CONCEITO DE ALTERIDADE
Sociologia
O
conceito de alteridade refere-se ao processo de interação e socialização humana
no convívio entre o “eu” e o “outro”.
A
vida social em nosso mundo contemporâneo é bastante agitada, concorda? Em nossa
convivência urbana, em que milhares de pessoas habitam um mesmo espaço,
separadas, muitas vezes, apenas por finas paredes, mesmo quando não queremos,
acabamos por ter que interagir com os “outros” de alguma forma.
Mesmo
sem percebermos ou ainda sem dizer uma única palavra, ao nos confrontarmos com
o estranho, o não familiar, de alguma forma, nossas condutas, ações e
pensamentos moldam-se a partir dessa interação.
Essa interação entre o “eu”,
interior e particular a cada um, e o “outro”, o além de mim, é o que
denominamos de alteridade. Esse conceito parte do pressuposto de que todo
indivíduo social é interdependente dos demais sujeitos de seu contexto social,
isto é, o mundo individual só existe diante do contraste com o mundo do outro.
O
antropólogo brasileiro Gilberto Velho elucida: “A noção de outro ressalta que a
diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das
dinâmicas socais. Assim sendo a diferença é, simultaneamente, a base da vida
social e fonte permanente de tensão e conflito.”*
Simplificando, Gilberto Velho
mostra de que forma a interação entre a parte íntima e interior do indivíduo e
o outro forma o cerne da vida social. Ao interagirem, os indivíduos reafirmam o
que faz parte de si mesmo e o que faz parte do mundo externo.
Esse
processo de diferenciação é parte também da construção da identidade do
sujeito, que se molda a partir da distinção entre “o que eu sou” e “o que eu
não sou”. Esse ponto leva-nos ao problema fundamental da questão: a
impossibilidade da existência do eu-individual sem o conflito com o diferente, o
estranho, o outro.
A
ideia da alteridade é tratada por algumas disciplinas distintas, sendo a
Psicologia, a Filosofia e a Antropologia as principais. Embora as abordagens
sejam diferentes, o conflito entre o mundo interno e o mundo externo sempre
está em questão.
Para
a Psicologia, trata-se do processo de formação psíquica do ser humano. Lev
Semenovitch Vygotsky é um dos autores da psicologia que se dedicaram ao estudo
do complexo processo de formação e do desenvolvimento humano. A atividade
humana no meio social é o principal impulso que movimenta todo o processo de
formação da psiquê humana.
Nesse sentido, o teórico aproximava-se e concordava
em vários aspectos com a teoria marxista acerca do mundo social e das
implicações da ação humana em seu meio.
Vygotsky afirmava isso baseado na ideia
de que é pela interação social que o sujeito se constrói como indivíduo diante
do confronto com o mundo externo. Em suma, ao distinguirmos aquilo que não
somos, também determinamos aquilo que somos.
Para
a Antropologia, a alteridade volta-se para a observação do contato cultural
entre grupos étnicos diferentes e dos conflitos consequentes que se
desenvolveram sob diferentes perspectivas.
A descoberta do “Novo Mundo”, isto
é, o início da colonização europeia nas Américas, parece ser o ponto de partida
para os questionamentos que envolvem a ideia de alteridade.
O encontro com o
“outro” é marcado pelo medo e pelo fascínio, pela distinção clara entre o que é
estranho e o que não é.
O contraste cultural, de certa forma, acaba
fortalecendo a noção de que “aquilo que sou é diferente daquilo que não sou”, o
que, em outras palavras, significa dizer que o mundo estranho é um enorme
espelho que reflete o que é familiar ao destacar tudo aquilo que nos é
estranho.
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