A
CONSOLAÇÃO DA FILOSOFIA
"Eu, que outrora
compunha poemas plenos de alegria,
Aí, sou agora forçado a usar de tristes metros!
E eis que as Musas me ditam versos de dor,
E as elegias enchem meu rosto de verdadeiras lágrimas.
Pelo menos elas não foram tomadas de medo
Nem deixaram de ser companheiras neste amargo caminho.
Glória de uma juventude outrora feliz e promissora,
Consolam agora o destino infeliz de minha velhice,
Pois repentinamente veio a inesperada velhice,
E com ela todos os seus sofrimentos.
De repente minha cabeça encheu-se de cabelos brancos,
E o meu corpo cobriu-se de rugas.
A morte do homem é feliz quando, se atacar os doces anos,
Nos acolhe no momento próprio, e atende ao chamado dos doentes.
Mas ah!, como ela sabe se fazer surda aos miseráveis,
E, cruel, ignorar os olhos em prantos!
Quando a malévola Fortuna me favorecia com bens perecíveis,
Quase me arrastou para a queda fatal.
Mas agora, tendo revelado seu vulto enganoso,
Eu imploro, e a morte se nega a vir a mim.
Por que proclamastes muitas vezes minha felicidade amigos?
Quem se desvia é porque não estava no caminho certo".
O trecho acima é parte da principal obra de Boécio, A Consolação da Filosofia,
que foi inscrito na prisão, enquanto aguardava sua execução, durante o reinado
de Teodirico no século 6.
Boécio. A Consolação da Filosofia. tradução Willian Li. São Paulo: Martins
Fontes, 1998 (Clássicos)
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