terça-feira, 19 de junho de 2012

Viva a sabedoria...


Ensaio Sobre o Homem. Uma Introdução a uma Filosofia da Cultura. Cassirer, Ernst.
DAS REAÇÕES ANIMAIS ÀS RESPOSTAS HUMANAS
Com nossa definição do homem como um animal symbolicum, chegamos ao nosso primeiro ponto de partida para o prosseguimento das investigações. Agora, porém, torna-se imperativo que desenvolvamos um pouco essa definição para dar-lhe maior precisão. É inegável que o pensamento simbólico e o comportamento simbólico estão entre os traços mais característicos da vida humana e que todo o progresso da cultura humana está baseada nessas condições. Teremos, porém, o direito de considerá-las como um dom especial do homem, com exclusão de todos os outros seres orgânicos? Não seria o simbolismo um princípio cujas origens podemos encontrar em fontes muito mais profundas, e com um campo de aplicabilidade muito mais vasto? Se respondermos a essa pergunta pela negativa deveremos, aparentemente, confessar nossa ignorância acerca de muitas questões fundamentais que tem sido perenemente o centro das atenções na filosofia da cultura humana. A questão da origem da linguagem, da arte e da religião torna-se irrespondível, e somos deixados com a cultura humana como um fato dado que permanece, de certo modo, isolado e portanto ininteligível. É compreensível que os cientistas sempre se tenham reusado a aceitar tal solução. Fizeram um grande esforço para ligar o fato do simbolismo a outros fatos conhecidos e mais elementares. Sentiu-se que o problema era de fundamental importância, mas , infelizmente, raras foram as vezes em que foi abordado com uma mente inteiramente aberta. Desde o início, ele tem sido obscurecido e confundido por outras questões, pertencentes a um campo de discurso totalmente diferente. Em vez de proporcionar-nos uma descrição e uma análise sem preconceitos dos próprios fenômenos, a discussão deste problema foi convertida em disputa metafísica. Tornou-se o pomo da discórdia entre diferentes sistemas metafísicos: entre idealismo e materialismo, espiritualismo e naturalismo. Para todos esses sistemas, a questão do simbolismo tornou-se um problema crucial, do qual parecia depender a forma futura da ciência.
Não estamos aqui preocupados com esses aspectos do problema, tendo-nos proposto uma tarefa bem mais modesta e concreta. Tentaremos descrever a atitude simbólica do homem de maneira mais precisa, para podermos contrapô-la a outros modos de comportamento simbólico encontrados em todo o reino animal. Não se questiona, evidentemente, que os animais nem sempre reagem aos estímulos de maneira direta, que são capazes de uma reação indireta. As famosas experiências de Pavlov proporcionam-nos um abundante corpo de provas empíricas relativas aos chamados estímulos representativos. No caso dos macacos antropóides, um estudo experimental muito interessante de Wolfe demonstrou a eficácia das ?recompensas por fichas?. Os animais aprenderam a reagir às fichas como substitutos para as recompensas em alimentos da mesma maneira que reagiam ao próprio alimento. Segundo Wolfe, os resultados das longas e variadas experiências mostraram que processos simbólicos ocorrem no comportamento dos macacos antropóides. Robert M. Yerkes, que descreve estas experiências em seu último livro, tira delas uma importante conclusão geral.

Cassirer, Ernst. Ensaio Sobre o Homem. Uma Introdução a uma Filosofia da Cultura Humana. Ed: Martins Fontes, São Paulo. 1994. 

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