Sensibilidade e Juízo Estético
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Quando
uma edificação (ex. fonte de Grândola), uma pintura, uma escultura ou uma
mulher não deixa o observador indiferente, este reage dizendo: «gosto» ou
«não gosto». Todos têm o direito de nos exprimirmos assim, qualquer que seja
a nossa cultura ou capacidade de observação. Com efeito, não se discutem
preferências individuais, porque estas são apenas opiniões subjetivas, que
nunca deixam de ter razão, mas também nunca a têm, porque, para ter razão, é
necessário que nos apoiemos em princípios objetivos.
No
campo dos valores estéticos, ou do Belo [consideramos, neste contexto, o
conceito de belo, no mais amplo sentido desta palavra, como o trágico, o
admirável, o amorável, etc.], a preferência subjetiva é a única possível.
Qualquer indivíduo que desenvolvesse esforços no sentido de convencer os
outros de que uma mulher deve ou não agradar, não só se cobriria de ridículo,
como se tornaria suspeito. E tal posição só deveria merecer o alheamento dos
outros.
Com
efeito, nenhum juízo crítico será possível se a sensibilidade artística
faltar; mas não é menos verdade que a sensibilidade artística não é qualquer
coisa simples como uma operação matemática; é, sim, o resultado de um
conjunto de atividades humanas; desenvolve-se e amadurece com a experiência
de vida e com a cultura.
Aquele
que é dado à contemplação, com afetuoso interesse, tornar-se-á mais capaz de
sentir a qualidade da arte do que aqueloutro que possui um espírito
destorcido e espontâneo. A prática da observação estética enriquecerá a sua
sensibilidade. Porquanto, o que interessa não é justamente a mensagem, ou a
sua significação reduzida a termos intelectuais, mas sim o objecto no qual se
condensa uma experiência.
Se
somos sensíveis, perante um objecto estético, ou do Belo, experimentamos uma
sensação e emoção intensas. A observação do Belo torna-se paliativo, faz com
que a pouco e pouco, as preocupações do momento se dissipem. O nosso
pensamento como que se transcende, dirige-se para o universo, a sua grandeza,
os seus limites que não podemos conceber; sentimos a nossa continuidade com
este mundo de que somos parte e com o qual formamos corpo. Denominaremos este
sentimento complexo como sentimento de existência da natureza. Este
sentimento não pode ser reduzido a nenhum outro; só a natureza é capaz de o
fazer nascer em nós.
Vemos,
portanto, que o domínio da beleza natural é complexo: este domínio
é distinto do domínio da arte, que é o das obras humanas; é
essencial não atribuir a um o que provém do outro e fazer uma distinção
definitiva entre beleza natural e beleza estética das
obras de arte.
O
som da guitarra portuguesa agrada-nos; a observação de um jardim encanta-nos,
os versos de Pessoa deliciam-nos. São impressões específicas, a que se
convencionou denominar por sentimentos estéticos. Impressões que, em
maior ou menor grau, não há quem não as tenha sentido. Só que cada um sente o
seu prazer estético de modo peculiar e a variedade dos gostos abre-se num
leque multiforme e matizado. Dir-se-á que não há apenas uma fruição do Belo
artístico, mas miríades.
Cada
um vê as coisas à sua maneira. Um quadro, por exemplo, será percepcionado de
modo diferente, segundo o observador se interesse pela sua estética ou pela
sua função, pela sua forma, pela sua cor ou pelo material utilizado. E convém
recordar que um quadro não pode ser visto inteiramente de uma vez, com um só
olhar. O visitante de um museu ou de uma galeria de arte pode dar livre curso
à sua imaginação e formular juízos legitimamente subjetivos, juízos que, por
outro lado, terá de rever frequentemente, visto que, sempre que voltamos a
observar o mesmo objecto estético, encontraremos um pormenor que ainda não
nos tinha sensibilizado.
É
na vida povoada de seres e de coisas, e regida por ideias, que o homem ama,
sofre, se apraz, se alegra ou se comove. Por isso a arte nasce ligada à
totalidade da vida, é uma recriação da própria vida. Sociedade, ideologia,
religião, moral, política, tudo faz parte da experiência humana e tudo a arte
exprime. De tudo a arte se nutre: do bem como do mal, do belo como do feio,
do justo como do injusto, do verdadeiro como do falso, do real como do
ilusório, do concreto como do ideal, da ação como do pensamento.
Se
esta reflexão tem algum sentido, como poderão todos os grandolenses gostar da
«Fonte», que a atual Câmara edificou, se cada um expressa os seus sentimentos
conforme as suas motivações do momento? Mas que a fonte está ali bem, lá isso
está! (António Pinela, Reflexões, Fevereiro de 2004).
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quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Viva a sabedoria...
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