terça-feira, 19 de março de 2013

Devanear...


A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade
E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado,  a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.  Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável  pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar  toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos.  Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera  e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos,  convidando-os a todos, em coorte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas.

http://www.mensagenscomamor.com/poemas-e-poesias/melhores_poemas.htm

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Mais uma etapa superada...