Somos vistos pelo que fazemos
não pelo que parecemos
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Vivemos num tempo em que a moda é parecer ao
invés de ser. Os modismos estão por aí em todos os sítios. E
navega-se um pouco à espera que surja uma nova moda para que entremos nela.
Se a moda vigente é dizer palavrão, então temos todos que
dizer palavrão, é de bom tom, senão ainda nos vão
considerarcotas, velhos e antiquados; mas se a moda é o snobismo, há que
ser snobe e, como tal, temos que, custe o que custar, pertencer ao grupo
dos tios e das tias, senão não entramos na roda dos
mais in; mas se a moda é o espalhafato, porque não ser espalhafatoso?
Temos é que acompanhar a moda, que diabo!
Vive-se num tempo em que o que importa é parecer. Parecer
bem nas artes, na música (que também é uma arte), na discussão de todos os
assuntos, na política, etc. E, sobretudo, parecer aquilo que não somos. Temos
é que parecer qualquer coisa, de preferência parecer melhor do que o outro,
pelo menos aos nossos próprios olhos. É o que faltava não sermos o melhor,
que mais não seja na nossa imaginação! Ser melhor do que o outro é a
preocupação dominante. No entanto, quase sempre nos esquecemos que há sempre
alguém melhor do que nós, em algum aspecto da praxis humana.
Ninguém é em termos absolutos. Há sempre qualquer coisa que nos
falta. E é neste pormenor que reside a beleza e a complementaridade da vida.
E porque não é um ser absoluto, o homem é naturalmente um ser relativo,
porque limitado. Precisa, portanto, dos outros.
Aliás, ninguém pode viver, nem sequer sobreviver, sem o
outro. O outro é o alimento do eu. Esclareça-se que não há eu sem
que haja um tu. Esse tu é o outro, mas não um ele... Ele passa ao
lado, não conta na nossa aritmética, porque está fora do nosso cálculo
relacional.
A reflexão sobre o eu e o outro seria um exercício
interessante para todos aqueles que se julgam senhores de uma tal presença
que transborda da sua própria esfera. E é este egocentrismo que faz com que,
incapazes de se olhar, gente caia no mimetismo negativo, quase sem
dar por isso, uma vez que estão convencidos de que agem ética e esteticamente
de modo irrepreensível. É assim a natureza humana!
O espírito de observação e reflexão deveria conduzir-nos a
contrariar este modus vivendi. Porque não queremos ser tal como
somos? Porque queremos ocupar o lugar do outro? Por mais voltas que demos,
nós só somos vistos por aquilo que fazemos a apresentamos e não por aquilo
que imaginamos que os outros vêem em nós. Não raro, a diferença entre o ser
que somos e o ser que pensamos ser é abissal, sem que nos demos conta que
assim é. Isto porque somos pouco dados à reflexão e, sobretudo, porque
envaidecemos com o figurão que imaginamos fazer, sem nos apercebermos que
estamos a ser ridicularizados às nossa próprias mãos.
Ninguém pode ocupar o lugar do outro. Cada um ocupa apenas
o seu próprio espaço, o espaço que, na sua caminhada, cada um soube
construir. É este espaço que é sua pertença. «O seu a seu dono», diz o povo.
Convencionalmente, todos somos iguais; naturalmente, todos
somos diferentes. Há sempre qualquer coisa que nos diferencia e distingue do
outro. Até, neste aspecto, precisamos do outro. E é esta diferença específica
que dá encanto e caracteriza o ser humano. Decorre da presente reflexão que o
que importa não é parecer, mas sim ser; ser como somos, com os
nossos defeitos, com as nossas virtudes, com os nossos tiques, com a nossa
personalidade. A grandeza de cada ser humano decorre dos seus defeitos e
qualidades, da sua experiência e vivências, da sua existência enquanto ser
caminhante (António Pinela, Reflexões, Outubro de 2002).
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sábado, 22 de setembro de 2012
Viva a sabedoria...
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