domingo, 23 de março de 2014

Vamos em frente...


Só rindo...

















Refletindo...













“Somente os tolos exigem perfeição, os sábios se contentam com a coerência.” (Provérbio Chinês)
http://pensador.uol.com.br/autor/proverbio_chines/7/


Língua afiada...








PEGADINHA GRAMATICAL
Locuções prepositivas – uma análise criteriosa

O título que ora se evidencia traz em sua composição um adjetivo que por sinal se revela como ponto-chave do assunto a ser discorrido – “criteriosa”. Este deriva do substantivo abstrato “critério”, o qual nos remete à ideia de algo preestabelecido, padronizado.

Dessa forma, o objetivo a que se presta o estudo em questão é o de tão somente enfatizar o uso inadequado de algumas locuções prepositivas, tendo em vista o caráter formal que norteia a modalidade escrita da linguagem. Exemplo significativo desta ocorrência pode ser efetivamente conferido por meio de uma corriqueira expressão, ora materializada por:


A nível de constatação dos episódios ocorridos, os alunos sugeriram uma reunião com o diretor.


Constatamos, pois, uma colocação que, mediante os postulados gramaticais, encontra-se em desacordo, haja vista que o correto é dizermos:


Em nível de constatação dos episódios ocorridos, os alunos sugeriram uma reunião com o diretor.

Partindo-se de tais pressupostos, atendendo ao intuito de ampliarmos ainda mais nossos conhecimentos, analisemos outros casos que também representam esse “desvio”. Eis que são:
 

 Trata-se, portanto, de triviais expressões cujas falhas nem nos damos conta, mas que, a partir de agora, certamente teremos uma visão mais ampla das reais circunstâncias e, com isso, colocaremos em prática tudo o que aprendemos.


Interessante...

Suicídio quântico, que ideia maluca é essa?
  
Confira a teoria na qual um suicida pode se tornar imortal e morrer, simultaneamente

 Suicídio quântico, que ideia maluca é essa?
Fonte da imagem: ShutterstockSuicídio quântico, que ideia maluca é essa?

O suicídio quântico, por mais maluco que pareça, foi proposto pelo físico teórico Max Tegmark em 1997. Trata-se de uma teoria apenas — ainda bem! —, e como tal, consiste apenas de uma situação hipotética. Afinal, apesar de não faltar gente doida nesse mundo que talvez se voluntariasse alegremente em dar a vida em nome da ciência, seria um pouco... difícil replicar o suicídio de forma prática. Você já vai entender o motivo.

Imagine um homem sentado diante de uma pistola apontada para a cabeça. Além disso, imagine que essa arma está conectada a um dispositivo que mede a rotação de uma partícula quântica — ou quark — cada vez que o homem puxa o gatilho e, dependendo da medição realizada, a pistola pode ou não disparar. Calma... a coisa fica ainda mais estranha!

Click, click...
 
Fonte da imagem: Reprodução/The Inquisitive Loon

Caso a medição aponte que a partícula quântica está girando no sentido horário, isso significa que a arma vai disparar. Por outro lado, se o quark estiver girando no sentido anti-horário, então a pistola apenas fará um “click”, mas não disparará nenhum projétil. Voltando ao homem sentado com a arma apontado para a cabeça, ele prende a respiração nervosamente — afinal, imagine a situação! — e puxa o gatilho. Click.

Não satisfeito, ele puxa o gatilho novamente e, de mais uma vez, outro click. De acordo com Tegmark, embora a arma esteja carregada e funcionando corretamente, o “suicida quântico” continuará fazendo isso por toda a eternidade sem que a arma dispare, tornando-se imortal. Espere, caro leitor, tem mais...

Bang!
 
Fonte da imagem: Reprodução/Diamond meeks

Agora imagine que uma nova medição da partícula quântica é feita e ela aponta que o quark está girando no sentido anti-horário — coitado do homem... Neste caso, como você já deve ter imaginado, o suicida puxa o gatilho, a arma faz “bang” e ele está morto, não é mesmo? Então, não necessariamente. A situação é um paradoxo!

Conforme explica Tegmark em sua teoria, o homem já havia puxado o gatilho antes — infinitas vezes, lembra? — e já sabemos que a arma apenas fez “click”, não disparou e ele se tornou imortal. Portanto, como é que ele pode estar morto? É aqui que a coisa fica interessante: segundo o físico, o suicida não sabe, mas ele está vivo e também morto ao mesmo tempo.

Isso porque cada vez que o homem puxa o gatilho, o Universo se divide em dois, e continuará se dividindo indefinidamente cada vez que o suicida puxar o gatilho. Hein? Segundo o How Stuff Works, para estudar as partículas os cientistas se apoiam em experimentos hipotéticos — em vez de evidências empíricas — para explicar seu comportamento, e teorias como a que você acabou de conferir são criadas a partir de dados observados na física quântica justamente para isso.

Maluquice
 
Fonte da imagem: Reprodução/Kaeltyk

A teoria do suicídio quântico está baseada na ideia de que existem Múltiplos Universos — ou Multiverso. Essa hipótese surgiu na década de 50 e, por muito tempo, foi motivo de piada. Entretanto, a teoria vem sendo cada vez mais aceita pelos físicos quânticos e, de acordo com ela, para cada resultado possível de uma ação, o Universo se divide em uma cópia de si mesmo.

Um aspecto importante dessa teoria é que o sujeito envolvido nas ações não é consciente de que existe outra versão dele mesmo em outro Universo, e vice-versa. Assim, no caso do suicídio quântico, quando o homem puxa o gatilho, o Universo se divide em dois para acomodar os dois possíveis resultados dessa ação. Quando o sujeito morre, então o Universo não tem por que se dividir mais, enquanto que o ciclo se repete quando a arma não dispara, infinitamente.

Com teorias assim, fica fácil imaginar o que os cientistas querem dizer quando afirmam que o que foi observado até agora em nível quântico gera mais perguntas do que respostas sobre o comportamento das partículas. Veja os fótons, por exemplo, que, segundo os físicos, se comportam como onda e como partícula ao mesmo tempo. Isso sem falar que as partículas parecem se mover em ambas as direções simultaneamente.

História...

Guerra dos Canudos
 

A chamada Guerra de Canudos, revolução de Canudos ou insurreição de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no Brasil.


O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise econômica e social em que encontrava a região à época, historicamente caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos, situação essa agravada pela ocorrência de secas cíclicas, de desemprego crônico; pela crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.


Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o regime republicano recém-adotado no país; houve apenas mobilizações esporádicas contra a municipalização da cobrança de impostos. A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com uma nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local passaram a acusá-los disso, ganhando, desse modo, o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos e os seus habitantes.


Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus adeptos uma imagem equivocada de que todos eram "perigosos monarquistas" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país o regime imperial, devido, entre outros ao fato de o Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. 

A derrota das tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado apavorou o país, e deu legitimidade para a perpetração deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil sertanejos. Todas as casas foram queimadas e destruídas.


Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século 18 às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num vale, entre colinas.


A situação na região, à época, era muito precária devido às secas, à fome, à pobreza e à violência social. Esse quadro, somado à elevada religiosidade dos sertanejos, deflagrou uma série de distúrbios sociais, os quais, diante da incapacidade dos poderes constituídos em debelá-los, conduziram a um conflito de maiores proporções.


 
Povoação de Canudos, Bahia, Brasil.



A figura de Antônio Conselheiro

Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de "Antônio Conselheiro", nascido em Quixeramobim (CE) a 13 de março de 1830, de tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e Boa Viagem, fora comerciante, professor e advogado prático nos sertões de Ipu e Sobral. Após a sua esposa tê-lo abandonado em favor de um sargento da força pública, passou a vagar pelos sertões em uma andança de vinte e cinco anos. 

Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que era um enviado de Deus para acabar com as diferenças sociais e com a cobrança de tributos. Acreditava ainda que a "República" (então recém-implantada no país) era a materialização do reino do "Anti-Cristo" na Terra, uma vez que o governo laico seria uma profanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar os governantes. A cobrança de impostos efetuada de forma violenta, a celebração do casamento civil, a separação entre Igreja e Estado eram provas cabais da proximidade do "fim do mundo".


A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino "Bom Jesus" (outro apelido de Conselheiro), que sobrevivia de esmolas, e viajava pelo Sertão.

O governo da República, recém-instalado, queria dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente pela cobrança de impostos. Para Conselheiro e para a maioria das pessoas que viviam nesta área, o mundo estava próximo do fim. Com estas ideias em mente, Conselheiro reunia em torno de si um grande número de seguidores que acreditavam que ele realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna na outra vida.

Campanha militar

A primeira reação oficial do governo da Bahia deu-se em outubro de 1896, quando as autoridades de Juazeiro apelaram para o governo estadual baiano em busca de uma solução. Este, em novembro, mandou contra o arraial um destacamento policial de cem praças, sob o comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Os conselheiristas, vindo ao encontro dos atacantes, surpreenderam a tropa em Uauá, em 21 de novembro, obrigando-a a se retirar com vários mortos. Enquanto aguardavam uma nova investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial.


Comandada pelo major Febrônio de Brito, em janeiro de 1897, depois de atravessar a serra de Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos jagunços, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e religiosa.


Na capital do país, o governo federal ante este fato e a pressão de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco monarquista, assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em defesa do "homem Santo". 

Em 2 de março, depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi mortalmente ferido e passou o comando para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó, Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que comandou os jagunços em Uauá.


No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi enorme, principalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de restaurar a monarquia. Jornais monarquistas foram empastelados e Gentil José de Castro, gerente de dois deles, assassinado. Em abril de 1897 então, providenciou-se a quarta e última expedição, sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta de duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas da época. No decorrer da luta, o próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte Santo, base das operações.


O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de junho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Após várias batalhas, a tropa conseguiu dominar os jagunços, apertando o cerco sobre o arraial. Depois da morte de Conselheiro (supõe-se que em decorrência da desinteria), em 22 de setembro, parte da população de mulheres, crianças e idosos foi colocada à disposição das tropas federais, enquanto um último reduto resistia na praça central do povoado.


Em tal momento de rendição, há relatos de que foi instituída, suspeitadamente por oficiais de baixa patente do exército, o que se denominou de pena da "gravata vermelha" - execução sumária de prisioneiros já subjugados, que eram posicionados de joelhos e degolados. Estima-se que parte da população civil rendida, que ainda não havia sido dizimada pela fome e pelas doenças no arraial, e não somente os prisioneiros combatentes, tenha sido executada dessa forma por tropas federais, o que constituiu num dos maiores crimes já praticados em território brasileiro.


O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.



Consequências da Guerra dos Canudos
 

Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida.
  
O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.
 
População sobrevivente do conflito em Canudos

Dica de filme e livro:  A Guerra de Canudos foi imortalizada por Euclides da Cunha na sua obra Os Sertões, publicada em 1902, e que inspirou Mario Vargas Llosa a escrever seu romance "A Guerra do Fim do Mundo", 1980. Além disso, a guerra inspirou muitos filmes, entre eles o de longa-metragem Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, 1997.

http://www.sohistoria.com.br/ef2/canudos/

Viva a sabedoria...

Participação, Imitação, Formas e Ideias em Platão

Platão, ao longo de sua vida, definiu os conceitos de participação, imitação, forma e ideia, pois viu a necessidade de postular princípios que garantissem a estabilidade dos seres.

Platão viu a necessidade de postular princípios que garantam a estabilidade dos seres, proporcionando-lhes a determinação

A passagem 153e-154a do Teeteto é o início de uma crítica na qual Platão visa refutar o relativismo tanto do tipo protagoreano quanto heracliteano. Por intermédio de Sócrates, ele observa ao seu interlocutor que se nada existe em si, uma coisa seria a um estado intermediário entre quem percebe e o objeto percebido. A cada instante, tanto um quanto o outro se transformariam noutra coisa, não havendo, pois, a possibilidade de apreensão, atestando a vacuidade da determinação.

Com isso, Platão vê a necessidade de postular princípios que garantam a estabilidade dos seres, proporcionando-lhes a determinação. Fica implícita, portanto, a hipótese das Ideias que se aproximam do modelo parmenidiano e que será tratada em outros diálogos.

No Parmênides, por exemplo, é descrita a crítica feita ao problema da relação das Ideias com os seres sensíveis correspondentes. Na tentativa de solucionar a contradição que invade o discurso desde que ele se esforça por pensar o real, a teoria das Ideias funciona como uma purificação. 

A Ideia é marca característica do pensamento de identidade que se impõe a si mesma e que existe por si mesma enquanto identidade e sobre a qual se poderá fundar o conhecimento dos objetos que participam dela e conferindo estabilidade ao lógos. Platão observa que, mesmo nos seres que mudam o tempo todo (sensível), há a permanência de imobilidade suficiente para que se possa dele ter conhecimento e que tal imobilidade ou estabilidade não deriva do sensível, mas de um outro tipo de realidade, a inteligível.

Para poder pensar as identidades concretas, considera-se a existência das identidades ideais fora da contingência de toda relação: dizer que existe uma Grandeza ou uma Igualdade em si não é dizer outra coisa. 

Assim, o pensamento de identidade se deixa conduzir ao fato de que, para ele, a formulação do princípio de identidade não é necessariamente uma simples tautologia: a pura identidade em si, que um tal princípio exprime, guia, ao contrário, a teoria da reminiscência; na ocasião de inter-relações sensíveis, lembra-se da Ideia como identidade pura em si, numa situação que, por ela mesma, inclui um verdadeiro conteúdo.

As dificuldades que o problema da participação implica iniciam-se na passagem 130e-131c do Parmênides em que Sócrates exibe sua compreensão sobre as Ideias. Para ele, as coisas participam de Ideias que lhe conferem a possibilidade de denominação. 

Mas o velho Parmênides lhe questiona se é a Ideia toda ou somente uma parte dela que participa daquilo que participa, permanecendo una em cada um dos seres múltiplos. Se assim é, então, objeta-lhe o eleata, ela ficaria separada de si mesma, o que para Sócrates é um absurdo.

Tal crítica é apontada por alguns pesquisadores como sendo uma revisão que o próprio Platão faz de sua teoria, assim como um impulso para um novo desenvolvimento nos diálogos posteriores. A caracterização da teoria das Ideias, na primeira parte do Parmênides, permite reconhecer as posições colocadas pelos grandes diálogos. 

O dualismo ontológico é evocado através dos diferentes status daquilo que a República chamava de lugar sensível e lugar inteligível, em relação ao princípio de não contradição. Quando o sensível é o lugar da contradição, podendo a identidade mostrar-se aí ao mesmo tempo una e múltipla, semelhante e dissemelhante, o inteligível é, ao contrário, o lugar da não contradição. O pensamento de identidade que governa o lógos exclui a contradição e o semelhante em si não poderia ser mostrado dissemelhante.

Como, então, conciliar duas ordens de realidades distintas? Se o múltiplo sensível participa da Ideia, esta permanece una ou divide-se em partes distintas? Se ela se divide, não é mais ela mesma; se ela permanece una em cada objeto, ela é separada de si mesma.

Aristóteles lembra que o termo participação (methéxis) é propriamente platônico e que os pitagóricos definiam a existência das coisas pela imitação (mímesis) dos nomes. Esses dois termos apresentam-se como dois modos de representar-se a presença principal, no sensível, de uma ordem de realidade apreendida unicamente pela alma. 

Não poupando nenhuma crítica à sua própria teoria, e preocupado em eliminar antecipadamente as soluções falsas, Platão considera precisamente as duas possibilidades, opondo a elas, de maneira característica, o mesmo argumento derivado de um argumento conhecido sob o nome de “terceiro homem”. 

O raciocínio é o seguinte: se a Ideia é apenas o caráter comum de uma multiplicidade sensível, percebido por uma operação do espírito, é preciso explicar como o reconhecimento desse caráter comum, que reúne a Ideia e as coisas que dela participam, não dependem, por sua vez, de alguma Ideia superior, a única capaz de impor a todos esse mesmo caráter e assim por diante até o infinito.

O argumento funciona de modo totalmente semelhante se, no lugar de uma methéxis, se considera a relação entre o sensível e o inteligível como uma mímesis: se as Ideias são os paradigmas, modelos que existem desde toda eternidade, e que as coisas são delas simples imagens, copiadas, ainda será preciso explicar como a Ideia e a coisa-imagem podem ser semelhantes entre elas e evocar para isso alguma Ideia superior e que cairá sob as mesmas críticas. 

O próprio Aristóteles, em sua Metafísica, critica Platão por ter concebido realidades inteligíveis separadas dos seres sensíveis (ideai) e por determinar que é pela participação que todas as coisas existem e que se nomeiam segundo as formas (eidesin).

Com efeito, o estagirita faz a distinção entre realidades inteligíveis, denominadas Ideias, e as formas que parecem ser o verdadeiro objeto da participação. Em um artigo que procura mapear a ocorrência dos termos eidos e Idea nos diálogos de Platão, Jean-François Pradou analisa as nuances que uma tal distinção pode provocar na interpretação dos textos de Platão. 

Segundo Pradou, o termo “Forma” referir-se-ia a características intrínsecas ou imanentes aos seres, que determinavam suas qualidades e proporcionariam uma certa resistência ao devir. É o que aparece, com suas figuras, classes, aspectos, etc. Já o termo Ideia seria a realidade inteligível e transcendente, alcançada somente pelo pensamento, que fundamenta as formas enquanto possibilidade de conhecimento, sendo, pois, causa dos seres sensíveis.

Voltando ao argumento do “terceiro homem”, que Platão considera verdadeiro, deve-se mostrar a distância entre Platão e seu discípulo. Não há razão nenhuma para diferenciar sentidos do ser quando se diz, por exemplo, que a grandeza é grande. 

Aristóteles diria que a mesma palavra ser remete a significações distintas, e que não se pode tomar no mesmo nível enunciados tão diferentes como uma simples predicação e uma definição de essência. 

Mas Platão, confiando do lógos assim como ele é regulado pelas normas da conversação dialética, nunca permite a abertura sobre uma reflexão do próprio status da linguagem que uma teoria da predicação pode constituir, e se recusa ainda mais a considerar qualquer possibilidade de polissemia. 

Pode-se levar a análise mais longe e sustentar que, em termos platônicos, o argumento do “terceiro homem” não é um erro, pelo absurdo da regressão ao infinito para onde ele mostra que conduz a contradição de uma identidade pensada fora da relação, mas que é preciso fazer entrar numa relação; a da methéxis, apenas ilustra à sua maneira o que a primeira hipótese do Parmênides mostrará, a saber, a incoerência de um pensamento de identidade estrito que, por força de querer separar o seu objeto da relação, chega a concebê-lo como pura ilimitação e, portanto, definitivamente, como inefável. 

O absurdo da regressão ao infinito, que tem como consequência a ilimitação de uma identidade indizível e, por isso, inexistente, foi muito bem concebida por Platão como um argumento dirigido contra o pensamento de identidade que sustentava a teoria das ideias; pleiteia, a contrario, o restabelecimento da relação, até entre as próprias ideias, pois através dela vêm a limitação e a possibilidade de dizer uma identidade que, determinada, seja realmente identidade enquanto tal.

A participação parece indispensável para salvar nosso pensamento do ser. Sem ela, a teoria das Ideias deve enfrentar um último argumento particularmente terrível. Quando se tiver, de fato, reconhecido a existência de duas ordens, separadas, de realidade, as coisas de cada ordem só poderão ter poder (dýnamis) entre as coisas da mesma ordem, e em nenhum caso sobre as da outra ordem. 

Mais ainda, sendo distintas as duas ordens, não só as coisas de uma não poderão ter influência sobre as coisas da outra, mas, pertencendo a uma ordem, não se poderá conhecer as realidades da outra ordem; o homem não poderá conhecer as coisas divinas e Deus não poderá conhecer as coisas humanas.

A primeira hipótese do Parmênides apresenta-se, de fato, como a demonstração pelo absurdo da impossibilidade, para a filosofia, de limitar-se a um estrito pensamento de identidade, quer dizer, a um pensamento que acreditaria precaver-se da contradição pela fuga para identidades que se poriam a si mesmas e seriam conhecidas por elas mesmas.

O princípio de identidade é, com efeito, aplicado aqui até ao absurdo, até esse limite que lhe tinha fixado Antístenes: a impossibilidade de uma coisa dizer outra além dela mesma, isto é, em termos aristotélicos, a impossibilidade da predicação. 

O raciocínio de antístenes baseava-se de maneira estrita sobre o princípio de identidade. Para ele, o único tipo de proposição legítima correspondia ao esquema: Sócrates é Sócrates. Dizer, por exemplo, que Sócrates é homem seria já dizer outra coisa que ele mesmo. O uno que Platão põe na primeira hipótese será analisado segundo um mesmo pensamento de identidade levado aos seus limites. 

A única proposição possível é: o uno é uno. Toda outra forma de atribuição é percebida como contraditória. O um será dito ilimitado, porque aí está a própria forma da indeterminação. Fora da tautologia, pois, fala-se apenas negativamente do um.

Uma passagem característica da crítica do pensamento de identidade ao qual corresponde a primeira hipótese é aquela onde se trata, precisamente, da identidade em si do uno. Diès vê aí uma espécie de truque de mágica verbal pelo qual Parmênides, tendo posto que a identidade não é unidade, substituiria a proposição que se segue naturalmente (a saber, ser idêntico não é ser uno), pela outra sofística (a saber, ser idêntico é não ser uno). 

Mas, de fato, Platão apoia-se simplesmente no fato de que o um e o mesmo diferem, quer dizer, que o mesmo é outro que o uno: são dois princípios distintos. Por conseguinte, quando se diz que o uno é o mesmo, ele torna-se outra coisa, o par do uno e do mesmo e, por conseguinte, é outro que ele mesmo. 

Aqui o princípio de identidade é levado até ao absurdo: nada se pode dizer do outro do um que ele mesmo. Assim, a impossibilidade colocada não se limita, pois, à natureza do um em si mesmo, e sim ao discurso. 

É característico que Platão não diga que, por tornar-se idêntico a si mesmo, o um se tornaria dois; ele diz simplesmente que não seria mais um consigo mesmo. Essa é a cisão da alteridade em si e o verdadeiro problema vai além da natureza do uno: é o problema de um discurso que, ao pôr uma identidade, diz alguma coisa de outra, porque ele se serve de um nome diferente. 

A identidade da qual se fala parece, pelo discurso, outra que ela mesma, pela virtude de uma contradição que Platão ilustra pela oposição do uno e do múltiplo e que repousa na possibilidade de poder enunciar vários nomes a propósito de uma mesma identidade. A não identidade consigo, que Platão afirma aqui do uno, poderia ter deduzido não importa de que outra identidade que não fosse o um.

Essa primeira hipótese conduz, assim, a uma aporia total: o uno não é um e não é; não tem nome, nem definição, não pode haver aí nem sensação, nem opinião, nem ciência. 

É, pois, o próprio tipo de pensamento pelo qual se buscou apreendê-lo que está totalmente posto de novo em questão. Parmênides não diz que do lógos se segue que o uno não é; ele diz, ao contrário, que é impossível que haja assim o uno – intervenção de um princípio de realidade que domina o princípio de identidade e, de resto, constitui uma heresia notável, na boca de Parmênides, em relação ao parmenidismo. Portanto, é preciso mudar o lógos, o que será feito somente no Sofista.

Cultura...

Último volume de coleção de história diz que chagas da ditadura de 1964 são encobertas

Evento não foi só produto da caserna, defende historiador em livro bancado por fundação espanhola

Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S. Paulo
Último volume da coleção História do Brasil Nação, bancada pela Fundación Mapfre e organizada pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, o livro Modernização, Ditadura e Democracia chega em abril às livrarias para apimentar a polêmica sobre o golpe que instaurou há 50 anos uma ditadura no País.

Rejeitando o argumento de que foi uma revolução engendrada exclusivamente na caserna, o coordenador da obra, Daniel Aarão Reis rebate teses históricas e diz que se tratou, antes, de uma aliança "heterogênea e disparatada" entre militares, líderes políticos, empresariais e religiosos.

Cobrindo o período que vai do golpe aos dias de hoje, o livro incorpora as grandes manifestações sociais registradas em todo o País desde junho do ano passado, reprimidas como na época do regime militar.

Para discutir a coleção, que começa em 1808, ano da transferência da corte portuguesa, o Caderno 2 entrevistou a historiadora Lilia Schwarcz e o coordenador do quinto volume, que tem entre seus colaboradores o economista Paul Singer.

Lilia Schwarcz escolheu os 27 autores presentes nos volumes. Há um extra, só de fotos, Um Olhar Sobre o Brasil, organizado por Boris Kossoy. Ele traz imagens como a que ilustra esta página, de Evandro Teixeira, feita no Rio, em 1964.

O que aconteceu, de fato, nesse ano, quando o golpe militar levou à Presidência da República o general cearense Castelo Branco? Medo de uma guerra civil? Paranoia anticomunista? As respostas são muitas, mas desencontradas.

A facilidade com que o presidente João Goulart (1919-1976) foi destituído em 1964 e como o governo militar se instalou no poder é uma questão que merece melhor exame, diz o historiador Daniel Aarão Reis, ele mesmo perseguido na época pelo regime, que agora examina em Modernização, Ditadura e Democracia, quinto volume da coleção História do Brasil Nação, bancada pela espanhola Fundación Mapfre e coordenada pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz. Na versão oficial da história, "as direitas venceram porque eram mais poderosas e as esquerdas, mais desorganizadas, incapazes de lutar". Aarão Reis, autor de uma biografia (inédita) do líder comunista Luís Carlos Prestes para a Companhia das Letras, diz que não foi bem assim.

O golpe que instaurou a ditadura em 1964, segundo ele, "exprimiu uma heterogênea aliança, reunindo líderes políticos, empresariais e religiosos, civis e militares, elites sociais e segmentos populares". E como essa minoria de golpistas conseguiu paralisar sem luta todo um país? Por que sem um único tiro instauraram a ditadura que durou de 1964 a 1979? Os golpistas, movidos pelo medo de reformas revolucionárias, argumenta o autor, usaram a "defesa da democracia e do cristianismo" como escudo. Contra a baderna e o medo que o Brasil copiasse o modelo comunista cubano, a nação trocou as alpargatas pelos coturnos.

Democracia. Daniel Aarão lembra que "salvar" a democracia, para muitos, "passava pela extirpação do getulismo e a eliminação dos comunistas" (leia entrevista ao lado). Era preciso que o golpe fosse transformado numa "revolução" - e foi justamente o que fez a Junta Militar, em nome do comando da Revolução de 1964, editando o Ato Institucional de número 1, em abril daquele ano, o primeiro de uma série de quatro baixados durante o governo do general Castelo Branco, que permitia cassar mandatos e suspender direitos políticos. O militar cearense, lembra o historiador, cassou mandatos, mas prorrogou o seu até 1967, ano de sua misteriosa morte, criando ainda o Serviço Nacional de Informações (SNI), centro de espionagem que levou à tortura os oponentes do regime.

O quinto volume da coleção foi dividido pelo coordenador em cinco partes, cada uma delas assinada por especialistas em suas respectivas áreas. Paul Singer analisa o período entre o "milagre econômico" do regime militar e a crise financeira mundial de 2008, enquanto Marcelo Ridenti traça um panorama do momento da virada rumo à massificação da cultura. Os outros três pesquisadores são Herbert S. Klein, Francisco Vidal Luna e Francisco Carlos Teixeira da Silva, todos eles com visões bem diferentes das interpretações consagradas a respeito da época.

Foi em 2009 que a fundação espanhola Mapfre encomendou essa coleção sobre a história do Brasil a Lilia Schwarcz, parte de um ambicioso projeto editorial, América Latina na História Contemporânea, publicado em dez países com a participação de 400 especialistas. Ela deveria contemplar a formação da nação brasileira, o que levou a historiadora a escolher o ano de 1808, o da transferência da corte portuguesa para o Brasil, como o marco zero da coleção, que tem, entre seus autores, respeitados nomes. Entre eles estão os historiadores e diplomatas Alberto da Costa e Silva e José Murilo de Carvalho, o jurista Rubens Ricupero, o escritor Jorge Caldeira e a própria organizadora da coleção (no volume que vai da proclamação da República a 1930).

A coleção da Fundación Mapfre feita nos outros países latinos é ilustrada, mas só a edição brasileira tem um livro separado - e luxuoso - com a iconografia do período, entre 1808 e a primeira eleição de Lula. Um Olhar Sobre o Brasil - A Fotografia na Construção da Imagem da Nação, coordenado pelo fotógrafo Boris Kossoy, traz registros antológicos de grandes profissionais da área, de Augusto Stahl a Sebastião Salgado, contando com 350 documentos, sendo o mais antigo de 1850.

Imagens. Lilia Schwarcz, grande entusiasta da análise histórica a partir da iconografia, fez questão de um volume à parte (e não um anexo) justamente por entender que pinturas e fotos são tão importantes para o estudo da História como as cartas e outros documentos escritos. "Tenho defendido que as imagens conduzem à reflexão, não são simples ilustrações", diz, condenando a relação de subalternidade da imagem ao texto nos livros de história.

Seu modelo, evidentemente, é o austríaco Ernst Hans Josef Gombrich (1909-2011), o historiador de arte que operou dentro de um território não demarcado, estabelecendo um rico diálogo entre arte, ciência, filosofia e psicologia. Gombrich defendia que as imagens geram imagens e que esse fluxo de relações conduz a uma cultura visual intimamente ligada à memória - ou à história, no caso.

Exemplos vigorosos da seleção de imagens do quinto volume são duas fotos históricas: a da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada em 2 de abril de 1964, no Rio, e o comício das reformas de base do dia 13 de março daquele ano, congregando as forças de esquerda sob a liderança de Goulart. Lá está visível o embrião do golpe que instaurou uma ditadura de 15 anos - contra a historiografia oficial, o autor diz que ela acabou em 1979 com a revogação dos atos institucionais.

As fotos também mostram a transformação de um país agrário numa nação urbana, aberta para o mundo e dirigida por uma mulher, depois de presidida por um sociólogo e um operário, algo impensável em 1964. Aarão Reis admite que houve mudanças, "mas tiveram, e têm ainda um alto custo", como o "trauma dos milhões arrancados de seus lugares de origem e obrigados a migrar" e a tortura, "que continua sendo praticada por agentes do Estado". E conclui: "Enganam-se os que pensam que a onda (de manifestações) de 2013 acabou. Penso que ela tende a retornar mais cedo do que tarde".

Entendendo...

SOCIOLOGIA
Três ladrões de ovelha: Mentira repetida vira

Lá para as bandas do sertão da Paraíba, enfiados na caatinga, três cangaceiros descansavam, quando avistaram na estrada, ao longe, um homem que carregava uma ovelhinha nos ombros. Fazia dois dias que os três não comiam e, apesar de filhotinha, a ovelha daria uma bela refeição.

Mas os fora da lei também têm o seu orgulho e atacar um pobre diabo como aquele que ia pela estrada era até uma vergonha para três cangaceiros famosos e destemidos como eles. Foi quando o primeiro teve uma boa ideia, contou aos outros e eles resolveram pô-la em prática.

O primeiro cangaceiro foi até a estrada, disse bom-dia ao homem que lá vinha e perguntou:

– Onde é que vosmecê comprou esse cachorro tão bonito?

– Isso não é um cachorro, não. É uma ovelha, que eu comprei na feira – o homem explicou.

O cangaceiro teimou que era um cachorro, mas não disse mais nada e se despediu. Mais adiante, o segundo cangaceiro pareceu na estrada e foi logo elogiando o cachorrinho que o homem carregava nos ombros. Não adiantou o homem explicar que se tratava de uma ovelha, pois o cangaceiro continuou a insistir em chamá-la de cachorro.

Depois foi a vez do terceiro ladrão aparecer na estrada e fazer o mesmo jogo.

– Que cachorrinho bonito! Vosmecê não quer vender?

E os dois discutiram – é ovelha, é cachorro – até que o cangaceiro foi-se embora. A essa altura, o homem, muito aperreado, olhou devagarzinho a ovelha e acabou se convencendo de que ela era mesmo um cachorro. Largou-a ali mesmo na estrada e seguiu seu caminho, furioso consigo mesmo pela compra idiota que havia feito.

Os três cangaceiros, então, recolheram a ovelha na estrada e almoçaram muito bem naquele dia.

Mais uma etapa superada...