Brasileiro condenado à morte usou câmera escondida na prisão
Durante
três anos, o cineasta Marcos Prado conversou por telefone, ao menos uma vez por
semana, com Marcos Archer Cardoso Moreira.
Mas quem é Marcos Archer? Ele é um brasileiro que foi condenado à morte
por tráfico de drogas na Indonésia.
Mas
voltando a narrativa inicial. No período em que esteve preso (entre 2003 e
2015), Archer enviava para Prado cartões com gravações em vídeo pelo correio no
qual mostrava seu cotidiano na prisão e traçava planos para o futuro. “Sou uma esperançosa e acredito que mais uma
vez minha estrela vai brilhar”, falou Archer em um dos seus últimos contatos,
mantidos até 12 de janeiro de 2015.
Em 18
de janeiro daquele ano, contudo, o carioca brincalhão, de 53 anos, que ora
imitava Michael Jackson de galhofa para o video, ora comentava o barulho do mar
que ouvia de sua cela, deixou tudo para trás para ser fuzilado por um pelotão
de 12 atiradores numa mata. Chegava ao fim, a história que teve início em 2003,
quando o instrutor chegou ao aeroporto do Jacarta, capital da Indonésia, com
13,4 quilos de cocaína escondidos em um tubo de asa-delta. Só que esse fim teve
um legado.
“Ele
achava sua vida espetacular e queria contá-la”, afirmou o diretor Marcos Prado,
que lançará seu documentário “Curumim”, sobre Archer, no próximo dia 11,
durante o Festival do Rio.
“Ninguém
acreditava que ele seria morto”, disse Prado. E não era sem razão, pois em 50
anos, eles só haviam executado cinco estrangeiros, mas a maioria da população era
a favor da pena de morte e então o pior aconteceu.
O
filme
O que
era pra ser um projeto em três atos: com a vida dela na prisão; depois, o tempo
na Indonésia; e, em seguida, o que aconteceria depois, mas como vimos, não foi
possível.
Os
registros mostram dois homens, identificados por Archer como “terrorristas
islâmicos”, fotos de revistas com paisagens do Rio, imagens da tenista Maria
Sharapova e até dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, que até intercederam
pelo brasileiro pedindo clemência ao governo, em vão.
Para
ficar com sua câmera o brasileiro convenceu um carcereiro que faria gravações
para sua mãe, que estava doente no Brasil – na verdade, ela morreu em 2010.
De
acordo com o diretor, apesar do medo de que o equipamento fosse apreendido e
Archer sofresse consequências, mas segundo ele as coisas lá funcionavam assim
mesmo. Prado chegou a visitor Archer vestido como um pastor munido de bíblia e
tudo mais.
Famoso
por ter dirigido os filmes “Estamira” e “Paraísos Artificiais”, Prado conhecia
Archer de outros carnavais, ou melhor dizendo, das praias em que frequentavam
no Rio durante a década de 80. Para realizar o filme, o cineasta comprou os
direitos da história e depositava um valor mensal numa conta bancária, que
Archer movimentava de dentro do próprio presídio para poder comprar produtos e
eventualmente subornar policiais.
Enquanto
a comoção para libertar Archer chegou até o Papa, em abril de 2015, Rodrigo
Gularte, outro brasileiro, também foi condenado e executado por tráfico de
drogas no país. “É hipocrisia achar que matar alguém (como o Curumin) vá dar o
exemplo”, finalizou o diretor.
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