Ministério da Justiça exige que Gol
informe como vai atender clientes da Webjet
Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor dá dez dias para aérea explicar
procedimentos
SÃO PAULO / BRASÍLIA E RIO – O Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor (DPDC), órgão do Ministério da Justiça, notificou a Gol para que
informe como fará o atendimento dos consumidores após o encerramento do voos da
Webjet. O diretor do Departamento, Amauri Oliva, disse que tomou ciência do
caso pela imprensa e que a empresa precisará prestar esclarecimentos, em até
dez dias, de forma a garantir que ninguém seja prejudicado:
— Queremos saber como ela informou o consumidor sobre o
encerramento das atividades da Webjet, o volume de passagens comercializadas e
ainda não usadas, qual será o procedimento para remarcação ou reembolso e ainda
se a Gol assumirá os voos para cidades que antes eram atendidas exclusivamente
pelo Webjet ou que tinham nas empresas as melhores opções de horários para o
consumidor.
Oliva informa ainda que foi pedido a empresa que determine uma
pessoa em cada estado do país para ser o interlocutor junto aos órgãos de
defesa do consumidor caso ocorra algum problema.
— Espero que nesse processo de encerramento sejam garantidos os
direitos dos consumidores.
A companhia aérea demitiu 850 funcionários como consequência do
encerramento das operações de sua controlada Webjet. As demissões atingem todos
os tripulantes e empregados da manutenção. Do total, 143 são pilotos e
copilotos e 400 são comissários.
No mesmo momento em que o presidente da empresa, Paulo Kakinoff,
participava de uma teleconferência com a imprensa para anunciar o fim da Webjet
na manhã desta sexta-feira, a controlada fazia reuniões com os funcionários nas
suas cinco bases que ficam no Rio, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Belo
Horizonte. Os empregados foram convocados para o encontro no fim da noite de
ontem e no início da manhã de hoje. Às 10h20, as ações da Gol subiam 0,31%,
cotadas a R$ 9,71, enquanto o Ibovespa tinha variação negativa de 0,19%.
Dos trabalhadores que não foram demitidos, 450 serão absorvidos
imediatamente na estrutura da Gol, entre eles profissionais que trabalham nos
aeroportos, incluindo check-in e despacho de bagagem. Outros 200 funcionários
ficarão na empresa no momento de transição e serão desligados nos próximos
meses.
Desde que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
aprovou a compra da Webjet pela Gol no mês passado, havia rumores de que
poderia ocorrer uma leva de demissões. Os funcionários, no entanto, não
imaginavam que seria nessa dimensão.
Gisele Lourenço, 30 anos, trabalhava há quatro anos como comissária
de bordo da Webjet. “Recebi e-mail da empresa ontem à noite convocando uma
reunião sem dizer o motivo. Quando chegamos aqui, o presidente da empresa leu
um comunicado anunciando as demissões. Foi uma comoção geral, todo mundo chorando”,
disse ela, que também já foi funcionária da Vasp.
No Rio, as reuniões para tripulantes foram realizadas no Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo, e no Hotel Novo Mundo, no Flamengo. E
para os outros funcionários, a reunião ocorreu no aeroporto Galeão.
Todos os funcionários foram convocados para assinar a carta de
demissão e dispensados de cumprir aviso prévio. Como a empresa só dará baixa na
carteira de trabalho no próximo dia 23, a empresa não precisará pagar o
reajuste salarial atualmente em negociação.
Boa parte dos funcionários que estava no Colégio Brasileiro de
Cirurgiões se dirigiram ao Hotel Novo Mundo e realizaram um protesto contra as
decisões da Gol. Com nariz de palhaço, chamaram a empresa de “covarde”.
O órgão regulador do setor não tem prerrogativa de interferir em
decisões das empresas, como essa, que cabem fazem parte da estratégia de
negócios. Porém, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ressalta que irá
monitorar e fiscalizar o cumprimento dos compromissos firmados pela empresa com
passageiros que já compraram passagens, e verificar se a empresa está prestando
a assistência devida.
“A GOL é responsável por assegurar o adequado atendimento aos
clientes da Webjet, acomodando-os em outros voos para realizar seu transporte,
bem como prestando assistência integral aos passageiros que porventura possam
vir a ser afetados durante o período de encerramento das operações. A ANAC
notificou a empresa, que foi instada a comprovar todos os procedimentos
adotados relativos à execução dos contratos de transporte já firmados pela
Webjet”, afirmou a Anac, que disponibiliza o telefone 0800 725 4445 para
passageiros que queiram fazer reclamações sobre a não prestação de atendimento.
Empresa
decide devolver aviões da Webjet
A principal razão que levou a Gol a realizar as demissões foi a
decisão da empresa de devolver as 20 aeronaves da Webjet devido a seu elevado
consumo de combustível. De acordo com a companhia, a primeira medida para o
encerramento das atividades é a extinção das operações de voo da controlada.
“A Webjet possui um modelo de operação com base em uma frota
composta majoritariamente por aviões modelo Boeing 737-300, de idade média
elevada, alto consumo de combustível e defasagem tecnológica. Com os novos
patamares de custo do setor no Brasil, esse modelo deixou de ser competitivo”,
explicou a empresa.
O modelo da Gol 737-800 é até 30% mais eficiente no consumo de
combustível na comparação com o da Webjet. Hoje, o combustível responde por 46%
dos custos totais da Gol.
— O combustível é o principal gasto que a Gol deixará de ter com o
fim da Webjet — afirmou Kakinoff.
A Gol possui 128 aviões e vai permanecer com a mesma quantidade. O
presidente da Gol negou temer perda de participação no mercado com a devolução
dos aviões da Webjet e disse que a taxa de ocupação da companhia vai subir.
Hoje, os passageiros ocupam de 65% a 70% dos assentos das aeronaves. Segundo
Kakinoff, mesmo com a devolução da frota, não terá redução de frequência (voo
de ida e volta).
Voos
deixaram de operar na meia noite de ontem
Segundo a empresa, os clientes e passageiros da Webjet serão
integralmente assistidos e terão seus voos garantidos. “A Gol permanece, a
partir dessa data, responsável por todos os serviços de transporte aéreo e
assistência a esses passageiros. Nesse sentido, todas as providências
necessárias serão tomadas”, afirmou a companhia.
Desde a meia noite de ontem os voos da Webjet pararam de operar.
Todos os passageiros foram realocados em voos da Gol. Nas próximas semanas, os
clientes ainda vão encontrar trabalhadores com uniformes da Webjet. O sistema
operacional da empresa, porém, já está integrado.
A Gol concluiu a compra da Webjet em outubro de 2011, por R$ 70
milhões, além de ter assumido dívidas de cerca de R$ 200 milhões.
A Gol já tinha demitido cerca de 2.000 funcionários entre abril e
maio deste ano com a redução dos voos. Ao fim deste ano, a companhia terá
17.000 colaboradores, incluindo os funcionários que serão incorporados da
Webjet. Em 2011, a companhia terminou com 20 mil trabalhadores.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/ministerio-da-justica-exige-que-gol-informe-como-vai-atender-clientes-da-webjet-6807147#ixzz2D5R5UAOV
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