domingo, 19 de maio de 2013

Exemplo? Talvez. Alerta, mais apropriado!


Angelina Jolie é um bom exemplo contra o câncer?
Ao retirar os seios para proteger-se do risco de um câncer hereditário, Angelina Jolie mostrou coragem. Ao transformar seu gesto em exemplo, pode induzir outras mulheres à decisão errada
Angelina Jolie não é uma mulher de meios-termos. Nunca foi. Na adolescência, pintava os cabelos de roxo, colecionava facas e gostava de se cortar. Nessa época, as tatuagens começaram a se espalhar por seu corpo. Em 1996, aos 21 anos, casou-se com o ator britânico Jonny Lee Miller usando uma camiseta branca, em que o nome de Miller estava escrito com o sangue dela. Não deu certo. Em seu segundo casamento, com o também ator Billy Bob Thornton, usava um frasco com o sangue dele pendurado no pesçoco. Não funcionou. O sucesso no cinema, que deslumbra e entorpece as personalidades, não teve esse efeito nela. Angelina continuou Angelina – e algo mais. Rompeu publicamente com o pai, o ator Jon Voight, que disse que ela tinha “problemas mentais”, e envolveu-se com trabalho humanitário na África e noPaquistão. Terminou embaixadora das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, adotou três crianças de três países diferentes – Camboja, Vietnã e Etiópia – e teve outras três com o ator Brad Pitt, seu atual marido, provavelmente o homem mais desejado do mundo. Linda e famosa, também provavelmente a mulher mais desejada do mundo, Angelina transformou sua vida num manifesto – foi eleita pela revista Forbes em 2009 como a celebridade mais poderosa do mundo. Em 20 anos de vida pública, conseguiu, nas palavras imortais de Steve Jobs, deixar uma marca no Universo.
Na semana passada, Angelina foi além. Num artigo escrito para o jornal americano The New York Times, revelou ter se submetido há alguns meses a uma cirurgia conhecida tecnicamente como mastectomia preventiva dupla. Por trás do nome complicado, havia uma revelação desconcertante: o maior símbolo sexual do planeta escolhera tirar os seios perfeitospara diminuir suas chances de desenvolver câncer de mama. Aos 37 anos. “Posso dizer aos meus filhos que eles não precisam temer me perder para a doença”, escreveu. Anunciar publicamente sua luta contra o risco de câncer – na tentativa de influenciar as decisões de outras pessoas sobre sua própria saúde – é seu gesto mais pretensioso. E controverso. “Quero encorajar cada mulher, especialmente as com casos de câncer de mama e ovário na família, a procurar informações e especialistas que possam ajudar a tomar decisões.”

Famosa como é, Angelina poderia ter simplesmente deixado que o mundo soubesse o que ela fez. Sua decisão, mesmo silenciosa, teria uma influência tremenda sobre outras mulheres. Ao agir como agiu, ao vocalizar sua escolha, se transformou, ainda que involuntariamente, em garota-propaganda de uma forma radical de medicina preventiva que não serve para todo mundo. Em poucas horas, seu texto varreu o mundo, dominou as redes sociais e fez as mulheres perguntar a seus médicos se elas também corriam risco. Elas foram atrás de informações, algo saudável. Mas um número elevado se alarmou perigosamente. A decisão de Angelina pode fazer todo o sentido do ponto de vista pessoal. Ao ser anunciada como fórmula de sobrevivência num alto-falante global, pode surtir efeitos perversos. No Brasil, o “efeito Angelina” fez com que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, viesse a público pedir cautela. “Já surgiram vários estudos que mostraram um número grande de mastectomias realizadas em pacientes em que depois se afastou o risco”, disse.

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