O HOMEM DO CASTELO ALTO - PHILIP K. DICK
EM O HOMEM DO CASTELO ALTO
DE PHILIP K. DICK
HISTÓRIA E HISTORICIDADE
Philip K. Dick nasceu em Chicago, 1928. Apaixonado por música, empregou-se numa
loja de discos e produziu um programa clássico na estação de rádio KSMO, de San
Mateo, Califórnia. Estudou na Universidade daquele Estado, mas não terminou o
curso porque havia gente demais fumando e lendo o Daily Cal, o que não me
permitia ouvir os professores, contava em suas entrevistas. Começou a ler
ficção. aos 12 anos em conseqüência de um engano: comprou Stirring Science
Fiction em vez de Popular Science. Lia também Joyce, Kafka, Steinbeck, Proust.
Casou-se com Anne, que conheceu na loja de discos, comprou uma casa, começou a
escrever e a vender ficção. Largou o emprego na loja, continuou ouvindo Monteverdi
e Buxtehude mas passando a maior parte do tempo lendo Ibsen e escrevendo.
Adorava gatos.
A excelência de sua obra o tornou uma referência da ficção científica do século
20. Vários de seus trabalhos tornaram-se mundialmente conhecidos ao serem roterizados
e transformados em grandes sucessos do cinema, como Blade Runner: o caçador de
androides, O Vingador do Futuro, Minority Report: a nova lei e O Pagamento.É
autor de cinco coletâneas de contos e 36 romances, dentre eles O Homem do
Castelo Alto , VALIS, Ubik e Os Três Estigmas de Palmer Eldritch. Morreu em
1982, aos 53 anos.
As suas obras trazem história e historicidade contadas a um nível filosófico. É
o que acontece em O HOMEM DO CASTELO ALTO. A história vista como ciência pura e
objetiva, a historicidade vista como uma narrativa com linhas subjetivas,
apesar de suas formações, ambas tem muito em comum, o recurso dos qual um
historiador dispõe não diferem muito de uma pessoa narrando sua historicidade.
A saber, ambos se apropriam de eventos (sejam eles factuais ou não) e lhes dão
ordem e significado, com o intuito de envolver o leitor, ou trazer o ouvinte a
seu mundo, a um mundo ao qual ele não tem acesso, a não ser através da
linguagem utilizada por quem narra. Dessa forma, a historicidade implícita na
história vem à tona, revelando suas estratégias de seleção, organização e
produção de fatos.
Em seu livro Pós-Modernismo ou a Lógica Cultural do Capitalismo Tardio, Fredric
Jameson propõe uma definição mais abrangente de historicidade:
A historicidade, de fato, nem é uma representação do passado, nem uma
representação do futuro (...) ela pode ser definida, antes de mais nada, como
uma percepção do presente como história, isto é, como uma relação com o
presente que o desfamiliariza e nos permite aquela distância da imediaticidade
que pode ser caracterizada finalmente como uma perspectiva histórica. (JAMESON,
1991: 235)
Esse distanciamento do presente é o que dá objetividade, é o que possibilita,
então, o entendimento da época em que se vive como momento histórico, o que
cria a historicidade em ações, objetos, personagens e transforma acontecimentos
cotidianos em fatos. É original.
Philip K. Dick, considerado pela crítica um dos mais célebres escritores de
ficção científica dentre aqueles na literatura americana, traz em seu livro O
HOMEM DO CASTELO ALTO essa relação entre história e historicidade. O romance
traz encontrar uma preocupação relacionada a questões de cunho histórico,
principalmente o papel do homem em eventos importantes do passado e de que
maneira(s) fatos da história influenciam a historicidade do indivíduo e a
sociedade que a cerca. Essa relação estreita entre o passado histórico e a
historicidade parece ser central na escrita da ficção científica de Dick.
O Homem do Castelo Alto, apresenta um cenário sombrio na história, a Segunda
Guerra Mundial. Neste mundo inventado por Philip Dick, a guerra foi vencida
pelos Nazistas. O mundo vive sob o domínio da Alemanha e do Japão. Os negros
são escravos. Os judeus se escondem sob identidades falsas para não serem
completamente exterminados. É nesse contexto que se desenvolvem os dramas de
vários personagens. Ao apresentar uma versão alternativa da história, Dick
levanta a grande questão: ?O que é a realidade, afinal??. Tal questão encontra na
historicidade de seus personagens , uma constante busca por aquilo que seja
originalmente antigo, pois é a condição para se ter acesso a uma autenticidade
que praticamente inexiste neste mundo ficcionalizado por Dick.
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