segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tudo começou a Dolly...


Cientistas anunciam que pretendem clonar seres humanos
09h48 - 09/03/2001
Por Jane Barrett
ROMA (Reuters) - Cientistas dos Estados Unidos e da Itália disseram na sexta-feira que planejam criar os primeiros seres humanos clonados, apesar da condenação por parte de religiosos e da oposição de vários pesquisadores.
Os cientistas Panayiotis Zavos, dos EUA, e Severino Antinori, da Itália, afirmaram que querem desenvolver bebês clonados para ajudar casais inférteis a ter filhos.
"A clonagem pode ser considerada a última fronteira para superar a esterilidade masculina e dar a possibilidade a homens inférteis para transmitir seu padrão genético", disse Antinori em um auditório lotado de cientistas e jornalistas.
"Algumas pessoas dizem que nós vamos clonar o mundo, mas isso não é verdade... Estou pedindo que todos da comunidade científica sejam prudentes e calmos", afirmou. "Estamos falando sobre ciência, não estamos aqui para criar confusão."
Antinori e Zavos, cientista especializado em reprodução que dirige uma empresa no Kentucky de clonagem e genética, disse que dez casais inférteis se ofereceram para participar da experiência para produzir crianças clonadas.
O projeto foi duramente criticado por cientistas e grupos religiosos. O Vaticano considerou as propostas "grotescas".
O bispo Elio Sgreccia, chefe do Instituto para Bioética do Hospital Gemelli, ligado ao Vaticano, afirmou que a clonagem humana levanta questões éticas profundamente perturbadoras.
"Aqueles que fizeram a bomba atômica foram adiante apesar de saber sobre sua terrível destruição", disse à Reuters Television antes do início do encontro. "Mas isso não significa que foi a melhor opção para a humanidade."
Os cientistas disseram que conduzirão a experiência em um país mediterrâneo, não identificado, para tentar escapar da polêmica crescente e em razão da proibição já feita por parte de vários países contra a pesquisa para a clonagem humana.
O pesquisador Ian Wilmut, criador da Dolly, a primeira ovelha clonada do mundo, afirmou que foram necessárias 277 tentativas para obter sucesso na experiência. Outras tentativas de clonagem levaram a animais com malformação.
BIOÉTICA
Anúncio feito na Itália é alvo de protestos de pesquisadores e religiosos
Cientistas dizem que irão clonar seres humanos DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas dos EUA e da Itália afirmaram ontem que planejam desenvolver o primeiro clone humano, apesar da oposição religiosa e de outros cientistas. O americano Panayiotis Zavos e o italiano Severino Antinori -que já havia chamado a atenção da imprensa mundial por possibilitar que uma mulher de 62 anos desse à luz- disseram que o objetivo da clonagem é ajudar casais inférteis a ter filhos. "A clonagem pode ser considerada a última fronteira para superar a infertilidade masculina e dar chance a homens inférteis de transmitir seu patrimônio genético", disse Antinori a um auditório lotado de jornalistas. "Algumas pessoas dizem que vamos clonar o mundo, mas isso não é verdade. Estou pedindo a todos na comunidade científica que sejam prudentes e fiquem calmos. Estamos falando de ciência, não queremos criar confusão." Antinori e Zavos, um cientista de Kentucky com passagens por empresas de biotecnologia, afirmaram que 700 casais inférteis já se candidataram a participar dos experimentos para clonagem. Os cientistas dizem que farão os experimentos em um país do Mediterrâneo não-identificado para escapar de protestos e também porque vários países já baniram a pesquisa de clonagem humana. Zavos afirmou em janeiro que ele e Antinori usariam células normais ou células-tronco (capazes de originar qualquer tipo de célula do corpo) de um homem para inseri-las em um óvulo em formação, desprovido do seu material genético. A célula seria estimulada a se dividir e criar um embrião que seria a cópia do homem doador. Esse embrião seria implantado no útero de uma mulher. Uma mulher também poderia ser clonada, ele afirma, dependendo da escolha do casal. "Não é a coisa mais fácil do mundo", diz. "A estabilidade da informação genética é importante. Estamos clonando um ser humano, não queremos criar uma Dolly. Nem um monstro."
Clonagem terapêutica Ano passado, o Reino Unido liberou a clonagem terapêutica, ou seja, permitiu o uso de células-tronco derivadas de embriões de até 14 dias com o objetivo de atender à pesquisa. Cientistas acreditam que doenças degenerativas graves, como o mal de Alzheimer ou o mal de Parkinson, possam ser curadas caso sejam encontradas maneiras de regenerar e substituir células doentes. A idéia é que isso seja feito utilizando células-tronco originárias de embriões. Para evitar clones humanos, a Câmara dos Lordes decidiu que os cientistas não terão licença para levar suas experiências adiante por um período superior a nove meses para a clonagem. Nenhum outro país avançou tanto em sua legislação. Outros países europeus, como a França e a Espanha, vetaram a clonagem humana de todas as maneiras. O Brasil não tem nenhuma lei específica sobre o assunto. Tramita no Senado um projeto de lei de 1999, de autoria do senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), que regulamenta as técnicas de reprodução assistida. No entanto, há resoluções do Conselho Federal de Medicina que proíbem a manipulação genética de embriões. Nos EUA tampouco há uma proibição nacional à clonagem. No entanto, alguns Estados, como a Califórnia, baniram o procedimento. Em outros, como a Pensilvânia, qualquer tipo de pesquisa com embriões é proibida. Muita gente questiona a capacidade técnica da dupla. "Esses dois cientistas não têm nenhuma evidência de que podem fazer o que estão dizendo que podem", disse à Folha o biólogo Glenn McGee, especialista em bioética da Universidade da Pensilvânia (EUA). Embora tenha avançado desde 1997, quando a Dolly foi anunciada, a clonagem ainda tem desafios técnicos que dificultam sua aplicação (leia texto à página A-17).
Técnica "secreta" Segundo McGee, os dois nunca submeteram seus estudos de clonagem ao crivo de outros cientistas, por meio da publicação dos resultados de sua suposta técnica de clonagem em revistas especializadas. Mais grave ainda, Zavos teria mentido ao dizer que era membro da Sociedade Americana de Reprodução Assistida. "Tudo isso se resume a exibicionismo e a vontade de ganhar dinheiro", disse o especialista americano. Segundo McGee, Zavos e Antinori teriam convidado vários cientistas e líderes religiosos para participar da entrevista ontem. "Só a imprensa apareceu."
Com agências internacionais
Ganho reprodutivo da técnica não vale os riscos, afirma geneticista SALVADOR NOGUEIRA FREE-LANCE PARA A FOLHA
As pessoas costumam falar muito do sucesso da criação da ovelha Dolly, realização que comprovou a possibilidade de clonar animais adultos. Mas pouca gente lembra de ligá-lo ao fracasso de outros 276 clones, todos envolvidos no experimento feito no Instituto Roslin em 1997. Mais do que provar que a clonagem era possível, os cientistas liderados por Ian Wilmut provaram que o caminho é difícil, arriscado e com baixíssima taxa de sucesso. Dos 277 óvulos que receberam o DNA de uma ovelha adulta, apenas 29 sobreviveram tempo suficiente para serem implantados no útero das ovelhas. Dos 29, apenas Dolly acabou vingando. Os embriões que não sobreviveram ao experimento apresentaram uma série de anormalidades, como malformações, crescimento prematuro e morte antes do nascimento. Só agora os cientistas começam a arriscar os primeiros palpites sobre o porquê de todos esses problemas. Já seria momento de arriscar um experimento delicado como esse em humanos? Segundo Lygia da Veiga Pereira, geneticista do Instituto de Biociências da USP, a resposta é óbvia. "Na clonagem para fins reprodutivos, os riscos associados são tão grandes que não compensam pelos benefícios", afirma. "Quando é um animal, você assume esses riscos. Mas, com humanos, o que fazer com os experimentos que derem errado?"
Esquecendo Hipócrates Para ela, o conhecimento atual sobre clonagem não permite a conciliação dos preceitos da medicina com esses experimentos. "A prática médica exige que o paciente seja informado de quais são os riscos envolvidos no procedimento a que ele será submetido. Hoje em dia não sabemos estimar esses riscos em humanos." Nem mesmo com os animais já clonados é possível anunciar sucesso total. Embora Dolly seja aparentemente igual a qualquer outra ovelha, os cientistas que a estudam já descobriram que ela possui cromossomos com as pontas (telômeros) mais curtas que normalmente uma ovelha de sua idade teria -sinal da "idade avançada" de seu DNA, que foi transplantado de outra ovelha. "Qual é o efeito disso? Ninguém sabe", diz. E as incógnitas são as mesmas no caso das tentativas que não vingaram. "A gente ainda não entende os mecanismos por trás dessas aberrações", afirma.
Ampliando sucessos É bem verdade que desde o experimento da Dolly, em 1997, a taxa de sucesso para clonagens tem aumentado. Usando métodos aprimorados, cientistas japoneses já conseguiram em camundongos uma taxa de 2 ou 3 nascimentos a cada 100 tentativas. Em bovinos, as taxas já estão próximas de 1 sucesso a cada 20 fracassos. Mesmo assim, Pereira não considera os riscos justificáveis, ou mesmo passíveis de cálculo. "Esses números variam muito de espécie para espécie. Não temos como saber o valor certo em humanos." Ela compara a aplicação da clonagem para combater problemas reprodutivos aos procedimentos a que são submetidos novos medicamentos, que passam vários anos em testes antes serem liberados para venda. "Por que não deveríamos fazer tudo isso também com a clonagem?"
Bioeticistas e igreja questionam intenções de defensores do clone CLAUDIO ANGELO DA REPORTAGEM LOCAL
Se há algo capaz de unir os cientistas e os religiosos, essa coisa é a clonagem humana. As diversas propostas que têm sido feitas desde o anúncio de Dolly, em 1997, para clonar seres humanos receberam críticas pesadas tanto por parte da igreja quanto academia. O Vaticano reagiu ao anúncio de Panayiotis Zavos e Severino Antinori comparando a clonagem à bomba atômica. "Os que a fizeram foram adiante, mesmo sabendo do seu poder de destruição", disse o bispo Elio Segreccia, do Instituto de Bioética João Paulo 2º, em Roma. "Mas isso não quer dizer que tenha sido a melhor escolha para a humanidade." Vários cientistas também deixaram de comparecer ao evento, considerado "uma desgraça" nas palavras de Ermelando Cosmi, da Universidade La Sapienza. As preocupações são diferentes. A igreja considera a clonagem (e a manipulação genética em geral) uma intervenção na vontade divina. Para os cientistas, a técnica tem problemas demais para poder ser usada em seres humanos. Para o bioeticista Glenn McGee, da Universidade da Pensilvânia (EUA), nunca nenhum trabalho sério demonstrando a viabilidade e a utilidade da clonagem humana foi apresentado à comunidade. "Todo mundo que afirmou que faria clones humanos tinha problemas acadêmicos ou morais", disse à McGee à Folha. Ele cita como exemplo o veterinário aposentado americano Richard Seed, que anunciou, em 1998, que iria fazer um clone para unir o homem a Deus. Um caso mais recente é o do Movimento Raeliano, uma seita que, em outubro do ano passado, anunciou que tinha um casal disposto a pagar US$ 500 mil para clonar a filha, morta aos dez meses de idade. O procedimento seria feito por uma empresa criada por raelianos, a Clonaid Corp., com sede nas Bahamas.
Lunáticos McGee considera Zavos e Antinori os "lunáticos número 3 e número 4 da "Escala Richard Seed". Eles falam que vão clonar um ser humano desde 98. Está na hora de alguém prendê-los", brincou. Segundo o bioeticista, mesmo que a possibilidade da clonagem humana fosse demonstrada cientificamente, seria preciso demonstrar por que um clone é necessário. "Os melhores candidatos seriam pessoas cuja motivação primária não fosse ter uma cópia, como um casal judeu estéril que não quer ver sua linhagem extinta", afirmou. E o procedimento teria de ter o mesmo tipo de acompanhamento legal e ético da adoção. "Para adotar uma criança, nos EUA, não basta ter dinheiro. Você precisa provar que não é louco", disse McGee. O presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Marco Segre, afirma que o desenvolvimento da técnica é inevitável. "Hoje não há regulamentação legal para o assunto na maior parte do mundo, mas não vejo por que excluir a técnica a priori", afirmou. Segundo Segre, o procedimento pode ser válido até mesmo para casais estéreis. "Mas é preciso uma avaliação técnica e ética, para verificar se a clonagem não vai produzir seres humanos que, por alguma razão, tenham uma má qualidade de vida."
Com agências internacionais
http://profileonline.com.br/textos_filosoficos_09.htm

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