segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Viva a sabedoria...


Ética e Cidadania
São incomensuráveis as transformações que ocorreram desde as primeiras experiências filosóficas e a instauração da democracia pelos antigos gregos, há 2500 anos, fruto da evidência da razão, que desmistificou os preconceitos míticos e a força das tiranias, mostrando aos cidadãos a origem do poder.
Este, imperial ou monárquico, fundava-se em heranças «divinas», sendo usurpado aos seus legítimos detentores, os cidadãos. Mas eis que a persistência do pensamento filosófico faz novas descobertas, tanto no campo científico, como na relação ética e na capacidade da cidadania de cada um.
Conhecem-se as invasões territoriais em nome da civilização, contacta-se novos mundos e novas vivências; ocorrem derrocadas de impérios e de monarquias; e os cidadãos conhecem outras realidades, que não somente aquelas que o mito e a religião transmitiam destes tempos ancestrais. Ocorre o Milagre Grego: a transformação económica e política - instaura-se a Democracia.
A Matemática e a Medicina conquistam o estatuto de ciência. A primeira com Euclides (primeira metade do séc. III a. C.), a segunda com Hipócrates (460-370 a. C.). As transformações econômico-sociais não pararam e as guerras são o vício da cegueira humana.
Já perto de nós, no tempo, emergem revoluções, movimentos assistémicos como o nazismo, o fascismo e o comunismo fazem o seu caminho; assiste-se as duas Grandes Guerras Mundiais. Ainda mais próximo, conhecemos, em directo, as Guerras do Golfo, o desmoronamento do Iraque, e a recente guerra entre Israel e o Líbano, etc. Ora, são todas estas ocorrências, negativas ou positivas, que não podem deixar de incomodar a consciência dos povos e de cada cidadão.
As transformações são imparáveis, novos interesses se instalam e a globalização, tão em voga, vai apagando as diferenças positivas que ainda existem entre os povos.
A nível político, a sede de poder é insaciável, não olhando a meios… ignorando todos os princípios da ética e da cidadania. Vive-se a moda dos grandes empórios empresariais, perde-se o sentido da medida. Tudo muda.
Falar hoje de ética e de cidadania é um imperativo de consciência, é um dever de todos nós. É ter presente o que ocorre neste mundo, cada vez mais globalizado e mais cruel, e tão distante da sua matriz: as pessoas.
Por tudo isto, cabe questionar: que credibilidade atribuir a quem nos promete mundos-e-fundos, por ocasião de eleições, uma vez que passadas estas, logo os seus actores esquecem quem lhe preparou o palco?
Cada vez mais os cidadãos se sentem desamparados e entregues à sua sorte e, não raro, ao desespero. Por isso, é necessário dizer, a quem se esquece frequentemente, que todos temos uma função a desempenhar, que toda a função, por mais humilde que seja, é necessária para o conjunto da vivência humana. Por exemplo, se uns são políticos e desempenham funções a este nível é porque outros têm a qualidade de eleitores e os elegem. Sem a qualidade de uns não existirá a qualidade dos outros. Se não houvesse a doença que falta nos faria o médico? Se o carro não nos avariasse, como sobreviria o mecânico? Se a energia eléctrica faltasse, como escreveria estas linhas no meu computador?
Vivemos num tempo em que tudo muda muito célere. As novas tecnologias são uma maravilha diabólica criada pelo homem. Mas tanto podem estar ao serviço do Bem como do Mal. Contudo, temos que acreditar em alguma coisa. Acreditemos no Homem. O ser humano não é mau por natureza. Às vezes é um pouco esquecido!
Pelas dúvidas expostas, pelos eventos referenciados, queiramos ou não, estamos todos convocados a fazer uso, quanto baste, da nossa cidadania, lembrando, sempre que necessário, aos responsáveis públicos mais esquecidos, que a ética e a moral não são coisas vãs, nem habilidades de intelectual, mas fazem parte, devem fazer parte efectiva da nossa relação com os outros. Sem a existência do Outro não existe a afirmação do Eu. (António Pinela, Reflexões, Agosto de 2006).

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