quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Viva a sabedoria...


Textos Filosóficos 12
Em busca do gênio da lâmpada
Lampejos intelectuais não aparecem do nada, ideias criativas é resultado de um processo cognitivo complexo. Passo a passo pesquisadores do cérebro e psicólogos desvendam o mistério do pensamento criativo.
Por Ulrich Kraft
Faz quatro horas que estou diante do teclado, quebrando a cabeça; faço pausas para o café, circulo pelo escritório, o olhar vagueia. Ao meu lado, pilhas de material para a pesquisa: informação de sobra para o artigo que em três dias, no máximo, precisa estar na mesa do redator-chefe. Até agora, apenas uma palavra no monitor: criatividade - o assunto do texto. E quanto mais remôo as idéias, menos tenho para pôr no papel!
Criatividade (do latim, creatio = criação) é a capacidade de pensar produtivamente à revelia das regras, é criar coisas novas combinando de maneira inusitada o saber já disponível, diz o dicionário. Em Dirk, meu colega de escritório, essa força criadora sobra. No momento ele faz ilustrações para a campanha publicitária do novo modelo de uma fábrica de automóveis; a cada meia hora produz um novo esboço, todos originais, divertidos - e às vezes até mesmo geniais. Eu, pelo contrário, estou novamente olhando para o nada, à procura de uma ideia luminosa. Será que me falta criatividade para escrever sobre a criatividade? Talvez meu cérebro não sirva para se desviar das trilhas de pensamento pisadas e repisadas por tantos outros, talvez jamais consiga levantar voo e percorrer novas rotas no espaço do espírito altaneiro... Oras, o que é que Picasso, Einstein, Goethe e o colega Dirk têm que eu não tenho?
O segredo das cabeças geniais já ocupava os cientistas no início do século XIX, em especial o médico austríaco Franz Joseph Gall (1758-1828). Ele estava convicto de que o espírito criativo teria de se manifestar em algum lugar no cérebro de quem o detivesse, de modo que seria possível esquadrinhá-lo com base na forma, sulcos, circunvoluções e peso do órgão do pensamento. Mas a tese de Gall era comprovadamente um erro: a confraria dos chamados frenólogos jamais descobriu o abaulamento craniano que identificasse o gênio, e a massa uniforme de células cinzentas nada tem a dizer sobre as próprias qualidades.
Duzentos anos mais tarde o tema criatividade parece mais atual que nunca. Líderes empresariais e políticos exigem soluções inovadoras para problemas como o desemprego em massa e o iminente colapso do sistema previdenciário. As empresas enviam seus funcionários aworkshops de criatividade, profissões criativas como designer ou músico conquistam a preferência, mesmo em relação a médicos e advogados, e nas livrarias perde-se a conta dos livros de conselhos e treinamento em áreas ligadas à criação.
Em nossa época, a pesquisa sobre a criatividade é um domínio dos psicólogos. Não é de surpreender, afinal o dom de criar coisas novas está entre as melhores qualidades do comportamento humano. Desde a invenção do fogo, da roda e da imprensa, até a penicilina e a fissão nuclear - nosso desenvolvimento evolutivo, da idade da pedra até o século XXI, só foi possível graças a um fluxo inesgotável de lampejos criativos do intelecto. E onde têm origem todas essas idéias? No cérebro!
Apesar disso, só nos últimos anos os psicólogos vêm recebendo apoio das neurociências. Com auxílio de procedimentos como a tomografia funcional de ressonância magnética (TFRM) e a eletroencefalografia (EEG), pesquisadores tentam descobrir em que lugar na rede de centenas de bilhões de células nervosas estala a centelha da inspiração e por que razão é tão fácil para algumas pessoas produzir idéias geniais em série. Além disso, informações valiosas sobre os mecanismos neurais relacionados a processos criativos do pensamento procedem de pacientes que, por causa de danos no cérebro, ou desenvolveram talentos criativos extraordinários, ou perderam os que tinham.

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