde o povo se reunia para votar) estimulava o pensamento
crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva e evidencia a capacidade do
homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e a organização do mundo a
partir da sua própria racionalidade e não mais nas palavras mágico-religiosas
baseadas na autoridade dos poetas inspirados. Com isso, foi possível, a partir
da investigação sistemática, das contradições, da exigência de rigor lógico,
surgir a Filosofia.
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