Ensaio
Sobre o Homem. Uma Introdução a uma Filosofia da Cultura. Cassirer, Ernst.
DAS
REAÇÕES ANIMAIS ÀS RESPOSTAS HUMANAS
Com
nossa definição do homem como um animal symbolicum, chegamos ao nosso primeiro
ponto de partida para o prosseguimento das investigações. Agora, porém,
torna-se imperativo que desenvolvamos um pouco essa definição para dar-lhe
maior precisão. É inegável que o pensamento simbólico e o comportamento
simbólico estão entre os traços mais característicos da vida humana e que todo
o progresso da cultura humana está baseada nessas condições. Teremos, porém, o
direito de considerá-las como um dom especial do homem, com exclusão de todos os
outros seres orgânicos? Não seria o simbolismo um princípio cujas origens
podemos encontrar em fontes muito mais profundas, e com um campo de
aplicabilidade muito mais vasto? Se respondermos a essa pergunta pela negativa
deveremos, aparentemente, confessar nossa ignorância acerca de muitas questões
fundamentais que tem sido perenemente o centro das atenções na filosofia da
cultura humana. A questão da origem da linguagem, da arte e da religião
torna-se irrespondível, e somos deixados com a cultura humana como um fato dado
que permanece, de certo modo, isolado e portanto ininteligível. É compreensível
que os cientistas sempre se tenham reusado a aceitar tal solução. Fizeram um
grande esforço para ligar o fato do simbolismo a outros fatos conhecidos e mais
elementares. Sentiu-se que o problema era de fundamental importância, mas ,
infelizmente, raras foram as vezes em que foi abordado com uma mente
inteiramente aberta. Desde o início, ele tem sido obscurecido e confundido por
outras questões, pertencentes a um campo de discurso totalmente diferente. Em
vez de proporcionar-nos uma descrição e uma análise sem preconceitos dos
próprios fenômenos, a discussão deste problema foi convertida em disputa
metafísica. Tornou-se o pomo da discórdia entre diferentes sistemas
metafísicos: entre idealismo e materialismo, espiritualismo e naturalismo. Para
todos esses sistemas, a questão do simbolismo tornou-se um problema crucial, do
qual parecia depender a forma futura da ciência.
Não estamos aqui preocupados com esses aspectos do problema, tendo-nos proposto
uma tarefa bem mais modesta e concreta. Tentaremos descrever a atitude
simbólica do homem de maneira mais precisa, para podermos contrapô-la a outros
modos de comportamento simbólico encontrados em todo o reino animal. Não se
questiona, evidentemente, que os animais nem sempre reagem aos estímulos de
maneira direta, que são capazes de uma reação indireta. As famosas experiências
de Pavlov proporcionam-nos um abundante corpo de provas empíricas relativas aos
chamados estímulos representativos. No caso dos macacos antropóides, um estudo experimental muito interessante de Wolfe demonstrou a eficácia das ?recompensas
por fichas?. Os animais aprenderam a reagir às fichas como substitutos para as
recompensas em alimentos da mesma maneira que reagiam ao próprio alimento.
Segundo Wolfe, os resultados das longas e variadas experiências mostraram que
processos simbólicos ocorrem no comportamento dos macacos antropóides. Robert
M. Yerkes, que descreve estas experiências em seu último livro, tira delas uma
importante conclusão geral.
Cassirer, Ernst. Ensaio Sobre o Homem. Uma Introdução a uma Filosofia da
Cultura Humana. Ed: Martins Fontes, São Paulo. 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário