O lugar da política na contemporaneidade
A dimensão da prática
política parece situar-se no lugar mais recôndito da problemática da sociedade
contemporânea. Demagogos e oportunistas colocam-na, insistentemente, no registo
de todas as crises emergentes, quase a considerando um mal que é preciso banir
da praxis humana.
O colapso do pensamento
utópico, o desmoronamento das grandes narrativas, o enfraquecimento dos actores
políticos, o descontentamento dos cidadãos com os resultados das políticas, as
repetidas denúncias de corrupção, o desencantamento com os políticos
profissionais que, quando lhes é favorável, criticam aqueles, dizendo-se
amadores, surge como algumas das variadíssimas interpelações dirigidas à
política hodierna.
A circunstância actual,
de um mundo em turbilhão, propícia ao investimento em políticas niilistas,
apanágio de uma certa direita revanchista, sedenta de poder, e de uma certa
esquerda passadista, que não logra o poder, convoca todo o pensamento do
progresso, das reformas sustentadas, da compreensão dos sinais da modernidade, da
inevitabilidade da sociedade da informação, da economia e do conhecimento
global, para a emergência e mesmo a exaltação da política de um tempo, que é o
nosso, tempo da modernidade, tempo da Aldeia Global, do conhecimento, da
comunicação em tempo real.
A prática entre
políticas positivas, como uma política de valores, de ideais, da utopia,
própria de um Estado Social; e as políticas niilistas, dos desvalores, sem
ideais nem ideologias, que privilegiam o economicismo, indicam, sem sombra de
dúvida, o estatuto problemático da política de hoje e, por via disso, coloca em
cena uma das questões mais pertinentes, do nosso tempo, a ser reflectida: a
crise da política emerge como um problema da própria política ou como
uma dificuldade da afirmação dos novos políticos incaracterísticos?
A hipótese que propomos
assume que o registo da crise indica incapacidade dos nossos políticos frente
ao poder económico, cada vez mais afastado da realidade humana, cada vez mais
sedento de controlar o poder político, com o qual não se harmoniza.
Em situações de crise
económica, surgem propostas milagrosas para as neutralizar, oriundas dos
grandes grupos económicos, cuja receita já é sobejamente conhecida: facilidades
nos despedimentos, não aumento dos salários, aumento dos bens de consumo,
congelamento das pensões de reforma… E a descrença na política acentua-se cada
vez mais, como todos sabemos. Conformamo-nos, mas sempre se grita: «São sempre
os mesmo a pagar a crise».
Quem trabalha por conta
de outrem, passa a não ser senhor do seu próprio destino, não tem o direito de
fazer projectos, não tem vida própria. Passa a ser considerado uma coisa, um
objecto que, logo que deixe de servir, é colocado no armazém das velharias. É
este o pensamento de certos empresários que por aí temos.
Ora, para contrariar
esta situação, os políticos emergentes deveriam investir nos ideais sociais,
revitalizar a utopia, apetrechar-se de humanidades. Os políticos deveriam
demonstrar e mostrar à sociedade do tempo vivo e, em particular, aos
investidores económicos, que o capital mais precioso, sem o qual nada mais
haverá, é a pessoa humana. O primeiro investimento deverá ser aplicado nas
pessoas. Com efeito, sem elas não haverá riqueza, não haverá capital. E sozinho,
sem o esforço de outros, ninguém capitaliza. São a inteligência e a força
humanas que fazem avançar o mundo. (António Pinela, Reflexões, Janeiro de
2006).
http://www.eurosophia.com/filosofia/acesso_livre/filosofia_politica/lugar_da_politica_na_contemporaneidade.htm
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