A Escuta e o Silêncio. Lições
do Diálogo na Filosofia Clínica - Will Goya
Em edição bilíngüe, português-inglês, Will Goya, filósofo
clínico, inicia seu texto afirmando ser um livro sobre o amor. Ele apresenta a
Filosofia Clínica como uma atividade terapêutica, uma práxis filosófica, um
exercício prático de alteridade.
A primeira parte do livro apresenta a Filosofia Clínica, não de maneira didática, mas a partir de um estudo de caso. A história de Laura exemplifica os eixos fundamentais do instrumental filosófico clínico. A exposição dos Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos é permeada por recortes da historicidade de Laura, permitindo ao leitor uma aproximação ao funcionamento dos procedimentos clínicos. Trata-se, é claro, de um exemplo, pois esse instrumental é composto de formas vazias, preenchidas pela historicidade de cada pessoa atendida (em filosofia clínica denominada partilhante).
"Tivesse esse trabalho a pretensão de uma ontologia, da busca por um conceito filosófico de ser humano, penso que haveria de entendê-lo como uma subjetividade holoplástica, não uma plasticidade pelo lado de fora, em que uma pessoa se adapta ao seu contorno externo, mas como um predicado constitutivamente aberto à sua redefinição" (p.32).
Ainda na primeira parte, e ainda tendo por exemplo a história de Laura, no capítulo Palavras que escutam, Will mostra a importância de falar à pessoa em linguagem que lhe permita ?escutar o melhor de si mesma?. ?Palavras que escutam são aquelas que dizem ao outro o quão profundamente ele foi ouvido? (p. 124). A partir da escuta do histórico de Laura, o autor demonstra como se dirigiu à partilhante durante a clínica, fazendo uso de seu jogo de linguagem. Obviamente, as frases dirigidas a Laura fazem sentido apenas a ela, não sendo possível fazer uso dos mesmos enunciados para outra pessoa, ainda que o objetivo clínico seja o mesmo. Em Palavras que silenciam, o autor, a partir do pensamento de filósofos como Ludwig Wittgenstein, Karl Popper e John Searle, aborda temas como inconsciente, intencionalidade e linguagem.
No capítulo seguinte, A terapia é uma tragédia, Will apresenta a tragédia na concepção grega clássica, tragikos, ?o indivíduo é investido de heroísmo pela grandeza de enfrentar o seu destino e reerguer-se existencialmente das inevitáveis quedas da vida? (p.155). O conceito de neurose em Freud e uma reflexão sobre a felicidade são elementos de destaque nesse capítulo.
A segunda parte do livro, A Ética da Escuta, aponta para fundamentos filosóficos da prática clínica. No capítulo A Filosofia do Encontro, teorias de Heidegger, Nietzsche, Sartre, Max Scheler, etc. são apresentadas como contribuições à Filosofia Clínica, sem que ocorra o privilégio de uma teoria, ou a disputa teórica. O autor fecha o capítulo afirmando que ?um filósofo clínico é feito exatamente pelos dois termos que o definem? (p. 179) e, portanto, não lhe cabe a separação entre teoria e prática. No capítulo A linguagem da aproximação, Will trata de questões éticas e aponta para alguns limites da clínica. ?É isto e outras coisas? é a expressão que sintetiza o capítulo, alertando para a impossibilidade de um conhecimento absoluto, de uma compreensão plena.
Na última parte, Quando o amor fala todos são ouvidos... o autor partilha sua aprendizagem na clínica filosófica, lições de ética, cuidados para se ter na presença de outrem, enfim, suas reflexões acerca de vivências em Filosofia Clínica.
Com duplo prefácio, de Lúcio Packter e Pierre Weil, o livro nos mostra que a filosofia, amor à sabedoria, em sua versão clínica, não é a atividade de quem ama o conceito e é rival do outro, mas daquele que ama o outro, e constrói com ele conceitos, na legitimidade de sua diferença.
http://www.filosofia.com.br/vi_res.php?id=4A primeira parte do livro apresenta a Filosofia Clínica, não de maneira didática, mas a partir de um estudo de caso. A história de Laura exemplifica os eixos fundamentais do instrumental filosófico clínico. A exposição dos Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos é permeada por recortes da historicidade de Laura, permitindo ao leitor uma aproximação ao funcionamento dos procedimentos clínicos. Trata-se, é claro, de um exemplo, pois esse instrumental é composto de formas vazias, preenchidas pela historicidade de cada pessoa atendida (em filosofia clínica denominada partilhante).
"Tivesse esse trabalho a pretensão de uma ontologia, da busca por um conceito filosófico de ser humano, penso que haveria de entendê-lo como uma subjetividade holoplástica, não uma plasticidade pelo lado de fora, em que uma pessoa se adapta ao seu contorno externo, mas como um predicado constitutivamente aberto à sua redefinição" (p.32).
Ainda na primeira parte, e ainda tendo por exemplo a história de Laura, no capítulo Palavras que escutam, Will mostra a importância de falar à pessoa em linguagem que lhe permita ?escutar o melhor de si mesma?. ?Palavras que escutam são aquelas que dizem ao outro o quão profundamente ele foi ouvido? (p. 124). A partir da escuta do histórico de Laura, o autor demonstra como se dirigiu à partilhante durante a clínica, fazendo uso de seu jogo de linguagem. Obviamente, as frases dirigidas a Laura fazem sentido apenas a ela, não sendo possível fazer uso dos mesmos enunciados para outra pessoa, ainda que o objetivo clínico seja o mesmo. Em Palavras que silenciam, o autor, a partir do pensamento de filósofos como Ludwig Wittgenstein, Karl Popper e John Searle, aborda temas como inconsciente, intencionalidade e linguagem.
No capítulo seguinte, A terapia é uma tragédia, Will apresenta a tragédia na concepção grega clássica, tragikos, ?o indivíduo é investido de heroísmo pela grandeza de enfrentar o seu destino e reerguer-se existencialmente das inevitáveis quedas da vida? (p.155). O conceito de neurose em Freud e uma reflexão sobre a felicidade são elementos de destaque nesse capítulo.
A segunda parte do livro, A Ética da Escuta, aponta para fundamentos filosóficos da prática clínica. No capítulo A Filosofia do Encontro, teorias de Heidegger, Nietzsche, Sartre, Max Scheler, etc. são apresentadas como contribuições à Filosofia Clínica, sem que ocorra o privilégio de uma teoria, ou a disputa teórica. O autor fecha o capítulo afirmando que ?um filósofo clínico é feito exatamente pelos dois termos que o definem? (p. 179) e, portanto, não lhe cabe a separação entre teoria e prática. No capítulo A linguagem da aproximação, Will trata de questões éticas e aponta para alguns limites da clínica. ?É isto e outras coisas? é a expressão que sintetiza o capítulo, alertando para a impossibilidade de um conhecimento absoluto, de uma compreensão plena.
Na última parte, Quando o amor fala todos são ouvidos... o autor partilha sua aprendizagem na clínica filosófica, lições de ética, cuidados para se ter na presença de outrem, enfim, suas reflexões acerca de vivências em Filosofia Clínica.
Com duplo prefácio, de Lúcio Packter e Pierre Weil, o livro nos mostra que a filosofia, amor à sabedoria, em sua versão clínica, não é a atividade de quem ama o conceito e é rival do outro, mas daquele que ama o outro, e constrói com ele conceitos, na legitimidade de sua diferença.
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