Conheça
oito ameaças inusitadas à saúde do coração
Luto, enxaqueca e até pastilhas efervescentes
aumentam o risco de doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares são líderes em morte no
mundo, sendo responsáveis por quase 30% dos óbitos no Brasil. Dentre estas, o
infarto agudo do miocárdio é a causa principal.
Tabagismo, dieta rica em sódio,
estresse e sedentarismo são apenas alguns dos vilões da saúde cardíaca. No
entanto, existem outras ameaças que podem afetar principalmente aquelas pessoas
que já possuem os fatores de risco conhecidos para doenças cardiovasculares,
como pressão arterial e colesterol em níveis acima do normal. Conversamos com
especialistas e listamos as armadilhas escondidas para a saúde do nosso
coração. Confira:
Pastilhas
efervescentes
Pode parecer estranho, mas essas bolhas escondem
mais riscos ao coração do que você imagina. Segundo um estudo publicado em
janeiro no British Medical Journal, existe uma relação entre as pastilhas e
infartos ou AVC. Os pesquisadores da Universidade Dundee analisaram exames
médicos de 1,2 milhões de pacientes britânicos e descobriram que tomadores
regulares de medicamentos efervescentes eram sete vezes mais propensos a
desenvolver pressão alta ou hipertensão, além de correrem um risco 16% maior
para eventos cardiovasculares, como infarto e AVC. O estudo analisou 24
diferentes remédios efervescentes, incluindo os principais analgésicos, como
paracetamol e ácido acetilsalicílico, assim como suplementos.
Essa relação acontece porque esses medicamentos
possuem grandes quantidades de sódio. Segundo o estudo, algumas pastilhas de 69
mg a 415 mg de sódio - aproximadamente
um quinto de uma colher de chá. O consumo diário recomendado para um adulto é
de 2000 mg a 2400 mg, equivalente a 6 gramas de sal.
Olhando para esses números isoladamente, os
medicamentos não parecem oferecer uma ameaça tão grande - afinal, seria
necessário ingerir uma quantidade muito grande deles para chegar as
recomendações diárias estipuladas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No
entanto, devemos pensar que esses remédios só agregam à lista de alimentos
ricos em sódio que são ingeridos ao longo do dia, como refrigerantes outros
industrializados. "Quando em excesso no organismo, o sódio fica acumulado
no sangue em vez de ser absorvido pelas células, ocorrendo o que chamamos de
desequilíbrio osmótico, já há maior concentração do mineral fora das células do
que dentro delas", explica o cardiologista Luiz Ferlante, do Hospital
Samaritano de São Paulo.
Para equilibrar esses níveis, o corpo precisa de mais
água circulando pelo sangue, reduzindo assim as concentrações de sódio. "A
retenção de água faz o volume de sangue nas artérias aumentar, e por isso o
coração precisa bombear mais sangue do que o normal, aumentando a pressão
sanguínea", diz Luiz. Quando esse problema se torna crônico, temos a
hipertensão arterial, que por si só aumenta o risco de diversas doenças
cardiovasculares.
Caso você use medicamentos efervescentes de forma
contínua, converse com o médico e discuta seus riscos. Se não, o ideal é não
usar com frequência e sempre ficar atento à alimentação de forma geral.
Doenças
inflamatórias
Pesquisadores da Clínica Mayo descobriram que a
artrite reumatoide pode ser considerada um fator de risco para doenças do
coração. O levantamento sugere que as altas quantidades de moléculas
inflamatórias no corpo dos pacientes com artrite reumatoide pode aumentar o
risco de doença cardíaca. Esse estado inflamatório pode favorecer a oxidação do
colesterol bom (HDL), que se transformará em colesterol ruim (LDL). Todo esse
cenário favorece doenças como hipertensão, angina, insuficiência cardíaca,
entre outros.
Entretanto, não é só a artrite reumatoide que pode
elevar as inflamações no organismo. Outras doenças bem mais comuns, como
obesidade e diabetes tipo 1, também são inflamatórias e aumentam o risco
cardíaco quando descontroladas. "O tecido adiposo é um grande produtor de
substâncias inflamatórias - e os adipócitos (células de estoque da gordura)
aumentam em número e volume com a obesidade", afirma o endocrinologista
Isaac Benchimol, do Conselho Empresarial de Medicina e Saúde da Associação
Comercial do Rio de Janeiro.
Ele explica que o organismo se cansa de corrigir o
erro alimentar e o sedentarismo, e vai progressivamente lançando de volta na
circulação o colesterol e os triglicerídeos que não conseguiu armazenar no
fígado e tecido adiposo. Essa gordura em excesso no sangue pode formar placas e
entupir as artérias, causando um infarto ou AVC. Já no caso do diabetes tipo 1,
o excesso de glicose no sangue pode lesionar a parede das artérias, causando
inflamações que podem corroborar com um aumento do risco de eventos
cardiovasculares.
Temperaturas
baixas
Um grupo de pesquisadores da London School of
Hygiene and Tropical Medicine encontrou uma relação entre a temperatura do
ambiente e o risco de ataque do coração. Eles descobriram que uma queda brusca
na temperatura aumenta as chances de uma pessoa ter um infarto. Segundo os
autores, a relação é tão estreita que a cada grau a menos em um único dia, há
um aumento de 200 casos de infarto.
Os pesquisadores analisaram dados de 84 mil casos
de infarto em hospitais entre 2003 e 2006 no Reino Unido, fazendo um
levantamento de 15 áreas geográficas com temperaturas diferentes e que sofreram
alterações climáticas. Eles descobriram que os casos de infarto aumentaram em
2% duas semanas depois de uma forte frente fria que atingiu a maioria das 15
zonas pesquisadas.
"Nos dias frios, o corpo humano reage naturalmente à
mudança de temperatura gerando uma vasoconstrição das artérias - e isso resulta
em um aumento da pressão arterial", explica a angiologista Aline Lamaita,
da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Dessa forma, pessoas que já possuem fatores de
risco para doenças cardiovasculares, como obesidade, sedentarismo e
hipertensão, podem ter esses efeitos potencializados quando o termômetro fica
mais baixo. O ideal é cuidar da saúde como um todo e ter atenção redobrada nos
dias mais frios.
Desastres
naturais
Quem já passou por um desastre natural traumático,
como uma enchente ou desabamento de terras, sabe que esses eventos geram
traumas e podem mexer com o nosso coração. Segundo dados levantados pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia esses eventos realmente tem um efeito sobre
a saúde do nosso coração. Eles analisaram os moradores de Santa Catarina após
os temporais que ocorreram em 2008 e deixaram 135 vítimas fatais.
A organização
descobriu que o sentimento de perda, a pressão psicológica, a ansiedade e o
estresse a que é submetida uma população afetada ou mesmo aquela que assiste ao
desastre atuam para elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca, causando
um aumento significativo do número de infartos.
Além disso, pesquisadores da Harvard Medical School
descobriram que perder a pessoa amada aumenta em 21 vezes o risco de um infarto
no dia seguinte à morte e em até seis vezes na semana que se segue. Para o
estudo, eles revisaram o prontuário de atendimento e entrevistaram 1.985
pacientes de um hospital em Boston.
Os pacientes responderam perguntas sobre as
circunstâncias de seus ataques cardíacos, bem como se recentemente haviam
perdido alguém importante em suas vidas no ano anterior, quando a morte havia
ocorrido e qual a importância de seu relacionamento com a pessoa falecida.
O relatório, publicado no Journal of the American
Heart Association afirma que o estresse causado por luto tem efeitos imediatos
para a saúde, que somados a perda de apetite e sono recorrente nesses casos
pode agravar ainda mais o risco. O sentimento de perda também pode fazer
algumas pessoas demorarem para retornar às suas atividades ou mesmo adotarem
hábitos nocivos à saúde, como se alimentar de forma errada ou iniciar vícios.
Combinação
de medicamentos
É muito importante saber se como um medicamento
interage com outros antes de tomar - e essa recomendação vale principalmente
para aquelas pessoas que já fazem tratamento para algum problema
cardiovascular, como a hipertensão.
As estatinas, por exemplo, que servem para
reduzir o acúmulo de placas de gordura nas artérias nos pacientes com
colesterol alto, podem interagir com outros medicamentos, como a varfarina, um
anticoagulante que pode ser indicado para a insuficiência cardíaca ou trombose.
Além disso, antifúngicos, antidepressivos e antibióticos são processados pela
mesma via no organismo, o que interfere no efeito de vários medicamentos
protetores do coração. "Por isso é fundamental dizer durante a consulta
quais medicamentos você já toma antes que ele faça a receita - isso ajuda o
médico ou médica a prescrever um fármaco que não sofra interações", alerta
a farmacêutica Patrícia Moriel, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Vírus e
bactérias
Os problemas de saúde bucal estão intimamente
ligados com doenças cardiovasculares. A falta de higiene oral favorece o
acúmulo de micro-organismos na região, levando ao aparecimento da cárie e
outros problemas na gengiva (periodontite e gengivite), bochechas, língua,
palato e toda mucosa oral. Esses organismos podem atingir áreas mais profundas
da mucosa oral, chegando aos vasos sanguíneos e infectando os tecidos do
coração. Dessa forma, é importante manter a escovação dos dentes e língua com
fio dental após as refeições, além das visitas regulares ao dentista.
A vacinação contra o vírus da gripe e da pneumonia
também é aliada da saúde cardíaca. As pneumonias podem comprometer as trocas de
oxigênio feitas pelos pulmões, comprometendo o funcionamento do coração.
"Além disso, os vírus e bactérias causadores de doenças infecciosas podem
viajar pelo nosso coração e chegar ao coração", afirma o cardiologista
Luiz. Dessa forma, pessoas que tem o sistema imune mais debilitado ou doenças
infecciosas graves devem ficar atentos ao risco cardíaco.
Rotina da
cidade grande
Um levantamento feito pela Secretaria de Estado da
Saúde aponta que, em média, 106 pessoas são internadas por dia em hospitais
públicos no Estado de São Paulo com AVC. Um dos motivos apontados pela pesquisa
é o estilo de vida urbano atual, que faz com que as pessoas sejam mais
estressadas, sedentárias, consumam alimentos ricos em gorduras, fiquem acima do
peso e desenvolvam pressão alta e diabetes antes do que acontecia antigamente.
A poluição sonora e visual das metrópoles, como
anúncios luminosos, veículos e pessoas, podem levar a um quadro de estresse - a
musculatura fica tensionada, o coração dispara, a pressão arterial sobe, o
estômago fica cheio de suco gástrico e o intestino trabalha bem devagar, além
da agitação que dificulta a concentração.
De acordo com o clínico geral Dirceu
Rodrigues Alves Junior, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego
Ocupacional na Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), os
veículos geram calor e poluente atmosféricos, além de fuligem. "A variação
de temperatura, a vibração do veículo por conta dos buracos ou o barulho
produzido pela vibração das janelas de um ônibus, por exemplo, debilitam a saúde
da pessoa e podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e outros
problemas."
Ter
enxaquecas
Apesar de a dor de cabeça ser o principal sintoma
da enxaqueca, outros sintomas são muito comuns e podem ser também importantes,
como sensibilidade à luz e a cheiros e barulho, náuseas, vômitos e
sensibilidade a movimentos. "Esses sintomas são todos gerados no cérebro,
em áreas diferentes dele, que são mais sensíveis em quem tem enxaqueca",
explica a neurologista Thaís Rodrigues Villa, pesquisadora da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP).
Essa maior vulnerabilidade do cérebro,
principalmente se exposto aos já conhecidos provocadores ou gatilhos da
enxaqueca, ocorre devido a disfunções em vários neurotransmissores como a
serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato. Essas substâncias tem um
funcionamento diferente em quem tem enxaqueca.
Estudos recentes comprovaram que pessoas com
enxaqueca tem um maior risco de AVC e doenças cardiovasculares, principalmente quem
tem enxaqueca com aura, sendo esse risco aumentado se associado a tabagismo e
uso de alguns anticoncepcionais hormonais em mulheres.
"A enxaqueca
aparece como fator de risco tão importante quanto à hipertensão arterial,
diabetes e obesidade", lembra a neurologista. A especialista afirma que
pacientes com enxaqueca apresentam maior frequência de lesões cerebrais,
pequenos AVCs e atrofia em algumas áreas do cérebro, ou seja, perda de
neurônios. "A enxaqueca não é uma simples dor de cabeça, tratá-la é cuidar
do seu cérebro e consequentemente da sua saúde como um todo."
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