A essência da religião e
os oportunismos
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A
religião emerge de contextos culturais específicos. Com efeito, antes de se
considerar o homem como um ser religioso, ele é um ser natural que,
lenta e progressivamente, vai sendo aculturado. Assim, empregando uma
terminologia clássica, o homem pode ser definido como animal racional (porque
dotado de razão), como animal político (porque é um ser
gregário que vive em sociedade), mas também pode definir-se como animal
religioso (porque os valores religiosos lhe são essenciais). A história
confirma esta característica essencial ao apresentar o homem e a religião
inseparáveis.
Não
se conhece povo que não tenha a sua religião. Desde o culto de Osíris, no
Egipto, e o culto da antiga Babilónia, 2000 a.C., onde o código de Hamurabi
apresenta a teologia de Marduk como religião do Estado; desde as diversas
formas que a religião foi adquirindo na Grécia e em Roma, antes do cristianismo,
o sentimento religioso tem sido inseparável do homem.
Mas
a evolução da vida social leva ao aperfeiçoamento da religião. E os velhos politeísmos começam
a ser postos em causa, passando-se a dar maior sentido ao aspecto da
imaterialidade da religião. A fé passa a ser mais subtil e mais esclarecida
e, daí, decorrem as chamadas religiões superiores. Isto é, desenvolvem-se as
ideias monoteístas que irão dar corpo à ideia da existência de um só Deus,
criador de toda a vida, no qual se passa a acreditar.
Nas
grandes religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), os homens
acreditam na existência de um só Deus, distinto do Mundo, transcendente e
Princípio Absoluto de toda a Realidade. Deste modo, o monoteísmo marca o
estado mais elaborado da religião e é tido como um processo purificador do
politeísmo.
Estas
três religiões comportam alguns traços comuns, como por exemplo: a semelhança
na superior afirmação na existência de um só Deus; o estabelecimento na vida
de uma prática moral; e o aperfeiçoamento da pessoa humana através de
preceitos das regras de conduta que enformam estas religiões.
A
primeira religião a tornar-se monoteísta foi o Judaísmo. Para o povo
Judeu, Javé revelou-se a Moisés como Deus único e pessoal. Esta revelação
encerra-se no Antigo Testamento. Registe-se que o Judaísmo foi de
relevante importância para a formação das outras grandes religiões
monoteístas: o Cristianismo e o Islamismo.
O Cristianismo é
a religião criada por Jesus Cristo. Para os Cristãos a Revelação de Deus está
intimamente ligada à pessoa de Jesus e os Evangelhos (Novo Testamento) são
o testemunho da sua vida (relato descrito pelos seus discípulos, depois da
sua morte, baseado na memória dos que o tinham conhecido).
O Islamismo é
a religião muçulmana, fundada pelo profeta Maomé e é baseada no Alcorão ou
Corão, livro sagrado do Islão que lhe foi revelado por Alá (ou Allah), o seu
Deus.
Dito
isto, que é então a religião? A etimologia tradicional faz derivar a palavra religião do
latim: religio, religare (religar, ligar bem), o que nos permite
afirmar que a religião é, assim, uma ligação entre os homens.
Consequentemente,
a religião pode, portanto, definir-se como um sistema de crenças (dogmas) e
de práticas (ritos) relativos ao sentimento da divindade (ou realidade sagrada)
e que une na mesma comunidade moral (Igreja) todos aqueles que a ela aderem.
Toda
a religião se funda sobre uma revelação, cuja condição histórica pode ser a
história exemplar de um povo (Judaísmo), ou de um profeta, cujos ensinamentos
e modelo ideal de vida são conservados pela tradição (Cristianismo,
Islamismo).
Os dogmas religiosos
significam a doutrina estabelecida dentro de uma religião, aceite e seguida
pelos seus membros e determinam que a Igreja ensina em nome de Deus e da
Revelação. Os dogmas, assim entendidos, são sinónimos de verdades reveladas,
porque são objecto da fé, impostas pela autoridade da Igreja e aceites sem
crítica nem exame. Eles são apresentados como irrefutáveis porque foram criados por
inspiração de Deus, ser sobrenatural que os homens devem adorar. É através
dos ritos, conjunto de cerimónias prescritas para a celebração do culto,
que, normalmente, os homens adoram a Deus, em local designado Igreja que
congrega os fiéis ligados pela mesma fé.
Que
procuram os crentes através das práticas religiosas? À semelhança de outras
práticas humanas, a religião procura dar respostas a problemas fundamentais
que sempre têm impressionado a humanidade. Sabemos que a Filosofia se
interroga acerca da origem do Homem e do Cosmos, do sentido da vida e
do nosso destino, da imortalidade da alma ou da vidaeterna,
etc. Estas são preocupações que também sensibilizam, embora de modo
diferente, a Religião. Enfim, através da religião o homem procura as
respostas – que o satisfaçam – que à luz da razão não são fáceis de
entrever. Deste modo, o homem precisa de recorrer a uma entidade
superior que o ampare na angústia e na dúvida, que o conforte na dor e no
desespero.
A
influência da religião, pelas suas características, faz-se sentir a todos os
níveis da praxis humana. Consoante os quadrantes culturais, a sua
intervenção é sentida a nível político, económico, cultural e social. Assim
sendo, e dada a sua influência na vida dos povos, os mais lúcidos deveriam,
não servir-se dela, mas denunciar oportunistas que, em seu nome, a utilizam
para fins que não sejam aqueles que a sua essência determina. (António
Pinela, Reflexões, Setembro de 2006)
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segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Viva a sabedoria...
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