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1.
Que é o mito?
Os
povos mais antigos procuravam responder às suas interrogações com histórias
longínquas, sempre muito misteriosas, sobre a origem das coisas, o destino do
homem, as causas do bem e do mal, sobre as divindades, etc. Estas histórias,
designadas por “mitos”, foram consideradas, durante muito tempo, como lendas
que eram transmitidas, quase sempre por via oral, pelos antepassados. Consideradas
por alguns como simples ficção literária, aquelas narrativas revelam já uma
preocupação do homem pré-filosófico em saber qual a sua posição no seio do
universo, constituindo uma reflexão sobre toda a praxis humana.
A
palavra «Mito» (deriva do grego: muthos - μύθος -, fábula) significa
relato dos tempos heróicos do passado. Esta definição encerra, em si, uma
característica comum a todos os mitos daquele tempo: o seu carácter
fabuloso, algo inventado, sem existência real, mas crível para os povos que
viviam e praticavam o mito. Como escreve Mircea Eliade, «o mito conta
uma história sagrada, quer dizer um acontecimento primordial que teve lugar
no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada
equivale a revelar um mistério, porque as personagens do mito não são seres
humanos: são Deuses ou heróis civilizadores, e por esta razão as
suas gesta constituem Mistérios: o homem não poderia conhecê-los se
lhos não revelassem» (Mircea Eliade, O Sagrado e o Profano – A Essência
da Religiões, Lisboa, Edição Livros do Brasil, s.d., p. 107). O mito é,
portanto, uma revelação.
O
pensamento mítico é muito antigo e não pode, com rigor, ser datada a sua
origem. Sabe-se, contudo, que começa a perder a sua influência por volta do
século VI a.C. Mas o mito faz parte integrante da natureza humana e existe em
todas as culturas. Todos os povos criaram os seus mitos da criação do
universo e do próprio homem, e até mitos mais particulares que se reportam a
coisas ou a acontecimentos menores. Sendo uma presença constante na
mentalidade dos povos, o mito ilumina o seu mundo com espíritos ou deuses
benfazejos e malfazejos, e com criações fabulosas, fruto da sua imaginação
efabuladora.
Quando
no homem desperta a consciência humana e verifica que no seu habitat coabitam
outras espécies diferentes da sua, que lhe causam problemas, e que outros
grupos humanos são hostis entre si; quando se sente aterrorizado pelas forças
da natureza como o mar tempestuoso; quando as tempestades lhes destroem os
seus bens, começa a intuir que existem causas que obedecem a leis misteriosas
que desconhece; e tendo dificuldade em determinar que causas são essas, o
homem passa a atribuí-las ao destino, à divindade e aos deuses da terra e dos
céus, porque são estas forças misteriosas que explicam como tudo acontece.
Inicia-se, então, um longo processo de organização dos espaços, nascendo, em
simultâneo, o desejo de dominação entre grupos para afastar o medo e a insegurança
face a ataques exteriores de animais ou pessoas. Perante esta realidade, os
povos encontram nos mitos a força anímica bastante para os unir no seio das
suas comunidades.
Sendo,
essencialmente, populares e anónimos, estes relatos mitológicos põem em cena
seres que encarnam, sob uma forma simbólica, forças da natureza ou aspectos
da condição humana. Por isso, uma vez dito o mito, este passa a ser
consideradoverdade absoluta e indiscutível: «É assim, porque é assim».
E, desta forma, os transmissores do mito sustentam a validade das suas
histórias sagradas e das suas tradições religiosas. Porquanto, o mito
proclamando a aparição de uma nova situação cósmica ou de um acontecimento
primordial é sempre uma criação sagrada. Mas o mito não é uma explicação que
satisfaça a curiosidade científica, é sim um relato que faz reviver uma
realidade original, respondendo a uma necessidade religiosa e a aspirações
morais e práticas que todos comungam.
Sem
que se possa ter a certeza, o mito terá surgido quando a religião procurou
assenhorear-se de tudo o que a fantasia humana divinizou, e o homem nele
encontrou o modo apropriado para explicar o Mundo e os seus fenómenos
naturais. Para formar um mito, bastaria o aparecimento de um fenómeno natural
estranho, assombroso e insólito. E, quanto menos fosse compreensível a sua
estrutura, melhor para excitar a imaginação criativa dos homens, provocando,
ao mesmo tempo, o medo, a insegurança ou a sua curiosidade.
Daí
que as primeiras “interrogações” humanas tenham recaído, não propriamente
sobre o mundo restrito do homem, mas sobre realidades mais complexas para
pensamento humano: a origem do mundo e das suas partes, os
fenómenos da natureza – realidades que lhe são exteriores – foram, muito
provavelmente, os primeiros motivos a que os míticos prestaram a sua atenção.
O Mito constitui, portanto, uma primeira forma de explicação do universo
e de tudo que nele ocorre. Mas esta primeira “explicação” e ideias
desenvolvidas são ainda muito impregnadas da ordem sentimental; no entanto,
esta forma de pensar é já o princípio que conduz o pensamento
humano a novos modos de apreensão e explicação da realidade cósmica.
Sendo,
embora, uma explicação “irracional”, já se faz um esforço para estabelecer
alguma correlação entre o efeito e a sua causa, na tentativa de descobrir
nexos de causalidade entre as coisas, isto é, entre as coisas e a sua origem.
Enfim, o mito é uma história tradicional que corporiza as crenças de um povo
no que concerne à criação, aos deuses, ao universo, à vida e à morte.
Talvez
se possa dizer que os mitos foram as primeiras tentativas de formulação de
uma “filosofia” e de uma “ciência”. Todavia, neste labor mítico, a reflexão
pessoal não é ainda perceptível. O pensamento dos mais esclarecidos vai ainda
limitar-se, por muito tempo, a interpretar e a comentar o mito, única via por
que se desenvolve a sua vida espiritual
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http://www.eurosophia.com/mito/mito.htm
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