Candidatos repetem erro de
eleição em 2010 e desperdiçam potencial da internet
Projeto oferece internet de graça em alguns pontos de ônibus
em Brasília
O peso da internet na campanha que elegeu Dilma Rousseff fez
especialistas preverem um papel crucial para a web nas eleições municipais
deste ano, como na eleição de Barack Obama em 2008. Mas ainda não foi dessa
vez.
"Os candidatos estão apenas replicando o que fizeram na
internet nas últimas eleições, usando a web apenas como uma via de mão única,
em que o político apresenta a sua agenda, sem uma real interação", diz
Pollyana Ferrari, que é a pesquisadora em mídia social e professora de
jornalismo multimídia da PUC-SP.
Para ela, alguns candidatos aprimoraram seus vídeos e
entraram em redes sociais que estão se popularizando, como o Instagram, mas sem
uma estratégia específica. "Em geral, eles usam essas ferramentas muito
mal, porque poderiam, por exemplo, monitorar o que está se falando online e
tentar capitalizar em cima disso."
Se em 2010 vários ignoraram o potencial da internet, agora,
esse mesmo "erro" pode ter consequências graves, por causa da
penetração da internet na chamada nova classe média.
Esta corresponde hoje a 53% da população ou 104 milhões de
pessoas, segundo o governo. Atualmente, mais de 60% da classe C está na
internet, sendo que mais da metade entra online diariamente e 76% está nas
redes sociais, de acordo com dados do instituto Data Popular, que faz pesquisas
entre essa fatia da sociedade.
"Diferentemente dos outros canais de comunicação como
jornais, rádio e TV - que têm empresas atuando junto a todos os segmentos da
sociedade - a indústria da internet ainda rejeita trabalhar para a classe
C", diz o pesquisador de internet, Juliano Spyer, que já trabalhou na
estratégia online das campanhas da Marina Silva (2010) e Gilberto Kassab
(2008).
Preconceito?
Na opinião de Spyer, o motivo pode estar relacionado a
preconceito, uma vez que a classe C é acusada de "orkutizar" diversos
ambientes online. "A internet talvez seja vista como um demarcador de
classes e, na medida em que a distância entre as classes encurta, a antiga
classe média sente que está perdendo seu prestígio e reage desprezando a maneira
como esses novos usuários atuam na internet."
Entender que a internet é hoje sinônimo de interatividade
parece óbvio, mas na opinião do sócio-diretor do Data Popular, Renato
Meirelles, é justamente isso que falta à maioria dos candidatos.
"Não tem nada a ver com o horário eleitoral, em que o
político falava e o eleitor ouvia. Na democracia 2.0, o eleitor quer falar e
também compartilhar. E não adianta apenas estar nas mídias sociais e dar
respostas padrões, porque isso não cola mais", diz.
Os integrantes da nova classe média aprenderam nas redes
sociais, segundo Meirelles, que a opinião dela conta e ela sabe usar isso a seu
favor, inclusive como eleitor.
O analista e professor de comunicação política da USP
Gaudêncio Torquato também vê essa apropriação: "Essa nova classe C é
imediatista, pragmática, reivindica coisas da micropolítica - melhor sistema de
transporte, escolas mais próximas, bom atendimento na saúde, segurança. Já a
classe média tradicional é atraída por conceitos mais abstratos."
Como aproveitar
E como os candidatos podem aproveitar melhor a internet nesse
ano eleitoral (e nos próximos)? Os especialistas ouvidos pela BBC Brasil
mostram outros caminhos, além de interagir de verdade com usuário/eleitor.
Para Spyer, é preciso combater os preconceitos da "orkutização":
de um lado, a campanha precisa se comunicar com a classe C sem infantilizá-la
e, por outro, os emergentes devem reduzir a desconfiança nas instituições.
Explorar melhor as redes sociais também foi citado. Pollyana
acredita que o Facebook poderia ser usado com uma palco para discussões sobre
programas de governo e afins.
Já para Spyer, o desafio é o político falar de maneira
centralizada no Facebook, individualizando cada grupo, já que hoje se vê
inúmeros conglomerado da vida real se reunindo no site de Mark Zuckerberg.
Outra dica constante é investir em conteúdo compatível com
celular. "Tudo caminha para o celular, é a grande tendência", diz
Pollyana. "Todo conteúdo online hoje deveria ter versões para smartphones,
mas muitos sites de candidatos nem rodam em celular."
Fora isso, uma pesquisa realizada pela empresa de tecnologia
Intel mostrou que os brasileiros têm o costume de compartilhar informações pelo
celular. E, mais que isso, são os que mais compartilham opiniões políticas
entre os países avaliados: Austrália, China, França, Índia, Indonésia, Japão e
EUA.
Mais uma vez, a classe emergente ganha relevância nesse
quesito. Uma pesquisa do grupo Mobi mostrou que 19% dos integrantes da classe C
têm smartphones e, desses, 45% pretendem trocar de aparelho nos próximos seis
meses.
"Candidatos precisam passar a ver o celular como uma
maneira de transformar uma pessoa em um agente da sua campanha", diz
Spyer, que sugere o uso de aplicativos (apps) para isso.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120920_eleicao_internet_mdb.shtml
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