Ruanda
relembra os 20 anos do genocídio que matou 1 milhão
Durante cerimônia, presidente do país acusou a
França, a Bélgica e a Igreja Católica pelo colonialismo europeu na África
O presidente de Ruanda, Paul Kagame, discursa
durante cerimônia que relembra os 20 anos após o genocídio no país.
Há 20 anos, o assassinato do então presidente de
Ruanda Juvénal Habyarimana em um atentado de avião desencadeou um dos piores
massacres do século XX. Durante cem dias, homens da maioria étnica hutu mataram
membros da minoria tutsi e hutus moderados. Estima-se que entre 800 mil a 1
milhão de pessoas morreram em cerca de três meses. Nesta segunda-feira (7),
Ruanda começou uma série de cerimônias para relembrar o genocídio e honrar
vítimas e familiares.
As principais homenagens estão sendo feitas no
Tutsi Amahoro Stadium, em Kigali, capital de Ruanda. Nesse local, 12 mil
pessoas se refugiaram durante o genocídio. O presidente de Ruanda, Paul Kagame,
acendeu uma tocha que queimará durante cem dias e recebeu o nome de "Chama
do Luto Nacional".
A cerimônia foi marcada por luto e choro por parte
de uma multidão de pessoas presentes no estádio. Muitas passaram mal e tiveram
que ser atendidas pelas equipes médicas. Ainda assim, os ruandeses compareceram
em peso e assistiram aos discursos do presidente e do secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon.
Em seu discurso, Kagame culpou a colonização
europeia na África pelo genocídio. "O legado mais devastador do controle
europeu em Ruanda foi a transformação das distinções sociais. Fomos
classificados de acordo com um marco inventado em outro lugar", disse.
Homem é carregado após passar mal por lembrança dos
fatos ocorridos há 20 anos em Ruanda, quando um genocídio matou entre 800 mil a
1 milhão de pessoas no país.
Uma mulher entrou em desespero e precisou ser
carregada para fora do estádio Amahoro, na cidade de Kigali, em Ruanda, durante
a homenagem aos 20 anos do Genocídio vivido no país em 1994. Líderes de todo o
mundo participaram da celebração à 800 mil vítimas.
Durante a cerimônia, Kagame disse que o país ainda
busca "uma mais completa explicação" do genocídio, e se voltou contra
as autoridades francesas. O governo acredita que a França, na época aliada dos
hutus, teve participação no massacre. Em francês, Kagame disse que "nenhum
país é tão poderoso que mude os fatos". Depois, continuou o discurso em
inglês, e também criticou a Bélgica e a Igreja Católica pelo massacre.
No fim de semana, o embaixador da França em Ruanda
foi informado pelas autoridades do governo que não poderia participar da
cerimônia. Com as acusações, a França cancelou sua participação no evento.
Antes do genocídio, a França tinha boas relações
com o governo da maioria hutu em Ruanda, inclusive com venda de armas ao
governo. Com o início do massacre, as princpipais autoridades diplomáticas
francesas deixaram o país, e em junho de 1994 uma força militar francesa foi
enviada a Ruanda para impedir massacres. A França nega qualquer participação no
genocídio.
Ban Ki-moon: "a ONU deveria ter feito
mais"
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também
participou da cerimônia em Kigali. Ban disse que o genocídio "pesa na
consciência" da ONU, que fracassou em sua missão de proteger as pessoas na
ocasião. "Muitos membros da ONU mostraram uma coragem extraordinária, mas
poderíamos ter feito muito mais. Deveríamos ter feito muito mais", disse.
Antes do genocídio, a ONU tinha uma missão de paz
no país, a Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda, com soldados de
vários países instruídos a observar o tratado de paz que encerrou a guerra
civil um ano antes. Durante as primeiras hostilidades, dez soldados belgas da
ONU foram mortos, o que fez a Bélgica retirar todas as suas tropas, seguida por
demais países. No auge do genocídio, a ONU contava apenas com 200 homens, sem
autorização para atirar ou qualquer condição de impedir o massacre que se
seguiu.
Ruandeses acendem velas durante cerimônia religiosa
para relembrar os 20 anos do genocídio em Ruanda.
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