terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Língua afiada...


PEGADINHA GRAMATICAL
"Entreguei ao despachante que eu não lembro o nome"
Entreguei o documento ao despachante que eu não lembro o nome dele...

Essa frase fez parte de uma propaganda de rádio na cidade em que moro, Londrina, Pr. A inadequação apresentada é muito corriqueira; poucos são os que dominam o uso desse pronome considerado extremamente difícil pelos estudantes do Brasil: trata-se do pronome relativo.

Há seis pronomes relativos, que recebem esse nome porque relacionam uma oração que eles introduzem a um substantivo ou equivalente que substituem e que se situam anteriormente a eles na frase. São os seguintes: que, quem, qual, onde, quanto e cujo. Eles impedem a repetição de um substantivo, ligando duas orações em um mesmo período. Por exemplo:
"As crianças foram atacadas por dois cães estranhos; as crianças estavam brincando no pátio; os cães foram abatidos pelo síndico do prédio".

Para evitar a repetição dos substantivos "crianças" e "cães", poderíamos utilizar os pronomes pessoais "elas" e "eles" respectivamente:
 
"As crianças foram atacadas por dois cães estranhos; elas estavam brincando no pátio; eles foram abatidos pelo síndico do prédio".

Essa substituição, porém, não impede a formação de frases telegráficas, frases curtas. Para evitar isso, utiliza-se o pronome relativo que:
 
"As crianças que estavam brincando no pátio foram atacadas por dois cães estranhos, que foram abatidos pelo síndico do prédio".

O pronome relativo que substitui tanto pessoas quanto qualquer outro elemento, como ocorreu na frase acima.

O pronome relativo quem substitui apenas pessoas, nunca funciona como sujeito da oração nem pode ser usado sem preposição. Por exemplo:
 
"Você falou do despachante; não me lembro do despachante" = "Não me lembro do despachante de quem você falou".
"O professor cometeu um equívoco; estudamos com o professor: = "O professor com quem estudamos cometeu um equívoco".
"O professor desculpou-se com os alunos; o professor cometeu um equívoco" = "O professor que cometeu um equívoco desculpou-se com os alunos".

Nesse último caso, não se pode usar o pronome quem, pois ele funcionaria como sujeito da oração.

O pronome relativo qual (o qual, a qual, os quais, as quais) substituem que e quem:
 
"As crianças as quais estavam brincando no pátio foram atacadas por dois cães estranhos, os quais foram abatidos pelo síndico do prédio".
"Não me lembro do despachante do qual você falou".
"O professor com o qual estudamos cometeu um equívoco".
"O professor o qual cometeu um equívoco desculpou-se com os alunos".

O pronome relativo onde substitui "em que" na indicação de lugar:
 
"Essa frase faz parte de uma propaganda de rádio na cidade em que moro" = "Essa frase faz parte de uma propaganda de rádio na cidade onde moro".

O pronome relativo cujo indica posse. Somente será usado quando substituir a frase "algo de alguém". Com a utilização desse pronome, haverá a frase "alguém cujo algo":
 
"Os cabelos da menina = A menina cujos cabelos";
"O livro da professora = A professora cujo livro";
"Os pais do menino = O menino cujos pais".

Não se deve usar artigo (o, a, os, as) após cujo, pois ele está contraído com o próprio pronome: "cujo + os cabelos = cujos cabelos"

A razão pela qual a frase apresentada está inadequada aos padrões cultos da Língua Portuguesa é que há a indicação de posse: "O nome do despachante"; o pronome relativo usado, então, deve ser "cujo": "O despachante cujo nome". Deveria ser assim estruturada:

Entreguei o documento ao despachante cujo nome não lembro...

http://vestibular.uol.com.br/pegadinhas/entreguei-ao-despachante-que-eu-nao-lembro-o-nome.jhtm

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