O PERSONALISMO, Emmanuel
Mounier - "LIBERDADE COM CONDIÇÕES”
A liberdade tem muitos
apaniguados. Os liberais consideram-se seus defensores acreditados. Mas os
marxistas, contra quem combatem, pretendem preparar, em oposição àqueles, o
verdadeiro para lá das suas caricaturas. Existencialistas e cristãos colocam-na
também no centro das suas perspectivas, embora a sua concepção não coincida,
nem coincida com nenhuma das outras duas. Porquê tanta confusão? Porque cada
vez que a isolamos da estrutura total da pessoa, exilamos a liberdade para
alguma aberração.
A liberdade não é uma coisa. ? Se não existe liberdade, quem somos nós?
Joguetes em pleno universo. É esta a razão de nossas angústias. Para as
apaziguar queríamos surpreender a liberdade em flagrante delito, tocá-la como
se toca num objecto, pelo menos prová-la como se prova um teorema; assentar
definitivamente em que há liberdade no mundo. Mas em vão. A liberdade é
afirmação da pessoa, vive-se, não se vê. no mundo objectivo senão coisas dadas
e situações que se cumprem. Por isso, porque não podemos instalar nele a
liberdade, procuramo-la nas suas formas negativas; uma ausência de causa, uma
lacuna no determinismo. Mas, que posso eu fazer com lacunas? E é assim que
nunca chegamos a descobrir, não diremos na natureza, mas ao seu nível, mais do
que duas formas mal definidas de liberdade.
Uma é uma liberdade de indiferença: liberdade de nada ser, de nada desejar, de
nada fazer; não só indeterminismo com indeterminação total. Alguns liberais e
outros espíritos anarquizantes, vêem sob este prisma a liberdade de pensamento
e a de acção. Mas o homem nunca conhecerá este estado de equilíbrio:fazendo-lhe
acreditar que ele é possível, iludem-se suas opções reais, ou então
arrastamo-lo definitivamente para o gosto mortal da indiferença.
A outra é que aquela que mendigamos ao indeterminismo físico. Fez-se um grande
alarde com as novas perspectivas que a física moderna veio abrir, quis-se
obrigá-la a . Era uma idéia totalmente errada de liberdade.
A liberdade do homem não é o duma adição universal. Uma liberdade que mais não
fosse do que irregularidade do universo, que poderia provar que não se
reduziria a simples deficiência dos nossos conhecimentos, ou então deformação
sistemática da natureza ou do homem? Que valor tem para mim esse defeito? O
indeterminismo dos físicos modernos mais não faz do que desarmar as pretensões
positivistas. A liberdade não se ganha contra os determinismos naturais,
conquista-se por cima deles, mas com eles".
Trecho extraído da obra de Mounier, Emmanuel. O Personalismo.
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