Textos
Filosóficos 12
Em
busca do gênio da lâmpada
Lampejos intelectuais não aparecem do nada, ideias criativas é resultado de um processo cognitivo complexo. Passo a passo pesquisadores do cérebro e psicólogos desvendam o mistério do pensamento criativo.
Lampejos intelectuais não aparecem do nada, ideias criativas é resultado de um processo cognitivo complexo. Passo a passo pesquisadores do cérebro e psicólogos desvendam o mistério do pensamento criativo.
Por Ulrich Kraft
Faz quatro horas que estou diante do teclado,
quebrando a cabeça; faço pausas para o café, circulo pelo escritório, o olhar
vagueia. Ao meu lado, pilhas de material para a pesquisa: informação de sobra
para o artigo que em três dias, no máximo, precisa estar na mesa do
redator-chefe. Até agora, apenas uma palavra no monitor: criatividade - o
assunto do texto. E quanto mais remôo as idéias, menos tenho para pôr no papel!
Criatividade (do latim, creatio =
criação) é a capacidade de pensar produtivamente à revelia das regras, é criar
coisas novas combinando de maneira inusitada o saber já disponível, diz o
dicionário. Em Dirk, meu colega de escritório, essa força criadora sobra. No
momento ele faz ilustrações para a campanha publicitária do novo modelo de uma
fábrica de automóveis; a cada meia hora produz um novo esboço, todos originais,
divertidos - e às vezes até mesmo geniais. Eu, pelo contrário, estou novamente
olhando para o nada, à procura de uma ideia luminosa. Será que me falta
criatividade para escrever sobre a criatividade? Talvez meu cérebro não sirva
para se desviar das trilhas de pensamento pisadas e repisadas por tantos
outros, talvez jamais consiga levantar voo e percorrer novas rotas no espaço do
espírito altaneiro... Oras, o que é que Picasso, Einstein, Goethe e o colega
Dirk têm que eu não tenho?
O segredo das cabeças geniais já ocupava os
cientistas no início do século XIX, em especial o médico austríaco Franz Joseph
Gall (1758-1828). Ele estava convicto de que o espírito criativo teria de se manifestar
em algum lugar no cérebro de quem o detivesse, de modo que seria possível
esquadrinhá-lo com base na forma, sulcos, circunvoluções e peso do órgão do
pensamento. Mas a tese de Gall era comprovadamente um erro: a confraria dos
chamados frenólogos jamais descobriu o abaulamento craniano que identificasse o
gênio, e a massa uniforme de células cinzentas nada tem a dizer sobre as
próprias qualidades.
Duzentos anos mais tarde o tema criatividade
parece mais atual que nunca. Líderes empresariais e políticos exigem soluções
inovadoras para problemas como o desemprego em massa e o iminente colapso do
sistema previdenciário. As empresas enviam seus funcionários aworkshops de
criatividade, profissões criativas como designer ou músico conquistam
a preferência, mesmo em relação a médicos e advogados, e nas livrarias perde-se
a conta dos livros de conselhos e treinamento em áreas ligadas à criação.
Em nossa época, a pesquisa sobre a
criatividade é um domínio dos psicólogos. Não é de surpreender, afinal o dom de
criar coisas novas está entre as melhores qualidades do comportamento humano.
Desde a invenção do fogo, da roda e da imprensa, até a penicilina e a fissão
nuclear - nosso desenvolvimento evolutivo, da idade da pedra até o século XXI,
só foi possível graças a um fluxo inesgotável de lampejos criativos do
intelecto. E onde têm origem todas essas idéias? No cérebro!
Apesar disso, só nos últimos anos os
psicólogos vêm recebendo apoio das neurociências. Com auxílio de procedimentos
como a tomografia funcional de ressonância magnética (TFRM) e a
eletroencefalografia (EEG), pesquisadores tentam descobrir em que lugar na rede
de centenas de bilhões de células nervosas estala a centelha da inspiração e
por que razão é tão fácil para algumas pessoas produzir idéias geniais em
série. Além disso, informações valiosas sobre os mecanismos neurais
relacionados a processos criativos do pensamento procedem de pacientes que, por
causa de danos no cérebro, ou desenvolveram talentos criativos extraordinários,
ou perderam os que tinham.
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