A mente segundo Dennett –
João Teixeira
O novo livro de João Teixeira, A mente segundo Dennett,
apresenta as concepções sobre a mente e a consciência propostas por Daniel
Dennett, destacando a importância do filósofo no cenário em que se encontra,
principalmente pelo fato de sua filosofia da mente estabelecer o diálogo com a
ciência, e abrir possibilidades para repensar o estatuto científico da
psicologia e suas relações com outras disciplinas, tais como ciência da
computação, robótica e neurociência. Para apresentar Dennett, Teixeira traça o
cenário de surgimento e consolidação da ciência cognitiva, da inteligência
artificial e da filosofia da mente no século XX, situando Dennett na tradição
naturalista, compreendendo o pensamento como um dos aspectos da natureza.
"Dennett acredita que desta forma poderemos explicar o funcionamento da
mente, primeiro "desmontando-a" para depois replicá-la em
modelos" (p.15). Entre as peculiaridades do pensamento de Dennett, Teixeira
aponta para a superação da oscilação pendular entre materialismo e dualismo,
situando o autor na "terceira margem do rio". No primeiro capítulo,
intitulado Mente, Teixeira aborda a questão: O que é a mente para Dennett?,
afirmando que esta situa-se no domínio do virtual, "nossas mentes são
apenas uma interpretação do que ocorre nos nossos cérebros e se manifesta na
forma de comportamentos" (p. 29); "Mentes são sistemas intencionais,
construções teóricas úteis que permitem a interpretação de organismos ou máquinas"
(p. 37). Como sistemas intencionais, as mentes estão, ao mesmo tempo, na
natureza e nos olhos do observador. Neste primeiro capítulo são apresentados
conceitos chave tais como: sistemas intencionais, folk psychology (como uma
estratégia preditiva formulada a partir da observação de padrões de
comportamento dos organismos), múltipla instanciação, funcionalismo,
token-token identity, apontando a posição de Dennett como um "realismo
moderado": "crenças e desejos são como centros de gravidade, ou como o
trópico de Capricórnio - ferramentas virtuais que permitem simplificar o
comportamento de sistemas extremamente complexos" (p. 64). No segundo
capítulo a teoria da consciência de Dennett é apresentada como "uma teoria
da natureza do pensamento", que visa explicar como se formam os conteúdos
mentais e, por isso, é imanente ao próprio pensamento: "a consciência à
qual se refere Dennett é nossa capacidade de elaborar narrativas acerca do que
está acontecendo em nossas mentes (ou cérebros)" (p.69). Como uma coleção
de experiências conscientes, a consciência dennettiana é um modelo
descentralizado, que destitui o "eu-penso", o "administrador
central". Teoria dos memes, heterofenomenologia, idéias sobre a natureza
dos sonhos, considerando-os como um delírio instantâneo ao acordar, são
aspectos abordados no segundo capítulo. O terceiro capítulo, intitulado Dennett
e a psicologia, aborda as críticas de Dennett ao behaviorismo, apresentando
aproximações e distinções entre seu pensamento e o de Skinner. Ao mesmo tempo,
sua teoria dos sistemas intencionais é apresentada como uma hipótese
psicológica testável, o que permitirá uma relação íntima e de "mão
dupla" com a psicologia, com a ciência cognitiva, com a neurociência.
Mindreading, neurônios espelho, hipóteses sobre a natureza e as causa do
autismo, estudos em etologia cognitiva são apresentados como exemplos desta
relação íntima entre filosofia e ciência no pensamento de Dennett. Com este
percurso, Teixeira apresenta a filosofia de Dennett relacionando-a com o
trabalho de outros pesquisadores. Mais do que isso, aponta problemas. Conforme
afirma o próprio autor, trata-se de "um livro dennettiano sobre
Dennett", que privilegia o diálogo com a ciência.
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